ABRUPTO

31.12.08


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA SOBRE O FUTURO

Como é inclinação natural no homem apetecer o proibido e anelar ao negado, sempre o apetite e curiosidade humana está batendo às portas deste segredo, ignorando sem moléstia muitas cousas das que são, e afetando impaciente a ciência das que hão de ser. Por este meio veio o Demônio a conseguir que o homem lhe desse falsamente a divindade, que o mesmo demônio com igual falsidade lhe tinha prometido. E senão, pergunto: Quem foi o que introduziu no Mundo, sem algum medo, mas antes com aplauso, a adoração do Demônio? Quem fez que fosse tão freqüentado e consultado o ídolo de Apolo em Delfos? O de Júpiter em Babilônia? O de Juno em Cartago? O de Vênus no Egito? O de Dafne em Antioquia? O de Orfeu em Lesbo? O de Fauno em Itália? O de Hércules em Espanha, e infinitos outros em muitas partes? Não há dúvida que o desejo insaciável que os homens sempre tiveram de saber os futuros, e a falsa opinião dos oráculos com que o Demônio respondia naquelas estátuas, foram os que todo este culto lhe granjearam, sendo certo que, se Deus, vindo ao Mundo, não emudecera (como emudeceu) os oráculos da Gentilidade, grande parte do que hoje é fé, fora ainda idolatria. Tão mal sofreram os homens que Deus reservasse para si a ciência dos futuros, que chegaram a dar às pedras a divindade própria de Deus, só porque Deus fizera própria da divindade esta ciência: antes queriam uma estátua que lhes dissesse os futuros, que um Deus que lhos encobria.

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EXTERIORES: CORES DE HOJE

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Última luz do dia. (RM)

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O ANO A CAMINHO DO FIM (2): A CRISE

A crise quando chegou a Portugal (apenas na data em que o Primeiro-ministro entendeu que ela chegava, muitos meses depois de ela já ter chegado) encontrou outra crise instalada. O país não cresce há uma década, todos os números são maus, todos os indicadores estão no fundo da Europa, tudo está como estava em 2005 ou pior. Uma excepção: um controlo das contas públicas obtido essencialmente com um aumento brutal de impostos e uma verdadeira prepotência fiscal sobre os mais fracos. Seja como for, esta parte é mérito do governo. Mas se não houvesse crise, a de fora, José Sócrates teria muito que explicar sobre como é que um governo que tinha tudo a seu favor, maioria sólida, presidente cooperante, oposição fragilizada, “consenso” vasto, apresentava resultados tão medíocres. A crise de fora disfarçou a de dentro, mas a mediocridade continua.

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O ANO A CAMINHO DO FIM (1)

Como eu tenho uma visão da análise e comentário político que deve ser testado pela realidade (para outro género pode ir directamente ao Tarot neste caderno), fui ler o que escrevi o ano passado, para ver se havia grandes discrepâncias com a realidade do que aconteceu. Não havia, o que não é mérito especial meu, mas sim da previsibilidade conservadora da nossa vida política. Estamos sentados numa rocha de resistência à mudança, tão bem ancorada no fundo dos oceanos, que só um cataclismo épico a pode mover. No entanto, suspeito, que já estivemos mais longe desse cataclismo...

O que eu disse há um ano sobre 2008 foi que “vamos continuar a empobrecer tão certo como dois e dois serem quatro”. A aritmética continua a ser fiável, continuamos a empobrecer. Disse também que “o governo terá a tentação de dar mais do que pode e deve, á medida que se aproximam eleições.” O governo de José Sócrates continua a ser fiável no seu eleitoralismo.

Vamos ter aeroporto? Sei lá. Onde será? Em Portugal talvez.” Continua também aqui tudo na mesma, embora eu me tenha enganado com a sugestão de que Mário Lino sairia se o aeroporto fosse para outra banda. Não saiu, o que é uma lição para a minha ingenuidade sobre o carácter dos homens públicos. Depois, quanto ao PSD, escrevi que “o PSD mudará de fase no ciclo das metamorfoses”, governava então Menezes o homem que dizia que não saia nem à bomba. Saiu e nem um estalinho de Carnaval foi preciso. Depois há duas últimas previsões que estão na ordem do dia: “os partidos vão começar a arder por dentro” à medida que se aproximam eleições, e “vamos ter cada vez mais presidente”. Tivemos e ainda vamos ter mais. Não tenho aqui à mão as cartas do Tarot que foram lançadas no ano passado, mas peço meças.

