ABRUPTO

31.5.07


EARLY MORNING BLOGS
1032 - Pippa's Song

The year's at the spring,
And day's at the morn;
Morning's at seven;
The hill-side's dew-pearl'd;
The lark's on the wing;
The snail's on the thorn;
God's in His heaven--
All's right with the world!

(Robert Browning)

*

Bom dia!

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30.5.07


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 30 de Maio de 2007


Uma característica dos nossos dias: a enorme hostilidade comunicacional às greves, tão evidente em noticiários como o da SIC. O governo agradece que o olhar dos jornalistas sobre a greve seja uma réplica do seu, tão evidente no efeito de espelho dos jornalistas, que queriam que a CGTP usasse a mesma grelha de análise dos secretários de estado. O modo como impediram Carvalho da Silva de falar contrasta com o silêncio reverencial com que ouviram secretários de estado tirar "lições políticas" da greve. Diante deles, mal ou bem, Carvalho da Silva dava informações que nenhum órgão de comunicação tinha dado, como, por exemplo, que houve cerca de sessenta voos cancelados nos aeroportos. Eu gostava de o ter ouvido, para fazer o meu julgamento, em particular os exemplos concretos dados, mesmo sem os números globais que são fáceis de avançar pelo governo mas que são (como muitos números sindicais) uma mistificação. Sinais dos tempos.

NOTA suplementar - Pelo contrário, a SICN, no noticiário das 22 horas com Ana Lourenço, está a tratar com muita seriedade a questão da greve. Faz uma diferença!

*
E só porque estou ao computador enquanto vejo o telejornal na tv, o que faz deste um mail de impulso.2 pontos:

1.não posso deixar de me perguntar quem são os "intended observers" dessa conferência de imprensa do governo. Os óbvios seriam: o país e os sindicatos. Mas se é perfeitamente lógico perceber o segundo caso, o mesmo não se passa para o primeiro. Sobretudo porque hoje em dia os eventos escondem múltiplas causas: a fraca adesão à greve será provavelmente melhor explicada por receios em casos de precaridade no trabalho do que por concordância com as políticas do governo. O que faz, na minha opinião, com que todos desenvolvam má vontade para com o governo. Ninguém gosta de ver as suas circunstâncias difíceis expostas na praça pública como uma vitória.

2. Esquecendo as causas, o evento em si, que parece de facto não ter atingido os propósitos, também me remete para uma outra questão: é que se começamos a falar de "cabeças-duras", devemos talvez olhar também para os sindicatos. Há 20 anos que vemos as mesmas caras, com os mesmos discursos; e não é segredo para ninguém que dentro das empresas (tanto privadas como públicas) os sindicatos começam a ter tão má imagem como as administrações prepotentes, e não conseguem disfarçar certas fragilidades, e certas tentações. Pessoalmente, acabo por respeitar Carvalho da Silva. Mas não chega para limpar a imagem gasta e falsa de muitos outros. Não deveriam estas organizações ser também mais democráticas?

(Paulo L)

*

Eu por acaso senti o oposto, ao ver o da RTP1: tudo estava fechado, nada funcionava e não foi assim o meu dia. Num país com alguns milhões de trabalhadores poderá uma reportagem de telejornal ser exacta ou fazer mais que ilustrar com meia dúzia de exemplos uma impressão geral? A verdadeira notícia seria dada em números: “tantos trabalhadores (% do total) fizeram greve”, incluindo na contagem os do sector privado, que também são portugueses e trabalhadores (embora nestes dias pareça que só são trabalhadores os dos transportes, educação e saúde). É deplorável dizer que fecharam mais de mil escolas, sem dizer o que ouvi mais tarde que é serem 11 mil o total das escolas e sem dizer o que é a minha experiência pessoal: numa escola com cerca de 20 professores, 3 educadores de infância e meia dúzia de auxiliares, fecha por greve da meia dúzia de auxiliares, com os professores e educadores à porta sem poderem entrar.

(Mónica G.)

*

Se há coisa para a qual já não tenho pachorra, em dias de greve-geral, é ouvir as discussões em torno dos números de grevistas e não-grevistas.

