ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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31.5.07
EARLY MORNING BLOGS The year's at the spring,
And day's at the morn; Morning's at seven; The hill-side's dew-pearl'd; The lark's on the wing; The snail's on the thorn; God's in His heaven-- All's right with the world! (Robert Browning) * Bom dia! (url) 30.5.07
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 30 de Maio de 2007 Uma característica dos nossos dias: a enorme hostilidade comunicacional às greves, tão evidente em noticiários como o da SIC. O governo agradece que o olhar dos jornalistas sobre a greve seja uma réplica do seu, tão evidente no efeito de espelho dos jornalistas, que queriam que a CGTP usasse a mesma grelha de análise dos secretários de estado. O modo como impediram Carvalho da Silva de falar contrasta com o silêncio reverencial com que ouviram secretários de estado tirar "lições políticas" da greve. Diante deles, mal ou bem, Carvalho da Silva dava informações que nenhum órgão de comunicação tinha dado, como, por exemplo, que houve cerca de sessenta voos cancelados nos aeroportos. Eu gostava de o ter ouvido, para fazer o meu julgamento, em particular os exemplos concretos dados, mesmo sem os números globais que são fáceis de avançar pelo governo mas que são (como muitos números sindicais) uma mistificação. Sinais dos tempos. NOTA suplementar - Pelo contrário, a SICN, no noticiário das 22 horas com Ana Lourenço, está a tratar com muita seriedade a questão da greve. Faz uma diferença! * E só porque estou ao computador enquanto vejo o telejornal na tv, o que faz deste um mail de impulso.2 pontos: (url) (url) (url) 29.5.07
HOJE - ESCOLHAS DO ABRUPTO NO Bourvil cantando La Tactique du Gendarme do filme Le Roi Pandore de 1949. Nisto os franceses foram sempre bons. Les gens disent oh les gendarmes quand on a Besoin d'eux, ils ne sont jamais là. Je réponds du tac au tac Car pensez j'ai ma tactiqu', Attendez un peu que j'vous expliqu' La taca taca tac tac tiqu', Du gendarme C'est d'être toujours là Quand on ne l'attend pas. (url) ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR (url) EARLY MORNING BLOGS So hangs the hour like fruit fullblown and sweet, Our strict and desperate avatar, Despite that antique westward gulls lament Over enormous waters which retreat Weary unto the white and sensual star. Accept these images for what they are-- Out of the past a fragile element Of substance into accident. I would speak honestly and of a full heart; I would speak surely for the tale is short, And the soul's remorseless catalogue Assumes its quick and piteous sum. Think you, hungry is the city in the fog Where now the darkened piles resume Their framed and frozen prayer Articulate and shafted in the stone Against the void and absolute air. If so the frantic breath could be forgiven, And the deep blood subdued before it is gone In a savage paternoster to the stone, Then might we all be shriven. (Robert Penn Warren) * Bom dia! (url) 28.5.07
(url) (url) EARLY MORNING BLOGS The fairies break their dances And leave the printed lawn, And up from India glances The silver sail of dawn. The candles burn their sockets, The blinds let through the day, The young man feels his pockets And wonders what's to pay. (A.E. Housman) * Bom dia! (url) 27.5.07
NUM BLOGUE PERTO DE SI, NUMA GALÁXIA MUITO LONGE NESTES DIAS
UMA VIDA, UMA FICHA - um dia da vida de "João Silva", funcionário público, e o seu rastro digital e analógico- + NOVO comentários de Daniel Polónio, António Fonseca e Emanuel Ferreira. COISAS DA SÁBADO: DEBATES POUCO PLURAIS E CONDICIONAMENTO DA OPINIÃO - sobre o Prós e Contras dedicado a Lisboa. + NOVO comentário Miguel Ferreira Rodrigues. OS LIVROS DA MINHA VIDA 6 (OS PROPRIAMENTE DITOS, OS VERDADEIROS, OS DA BAYER) - uma colecção de "descobertas" + NOVO comentário de Ana Luisa Mouta. (url)
João Silva e a mulher vivem no Montijo. Ele trabalha em Lisboa, a mulher é funcionária da autarquia e fica na localidade onde habita. Vamos deixar para já a mulher, e a filha de cinco anos, na sua terra e na sua vida, e acompanhemos João Silva num dos seus dias.