Vamos agora repetir o exercício, começando pelas palavras-chave deste ano.

(Continua.)

(Versão da revista de fim de ano do Correio da Manhã.)

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BOAS / MÁS / PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2008 VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR (1)

(Em breve, primeira actualização com novos comentários. Primeira versão.)


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EXTERIORES: CORES DE HOJE

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Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1455 - Year’s End

Now winter downs the dying of the year,
And night is all a settlement of snow;
From the soft street the rooms of houses show
A gathered light, a shapen atmosphere,
Like frozen-over lakes whose ice is thin
And still allows some stirring down within.

I’ve known the wind by water banks to shake
The late leaves down, which frozen where they fell
And held in ice as dancers in a spell
Fluttered all winter long into a lake;
Graved on the dark in gestures of descent,
They seemed their own most perfect monument.

There was perfection in the death of ferns
Which laid their fragile cheeks against the stone
A million years. Great mammoths overthrown
Composedly have made their long sojourns,
Like palaces of patience, in the gray
And changeless lands of ice. And at Pompeii

The little dog lay curled and did not rise
But slept the deeper as the ashes rose
And found the people incomplete, and froze
The random hands, the loose unready eyes
Of men expecting yet another sun
To do the shapely thing they had not done.

These sudden ends of time must give us pause.
We fray into the future, rarely wrought
Save in the tapestries of afterthought.
More time, more time. Barrages of applause
Come muffled from a buried radio.
The New-year bells are wrangling with the snow.

(Richard Wilbur)

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EXTERIORES: CORES DESTES DIAS

Clicando na fotografia fica na boa dimensão. Para se ver.



(Sandra Bernardo)





(Susana)



Obidos. (Manuela Bello)



(Helder Barros)



(ana)



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)



(Gustavo Lebreiro)

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30.12.08


EARLY MORNING BLOGS

1454 - Mild is the Parting Year

Mild is the parting year, and sweet
The odour of the falling spray;
Life passes on more rudely fleet,
And balmless is its closing day.

I wait its close, I court its gloom,
But mourn that never must there fall
Or on my breast or on my tomb
The tear that would have soothed it all.

(Walter Savage Landor)

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29.12.08


INTENDÊNCIA



Os Estudos sobre o Comunismo estão em actualização, em particular as bibliografias.

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SALAZAROFILIA / SALAZAROFOBIA



Na semana do Natal, na secção de História de Portugal da livraria da FNAC do Colombo, havia 38 livros expostos. Desses 38, 12 tinham Salazar na capa, em desenho, em fotografia ou no título. Se somarmos a esses volumes outros livros que são sobre o período do Estado Novo e sobre as suas instituições simbólicas, como a Mocidade Portuguesa, quase 50 por cento dos livros sobre História de Portugal que competem no precioso espaço de uma banca natalícia são sobre os 48 anos de ditadura. E, na sua maioria, já não são sobre a oposição à ditadura, mas sobre a ditadura, o ditador Salazar (Marcelo Caetano também está representado, mas com menos sucesso) e as suas instituições. Uma parte destes livros, se bem que pequena, é puramente apologética e uma parte maior é nostálgica, mesmo quando crítica. Na secção dos DVD também Salazar está representado, na sua vera efígie a negro, numa série documental. Na realidade, como todos os editores sabem, Salazar vende bem e, em tempos de crise, venderá ainda melhor.