Como se sabe, sindicatos e governo dizem o que gostariam que fosse verdade, chamam-se mutuamente de mentirosos, e o mundo continua a rodar... até à próxima.

No entanto, desta feita, fomos surpreendidos com uma novidade: o governo lembrou-se de usar os dados do consumo de energia como indicador da redução da actividade económica do país motivada pela greve.

«Boa!» - pensei eu - «Ora aí está uma medida inteligente!». Só que não estava preparado para a revelação que veio a seguir: o consumo de energia AUMENTOU!

Ou seja: já não temos só 20% de grevistas, nem 10%, nem mesmo zero: pelos vistos, desta vez, até houve... um número negativo deles!

(C. Medina Ribeiro)

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HOJE - ESCOLHAS DO ABRUPTO NO

Home

Doc Watson canta Deep River Blues.

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GRANDES CAPAS

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29.5.07


HOJE - ESCOLHAS DO ABRUPTO NO

Home

Bourvil cantando La Tactique du Gendarme do filme Le Roi Pandore de 1949. Nisto os franceses foram sempre bons.

The image “http://www.ina.fr/actualite/dossiers/2003/images/reduites/30.jpg” cannot be displayed, because it contains errors.Les gens disent oh les gendarmes quand on a
Besoin d'eux, ils ne sont jamais là.
Je réponds du tac au tac
Car pensez j'ai ma tactiqu',
Attendez un peu que j'vous expliqu'

La taca taca tac tac tiqu',
Du gendarme
C'est d'être toujours là
Quand on ne l'attend pas.


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ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

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Cais da Ferradosa - S. João da Pesqueira

(José Guilherme Lorena)

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EARLY MORNING BLOGS
1031 -San Francisco Night Windows

So hangs the hour like fruit fullblown and sweet,
Our strict and desperate avatar,
Despite that antique westward gulls lament
Over enormous waters which retreat
Weary unto the white and sensual star.
Accept these images for what they are--
Out of the past a fragile element
Of substance into accident.
I would speak honestly and of a full heart;
I would speak surely for the tale is short,
And the soul's remorseless catalogue
Assumes its quick and piteous sum.
Think you, hungry is the city in the fog
Where now the darkened piles resume
Their framed and frozen prayer
Articulate and shafted in the stone
Against the void and absolute air.
If so the frantic breath could be forgiven,
And the deep blood subdued before it is gone
In a savage paternoster to the stone,
Then might we all be shriven.

(Robert Penn Warren)

*

Bom dia!

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28.5.07

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GRANDES CAPAS


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EARLY MORNING BLOGS
1030 - ... and wonders what's to pay.

The fairies break their dances
And leave the printed lawn,
And up from India glances
The silver sail of dawn.

The candles burn their sockets,
The blinds let through the day,
The young man feels his pockets
And wonders what's to pay.

(A.E. Housman)

*

Bom dia!

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27.5.07


NUM BLOGUE PERTO DE SI, NUMA GALÁXIA MUITO LONGE



NESTES DIAS

UMA VIDA, UMA FICHA - um dia da vida de "João Silva", funcionário público, e o seu rastro digital e analógico- + NOVO comentários de Daniel Polónio, António Fonseca e Emanuel Ferreira.

COISAS DA SÁBADO: DEBATES POUCO PLURAIS E CONDICIONAMENTO DA OPINIÃO - sobre o Prós e Contras dedicado a Lisboa. + NOVO comentário Miguel Ferreira Rodrigues.

OS LIVROS DA MINHA VIDA 6 (OS PROPRIAMENTE DITOS, OS VERDADEIROS, OS DA BAYER) - uma colecção de "descobertas" + NOVO comentário de Ana Luisa Mouta.

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UMA VIDA, UMA FICHA
João Silva e a mulher vivem no Montijo. Ele trabalha em Lisboa, a mulher é funcionária da autarquia e fica na localidade onde habita. Vamos deixar para já a mulher, e a filha de cinco anos, na sua terra e na sua vida, e acompanhemos João Silva num dos seus dias.

