ABRUPTO

5.12.09


QUEM FEZ ESTA

QUERIA AJUDAR QUEM?

Veja-se este "diálogo" destinado a tornar plausível a explicação para a mentira de José Sócrates ao Parlamento e percebe-se tudo:



O que me preocupa é que pululam nos meios do poder uns meninos convencidos que vale a pena imitar o "departamento dos truques" do Nixon, o tal que acabou no Watergate, uns amadores que viram uns filmes de espionagem e que passam o dia, pagos com o dinheiro dos contribuintes, a fazer brincadeiras na Internet convencidos que são muito sofisticados. Um dia dá para muito torto, no entretanto vão fazendo exercícios escolares de treino como estas falsas "escutas".

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COISAS DA SÁBADO: ...A FAVOR DA MAGIA



(Segue-se a isto e isto.)

Pensando assim da política, não admira que depois acreditem em milagres. Um deles acredita, por exemplo, que uma série de mensagens por SMS em vésperas de eleições, ao exemplo das que derrubaram Aznar, podem fazer a maioria dos portugueses votar pela liberalização do desemprego, pelo fim do Rendimento Social de Inserção, pelo abaixamento dos salários da função pública, pelo corte de despesas no Serviço Nacional de Saúde, por aí adiante. Outro acha que o “medo” fará as pessoas apoiar políticas de restrição da despesa. Ele queria dizer o “susto”, o susto de adormecer à noite em Portugal e acordar de manhã na Argentina, falida, com os depósitos volatilizados, com o dinheiro real inacessível, e tumultos na rua. Reconheço que o “susto” pode bem vir a acontecer, duvido é que dê origem ao plano liberal que nos propõe, mesmo sob a forma de uma qualquer “ditadura das finanças”.

É. Em democracia só há uma maneira de defrontar a crise, é olhar para a política e para os partidos com outros olhos e, acima de tudo, com outra disponibilidade e outra compreensão. Sabendo que o que lá está não é bonito, não seria aceitável nos salões, lá não abundam as boas companhias, é tudo demasiado “messy” e a probabilidade de receber muito salpicos da lama é real. Mas é lá que está a solução. Em democracia, claro.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (108):
AS PALAVRAS QUE DENUNCIAM O QUE ESTÁ POR TRÁS


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

No Diário de Notícias, como habitual, pela autoria do seu director. É sempre assim: quando é o Primeiro-ministro a ser malcriado e insolente, as vítimas dessa má educação e insolência são também "culpados"
Ou seja, o "juizinho" e o fim da "histeria" e da demagogia que Sócrates pediu para o comportamento de Paulo Portas, definitivamente, foi coisa que não se viu ontem em São Bento. E todos foram culpados.
E mais, que coisa pode Manuela Ferreira Leite fazer que não seja "farejar"?
As escutas a José Sócrates, no âmbito das conversas com Armando Vara interceptadas durante a investigação do processo "Face Oculta", continuam na ordem do dia, sobretudo porque Manuela Ferreira Leite farejou aí uma última possibilidade de sobrevivência política.
E continua sempre assim, repetindo ipsis verbis os argumentos de Sócrates e do PS. E os comentadores convidados para a mesma sala do jornal, as páginas sobre o debate (por falar nisso, já há algum tempo que não ouço dizer que Sócrates "ganhou" o debate...), fazem o mesmo: macro-nojo com o PSD, micro-críticas ao PS e tudo muito alinhadinho no tom certo.

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COISAS DA SÁBADO: MENOSPREZAR A POLÍTICA CONCRETA...



(Segue-se a isto.)

Um bom exemplo do que se passa é tentarmos perceber que políticas e políticos estes economistas apoiam, porque, pronunciando-se sobre matérias cívicas e sendo os problemas que enunciam no plano da economia e das finanças problemas políticos, é importante saber que sentido tem a sua política. Para ir ainda mais fundo: no último ano, Manuela Ferreira Leite não falou de outra coisa senão daquilo de que eles falavam. Falou até primeiro e com mais urgência, perante a incompreensão geral, do povo e das elites. Falou do problema da dívida (ela e, depois, Cavaco Silva foram durante muito tempo as vozes solitárias sobre essa matéria), criticou as grande obras públicas, chamou a atenção para o desastre para que caminhamos. Não falou aliás de outra coisa, mesmo quando falava da cada vez menor liberdade que nos é deixada para pensar, falar, criticar e escolher diferente, o que é uma parte muito importante da razão pela qual, sabendo-se a solução, não há votos para quem a proponha.

Mas foram capazes todos estes economistas de distinguir políticos entre “os políticos” que atacavam como fautor fundamental em não se aplicarem as medidas que propunham? Não deram por ela que não era tudo “igual”? Estavam distraídos? Não custa muito admitir que havia uma expressão no sistema político das soluções que “toda a gente sabe” que são necessárias. Era essa expressão perfeita? Certamente que não, estava misturada com essa coisa pouco frequentável que são os partidos políticos, pessoas, brigas, interesses, silêncios e falas, politiquice, coisas menores, distracções. Mas alguém tem dúvidas de que, nas eleições, havia propostas mais próximas e outras mais longínquas, das do painel distinto do Prós e Contras? Deram por ela? Duvido pelo modo como falam, como se tudo fosse igual, tudo o mesmo.