Nas gerações que conheceram o regime do Estado Novo, a salazarofobia é mais forte do que a salazarofilia, pelo menos nas classes "altas", até porque é esse o discurso politicamente correcto que legitima a vida pública depois do 25 de Abril e porque o turnover geracional faz com que, na sua maioria, esses grupos sociais sejam constituídos pelos ex-jovens dos anos 60, a geração menos atingida pela doutrinação salazarista e mais insubordinada ao sistema de valores que a alimentava. Os jovens dos anos 30 e 40, a lei da morte foi-lhes diminuindo o peso na vida pública e na opinião. Com eles foi a salazarofilia de regime, parente pobre e menos coreográfico dos regimes totalitários de Itália e Alemanha, que nunca ultrapassou os anos 30 e deixou, depois do fim da guerra, instituições moribundas e anacrónicas como a Legião Portuguesa ou a Mocidade Portuguesa. A salazarofilia dos anos 50 era já mais da guerra fria do que a da "guerra civil europeia" dos anos 30 e, por isso, mais compatível com a democracia e com a "livre Inglaterra". A guerra colonial resumiu e deu algum alento a todas as salazarofilias anteriores, mas os tempos já estavam a mudar e, mesmo que Salazar odiasse a modernidade, o mundo estava já mais moderno, mais solto, menos estável, mesmo por detrás da formidável barreira da censura.

Por outro lado, fora das elites, tem crescido depois do 25 de Abril uma salazarofilia popular e não é só na figura emblemática do motorista de táxi que brada contra o mundo e que funciona, para quem não conhece o povo, como a vox populi. Esta salazarofilia é em grande parte uma reacção antipolítica, demagógica e justicialista relativamente a muitos aspectos da democracia política, aos partidos, aos "políticos", à corrupção existente e imaginada, à ineficácia e custo da democracia. Esta salazarofilia comunica à esquerda com o populismo anti-sistema, forte nos simpatizantes comunistas e na parte do PS que é popular e urbana e de "baixo". A comunicação social, pelo modo cínico como relata a política, sendo ela própria salazarofóbica, porque alinhada à esquerda, alimenta a salazarofilia popular com muita eficácia e não é só no 24 Horas, esse híbrido esquerda-direita que enche os olhos dos leitores de primeiras páginas nas bancas.
Um bom exemplo é este comentário deixado no Público sobre o que escrevi.

Charlatão! Por Anónimo - Lisboa

Ó cahralatãozinho: - então tem crescido uma salazarofilia depois do 25 de Abril? Não vês, ó charlatão, que é exactamente o contrário? Não vês que os charlatães, como tu, têm cultivado no povo uma salazaroFOBIA, charlatão? E agora o povo, já desenganado de vocês, aldrabões e charlatães, espoliado e na miséria, o que precisa mesmo é encontrar uma solução para as suas vidas? As vidas de cada um de nós estão muito difíceis e vocês, aldrabões e charlatães, têm também muita culpa nisso. CHARLATÃO! E publiquem este comentário, se forem gente honesta,... e tiverem valentia para isso.

Nos mais novos, com uma presença forte nos blogues, o que aflige na salazarofilia intelectual que por lá emerge é o grande peso da ignorância tomada como sendo a ausência de complexos sobre o passado e antiesquerdismo. Na verdade, é mais ignorância do que ideologia, a que depois o estilo de boutade e de comparação absurda para épater le bourgeois dá circulação. Um dia se fará uma antologia das mais estapafúrdias comparações dos blogues e nelas a salazarofilia chique terá o seu papel.



Relatório da Censura

Mas a grande fonte da salazarofilia nunca pronuncia o nome de Salazar e nem sequer tem consciência de até que ponto vem dele e dos 48 anos do Estado Novo. Essa fonte é a desconfiança da política, a obsessão do consenso, o nojo pelos "partidos" enquanto "partes", a vontade de um mundo higiénico em que todos se entendem, todos são "construtivos", todos fogem da polémica, todos pretendem passar pelos pingos da chuva democrática, para não aparecerem molhados e menores junto da multidão que louva os que habitualmente nunca sujam as mãos em nada. Ser polémico em Portugal é um óbice sério a singrar na vida, como essa frase exclusora inventada no interior dos partidos traduz: "Ele não serve porque tem anticorpos." Na verdade, como no tempo de Salazar, o pano de fundo desta subserviência instituída em "consenso" é a escassez de bens, recursos e lugares e a enorme dificuldade em se ser independente em primeiro lugar do Estado omnipresente, e depois dos partidos, dos grupos e das coteries em segundo, terceiro, quarto e enésimo lugar. É por isso que ainda somos mais salazaristas do que democráticos, no fundo da nossa maneira de ser em público. É por isso que esta salazarofilia involuntária, mas real, atravessa a nossa vida pública de cima abaixo, da esquerda para a direita e vice-versa, enche a política, a comunicação social, o establishment literário e cultural.