João Silva vive no Montijo porque a Ponte Vasco da Gama existe e ele encontrou lá melhores condições para comprar o seu apartamento e pagar o seu empréstimo à habitação. O banco pediu-lhe imensos papéis e ele contou ao banco sobre o que ganhava, a sua saúde, a sua família, o seu emprego. Tudo normal. João Silva até é um homem moderno, não acabou o seu curso numa universidade privada, mas há-de acabar. Há-de ser advogado, ou melhor, jurista. Não será assim tão difícil e ele, que já é um homem do seu tempo, justificou a casa no Montijo por razões "ecológicas", o Tejo, o campo, etc., etc. João Silva faz um bocado de auto-estrada e a ponte. Hoje atrasou-se, mas também já há menos trânsito. Acelera um pouco e o seu carro foi fotografado pela polícia. Foi também observado por uma câmara que controla a auto-estrada. Bom, mais uma multa. À chegada às portagens, travou muito. Ele leu nos jornais que a polícia agora vai controlar os tempos de passagem entre as portagens e a hora a que passou fica registada na Via Verde. O parque de estacionamento que vai usar no Parque Eduardo VII (João é funcionário num dos tribunais do Palácio da Justiça) tem também Via Verde e regista o tempo da sua entrada e o da sua saída e a matrícula do carro. Normalmente ele estacionaria em cima de qualquer passeio, mas hoje está atrasado. Senta-se à sua secretária e vai ler os jornais, os desportivos e os do serviço, que foram três (tivera um chefe em tempos de vacas gordas que achava que o serviço devia comprar o Correio da Manhã, o Público e um diário económico), mas agora só há o Correio da Manhã. Entre o jornal que já lhe chega quase desfeito, alguém cortou um cupão para um concurso, outro roubou a página do sudoku, e a Internet, ele lê distraído uma notícia sobre a criação de uma base de dados de perfis de ADN "ao serviço da investigação criminal" com "dados de pessoas condenadas a penas de prisão iguais ou superiores a três anos", a que se soma "um ficheiro para dados de investigação civil (...) "alimentado" por voluntários que quiserem depositar ali os seus dados pessoais". Ele acha muito bem e passa adiante. João Silva, quando chega à hora do almoço, já deixou os seus dados em fotografia, vídeo e em várias bases de dados da polícia, do Multibanco e do Estado. Daqui a uns dias, com as novas câmaras de videovigilância que António Costa quer instalar em Lisboa se ganhar as eleições, vai ser filmado na rua várias vezes. Costa tem uma longa tradição de introdução de instrumentos de vigilância. Veja-se esta notícia no Diário de Notícias de 26 de Setembro de 2005: Fez também uns telefonemas com o telemóvel, devidamente registados numa base de dados, e andou pela Internet... O tipo de informação existente nas bases de dados dos serviços telefónicos pode dar uma ideia do seu potencial para vigilância. O serviço de facturação detalhada da TMN fornece os sequintes dados:O seu computador, ligado a um servidor do Ministério da Justiça - não esqueçamos que ele é funcionário judicial -, regista todo o seu "passeio" pela Internet, os seus e-mails, incluindo as graçolas ao primeiro-ministro, a leitura de um sítio sobre desporto, uns blogues "engraçados", e, em particular, um blogue anónimo, A Chama da Justiça, que ele sabe que é feito por um funcionário da sala ao lado e que tem uns boatos e umas "revelações" sobre os seus chefes. João Silva, que assina uns comentários anónimos com o nickname de "Leão Castigador", costuma deixar lá umas frases pouco abonatórias sobre os seus colegas e umas "revelações" de sua lavra sobre quem anda com quem. Quando assina "Castigador", fica feliz com a sua obra. Com os colegas homens e a cumplicidade sorridente das colegas mulheres, vão todos os dias religiosamente ver as "gajas" ao Hi5 Porcas, onde ele já tinha encontrado as fotos de uma vizinha com as amigas numa discoteca de Almada. Tudo como deve ser, e é, em milhares de escritórios públicos e privados. Com os amigos, vai almoçar e combinam ir depois do emprego "beber uns copos" a uma espécie de bar que tem striptease. Ele pensava que essas casas só funcionavam à noite escura, mas descobriu que não muito longe dali, em Campolide, o fim da tarde era animado pelo tropel de funcionários