ABRUPTO

7.12.09


LENDO O DOUTOR JOHNSON EM ESPINHO


Nothing can be great which is not right. Nothing which reason condemns can be suitable to the dignity of the human mind. To be driven by external motives from the path which our heart approves, to give way to any thing but conviction, to suffer the opinion of others to rule our choice or overpower our resolves, is to submit tamely to the lowest and most ignominious slavery, and to resign the right of directing our own lives.

(Samuel Johnson)
O mar em Espinho é o que sempre foi. Duro, áspero, alteroso, o mar que mata os pescadores. Esse mar é praticamente a única coisa viva que se via na viagem de comboio entre Lisboa e Porto. De repente, quando o comboio ia por cima da terra, via-se aquele bocado de mar, ao mesmo tempo luminoso e sombrio, que anunciava a chegada às pontes do Porto, ao Norte. Lembro-me bem desse mar, e dessa terra quando era cortada pela via-férrea que separava duas partes, a vila progressiva e burguesa a oriente, uma vez por semana moldada por uma das maiores feiras de Portugal. Tudo, abaixo da linha férrea, seria "comido" pelo mar, que já tinha "comido" uma antiga parte de Espinho de que restavam apenas as ruínas de uma igreja submersa que aparecia em marés muito baixas. Do lado de baixo da linha, junto ao mar, havia um estranha combinação de gentes, a começar pelo Casino e a sua fauna, os restaurantes, os hotéis e as praias, vazios grande parte do ano, até que, se se caminhasse para sul, encontrar-se-iam as ruínas de velhas fábricas e depois o bairro dos pescadores, um gueto social que pouco comunicava com o resto da cidade.

Dei aulas em Espinho, numa escola conhecida como o "triciclo" porque funcionava em três edifícios, com alguma distância entre si, e tinha-se que passar os intervalos a andar de um para o outro. E conheci Espinho na clandestinidade, reunindo-me numa casa do bairro dos pescadores com alguns jovens operários, um dos quais passava a vergonha de ter dentro de casa o pai sempre bêbado, gritando impropérios. A cirrose era muito comum entre os pescadores e esta era uma situação tão incómoda como insegura, e eu, que me chamava então "Rui", tinha que fazer à noite um longo caminho pela própria via-férrea, até sair por um campo para ver se não era seguido e retroceder então para o bairro que deixara para trás na primeira passagem. Tenho memória de como era difícil caminhar à noite entre a gravilha, as travessas e os carris, à chuva, tudo coberto por uma película de óleo de lubrificação que caía dos vagões e que era muito escorregadia. É, Espinho não é para mim uma terra qualquer. E a culpa destas elocubrações é do malvado "espírito da terra", a culpa é de Espinho.

Lá voltei para as muito prosaicas Jornadas Parlamentares do PSD, onde não pude deixar de ter a sensação de viver mais um acto do fim dos tempos. Quando Manuela Ferreira Leite falou, num discurso exacto, sem falha, capaz, duro, preocupado, sobre o país que temos, ainda houve na sala um momento genuíno de verificação de "verdade", essa palavra que a dominação da mentira torna maldita. Ao meu lado, houve quem dissesse "ainda vamos ter saudades", com genuína nostalgia. Vamos. Alguns, provavelmente poucos. Saudades de uma raridade em política: alguém que actua em função do que pensa sobre o país, das suas convicções, da sua convicção na verdade (insisto, um crime em tempos socráticos) e que de facto pode ter muito pouco jeito para muitas coisas, menos para fazer aquilo que pensa que deve ser feito.

Contra Manuela Ferreira Leite, usou-se uma poderosa máquina de insultos, intimidação, desinformação, desvalor, manipulações sofisticadas e grosseiras que não conheceu um só dia de descanso. Como se verá, só a distância do tempo e da história o revelará na sua completa dimensão. Essa máquina incluiu o PS e um grupo no PSD, que conduziu uma campanha virulenta, recorrendo a todos os meios, nos quais avultava a colocação de notícias anónimas e um discurso de permanente intrigalhada, patrocinado pelos órgãos de comunicação mais próximos do Governo e do PS. Para ambos, PS e para um grupo no PSD, o pior que podia acontecer era que o PSD ganhasse as eleições legislativas e procederam em consequência.