Precisávamos de mais liberdade, de muito mais crítica, de muito mais duro e persistente escrutínio, de muito mais rupturas, e estamos todos apaziguados com a nossa mediocridade. Salazar considerava que esse apaziguamento era o "viver habitualmente", na pobreza e no remediamento, com um chefe benevolente que nos protegia do mundo exterior e que dava uns "safanões a tempo" para nos proteger dos maus de dentro.

Até por causa da crise, da crise real e da "crise" que é usada para esconder o real, precisávamos de um grande abanão, mas nem para isso parece haver forças endógenas. O país estagnou há muitos anos e agora afunda-se pouco a pouco, sem sequer haver muita preocupação com isso. Parece que só os pessimistas, esses tenebrosos seres que "não trabalham e só criticam", "não fazem nada de construtivo e só dizem mal", na boca do tandem Sócrates-Santos Silva, se mostram, pelos vistos exageradamente, preocupados.

(Versão do Público de 27 de Dezemebo de 2008.)

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(Susana)

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EARLY MORNING BLOGS

1453 - Rough Country

Give me a landscape made of obstacles,
of steep hills and jutting glacial rock,
where the low-running streams are quick to flood
the grassy fields and bottomlands.
. . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . A place
no engineers can master–where the roads
must twist like tendrils up the mountainside
on narrow cliffs where boulders block the way.
Where tall black trunks of lightning-scalded pine
push through the tangled woods to make a roost
for hawks and swarming crows.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , And sharp inclines
where twisting through the thorn-thick underbrush,
scratched and exhausted, one turns suddenly
to find an unexpected waterfall,
not half a mile from the nearest road,
a spot so hard to reach that no one comes–
a hiding place, a shrine for dragonflies
and nesting jays, a sign that there is still
one piece of property that won't be owned.

(Dana Gioia)

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28.12.08


BOAS / MÁS / PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2008
VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR



NOTAS DE ABERTURA

Escrevo no Público e na Sábado e participo em programas da SICN e do RCP. Se esses são conflitos de interesse, aqui ficam registados. Este balanço depende muito do que li, ouvi e vi directamente, logo pode ser desigual e injusto com muito de bom ou mau na comunicação social. Ouço pouca rádio (este ano quase não ouvi a TSF), e vejo poucas vezes a TVI com excepção dos noticiários, mas leio quase toda a imprensa.

Estas primeiras notas são ainda uma aproximação incompleta, em muitos casos enunciando apenas a questão para posterior desenvolvimento. Como sempre, espero dos leitores do Abrupto opiniões, sugestões, correcções e debate, antes de fazer um texto definitivo.

*

GERAL

De um modo geral, a comunicação social portuguesa piorou em quase todos os aspectos. A espectacularização de toda a vida pública é hoje ao mesmo tempo uma causa da degradação da comunicação social e um seu poderoso efeito. A comunicação social funciona como uma fábrica de irrelevância, violando o seu contrato democrático original de ser o pilar do espaço público e da liberdade. Há muitas razões para acontecer o que está a acontecer, mas nenhuma justifica o que acontece à revelia da ética profissional dos jornalistas e das opções de um público supostamente responsável e exigente. Sem uma coisa e outra, a comunicação social torna-se uma fonte de desgaste da democracia. (Continua)


sA opinião, análise e o comentário são cada vez mais substituídos pelo engraçadismo, nas televisões, nas rádios, nos blogues. Como a maioria do engraçadismo é tudo menos engraçado, nasce mais da preguiça do que do trabalho (o "culto do amador" também se aplica ao engraçadismo), existe um real retrocesso na função da racionalidade que o debate público deve conter.



Sobre a ERC. (Em breve.)