e uns jovens yuppies duns escritórios, que iam divertir-se numa espécie de alterne mitigado num bar com música muito alta, onde batiam com as mãos nas costas uns dos outros, diziam umas piadas e bebiam uns uísques. Nada que multidões de homens sós não fizessem desde os tempos das legiões romanas. Só que, pensando bem, tinha que pagar a dinheiro, porque a mulher podia ver as despesas do bar no cartão de crédito e já basta de maçadas. À saída, já vai um pouco mais feliz, mas há que voltar ao Montijo, o que o torna mais infeliz. Dá por si a dar razão mental ao ministro Mário Lino, aquilo de facto é um deserto e eu quero lá saber do Tejo e do campo para alguma coisa! Fica contente por ser "politicamente incorrecto" durante uns segundos, talvez abra um blogue. Depois passa pela farmácia a comprar uns medicamentos para a asma da filha, com a receita que lhe passaram. O registo da compra fica no recibo, que irá dar às Finanças, no Multibanco, na Segurança Social, no ficheiro do médico que o passou. Todos podem saber que ele comprou aquele medicamento, e o mesmo se passava se fosse um tratamento "vergonhoso", ou a pílula do dia seguinte, ou Viagra. As Finanças, em particular, estão cada vez mais curiosas sobre tudo e "cruzam" muitos dados. Quando João Silva volta a casa, passa de novo pela Via Verde, matrícula, local, hora e velocidade ficam registadas por comparação. As câmaras da ponte continuam a gravá-lo no caminho, até que seja o olhar da mulher, que desconfia do atraso e do vago perfume misturado com o tabaco, a gravá-lo com ainda maior intensidade. Um olhar humano é ainda mais perfeito do que o das câmaras, ela "vê" o bar do fim da tarde, com grande nitidez, mas sabe bastante menos do que o Estado. À noite, com a mulher deitada e a filha a dormir, quando ele vê um filme na sua TV Box, ele está a ser registado e fichado, mesmo que a empresa lhe prometa que não manda a discriminação dos filmes na sua factura, por razões óbvias. A TV Cabo sabe que há esposas e pais e vizinhos que às vezes apanham a carta errada. Mas isso é para enganar os papalvos. Numa qualquer base de dados, numa qualquer ficha real ou potencial, a vida de João Silva cabe toda, em particular sexo e dinheiro, os grandes fautores da curiosidade alheia, as marcas da fragilidade, as Grandes Mentiras. O Estado sabe que todas estas coisas podem vir a ser úteis. Um dia. João Silva está longe de o saber. (No Público de 26 de Maio de 2007) * Comentando o artigo que hoje publica no seu blogue é curioso que ainda hoje pensei precisamente nesse tema. Fui consultar junto de um quiosque num centro comercial as condições para ter televisão via ligação de internet com o meu fornecedor, e só precisei de dar o meu nº de contribuinte para a assistente do quiosque ficar a saber, sem eu lhe ter de relatar em pormenor, os dados necessários sobre a minha ligação. Se fosse no banco seria a mesma coisa, nos impostos idem, no supermercado idem, na água, na energia eléctrica, no gás, idem. Se assim não fosse teria óbviamente de perder tempos infindos cada vez que necessitasse de dialogar com qualquer organização que me fornece um serviço regular. Eles sabem o que eu sei sem precisar de lhes dizer, precisamente o que você faz aqui no seu blogue. Isto apenas para dizer que existe uma comissão nacional de protecção de dados e legislação que regulam estas coisas. (url) EARLY MORNING BLOGS The great man turns his back on the island. Now he will not die in paradise nor hear again the lutes of paradise among the olive trees, by the clear pools under the cypresses. Time begins now, in which he hears again that pulse which is the narrative sea, ar dawn when its pull is stongest. What has brought us here will lead us away; our ship sways in the tined harbor water. Now the spell is ended. Giove him back his life, sea that can only move forward. (Louise Gluck) * Bom dia! (url) 26.5.07
(url) EARLY MORNING BLOGS (Esopo, Fábulas, vertidas do grego por Manuel Mendes) * Bom dia! (url) 25.5.07
NUM BLOGUE PERTO DE SI, NUMA GALÁXIA MUITO LONGE NESTES DIAS OS LIVROS DA MINHA VIDA 6 (OS PROPRIAMENTE DITOS, OS VERDADEIROS, OS DA BAYER) - uma colecção de "descobertas" + NOVO comentário de Helena Mota.