Manuela Ferreira Leite cometeu certamente erros, menos do que os dos "seus", e muito menos do que os que lhe são atribuídos, mas actuou sempre baseada em coisas que hoje, em tempos de "protagonismo", de ambição pessoal e de interesses, se tornaram um desvalor em política. E mais: quando se olha retrospectivamente de há ano e meio para cá, poucos líderes do PSD podem apresentar um património de análise e propostas mais conformes com a realidade nacional, apresentadas no tempo certo e, como é óbvio, primeiro incompreendidas e atacadas e depois impondo-se pela dura realidade da vida. Foi Manuela Ferreira Leite a primeira a chamar a atenção do problema da dívida (hoje uma trivialidade que quase todos repetem); para o modelo de crescimento baseado no betão, e contra ela se fez uma barragem no PS e no PSD; a primeira a chamar a atenção para a iminência de uma crise social grave, palavras que nunca tinham sido até então ditas, para os problemas das pequenas e médias empresas, antes de isto se tornar um chavão. Mas havia sempre uma mantra repetida pelo PS e por um grupo no PSD; não tem propostas, não sabe o que quer, só discute o TGV, e, crime dos crimes, fala da falta de liberdade, da "asfixia" que este Governo trouxe à sociedade. Todos os dias aparece um novo dado que lhe dá razão.



Mas não foi só isso que a abateu a prazo e digo a ela pessoalmente, porque, salvo honrosas excepções, ela esteve sempre quase sozinha. Foi a raiva que provocava e provoca. A sua mera existência na luta política coloca uma enorme incomodidade porque ela trouxe consigo uma forma de carácter antigo, de política diferente, de convicção pessoal, que não podia deixar de ser um espinho nestes tempos de plástico e de plasticidade. Era de facto "antiquada", mas um mundo que torna antiquado os seus valores também não é o meu. Foi por isso que a minha boa leitura em Espinho foi a do dr. Johnson, esse homem de infinita sabedoria e mau feitio.

Em Espinho, nas Jornadas Parlamentares, efectivamente quase todos estão "noutra". Rei morto, rei posto. Cá fora e lá dentro os jornalistas trocam tweets sobre irrelevâncias, compras de roupa, restaurantes, desatentos a tudo que não seja a intrigalhada do costume, com uma agenda que tanto podia ter a ver com o que se estava a passar em Espinho como na Cochinchina. Mil ambições esperam à porta. Mil pequenas carreiras estão à espera que a senhora "finalmente" saia. Os grandes interesses no ambiente, um dos sectores em que a relação com o Governo é crucial entre quem faz negócio e quem não faz, têm forte representação no partido. Alguns autarcas mais ambiciosos sabem que nunca chegarão a primeiro-ministro, mas precisam de um upgrade do seu poder, daí os igualmente fortes interesses na regionalização. O PSD é para eles uma marca, uma marca de que precisam. O país pouco lhes interessa.

O que está a matar o PSD não é novo, vem-se desenvolvendo e enquistando há muitos anos: há cada vez mais gente que precisa do partido, seja do grande lugar como do pequeníssimo lugar, e há cada vez menos gente que é livre e independente. Há cada vez mais gente que não existiria na sociedade, não teria o trem de vida que tem, que não teria o emprego que tem, que não teria as prebendas que tem, se não fosse serem alguém numa estrutura qualquer. Há cada vez mais gente que é empregado da social-democracia e há cada vez menos sociais-democratas.