Para mim há dois casos do expoente máximo do circo em que está transformada a nossa comunicação social:
1. "Caso Esmeralda" - aqui com evidente e escandalosa cumplicidade dos adultos que reclamam entre si a criança como se fosse um troféu. Inexplicável e incrível. O que será desta criança daqui a uns anos? É algo que vai ter de merecer um estudo académico quando a poeira assentar.
2. Eleições nos EUA- Com algumas excepções, a cobertura dos meses pré-eleitorais e do momento do voto, revelou-se de grande simplismo, com a demonização de um candidato e um endeusamento de outro. No meio ficou o público que gostaria de perceber melhor quem eram os dois homens sem a hipertrofia opinativa dos nossos jornalistas. Neste particular o "óscar" vai para Márcia Rodrigues da RTP.
Por fim, o que é mais importante, preocupante e fundamental em tudo isto, é aquilo que referiu: o total alheamento dos portugueses em relação a estado de coisas e a sua não reivindicação por uma imprensa de qualidade. É muito, muito, muito preocupante. Há dias em que ligo a televisão e me sinto numa espécie de mundo surreal, kafkiano, de casos e contra-casos, tudo coisas sem sentido, e que são terreno propício a uma qualquer anarquia e subsequente aparecimento de uma figura "para pôr a casa em ordem"... (Alberto Fernandes)

TELEVISÕES

A governamentalização da RTP acentuou-se de forma que devia ser escandalosa para todos, mas que permanece invisível para a ERC.


De todos os noticiários da RTP aquele que mais subserviente é com o governo é o das 13 horas. De tal modo algumas peças são de serviço ao governo, que o noticiário das 20 horas , com mais audiência e exposição, não as passa.

Os noticiários da TVI ganham por comparação com os da RTP e da SIC no alinhamento das notícias em função da relevância e são neste momento os menos subservientes face ao governo.

Vi menos os Gatos Fedorentos que nos outros anos. O que vi foi desigual, e acabou por ter menos força na imagem dos ditos do que aquelas palhaçadas sem graça nenhuma do Meo.

Quanto à televisão, julgo que são de saudar certos programas onde a História tem grande relevo. Estou a pensar nos documentários transmitidos pela RTP relativos ao centenário do Regicídio e aos noventa anos do assassinato de Sidónio Pais, bem como na luxuosa adaptação à televisão do Equador (naturalmente, estou a extrapolar a partir de um único episódio). (José Carlos Santos)

*

Concordo com muito do que diz sobre a Comunicação Social, mas acho que não tem em conta todo o panorama quando fala da RTP, especialmente no caso do noticiário das 13.00, como o "canal do Governo".

Unicamente pelo seguinte: já examinou com rigor o noticiário da SIC, especialmente o da hora do almoço? Se a RTP perde a respectiva idoneidade jornalística quando noticia "por encomenda", o que dizer do noticiário das 13.00 da SIC, que claramente tem uma agenda anti-governo? Anti-governo significa bom jornalismo? No noticiário da SIC, tenho visto de tudo: comentários sarcásticos por parte do jornalistas às políticas ou notícias sobre o Governo, manipulação evidente de determinadas notícias favoráveis ao Governo, entrevistas de rua escolhidas a dedo, em que só falam aqueles, com particular preferência para representantes da terceira idade, que se queixem das medidas do Governo, da crise, da falta de dinheiro, ou seja, tudo aquilo que sirva para desanimar e dar uma aparência geral de desânimo e descontentamento; entrevistadores, nomeadamente Bento Rodrigues, que com uma insolência indescritível para com os entrevistados em estúdio tem o descaramento de declarar, numa das entrevistas a um Ministro, penso eu, "…é o que os portugueses querem saber…", como se ele alguma vez representasse seja quem for do povo português? É isto o bom jornalismo?

Os Gato Fedorento, que passam da RTP para a SIC e, repentinamente, passam a fazer os sketches sobre Sócrates e sobre o Magalhães, constituem um excelente exemplo da forma como a SIC encara o Governo. Só mostra que, também eles, podem ser comprados.

Parece-me óbvio que a linha editorial do Público e da SIC é de anti-governo, por isso não entendo a sua revolta contra a RTP. Qual seria o cenário ideal, uma RTP isenta e objectiva, e a SIC
anti-governo? O facto da RTP ser pública obriga-a a ser 100% isenta? É óbvio que não concordo com esta falta de isenção, mas compreendo-a, especialmente quando olho para o que a concorrência faz. Se a RTP é subserviente para com o Governo, para quem é subserviente a SIC? Estamos a falar de bom jornalismo ou jornalismo em função dos interesses, sejam eles quais forem?

