ABRUPTO

4.12.09


COISAS DA SÁBADO:
ONDE É QUE SE VÃO BUSCAR OS VOTOS PARA AS SOLUÇÕES DRÁSTICAS QUE “TODA A GENTE SABE” SÃO PRECISAS PARA ENDIREITAR O PAÍS?




Os empresários queixam-se de que os políticos são pouco sensíveis à realidade económica e de que não tem cultura empresarial. É verdade. Mas há outro problema: os empresários e os gestores desconhecem de todo as regras da política democrática, ou seja, ignoram tanto da política como os políticos de gestão. Raras vezes se podem observar estas costas voltadas como no último Prós e Contras, dedicado à nossa crise financeira.

A intenção do programa era evidente (não fosse um programa da RTP): colocar um grupo de economistas e gestores “à direita”, com a excepção de um, contra as votações parlamentares dos partidos da oposição e repetir que, por isso, o país fica “ingovernável”, ou traduzido em bom português, fica ingovernável enquanto o PS não tiver outra maioria absoluta. Porém, o resultado final foi uma confusão inútil exactamente por causa deste duplo divórcio de incompreensões e de ignorância.

Os economistas disseram, preto no branco, que toda a gente sabe a desgraça em que o pais está metido, quais são os problemas nacionais associados ao facto de Portugal viver acima das suas posses e de haver uma dívida que, a curto prazo, se tornará incomportável. Todos disseram que caminhamos para uma crise maior, se não se tomarem medidas: diminuir o peso do Estado na economia, cortar nas despesas, alterar a legislação laboral, reformar a justiça, fazer reformas de fundo e não paliativas. Ou seja “toda a gente” sabe quais são os problemas e “toda a gente” sabe quais são as soluções.

O PEQUENO-GIGANTESCO PROBLEMA



Há anos que se ouve tudo isto e eu, pessoalmente, penso que têm toda a razão. Também eu “sei”. Só que falta um pequeno-gigantesco problema por resolver que nenhum deles é capaz de enunciar: onde é que se vão buscar os votos para estas políticas? Onde é que em democracia, e em particular na democracia portuguesa, onde existe um grande “partido do estado”, favorecido pela memória recente da pobreza, pela dependência de interesses múltiplos, pela fragilidade da nossa “sociedade civil”, com os grandes partidos muito presos a este estado de coisas, se vão buscar os votos? E mais: onde é que num país em que os próprios empresários vivem num conúbio próximo com o governo da ocasião, existe independência no tecido económico para apoiar uma sociedade civil forte que não medra em clima de necessidade?

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]