COISAS DA SÁBADO: DEBATES POUCO PLURAIS E CONDICIONAMENTO DA OPINIÃO - sobre o Prós e Contras dedicado a Lisboa. COISAS DA SÁBADO: BOYS E GIRLS EM ACÇÃO - o caso da DREN e a função pública. (url) (url) COISAS DA SÁBADO: DEBATES POUCO PLURAIS E CONDICIONAMENTO DA OPINIÃO O último Prós e Contras sobre Lisboa foi um exemplo de como é possível fazer um programa mau, confuso e politicamente muito pouco pluralista. Digo isto, como o mesmo à vontade com que muitas vezes elogiei o programa. Mas este último foi de facto um case study de como se pode fazer tudo mal, com a agravante de se estar praticamente em pré-campanha e por isso haver claras incidências políticas no modo como o programa gere “evidências” como a atribuição implícita da crise da cidade às peripécias da presidência Carmona Rodrigues como se essa crise só com ele emergisse do nada. Se houvesse pluralismo no Prós e Contras alguém se teria incomodado com esta ideia, tão útil para a campanha dos dias que correm, quanto falsa. O pluralismo num programa de opinião não está em colocar um do PS, outro do PSD e por aí adiante, como pensa a ERC. Está em retratar as fracturas de opinião realmente existentes, e essas não vieram a um programa que ironicamente se chama Prós e Contras e é o mais importante programa de debate da televisão pública. Por exemplo, o Arquitecto Ribeiro Teles não tem críticos das suas posições sobre a cidade? Certamente que tem, igualmente qualificados, porque há quem veja os problemas da cidade de forma diferente, o arquitecto Graça Dias por exemplo, o “homem que gostava das cidades”. Paulo Varela Gomes, cujo artigo tremendista foi claramente o mote do programa pelo fascínio que exerce o radicalismo simples das análises, não tem quem dele discorde de fundo? Se houvesse pluralismo haveria quem escavasse um pouco mais no artigo que deslumbrou a sala e veria que ele era omisso, por razões ideológicas, na referência aos factores principais da degradação da cidade que estão muito para além da crise actual. Por exemplo, quando se invectiva o transporte em automóvel privado a favor do transporte público e não se fala da responsabilidade da legislação salazarista-socialista sobre o arrendamento urbano, talvez o factor singular mais grave da decadência da cidade, percebe-se que há uma opção ideológica que não se revela e não se discute. Os absurdos elogios a Duarte Pacheco não passariam o escrutínio simples de quem soubesse um mínimo da história do Estado Novo e explicasse que o que ele fez só era possível em ditadura e com a subordinação da propriedade privada não à cidade, mas a uma cidade monumental de inspiração nas obras públicas do fascismo italiano. É isso que querem? Grandes avenidas, bairros sociais, estádios “nacionais”, urbanismo imperial, e exposições coloniais? Se calhar é ainda este modelo o que inconscientemente povoa os sonhos de grandeza da esquerda e da direita. * Pergunta se o Arquitecto Ribeiro Teles não tem críticos das suas posições sobre a cidade: Tem-los obviamente. Só que esses, não perdem tempo a refutá-lo já que têm vindo a fazer desde sempre na cidade, tudo aquilo contra o qual ele luta. (url) EARLY MORNING BLOGS You know Orien always comes up sideways. Throwing a leg up over our fence of mountains, And rising on his hands, he looks in on me Busy outdoors by lantern-light with something I should have done by daylight, and indeed, After the ground is frozen, I should have done Before it froze, and a gust flings a handful Of waste leaves at my smoky lantern chimney To make fun of my way of doing things, Or else fun of Orion's having caught me. Has a man, I should like to ask, no rights These forces are obliged to pay respect to?" So Brad McLaughlin mingled reckless talk Of heavenly stars with hugger-mugger farming, Till having failed at hugger-mugger farming, He burned his house down for the fire insurance And spent the proceeds on a telescope To satisfy a life-long curiosity About our place among the infinities. (Robert Frost) * Bom dia! (url) NUM BLOGUE PERTO DE SI, NUMA GALÁXIA MUITO LONGE NESTES DIAS OS LIVROS DA MINHA VIDA 6 (OS PROPRIAMENTE DITOS, OS VERDADEIROS, OS DA BAYER) + NOVO comentário de António Conceição.NOVO - comentários de António Lobo Xavier e Manuel Lopes Rocha ao Coração de Amicis em OS LIVROS DA MINHA VIDA 4 LENDO / VENDO / OUVINDO / ÁTOMOS E BITS de 22 de Maio de 2007 - sobre o "professor que falou demais"... + NOVO comentário de Gabriel Mithá Ribeiro. (url)
O caso do professor punido por delito de anedota por uma comissária política do PS, bem conhecida no aparelho da educação regional do Norte e o modo como a Governadora Civil de Lisboa, bem conhecida na Federação do PS de Lisboa, dependente de António Costa, que aparece a apoiar como “cidadã”, actuou para acelerar a data das eleições de Lisboa e foi desautorizada pelo Tribunal Constitucional, são apenas dois exemplos mais evidentes do modo como a politização dos lugares de nomeação governamental é usada em momentos críticos. Aqui está para que servem os boys e as girls, que o PS (normalmente com maior eficácia e em maior número que o seu congénere PSD, réu do mesmo delito) coloca no aparelho de Estado.