O problema da Comunicação Social dos dias de hoje é o facto de subestimarem o seu público. A Comunicação Social crê-se "fazedora d opiniões". Acreditam em demasia nas célebres palavras de Emídio Rangel, quando dizia ser capaz de eleger Presidentes. Na realidade, o público que atingem, comparativamente escasso tendo em conta a população do país, tem inteligência e senso comum suficientes para identificarem quando estão a ser manipulados. O "povo", esse, pouco lê e poucos noticiários vê, nem está nestas coisas interessado. Não digo isto com desrespeito nem arrogância, mas sim como constatação. A manipulação de algumas notícias é tão evidente que, não duvide, exerce o efeito contrário ao pretendido.

Só lhe peço que examine com igual isenção a linha editorial da SIC e do Público e conclua se é esse ou não o rigor jornalístico que almeja e exige.
(BT)

JORNAIS E REVISTAS

- Público e Diário de Notícias. (Em breve.)



Um ano depois, a edição do Diário de Notícias em linha continua muito má.


Os suplementos do Expresso pioraram. A Única perdeu consistência e tornou-se uma colecção fragmentada de inutilidades, o Actual está muito feio, todos os números parecem iguais e é ilegível.
Concordo com os seus comentários relativos aos suplementos do Expresso, mas, no caso do Actual, não posso deixar de lembrar que é aí que saem as crónicas do Luís Fernando Veríssimo, um daqueles autores que têm a capacidade de tornar a realidade bastante difusa ao meu redor enquanto os leio. (José Carlos Santos)

A Time Out continua a merecer ser comprada. Nem toda a gente que faz a revista dos restaurantes sabe comer e alinha muito em modas, mas de um modo geral as recomendações urbanas são acertadas.

As duas revistas de artes e mercado das artes, a Artes e Leilões e a L+arte valem o dinheiro que custam. Também servem para mostrar uma das áreas em que o gato por lebre prolifera.

Nenhum jornal é mais misterioso do que o Semanário. Não se percebe quem o faz, quem o compra, quem o paga. No entanto, os recados percebem-se bem demais e talvez isso explique o resto.


BLOGOSFERA

A blogosfera está cada vez pior. Ganhou todos os defeitos do jornalismo, quer os públicos, quer os de bastidores (que conseguem ser ainda piores que os públicos e hoje estão à vista nos blogues dos jornalistas) e nenhuma das qualidades. Está a tornar-se numa colecção de dichotes, pseudopiadas, ajuste de contas, e "bocas" que passam por ser opiniões. No geral é tudo muito mau, mesmo muito mau.

Pelas mesmas razões e com os mesmos personagens (na maioria jornalistas) a blogosfera politizou-se no pior sentido, de forma obscura e pouco transparente. Com escreveu César das Neves:
"O mais curioso é que, embora a imprensa escrita e falada seja intensamente opinativa, nunca se assume em termos políticos. Não existe em Portugal o alinhamento ideológico explícito de jornais e emissoras de referência que existe em todos os países. O público não é informado da orientação do meio que escolheu, porque todos dizem apenas a verdade. Todos os repórteres têm opinião, mas todos são isentos de orientações e partidarismos."

O blogue que eu mais leio continua a ser o Portugal dos Pequeninos. O que João Gonçalves escreve é muitas vezes irritante, tem o defeito de aceitar como válidas informações em segunda mão, - o que num blogue "pesado" ainda resulta mais errado ou injusto, - mas continua a ser das poucas e cada vez menos coisas legíveis na blogosfera.

De forma sistemática, leio o Da Literatura, o Mar Salgado, a A Terceira Noite, a Natureza do Mal e "vejo" o fworld.

Há dois blogues cuja ausência da sua lista me surpreendeu: o Blasfémias e o Vox Pop, o primeiro porque já o elogiou e citou no passado e o segundo por ser o sucessor do Bloguítica. (José Carlos Santos)
(Continua)

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COISAS SIMPLES



Desenho anónimo do século XVII.