O processo oligárquico conhece no PSD um crescimento exponencial e entrelaça-se com vigor à volta dos lugares do poder, pequeno e médio. A ideia de que o problema do PSD é programático, que tem a ver com o afastamento dos fundamentos genéticos, que tem o "espaço" ocupado pelo PS, tem uma parte de verdade, mas nenhuma refundação ideológica, nenhum debate de ideias, resolve o problema do modo como partido está e o modo como partido está por dentro impede, a não ser por um milagre, que nele se faça política como Manuela Ferreira Leite fez. É, vamos mesmo ter saudades.

(Versão do Público de 5 de Dezembro de 2009.)

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE


Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1693 - Accomplished Facts

Every year Emily Dickinson sent one friend
the first arbutus bud in her garden.

In a last will and testament Andrew Jackson
remembered a friend with the gift of George
Washington’s pocket spy-glass.

Napoleon too, in a last testament, mentioned a silver
watch taken from the bedroom of Frederick the Great,
and passed along this trophy to a particular friend.

O. Henry took a blood carnation from his coat lapel
and handed it to a country girl starting work in a
bean bazaar, and scribbled: “Peach blossoms may or
may not stay pink in city dust.”
So it goes. Some things we buy, some not.
Tom Jefferson was proud of his radishes, and Abe
Lincoln blacked his own boots, and Bismarck called
Berlin a wilderness of brick and newspapers.

So it goes. There are accomplished facts.
Ride, ride, ride on in the great new blimps—
Cross unheard-of oceans, circle the planet.
When you come back we may sit by five hollyhocks.
We might listen to boys fighting for marbles.
The grasshopper will look good to us.

So it goes …

(Carl Sandburg)

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6.12.09


HOJE DE NOVO NO


Com a última nota, o EPHEMERA totaliza 1000 entradas, e cerca de 6500 imagens, organizadas em 1350 categorias, tornando-se no maior repositório privado português de materiais “efémeros” ligados à nossa história e vida contemporânea, sejam eles livros, brochuras, panfletos, cartazes, autocolantes, objectos, etc. O EPHEMERA é no essencial um trabalho individual, muito trabalhoso mas feito com gosto, mas conta com muitos colaboradores voluntários e muitas ofertas dos seus leitores e amigos. Aqui se tem feito referência a essas ofertas e se tudo correr bem haverá uma muito boa notícia na próxima semana com a entrada de um arquivo muito importante para a história portuguesa depois do 25 de Abril.



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PERGUNTAS DO



Por que razão anda tanta gente, a começar pelo Primeiro-ministro e a acabar no seu eco interno, a ensinar ao PSD qual deve ser a sua política, qual deve ser a sua "responsabilidade", qual deve ser o seu "sentido de estado", que temas deve tratar e que temas são proibidos? Será porque o PS se sente incomodado e gostaria de ter uma oposição mais "estabelecida", menos contundente, mais para o fishing for compliments e menos para a jugular das imensas fragilidades de um adversário perigoso? Só pode.

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PERGUNTAS DO



Entrevista de Passos Coelho ao Jornal de Notícias:
Que medidas concretas sugere?

Nas medidas pela negativa, importa impedir tão rápido quanto possível que Portugal continue a endividar-se a este ritmo. É decisivo não avançar com a construção do TGV na ligação de Lisboa a Madrid para encontrar alguma folga para que as verbas destinadas a ser drenadas nesse projecto, com o qual nos comprometemos internacionalmente, possam ser aplicadas de outra forma na economia. Por outro lado, é importante que Portugal substitua todos os projectos de sub-concessões de auto-estradas por outras intervenções viárias que não tenham todos estes custos. Nas medidas pela positiva, em primeiro lugar, é urgente atrair capitais nacionais e internacionais e, em segundo, apostar num crescimento da economia capaz de garantir maior pujança ao sector exportador. Temos de travar esta precipitação para o endividamento porque Portugal poderá perder liberdade dentro de pouco tempo.

(...)

A resposta para a crise está fora das grandes obras públicas?

A resposta está na dinamização das micro economias que o País tem, por exemplo, novas tecnologias, energias limpas e indústrias criativas e culturais, que têm um potencial de crescimento.