Esta é uma das razões porque convém ser muito prudente ao embandeirar em arco com medidas que, na função pública, acentuam os critérios de classificação por quotas e a penalização dos que não chegam aos “excelentes” e “muito bons”. Essas medidas seriam de saudar se as chefias na função pública tivessem uma tradição de independência política e profissionalismo, o que , como se sabe, não têm por culpa e responsabilidade em particular do PS e do PSD. Por isso, o problema dos boys e girls vai mais fundo do que estas zelosas medidas que chegaram à opinião pública. Já agora, pelo menos no caso da responsável pela DREN, quanto tempo falta para o governo demitir a senhora do seu cargo? (url) 24.5.07
IMAGENS QUE FALAM (url)
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 24 de Maio de 2007 Progressões (nas carreiras) rima com eleições. Vejam-se as datas. (url) NUM BLOGUE PERTO DE SI, NUMA GALÁXIA MUITO LONGE NESTES DIAS OS LIVROS DA MINHA VIDA 6 (OS PROPRIAMENTE DITOS, OS VERDADEIROS, OS DA BAYER) + NOVO comentário de António Conceição.NOVO - comentários de António Lobo Xavier e Manuel Lopes Rocha ao Coração de Amicis em OS LIVROS DA MINHA VIDA 4 LENDO / VENDO / OUVINDO / ÁTOMOS E BITS de 22 de Maio de 2007 - sobre o "professor que falou demais"... + NOVO comentário de Gabriel Mithá Ribeiro. COISAS DA SÁBADO: BELAS E MESTRES - o sucesso das Belas como forma de Destino Manifesto. (url)
OS LIVROS DA MINHA VIDA 6
(OS PROPRIAMENTE DITOS, OS VERDADEIROS, OS DA BAYER) Não eram tanto os livros, mas a colecção. A verdadeira Feira do Livro, então na Avenida dos Aliados, começava quando o meu pai me comprava mais um livro desta colecção. Li-os por volta dos anos da campanha de Delgado, as minhas primeiras vagas memórias de que havia conflito político. Era um tempo em que o mais breve sinal de agitação nas ruas levava, numa cidade que mantinha memórias difusas da "revolução" de 1927, ao armazenamento de mantimentos de emergência. Conservas, arroz, massas, eram comprados e colocados na despensa. Quando a despensa ficava cheia, para além do consumo imediato, eu sabia que havia "revolução" nas ruas. Delgado neste caso, como tinha sido Norton e 1927, e como o meu avô se recordava, tinha sido a Monarquia do Norte. Convém lembrar que é o Porto e foi sempre no Porto que estas coisas foram mais sérias. Mantimentos e livros. Nesta colecção nunca me interessei pela biografia de Florence Nightingale, capa roxa, porque tinha o coração já empedernido, mas sim pelas de Pasteur e pela Madame Curie, capa amarela. Curioso este "madame", para Maria Skłodowska, que me introduziu ao mundo da pechblenda, no seu armazém-laboratório, onde ela, uma noite, viu luzir um tubo de ensaio. O Pasteur começava pelo olhar pelas tanoarias do vizinho, passava pelo leite estragado e tinha o seu clímax na história do rapaz enjaulado com raiva. A raiva não era como agora uma inexistência, ainda metia medo, como o tétano, tão próximos ainda estavamos do mundo dos campos. Cães com raiva, pregos enferrujados, medos, lendas rurais. Li também estas Grandes Invenções, a História da Electricidade e muitos outros, introduzindo-me à lâmpada e ao fonógrafo de Edison, ao radar, à televisão, a Marconi experimentando as suas antenas. Nestes livros foi a "biografia" da descoberta que aprendi, mais do que a física ou a química das coisas. Essas aprendi-as numa outra colecção que se chamava... "Nunca é Tarde para Aprender". Infelizmente perdi esses livros não sei como, com muita pena. Eram muito pequenos, mais pequenos do que um bolso, e penso que de produção nacional. Eram diálogos sobre as coisas do mundo, sobre os "mistérios" da natureza e a sua explicação. Sobre os terramotos, por exemplo. Destas duas colecções fui Leitor Ávido, por isso foram de facto "livros da vida". Sem eles seria diferente, saberia menos no tempo certo. Porque nos livros há sempre um tempo certo, que, quando se perde, nunca se