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EARLY MORNING BLOGS

1452

Ayant donc formé le projet de décrire l'état habituel de mon âme dans la plus étrange position où se puisse jamais trouver un mortel, je n'ai vu nulle manière plus simple et plus sûre d'exécuter cette entreprise que de tenir un registre fidèle de mes promenades solitaires et des rêveries qui les remplissent quand je laisse ma tête entièrement libre, et mes idées suivre leur pente sans résistance et sans gêne. Ces heures de solitude et de méditation sont les seules de la journée où je sois pleinement moi et à moi sans diversion, sans obstacle, et où je puisse véritablement dire être ce que la nature a voulu.

J'ai bientôt senti que j'avais trop tardé d'exécuter ce projet. Mon imagination déjà moins vive ne s'enflamme plus comme autrefois à la contemplation de l'objet qui l'anime, je m'enivre moins du délire de la rêverie; il y a plus de réminiscence que de création dans ce qu'elle produit désormais, un tiède alanguissement énerve toutes mes facultés, l'esprit de vie s'éteint en moi par degrés; mon âme ne s'élance plus qu'avec peine hors de sa caduque enveloppe, et sans l'espérance de l'état auquel j'aspire parce que je m'y sens avoir droit, je n'existerais plus que par des souvenirs. Ainsi pour me contempler moi-même avant mon déclin, il faut que je remonte au moins de quelques années au temps où perdant tout espoir ici-bas et ne trouvant plus d'aliment pour mon coeur sur la terre, je m'accoutumais peu à peu à le nourrir de sa propre substance et à chercher toute sa pâture au-dedans de moi.

(Jean-Jacques Rousseau, Les rêveries du promeneur solitaire )

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27.12.08


LIVROS DE QUATRO GERAÇÕES (93)





Livros científicos do século XVIII.

*
(...) a edição publicada pela Universidade de Coimbra em 1774 dos Elementos de Euclides chamou-me logo a atenção. É natural que esse livro tenha sido publicado nessa altura por essa Universidade em virtude da reforma de 1772. Mas desconhecia totalmente que a edição de Robert Simson (que, dos 13 livros que formam os Elementos, só contém os livros 1 a 6, o 11º e o 12º) tivesse sido publicada em Portugal e somente 18 anos após a primeira publicação. É claro que, como foi publicada originalmente em latim, não havia qualquer trabalho de tradução envolvido. A propósito, esta é das versões mais populares dos Elementos jamais publicadas; teve mais de 70 edições, revisões e traduções, a última das quais publicada em São Paulo, em 1944.

(José Carlos Santos)

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EXTERIORES: CORES DE HOJE

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Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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COISAS DA SÁBADO:
A “EMPRESÁRIA ANGOLANA” QUE COMPROU UMA FATIA DUM BANCO PORTUGUÊS POR MUITOS MILHÕES






Dois títulos muito diferentes no mesmo dia para a mesma coisa, o do Diário de Notícias e o do Público. Dada a natureza da sua fortuna, num dos países mais pobres do mundo, a referência à qualidade de "filha" do Presidente é fundamental. "Empresária angolana" é uma contradição nos seus termos.
O interessante exercício de ver alguns jornais a fazerem verdadeiras manobras de equilibrismo para nos falarem da “empresária angolana” que comprou parte do BPI, sem nos dizerem que essa “empresária” é a filha do Presidente de Angola, diz-nos muito sobre o novo temor reverencial que por aí cresce: com os dirigentes angolanos é preciso muito cuidadinho. O facto é que para mim, que não sou dado a esses cuidadinhos, permanece um mistério como é possível que a filha de um Presidente que ganha umas centenas de dólares de salário oficial tenha tido uma ascensão fulgurante no mundo dos negócios, da recolha do lixo de Luanda, aos diamantes e numa míriade de empresas com boas relações portuguesas como os Espírito Santos e os Amorins. De onde vem este dinheiro?

É dinheiro não é? Fala por si, não fala? Então qual é o problema? O problema é a transmutação respeitosa da filha do Presidente, em “empresária angolana”, pelas artes do silêncio e do temor e o medo de fazer as perguntas que devem ser feitas.

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© José Pacheco Pereira
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