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EARLY MORNING BLOGS

1692

"Life is not long, and too much of it should not be spent in idle deliberation how it shall be spent: deliberation, which those who begin it by prudence, and continue it with subtilty, must, after long expence of thought, conclude by chance. To prefer one future mode of life to another, upon just reasons, requires faculties which it has not pleased our Creator to give us."

(Samuel Johnson)

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4.12.09

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COISAS DA SÁBADO:
ONDE É QUE SE VÃO BUSCAR OS VOTOS PARA AS SOLUÇÕES DRÁSTICAS QUE “TODA A GENTE SABE” SÃO PRECISAS PARA ENDIREITAR O PAÍS?




Os empresários queixam-se de que os políticos são pouco sensíveis à realidade económica e de que não tem cultura empresarial. É verdade. Mas há outro problema: os empresários e os gestores desconhecem de todo as regras da política democrática, ou seja, ignoram tanto da política como os políticos de gestão. Raras vezes se podem observar estas costas voltadas como no último Prós e Contras, dedicado à nossa crise financeira.

A intenção do programa era evidente (não fosse um programa da RTP): colocar um grupo de economistas e gestores “à direita”, com a excepção de um, contra as votações parlamentares dos partidos da oposição e repetir que, por isso, o país fica “ingovernável”, ou traduzido em bom português, fica ingovernável enquanto o PS não tiver outra maioria absoluta. Porém, o resultado final foi uma confusão inútil exactamente por causa deste duplo divórcio de incompreensões e de ignorância.

Os economistas disseram, preto no branco, que toda a gente sabe a desgraça em que o pais está metido, quais são os problemas nacionais associados ao facto de Portugal viver acima das suas posses e de haver uma dívida que, a curto prazo, se tornará incomportável. Todos disseram que caminhamos para uma crise maior, se não se tomarem medidas: diminuir o peso do Estado na economia, cortar nas despesas, alterar a legislação laboral, reformar a justiça, fazer reformas de fundo e não paliativas. Ou seja “toda a gente” sabe quais são os problemas e “toda a gente” sabe quais são as soluções.

O PEQUENO-GIGANTESCO PROBLEMA



Há anos que se ouve tudo isto e eu, pessoalmente, penso que têm toda a razão. Também eu “sei”. Só que falta um pequeno-gigantesco problema por resolver que nenhum deles é capaz de enunciar: onde é que se vão buscar os votos para estas políticas? Onde é que em democracia, e em particular na democracia portuguesa, onde existe um grande “partido do estado”, favorecido pela memória recente da pobreza, pela dependência de interesses múltiplos, pela fragilidade da nossa “sociedade civil”, com os grandes partidos muito presos a este estado de coisas, se vão buscar os votos? E mais: onde é que num país em que os próprios empresários vivem num conúbio próximo com o governo da ocasião, existe independência no tecido económico para apoiar uma sociedade civil forte que não medra em clima de necessidade?

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EARLY MORNING BLOGS

1691 - Work Without Hope

All Nature seems at work. Slugs leave their lair –
The bees are stirring – birds are on the wing –
And Winter slumbering in the open air,
Wears on his smiling face a dream of Spring!
And I the while, the sole unbusy thing,
Nor honey make, nor pair, nor build, nor sing.

Yet well I ken the banks where amaranths blow,
Have traced the fount whence streams of nectar flow.
Bloom, O ye amaranths! bloom for whom ye may,
For me ye bloom not! Glide, rich streams, away!
With lips unbrightened, wreathless brow, I stroll:
And would you learn the spells that drowse my soul?
Work without Hope draws nectar in a sieve,
And Hope without an object cannot live.

(Samuel Taylor Coleridge)

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3.12.09


PERGUNTAS DO



Por que é que antes das eleições ninguém falou de aumentar impostos, em particular do lado do poder, e agora toda a gente fala disso como se fosse uma evidência e uma inevitabilidade? Porque se soube que as contas públicas estão em derrapagem? Mas toda a gente sabia disso a começar por José Sócrates e Teixeira dos Santos. E toda a gente acha normal que as coisas aconteçam assim? Acha. Samuel Johnson explica-o hoje pela manhã cedo.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (107):
É QUANDO É A DOER QUE SE PERCEBE MELHOR...


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.


Ai que bom, que bom! No PS a " espada já está desembainhada" e vale tudo mesmo a mais grosseira mentira:
A audição parlamentar do ministro Vieira da Silva, a propósito da alegação por parte deste "do que se poderia designar por espionagem política" no caso "Face Oculta", assinala um momento significativo do confronto político em curso. Confrontado com sucessivas derrotas no Parlamento, por força da convergência táctica de voto de todos os partidos da oposição, o PS e o seu Governo podiam fingir que nada do que se decidia era decisivo.

