ABRUPTO

31.12.08


O ANO A CAMINHO DO FIM (1)

Como eu tenho uma visão da análise e comentário político que deve ser testado pela realidade (para outro género pode ir directamente ao Tarot neste caderno), fui ler o que escrevi o ano passado, para ver se havia grandes discrepâncias com a realidade do que aconteceu. Não havia, o que não é mérito especial meu, mas sim da previsibilidade conservadora da nossa vida política. Estamos sentados numa rocha de resistência à mudança, tão bem ancorada no fundo dos oceanos, que só um cataclismo épico a pode mover. No entanto, suspeito, que já estivemos mais longe desse cataclismo...

O que eu disse há um ano sobre 2008 foi que “vamos continuar a empobrecer tão certo como dois e dois serem quatro”. A aritmética continua a ser fiável, continuamos a empobrecer. Disse também que “o governo terá a tentação de dar mais do que pode e deve, á medida que se aproximam eleições.” O governo de José Sócrates continua a ser fiável no seu eleitoralismo.

Vamos ter aeroporto? Sei lá. Onde será? Em Portugal talvez.” Continua também aqui tudo na mesma, embora eu me tenha enganado com a sugestão de que Mário Lino sairia se o aeroporto fosse para outra banda. Não saiu, o que é uma lição para a minha ingenuidade sobre o carácter dos homens públicos. Depois, quanto ao PSD, escrevi que “o PSD mudará de fase no ciclo das metamorfoses”, governava então Menezes o homem que dizia que não saia nem à bomba. Saiu e nem um estalinho de Carnaval foi preciso. Depois há duas últimas previsões que estão na ordem do dia: “os partidos vão começar a arder por dentro” à medida que se aproximam eleições, e “vamos ter cada vez mais presidente”. Tivemos e ainda vamos ter mais. Não tenho aqui à mão as cartas do Tarot que foram lançadas no ano passado, mas peço meças.

Vamos agora repetir o exercício, começando pelas palavras-chave deste ano.

(Continua.)

(Versão da revista de fim de ano do Correio da Manhã.)

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© José Pacheco Pereira
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