João Silva vive no Montijo porque a Ponte Vasco da Gama existe e ele encontrou lá melhores condições para comprar o seu apartamento e pagar o seu empréstimo à habitação. O banco pediu-lhe imensos papéis e ele contou ao banco sobre o que ganhava, a sua saúde, a sua família, o seu emprego. Tudo normal. João Silva até é um homem moderno, não acabou o seu curso numa universidade privada, mas há-de acabar. Há-de ser advogado, ou melhor, jurista. Não será assim tão difícil e ele, que já é um homem do seu tempo, justificou a casa no Montijo por razões "ecológicas", o Tejo, o campo, etc., etc.

João Silva faz um bocado de auto-estrada e a ponte. Hoje atrasou-se, mas também já há menos trânsito. Acelera um pouco e o seu carro foi fotografado pela polícia. Foi também observado por uma câmara que controla a auto-estrada. Bom, mais uma multa. À chegada às portagens, travou muito. Ele leu nos jornais que a polícia agora vai controlar os tempos de passagem entre as portagens e a hora a que passou fica registada na Via Verde. O parque de estacionamento que vai usar no Parque Eduardo VII (João é funcionário num dos tribunais do Palácio da Justiça) tem também Via Verde e regista o tempo da sua entrada e o da sua saída e a matrícula do carro. Normalmente ele estacionaria em cima de qualquer passeio, mas hoje está atrasado.

De passagem, verifica que tem pouco dinheiro e tem uma "coisa" combinada com uns colegas para o fim da tarde, e precisa de ter algum dinheiro. No Multibanco levanta dinheiro e corre para o emprego, "pica" o ponto que regista a sua entrada e o seu atraso. Está a ser um dia negro, uma multa, um atraso tão evidente. João Silva começa pela primeira vez a pensar na sua classificação como funcionário. Mas João Silva é conhecido como homem de esquerda, já tivera simpatias pelos comunistas e agora vota ou no PS ou no BE e a mulher é mesmo socialista "de cartão". O seu chefe subiu a chefe com os socialistas no governo e não deixará de proteger os "seus", agora que os PSD estão na mó de baixo. Antes mandavam "eles", agora mandamos "nós". As quotas de "muito bons" até devem chegar para si, enquanto as coisas não mudarem. Por isso, vocifera contra esta campanha vergonhosa que o Belmiro está a fazer com o diploma do engenheiro Sócrates. "Eles" querem "é vir outra vez ao de cima". Isso não o impede de fazer circular no seu e-mail mais um vídeo do YouTube com umas graças dos Gato sobre o curso e os papéis bizarros do primeiro-ministro. "Então não somos um país livre?" Somos, claro.

Senta-se à sua secretária e vai ler os jornais, os desportivos e os do serviço, que foram três (tivera um chefe em tempos de vacas gordas que achava que o serviço devia comprar o Correio da Manhã, o Público e um diário económico), mas agora só há o Correio da Manhã. Entre o jornal que já lhe chega quase desfeito, alguém cortou um cupão para um concurso, outro roubou a página do sudoku, e a Internet, ele lê distraído uma notícia sobre a criação de uma base de dados de perfis de ADN "ao serviço da investigação criminal" com "dados de pessoas condenadas a penas de prisão iguais ou superiores a três anos", a que se soma "um ficheiro para dados de investigação civil (...) "alimentado" por voluntários que quiserem depositar ali os seus dados pessoais". Ele acha muito bem e passa adiante. João Silva, quando chega à hora do almoço, já deixou os seus dados em fotografia, vídeo e em várias bases de dados da polícia, do Multibanco e do Estado. Daqui a uns dias, com as novas câmaras de videovigilância que António Costa quer instalar em Lisboa se ganhar as eleições, vai ser filmado na rua várias vezes.
Costa tem uma longa tradição de introdução de instrumentos de vigilância. Veja-se esta notícia no Diário de Notícias de 26 de Setembro de 2005:

O Governo vai aprovar amanhã a utilização do sistema de vídeo-vigilância nas estradas portuguesas para efeitos de fiscalização rodoviária. O decreto-lei será aprovado em Conselho de Ministros e deverá entrar em vigor antes do final do ano, confirmou ontem António Costa. O ministro da Administração Interna anunciou ainda que a PSP e a GNR vão receber novos equipamentos para uma maior eficácia na fiscalização dos condutores, nomeadamente computadores que permitem aceder ao cadastro do condutor e a inserção directa da multa no sistema da Direcção-Geral de Viação (DGV).