A sua receita para a lipoaspiração do Estado passa por alterar as medidas de emergência social?

Existem 530 mil desempregados em Portugal e dentro de um ou dois anos serão 650 mil. O Estado terá dificuldades para dar resposta a todas as solicitações.

As medidas devem ser mantidas?

As medidas de urgências são adoptadas para responder a situações de emergências e a as pessoas que estão em risco não podem ser abandonadas, mas acrescento que o Estado não terá possibilidade de as manter durante muitos anos. É preciso apostar na captação de investimento para criar emprego e colocar as pessoas que estão a auferir de apoios sociais possam ter oportunidades de formação e dar também algum retorno à sociedade, por exemplo, através de trabalhos cívicos, disponibilizando-se para ajudar organizações não-governamentais, instituições sociais, etc.

Portugal pode combater o défice sem aumentar os impostos?

A sociedade não aguenta mais aumentos de impostos. A prioridade deve ser reduzir a despesa.

Isto é aquilo que hoje já se tornou num lugar comum. Tornou, não era. Não foi aliás o que Passos Coelho disse na sua campanha em 2008 e passou um ano a dizer que era um "vazio" de posições. Expliquem-me lá, em bom português, onde está a diferença com o que Manuela Ferreira Leite anda há um ano a dizer?
NOTA: há de facto uma diferença mas é nesta concessão aos votos das distritais regionalizadoras como a do Algarve, em contradição com posições suas anteriores: "admito que em sede de revisão constitucional seja criada uma região-piloto, através da qual possamos iniciar o processo de regionalização em busca de mais consensos."

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EARLY MORNING BLOGS

1692 - Far Company

At times now from some margin of the day
I can hear birds of another country
not the whole song but a brief phrase of it
out of a music that I may have heard
once in a moment I appear to have
forgotten for the most part that full day
no sight of which I can remember now
though it must have been where my eyes were then
that knew it as the present while I thought
of somewhere else without noticing that
singing when it was there and still went on
whether or not I noticed now it falls
silent when I listen and leaves the day
and flies before it to be heard again
somewhere ahead when I have forgotten

(W. S. Merwin)

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5.12.09


QUEM FEZ ESTA

QUERIA AJUDAR QUEM?

Veja-se este "diálogo" destinado a tornar plausível a explicação para a mentira de José Sócrates ao Parlamento e percebe-se tudo:



O que me preocupa é que pululam nos meios do poder uns meninos convencidos que vale a pena imitar o "departamento dos truques" do Nixon, o tal que acabou no Watergate, uns amadores que viram uns filmes de espionagem e que passam o dia, pagos com o dinheiro dos contribuintes, a fazer brincadeiras na Internet convencidos que são muito sofisticados. Um dia dá para muito torto, no entretanto vão fazendo exercícios escolares de treino como estas falsas "escutas".

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COISAS DA SÁBADO: ...A FAVOR DA MAGIA



(Segue-se a isto e isto.)

Pensando assim da política, não admira que depois acreditem em milagres. Um deles acredita, por exemplo, que uma série de mensagens por SMS em vésperas de eleições, ao exemplo das que derrubaram Aznar, podem fazer a maioria dos portugueses votar pela liberalização do desemprego, pelo fim do Rendimento Social de Inserção, pelo abaixamento dos salários da função pública, pelo corte de despesas no Serviço Nacional de Saúde, por aí adiante. Outro acha que o “medo” fará as pessoas apoiar políticas de restrição da despesa. Ele queria dizer o “susto”, o susto de adormecer à noite em Portugal e acordar de manhã na Argentina, falida, com os depósitos volatilizados, com o dinheiro real inacessível, e tumultos na rua. Reconheço que o “susto” pode bem vir a acontecer, duvido é que dê origem ao plano liberal que nos propõe, mesmo sob a forma de uma qualquer “ditadura das finanças”.