recupera. * Pacheco Pereira deve ser uns dez anos mais velho do que eu (tenho 46). Isto, na adolescência, representa uma eternidade. Muito mais, quando a diferença é vivida na transição do salazarismo para o marcelismo e deste para a democracia; da escola primária e do liceu, para a universidade. As minhas primeiras memórias com uma componente política reportam-se à inauguração da ponte sobre o Tejo (cujas fotografias vi nas páginas do "Diário de Notícias" que a minha avó espalhou pelo chão recém-encerado da sala de jantar), à invasão da Checoslováquia, à ida à Lua, à doença e morte de Salazar, às deventuras da "Apolo XIII", aos atentados no Jogos Olímpicos de Munique, às conversas em família de Marcello Caetano e ao golpe de estado de Pinochet no Chile, de que o programa "Semana 7" (acho que era assim que se chamava. Ou seria "TV 7"?), de João Coito, e a educação numa família adapatada ao regime, me fizeram fiel apoiante. E às mensagens de Natal dos soldados na colónias, claro. (url) EARLY MORNING BLOGS (url) 22.5.07
LENDO
VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 22 de Maio de 2007 RTP, noticiário das 13 horas: uma pequena peça sobre o processo do professor do Porto que disse uma frase jocosa sobre José Sócrates e foi punido pela zelosa DREN, uma conhecida militante do PS do Porto. A peça estava escrita numa linguagem um pouco confusa e usava um vocabulário bizarro, sempre á volta de um inuendo: o que o professor disse terá sido mais grave do que o que se diz que ele disse. O inuendo é sugestivo, a linguagem rebuscada da peça pode ser apenas incompetência. O que não é incompetência é a frase com que se termina e que aqui reproduzo ipsis verbis: "o professor não quer falar sobre o assunto porque provavelmente já falou demais." Interessante "jornalismo"... * Sobre o assunto do processo disciplinar ao professor da DREN, era bom que se visse a floresta e não apenas a árvore. Esse tipo de práticas há muito que dei por elas nas escolas. Mesmo perante casos evidentes de má gestão ou perante opções pedagógicas próximas do barbárie, a maior parte dos professores come e cala. O pior dos processos disciplinares aos professores nas escolas não é a sua efectivação, mas o seu poder persuasivo. Ele paira que nem fantasma omnipresente. É o que os impede de serem racionais e críticos face a tanta estupidez pedagógica. Basta comparar o conteúdo das conversas informais entre professores com o conteúdo dos discursos formais em reuniões. Esta incongruência é um dos aspectos que tipifica os sistemas (sociais, políticos ou institucionais) repressivos, pois a verdadeira e eficaz repressão é a simbólica e não a materializada, como bem se sabe. Acrescente-se à habitual irracionalidade do discurso sindical (quem confunde esse discurso com o «dos professores» erra rotundamente) a pressão populista trazida pelo actual governo, mesclada com a pressão do concurso para professor titular, e veja para onde e como se pode estar a caminhar. Isto arrasta-se há muitos e muitos anos, tanto mais grave quanto maior o poder politicamente correcto supostamente pró-alunos de «cientistas da educação» e psicólogos associados, os ideólogos «ingénuos» de serviço. Já não é a «cortina de ferro» que nos separa do Leste, mas uma cortina de estupidez com o rótulo de «esquerda moderna» que cria barreiras entre nós. O ar já foi mais saudável. Felizmente que numa democracia tudo pode mudar de um dia para outro. (url) TUMULTOS HABITUAIS DA TERRA / ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR (url) EARLY MORNING BLOGS Walking is like imagination, a single step dissolves the circle into motion; the eye here and there rests on a leaf, gap, or ledge, everything flowing except where sight touches seen: stop, though, and reality snaps back in, locked hard, forms sharply themselves, bushbank, dentree, phoneline, definite, fixed, the self, too, then caught real, clouds and wind melting into their directions, breaking around and over, down and out, motions profound, alive, musical! (A. R. Ammons) * Bom dia! (url) 21.5.07