Até ao final do ano, as forças de segurança vão poder utilizar os dados captados por sistemas de vigilância para multar os condutores que infringirem o Código da Estrada. Segundo António Costa, o sistema vai funcionar através da "rede de câmaras instaladas nas estradas portuguesas, que permitem monitorizar o que acontece na via. Esse equipamento permite detectar algumas infracções e outras não, mas as que forem detectadas serão autuadas. Estas imagens terão o mesmo valor probatório da visão directa de um agente da autoridade", garantiu.

Fez também uns telefonemas com o telemóvel, devidamente registados numa base de dados, e andou pela Internet...
O tipo de informação existente nas bases de dados dos serviços telefónicos pode dar uma ideia do seu potencial para vigilância. O serviço de facturação detalhada da TMN fornece os sequintes dados:

- Data e hora das chamadas efectuadas
- Data e hora da chamadas recebidas (quando em Roaming)
- N.º chamado
- Duração e custo das chamadas
- Tipo de serviço: Voz, Fax, Dados, Sms, transferência de chamadas, etc.
- Código do operador (quando em Roaming).
O seu computador, ligado a um servidor do Ministério da Justiça - não esqueçamos que ele é funcionário judicial -, regista todo o seu "passeio" pela Internet, os seus e-mails, incluindo as graçolas ao primeiro-ministro, a leitura de um sítio sobre desporto, uns blogues "engraçados", e, em particular, um blogue anónimo, A Chama da Justiça, que ele sabe que é feito por um funcionário da sala ao lado e que tem uns boatos e umas "revelações" sobre os seus chefes. João Silva, que assina uns comentários anónimos com o nickname de "Leão Castigador", costuma deixar lá umas frases pouco abonatórias sobre os seus colegas e umas "revelações" de sua lavra sobre quem anda com quem. Quando assina "Castigador", fica feliz com a sua obra. Com os colegas homens e a cumplicidade sorridente das colegas mulheres, vão todos os dias religiosamente ver as "gajas" ao Hi5 Porcas, onde ele já tinha encontrado as fotos de uma vizinha com as amigas numa discoteca de Almada. Tudo como deve ser, e é, em milhares de escritórios públicos e privados.

Com os amigos, vai almoçar e combinam ir depois do emprego "beber uns copos" a uma espécie de bar que tem striptease. Ele pensava que essas casas só funcionavam à noite escura, mas descobriu que não muito longe dali, em Campolide, o fim da tarde era animado pelo tropel de funcionários e uns jovens yuppies duns escritórios, que iam divertir-se numa espécie de alterne mitigado num bar com música muito alta, onde batiam com as mãos nas costas uns dos outros, diziam umas piadas e bebiam uns uísques. Nada que multidões de homens sós não fizessem desde os tempos das legiões romanas. Só que, pensando bem, tinha que pagar a dinheiro, porque a mulher podia ver as despesas do bar no cartão de crédito e já basta de maçadas.

À saída, já vai um pouco mais feliz, mas há que voltar ao Montijo, o que o torna mais infeliz. Dá por si a dar razão mental ao ministro Mário Lino, aquilo de facto é um deserto e eu quero lá saber do Tejo e do campo para alguma coisa! Fica contente por ser "politicamente incorrecto" durante uns segundos, talvez abra um blogue. Depois passa pela farmácia a comprar uns medicamentos para a asma da filha, com a receita que lhe passaram. O registo da compra fica no recibo, que irá dar às Finanças, no Multibanco, na Segurança Social, no ficheiro do médico que o passou. Todos podem saber que ele comprou aquele medicamento, e o mesmo se passava se fosse um tratamento "vergonhoso", ou a pílula do dia seguinte, ou Viagra. As Finanças, em particular, estão cada vez mais curiosas sobre tudo e "cruzam" muitos dados.