É. Em democracia só há uma maneira de defrontar a crise, é olhar para a política e para os partidos com outros olhos e, acima de tudo, com outra disponibilidade e outra compreensão. Sabendo que o que lá está não é bonito, não seria aceitável nos salões, lá não abundam as boas companhias, é tudo demasiado “messy” e a probabilidade de receber muito salpicos da lama é real. Mas é lá que está a solução. Em democracia, claro.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (108):
AS PALAVRAS QUE DENUNCIAM O QUE ESTÁ POR TRÁS


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

No Diário de Notícias, como habitual, pela autoria do seu director. É sempre assim: quando é o Primeiro-ministro a ser malcriado e insolente, as vítimas dessa má educação e insolência são também "culpados"
Ou seja, o "juizinho" e o fim da "histeria" e da demagogia que Sócrates pediu para o comportamento de Paulo Portas, definitivamente, foi coisa que não se viu ontem em São Bento. E todos foram culpados.
E mais, que coisa pode Manuela Ferreira Leite fazer que não seja "farejar"?
As escutas a José Sócrates, no âmbito das conversas com Armando Vara interceptadas durante a investigação do processo "Face Oculta", continuam na ordem do dia, sobretudo porque Manuela Ferreira Leite farejou aí uma última possibilidade de sobrevivência política.
E continua sempre assim, repetindo ipsis verbis os argumentos de Sócrates e do PS. E os comentadores convidados para a mesma sala do jornal, as páginas sobre o debate (por falar nisso, já há algum tempo que não ouço dizer que Sócrates "ganhou" o debate...), fazem o mesmo: macro-nojo com o PSD, micro-críticas ao PS e tudo muito alinhadinho no tom certo.

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COISAS DA SÁBADO: MENOSPREZAR A POLÍTICA CONCRETA...



(Segue-se a isto.)

Um bom exemplo do que se passa é tentarmos perceber que políticas e políticos estes economistas apoiam, porque, pronunciando-se sobre matérias cívicas e sendo os problemas que enunciam no plano da economia e das finanças problemas políticos, é importante saber que sentido tem a sua política. Para ir ainda mais fundo: no último ano, Manuela Ferreira Leite não falou de outra coisa senão daquilo de que eles falavam. Falou até primeiro e com mais urgência, perante a incompreensão geral, do povo e das elites. Falou do problema da dívida (ela e, depois, Cavaco Silva foram durante muito tempo as vozes solitárias sobre essa matéria), criticou as grande obras públicas, chamou a atenção para o desastre para que caminhamos. Não falou aliás de outra coisa, mesmo quando falava da cada vez menor liberdade que nos é deixada para pensar, falar, criticar e escolher diferente, o que é uma parte muito importante da razão pela qual, sabendo-se a solução, não há votos para quem a proponha.

Mas foram capazes todos estes economistas de distinguir políticos entre “os políticos” que atacavam como fautor fundamental em não se aplicarem as medidas que propunham? Não deram por ela que não era tudo “igual”? Estavam distraídos? Não custa muito admitir que havia uma expressão no sistema político das soluções que “toda a gente sabe” que são necessárias. Era essa expressão perfeita? Certamente que não, estava misturada com essa coisa pouco frequentável que são os partidos políticos, pessoas, brigas, interesses, silêncios e falas, politiquice, coisas menores, distracções. Mas alguém tem dúvidas de que, nas eleições, havia propostas mais próximas e outras mais longínquas, das do painel distinto do Prós e Contras? Deram por ela? Duvido pelo modo como falam, como se tudo fosse igual, tudo o mesmo.

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EARLY MORNING BLOGS

1692

"Life is not long, and too much of it should not be spent in idle deliberation how it shall be spent: deliberation, which those who begin it by prudence, and continue it with subtilty, must, after long expence of thought, conclude by chance. To prefer one future mode of life to another, upon just reasons, requires faculties which it has not pleased our Creator to give us."