Bem pelo contrário, o núcleo político central dos socialistas dá sinais crescentes de escolher a espada para evitar ser encostado à parede. O protagonista deste contra- -ataque político é Vieira da Silva, responsável pelas três últimas campanhas eleitorais do PS e um dos ministros mais políticos do actual Executivo. Longe de minorar o impacto da afirmação que provocou o pedido de explicações por parte do PSD, o ministro da Economia veio à comissão parlamentar clarificar, ampliando-o, o alcance político do que dissera: quebras cirúrgicas do segredo de justiça, que produzem notícias nos jornais do tipo diz-que-disse, que, por sua vez, servem de base para iniciativas políticas de ataque ao Governo e ao seu número um - repetiu Vieira da Silva - são intoleráveis. Hoje é Sócrates que está na mira, mas amanhã será outro, acrescenta.

Tudo isto foi muito bem pensado e destinou-se a provocar o efeito esperado. O PSD começou como interpelante e acabou a justificar a actuação da sua (ainda) líder no hemiciclo. O grito de revolta está dado: o PS não quer que o XIX Governo se deixe desgastar em lume brando.

"Clarificar", magnífico verbo! O que estava em causa era o ataque à magistratura acusada pelo ministro de fazer "espionagem política". Não os jornais, mas sim o procurador e o juiz do processo "Face Oculta".

Onde? No sítio do costume, o editorial do Diário de Notícias.

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PERGUNTAS DO



O PS está mergulhado numa enorme perplexidade. Se, como dizem os seus responsáveis, Manuela Ferreira Leite "sabia" há vários meses das escutas a José Sócrates, porque razão ela não fez aquilo que esses mesmos responsáveis fariam de certeza nas mesmas circunstâncias: divulgá-las antes das eleições? É mesmo incompetente a senhora, devia aprender connosco e ter uma agência para distribuir correspondência roubada ao Público pelos jornais para tramar o Presidente.

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(NOT SO) EARLY MORNING BLOGS

1690

"I do not wonder that, where the monastick life is permitted, every order finds votaries, and every monastery inhabitants. Men will submit to any rule, by which they may be exempted from the tyranny of caprice and of chance. They are glad to supply by external authority their own want of constancy and resolution, and court the government of others, when long experience has convinced them of their own inability to govern themselves."

(Samuel Johnson, carta a Baretti)

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2.12.09


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE


Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)



Gilão no Outono. (MJ)



Outono em Fregim. (Helder Barros)

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(NOT SO) EARLY MORNING BLOGS

1689 - At North Farm

Somewhere someone is traveling furiously toward you,
At incredible speed, traveling day and night,
Through blizzards and desert heat, across torrents, through narrow passes.
But will he know where to find you,
Recognize you when he sees you,
Give you the thing he has for you?

Hardly anything grows here,
Yet the granaries are bursting with meal,
The sacks of meal piled to the rafters.
The streams run with sweetness, fattening fish;
Birds darken the sky. Is it enough
That the dish of milk is set out at night,
That we think of him sometimes,
Sometimes and always, with mixed feelings?

(John Ashbery)

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1.12.09


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Agora. (ana)


Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)



Outono no rio Gilão. (MJ)

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EARLY MORNING BLOGS

1688

"That curiosity which always succeeds ease and plenty, was undoubtedly given us as a proof of capacity which our present state is not able to fill, as a preparative for some better mode of existence, which shall furnish employment for the whole soul, and where pleasure shall be adequate to our powers of fruition."

(Samuel Johnson)

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30.11.09


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1687 - Vasto teatro è il mondo

Vasto teatro è il mondo, siamtutti commedianti,
Si può fra brevi istanti carattere cangiar.
Quel ch'oggi è un Arlecchino battuto dal padrone,
Domani è un signorone, un uomo d'alto affar,
Fra misteriose nuvole, che l'occhio uman non penetra,
Sta scritto quel carattere che devi recitar.
Odo del cocchio crescere il prossimo rumore
Vieni, t'insegni il core colui che devi amar.

(Jacopo Ferretti, cavatina de Alidoro em La Cenerentola de Rossini)

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29.11.09

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE





Mar.



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)



A Caminho do Pico do Ruivo. (Carlos Oliveira)



Neuchâtel, Suíça, "confecção artesanal de trufas de chocolate". (Fernando Correia de Oliveira)





Amesterdão. (Vítor Magalhães)

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EARLY MORNING BLOGS

1686 - As coisas

A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a ofendida
Violeta, monumento de uma tarde,
De certo inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas e taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão muito além de nosso olvido:
E nunca saberão que havemos ido.

(Jorge Luis Borges, tradução de Ferreira Gullar)

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© José Pacheco Pereira
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