Quando João Silva volta a casa, passa de novo pela Via Verde, matrícula, local, hora e velocidade ficam registadas por comparação. As câmaras da ponte continuam a gravá-lo no caminho, até que seja o olhar da mulher, que desconfia do atraso e do vago perfume misturado com o tabaco, a gravá-lo com ainda maior intensidade. Um olhar humano é ainda mais perfeito do que o das câmaras, ela "vê" o bar do fim da tarde, com grande nitidez, mas sabe bastante menos do que o Estado. À noite, com a mulher deitada e a filha a dormir, quando ele vê um filme na sua TV Box, ele está a ser registado e fichado, mesmo que a empresa lhe prometa que não manda a discriminação dos filmes na sua factura, por razões óbvias. A TV Cabo sabe que há esposas e pais e vizinhos que às vezes apanham a carta errada.

Mas isso é para enganar os papalvos. Numa qualquer base de dados, numa qualquer ficha real ou potencial, a vida de João Silva cabe toda, em particular sexo e dinheiro, os grandes fautores da curiosidade alheia, as marcas da fragilidade, as Grandes Mentiras. O Estado sabe que todas estas coisas podem vir a ser úteis.

Um dia.

João Silva está longe de o saber.

(No Público de 26 de Maio de 2007)

*
Comentando o artigo que hoje publica no seu blogue é curioso que ainda hoje pensei precisamente nesse tema. Fui consultar junto de um quiosque num centro comercial as condições para ter televisão via ligação de internet com o meu fornecedor, e só precisei de dar o meu nº de contribuinte para a assistente do quiosque ficar a saber, sem eu lhe ter de relatar em pormenor, os dados necessários sobre a minha ligação. Se fosse no banco seria a mesma coisa, nos impostos idem, no supermercado idem, na água, na energia eléctrica, no gás, idem. Se assim não fosse teria óbviamente de perder tempos infindos cada vez que necessitasse de dialogar com qualquer organização que me fornece um serviço regular. Eles sabem o que eu sei sem precisar de lhes dizer, precisamente o que você faz aqui no seu blogue. Isto apenas para dizer que existe uma comissão nacional de protecção de dados e legislação que regulam estas coisas.

(António Fonseca)

*

Se o João Silva visse isto

http://video.google.co.uk/videoplay?docid=8372545413887273321

http://video.google.co.uk/videoplay?docid=-7849982478877371384 (episódio 2)

http://video.google.com/videoplay?docid=3291992041130722257

http://video.google.com/videoplay?docid=-121006630030775636

http://video.google.com/videoplay?docid=1343199130780182696&hl=en

(The Trap por Adam Curtis, exibido na BBC no inicio do ano)

em vez da TVCabo, se calhar também começava a pensar, mas, como se sabe, isso é um perigo para a sociedade ...

A meio do episódio 2 (min 36:50 até 46:50) podemos encontrar um dos mais demolidores ataques ao governo britânico que tenho memória, ridicularizando nomeadamente Gordon Brown, putativo sucessor de Tony Blair. Tudo isto exibido num canal secundário da BBC em horário nobre. Sintomático ...

Igualmente sintomático que se esteja a passar o mesmo em Portugal neste momento, com uma imitação barata de Tony Blair. Como é sabido, "when you pay peanuts, you get monkeys"

(Daniel Polónia)

*

Quando há uns anos optei por diminuir as operações com cartão Multibanco e não utilizar a Via Verde, fui visto como alarmista por alguns colegas, os mesmo que hoje cabisbaixos comentam “eles cruzam todos os dados”…

Mas mesmo assim há o outro lado da medalha, o lado em que o estado e suas várias faces se recusam a cruzar dados. Após morte de um familiar, vi-me face a uma parede de burocracias/obrigações que remontam ainda para o velho século XX. Descobri que, apesar de toda a máquina do estado, uma viúva, após a morte do cônjuge, só terá direito à sua pensão cerca de 4/5 meses após declarar o óbito. O dinheiro a que tem direito virá sob a forma de retroactivos, mas ninguém explica quais os meios financeiros a que terá de recorrer durante esse período.