(url) Antigamente havia a Bela e o Monstro, hoje há a Bela e o Mestre. Este é o "programa" do programa:Uns meninos espertos mas tortos e umas meninas com tudo no sítio mas burras, fizeram mais um dos reality shows de que se alimenta a nossa televisão. Supostamente o que separava uns de outros era a sabedoria (deles) e a beleza (delas) e não sei o que mais ofendia ou perturbava quem via. Presumo que a conjugação da beleza com a ignorância crassa, um típico estereotipo, deve ter sido a chave do sucesso, mais do que a “sabedoria” dos meninos. Claro que cá fora, as mulheres são de um modo geral mais “mestres” e mais “belas” e eles dificilmente competem quer numa quer noutra qualidade, mas talvez tenha sido também isso uma fonte de atracção, porque ajuda ao escapismo masculino pensar que, pelo menos, na televisão, as mulheres são mais burras do que eles. Acabado o concurso o que vai ser destes produtos magnificos do sistema escolar português? Elas certamente que vão singrar na vida, entre as páginas da Nova Gente, da Flash, do 24 Horas, esticando os seus quinze minutos de fama pelas discotecas, bares e restaurantes de Lisboa, arranjarão namorados e “amigos especiais”, casarão e e descasarão, colocarão e arrancarão tatuagens, serão patrocinadas por lojas e marcas de produtos para as belas burras, farão plásticas e terão alguns meninos, poucos que o mundo das revistas não suporta muitas gravidezes. Elas não leêm um livro, mas estão mais especialmente adaptadas para ter sucesso na sua faixa etária do que muitos e muitas mestres. Quem não compreende isto, não compreende o mundo dos dias de hoje. O mundo é delas. Não disse uma das Belas que “um sinónimo de bonito é feio”? (url) TUMULTOS HABITUAIS DA TERRA (url) NUNCA É TARDE PARA APRENDER: "LAS MOCICAS DE AGORA / TODAS VISTEN DE TANGO" Mark Mazower, Salonica, City of Ghosts: Christians, Muslims and Jews, 1430-1950, Londres, Harper Collins, 2004. Tenho agora que voltar a Salónica. Quando lá estive, vi igrejas e muralhas bizantinas, e os túmulos dos reis da Macedónia antiga nos arredores da cidade. É verdade que vi as "antiguidades romanas", a Rotonda, o arco de Galerius, e de passagem, como se nada fosse, uma antiga mesquita e um hamam e, ocasionalmente perdida num muro, ou numa fonte, uma inscrição em árabe ou uma assinatura ornada de um sultão. Mas nada de muito turco, nada de nada de judeu e quase tudo grego. Os meus amigos que me guiaram eram gregos e para eles era importante que eu visse uma terra grega, tão naturalmente grega como Atenas, e, de algum modo, Salónica hoje é assim. O mérito deste excepcional livro, um dos melhores ensaios históricos que jamais li sobre uma cidade, é exactamente mostrar como esta "helenização" de Salónica, a Tessaloniki que os meus amigos gregos me queriam mostrar, é não só recente, como "falsa" em relação à identidade profunda da cidade, feita por gregos, turcos, búlgaros, albaneses e judeus e pela tragédia da sua progressiva, e às vezes muito rápida, desaparição, saída forçada e extermínio. O título remete para as três classificações dos seus habitantes durante quase quinhentos anos: "cristãos", na sua maioria gregos, mas também eslavos, muçulmanos, na sua maioria turcos, mas também uma comunidade muito especial de judeus convertidos ao Islão; e por fim, os judeus, oriundos na sua maioria de Portugal e Espanha. Nesta foto do início do século XX ainda se podem ver alguns dos muitos minaretes que faziam parte da paisagem urbana. Depois da cidade ser integrada na Grécia foram todos derrubados com excepção de um.A actual cidade grega fala pelos "cristãos", embora os búlgaros fossem daí corridos na disputa nacionalista pela Macedónia, e não é preciso ir muito longe para encontrar os últimos turcos da Europa na Trácia e em Istambul. Já