(Samuel Johnson)

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4.12.09

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COISAS DA SÁBADO:
ONDE É QUE SE VÃO BUSCAR OS VOTOS PARA AS SOLUÇÕES DRÁSTICAS QUE “TODA A GENTE SABE” SÃO PRECISAS PARA ENDIREITAR O PAÍS?




Os empresários queixam-se de que os políticos são pouco sensíveis à realidade económica e de que não tem cultura empresarial. É verdade. Mas há outro problema: os empresários e os gestores desconhecem de todo as regras da política democrática, ou seja, ignoram tanto da política como os políticos de gestão. Raras vezes se podem observar estas costas voltadas como no último Prós e Contras, dedicado à nossa crise financeira.

A intenção do programa era evidente (não fosse um programa da RTP): colocar um grupo de economistas e gestores “à direita”, com a excepção de um, contra as votações parlamentares dos partidos da oposição e repetir que, por isso, o país fica “ingovernável”, ou traduzido em bom português, fica ingovernável enquanto o PS não tiver outra maioria absoluta. Porém, o resultado final foi uma confusão inútil exactamente por causa deste duplo divórcio de incompreensões e de ignorância.

Os economistas disseram, preto no branco, que toda a gente sabe a desgraça em que o pais está metido, quais são os problemas nacionais associados ao facto de Portugal viver acima das suas posses e de haver uma dívida que, a curto prazo, se tornará incomportável. Todos disseram que caminhamos para uma crise maior, se não se tomarem medidas: diminuir o peso do Estado na economia, cortar nas despesas, alterar a legislação laboral, reformar a justiça, fazer reformas de fundo e não paliativas. Ou seja “toda a gente” sabe quais são os problemas e “toda a gente” sabe quais são as soluções.

O PEQUENO-GIGANTESCO PROBLEMA



Há anos que se ouve tudo isto e eu, pessoalmente, penso que têm toda a razão. Também eu “sei”. Só que falta um pequeno-gigantesco problema por resolver que nenhum deles é capaz de enunciar: onde é que se vão buscar os votos para estas políticas? Onde é que em democracia, e em particular na democracia portuguesa, onde existe um grande “partido do estado”, favorecido pela memória recente da pobreza, pela dependência de interesses múltiplos, pela fragilidade da nossa “sociedade civil”, com os grandes partidos muito presos a este estado de coisas, se vão buscar os votos? E mais: onde é que num país em que os próprios empresários vivem num conúbio próximo com o governo da ocasião, existe independência no tecido económico para apoiar uma sociedade civil forte que não medra em clima de necessidade?

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EARLY MORNING BLOGS

1691 - Work Without Hope

All Nature seems at work. Slugs leave their lair –
The bees are stirring – birds are on the wing –
And Winter slumbering in the open air,
Wears on his smiling face a dream of Spring!
And I the while, the sole unbusy thing,
Nor honey make, nor pair, nor build, nor sing.

Yet well I ken the banks where amaranths blow,
Have traced the fount whence streams of nectar flow.
Bloom, O ye amaranths! bloom for whom ye may,
For me ye bloom not! Glide, rich streams, away!
With lips unbrightened, wreathless brow, I stroll:
And would you learn the spells that drowse my soul?
Work without Hope draws nectar in a sieve,
And Hope without an object cannot live.

(Samuel Taylor Coleridge)

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3.12.09


PERGUNTAS DO



Por que é que antes das eleições ninguém falou de aumentar impostos, em particular do lado do poder, e agora toda a gente fala disso como se fosse uma evidência e uma inevitabilidade? Porque se soube que as contas públicas estão em derrapagem? Mas toda a gente sabia disso a começar por José Sócrates e Teixeira dos Santos. E toda a gente acha normal que as coisas aconteçam assim? Acha. Samuel Johnson explica-o hoje pela manhã cedo.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (107):
É QUANDO É A DOER QUE SE PERCEBE MELHOR...


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.


Ai que bom, que bom! No PS a " espada já está desembainhada" e vale tudo mesmo a mais grosseira mentira:
A audição parlamentar do ministro Vieira da Silva, a propósito da alegação por parte deste "do que se poderia designar por espionagem política" no caso "Face Oculta", assinala um momento significativo do confronto político em curso. Confrontado com sucessivas derrotas no Parlamento, por força da convergência táctica de voto de todos os partidos da oposição, o PS e o seu Governo podiam fingir que nada do que se decidia era decisivo.

Bem pelo contrário, o núcleo político central dos socialistas dá sinais crescentes de escolher a espada para evitar ser encostado à parede. O protagonista deste contra- -ataque político é Vieira da Silva, responsável pelas três últimas campanhas eleitorais do PS e um dos ministros mais políticos do actual Executivo. Longe de minorar o impacto da afirmação que provocou o pedido de explicações por parte do PSD, o ministro da Economia veio à comissão parlamentar clarificar, ampliando-o, o alcance político do que dissera: quebras cirúrgicas do segredo de justiça, que produzem notícias nos jornais do tipo diz-que-disse, que, por sua vez, servem de base para iniciativas políticas de ataque ao Governo e ao seu número um - repetiu Vieira da Silva - são intoleráveis. Hoje é Sócrates que está na mira, mas amanhã será outro, acrescenta.

Tudo isto foi muito bem pensado e destinou-se a provocar o efeito esperado. O PSD começou como interpelante e acabou a justificar a actuação da sua (ainda) líder no hemiciclo. O grito de revolta está dado: o PS não quer que o XIX Governo se deixe desgastar em lume brando.

"Clarificar", magnífico verbo! O que estava em causa era o ataque à magistratura acusada pelo ministro de fazer "espionagem política". Não os jornais, mas sim o procurador e o juiz do processo "Face Oculta".

Onde? No sítio do costume, o editorial do Diário de Notícias.

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PERGUNTAS DO



O PS está mergulhado numa enorme perplexidade. Se, como dizem os seus responsáveis, Manuela Ferreira Leite "sabia" há vários meses das escutas a José Sócrates, porque razão ela não fez aquilo que esses mesmos responsáveis fariam de certeza nas mesmas circunstâncias: divulgá-las antes das eleições? É mesmo incompetente a senhora, devia aprender connosco e ter uma agência para distribuir correspondência roubada ao Público pelos jornais para tramar o Presidente.

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(NOT SO) EARLY MORNING BLOGS

1690

"I do not wonder that, where the monastick life is permitted, every order finds votaries, and every monastery inhabitants. Men will submit to any rule, by which they may be exempted from the tyranny of caprice and of chance. They are glad to supply by external authority their own want of constancy and resolution, and court the government of others, when long experience has convinced them of their own inability to govern themselves."

(Samuel Johnson, carta a Baretti)

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2.12.09


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE


Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)



Gilão no Outono. (MJ)



Outono em Fregim. (Helder Barros)

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(NOT SO) EARLY MORNING BLOGS

1689 - At North Farm

Somewhere someone is traveling furiously toward you,
At incredible speed, traveling day and night,
Through blizzards and desert heat, across torrents, through narrow passes.
But will he know where to find you,
Recognize you when he sees you,
Give you the thing he has for you?

Hardly anything grows here,
Yet the granaries are bursting with meal,
The sacks of meal piled to the rafters.
The streams run with sweetness, fattening fish;
Birds darken the sky. Is it enough
That the dish of milk is set out at night,
That we think of him sometimes,
Sometimes and always, with mixed feelings?

(John Ashbery)

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1.12.09


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Agora. (ana)


Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)



Outono no rio Gilão. (MJ)

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EARLY MORNING BLOGS

1688

"That curiosity which always succeeds ease and plenty, was undoubtedly given us as a proof of capacity which our present state is not able to fill, as a preparative for some better mode of existence, which shall furnish employment for the whole soul, and where pleasure shall be adequate to our powers of fruition."

(Samuel Johnson)

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© José Pacheco Pereira
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