os judeus esses desapareceram de todo, em cinco semanas de deportação para as câmaras de gás de Auschwitz, pondo termo a uma comunidade que fazia parte indissociável da cidade durante quinhentos anos e a tornava na maior cidade judia do império otomano. Gozando sempre de excepcionais condições de liberdade civil e religiosa, os judeus sentiam-se bem no império otomano, e representavam o sector mais dinâmico da cidade, onde os turcos controlavam a administração e a segurança e os beys eram os proprietários fundiários de uma população rural "cristã". Na cidade eles eram a classe operária, os artesãos, os comerciantes e a elite ilustrada. Tinham jornais e clubes, cinemas e associações profissionais, hospitais e sinagogas. A política otomana de comunidades religiosas entregava ao rabi (e ao patriarca grego para a comunidade ortodoxa) a responsabilidade do autogoverno religioso e a imposição dos costumes tradicionais. Os judeus sentiam-se muito melhor em Salónica do que na Europa do sul, de onde tinham sido expulsos, e do centro e leste, onde os pogroms se sucediam. Tudo corria bem até que a expansão do nacionalismo helénico desde o século XIX, a decadência do império otomano e a tentativa dos "Jovens Turcos" de criar uma consciência nacional turca para além da identidade religiosa e étnica, os colocava crescentemente na situação de só poderem dizer, no auge do crescendo nacionalista à sua volta, que "eram de Salónica" e não eram nem gregos, nem turcos. A cidade tornou-se grega durante as guerras balcânicas de 1912-3 (ver mapa ao lado). Vistos pelos gregos como um resquício otomano, tratados de traidores quando o comunismo entrou na cidade pelas mãos dos trabalhadores judeus, acusados de estarem ao serviço da Bulgária e da Turquia de Ataturk, ele próprio nascido em Salónica, acabaram por se ver acusados da "Catástrofe": a expulsão em massa dos gregos da Anatólia, depois das aventuras militares de Venizelos. Os refugiados que vieram em grande número para Salónica, em particular de Esmirna, acabaram por fazer da cidade pela primeira vez uma cidade grega. E tinham contas a ajustar pela sua desgraça. Quando a ocupação nazi chegou e out of the blue os ajudantes de Eichmann acabaram com a Salónica judaica, muitos gregos ajudaram. Um português que visitasse Salónica nos primeiros anos do século XX não teria dificuldade em entender-se. Ser-lhe-ia oferecido kezo blanco, e poderia encontrar, na letra de um foxtrot, diavlas koketas kon la elegansa el shik das meninas de Paris. O título desta nota sobre as mocicas e o tango é o de uma música popular que deixava o Rabi furioso pelos costumes dissolutos dos seus fiéis. É que em Salónica os judeus falavam o judesmo, uma variante do português e castelhano, que quase desapareceu como língua com o fim da presença judaica na cidade. A facilidade de o ler é tanta que experimentei sem qualquer dificuldade ler o Salom, um periódico judeu de Istambul, que ainda é publicado em judesmo. Na cidade havia sinagogas com o nome de Lisboa e Évora. Na foto, famílias judaicas fugindo de suas casas depois de um motim anti-judeu instigado pelos nacionalistas gregos.Se lá voltar, não tornarei a pisar o chão da universidade de Salónica, construída por cima do vasto cemitério judeu, vandalizado e pilhado, sem me lembrar de que muitos dos mortos que lá ainda continuam por debaixo do betão, devem ter tido nomes portugueses. (url) EARLY MORNING BLOGS A new volcano has erupted,
the papers say, and last week I was reading where some ship saw an island being born: at first a breath of steam, ten miles away; and then a black fleck—basalt, probably— rose in the mate’s binoculars and caught on the horizon like a fly. They named it. But my poor old island’s still un-rediscovered, un-renamable. None of the books has ever got it right. ( Elizabeth Bishop) * Bom dia! (url)
© José Pacheco Pereira
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