Pasmei também ao saber que um prédio devidamente registado nas finanças, que paga o IMI devido, para mudar de dono – leia-se passar do marido falecido para a agora viúva – precisa de um longo processo burocrático que envolve levantar cópias da planta original na câmara – mesmo já havendo uma caderneta predial urbana – e que esbarra no imobilismo de uma máquina mastodôntica e ultrapassada.

Em conclusão, temos um estado que cada vez mais cruza dados para proveito próprio, e raramente para bem do cidadão. Um estado que cria serviços e taxas que o engordam, fazem aumentar os seus funcionários, e que em nada serve aos cidadãos e até os afasta de cumprir as suas obrigações.

Uma última observação: ao longo de todo este processo de transição de bens, tenho ido a bancos e a serviços camarários, levo uns papeis que ninguém lê e tenho obtido dados sobre uma pessoa e suas contas bancárias. Foi-me possível obter a planta de uma habitação particular sem que em momento algum tivesse de mostrar um simples bilhete de identidade a comprovar o parentesco, quanto mais uma certidão de óbito que justificasse os meus actos…

(Emanuel Ferreira)

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EARLY MORNING BLOGS
1029 - Odysseus' Decision

The great man turns his back on the island.
Now he will not die in paradise
nor hear again
the lutes of paradise among the olive trees,
by the clear pools under the cypresses. Time

begins now, in which he hears again
that pulse which is the narrative
sea, ar dawn when its pull is stongest.
What has brought us here
will lead us away; our ship
sways in the tined harbor water.

Now the spell is ended.
Giove him back his life,
sea that can only move forward.

(Louise Gluck)

*

Bom dia!

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26.5.07


GRANDES CAPAS



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EARLY MORNING BLOGS
1028 -A Faia e a Cananoura
http://www.geocities.jp/goromaru134/goromaru/jpg/esopo.jpg
A Faia alta e direita não queria dobrar-se ao vento, antes vendo a Cananoura que se meneava facilmente, a aconselhava que estivesse tesa, sem dobrar-se. Respondeu a Cananoura: - Tu podes resistir e eu não, que não tenho raízes compridas, nem sou forte como tu és. Dizendo isto, veio um pé de vento com braveza, que arrancou a Faia com raízes e tudo; mas a Cananoura, que se dobrou, ficou em pé.

(Esopo, Fábulas, vertidas do grego por Manuel Mendes)

*

Bom dia!

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25.5.07


NUM BLOGUE PERTO DE SI, NUMA GALÁXIA MUITO LONGE



NESTES DIAS

COISAS DA SÁBADO: BOYS E GIRLS EM ACÇÃO - o caso da DREN e a função pública.

OS LIVROS DA MINHA VIDA 6 (OS PROPRIAMENTE DITOS, OS VERDADEIROS, OS DA BAYER) - uma colecção de "descobertas" + NOVO comentário de Helena Mota.

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GRANDES CAPAS


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COISAS DA SÁBADO:
DEBATES POUCO PLURAIS E CONDICIONAMENTO DA OPINIÃO

http://multimedia.iol.pt/oratvi/multimedia/imagem/id/244576/110

O último Prós e Contras sobre Lisboa foi um exemplo de como é possível fazer um programa mau, confuso e politicamente muito pouco pluralista. Digo isto, como o mesmo à vontade com que muitas vezes elogiei o programa. Mas este último foi de facto um case study de como se pode fazer tudo mal, com a agravante de se estar praticamente em pré-campanha e por isso haver claras incidências políticas no modo como o programa gere “evidências” como a atribuição implícita da crise da cidade às peripécias da presidência Carmona Rodrigues como se essa crise só com ele emergisse do nada. Se houvesse pluralismo no Prós e Contras alguém se teria incomodado com esta ideia, tão útil para a campanha dos dias que correm, quanto falsa.

O pluralismo num programa de opinião não está em colocar um do PS, outro do PSD e por aí adiante, como pensa a ERC. Está em retratar as fracturas de opinião realmente existentes, e essas não vieram a um programa que ironicamente se chama Prós e Contras e é o mais importante programa de debate da televisão pública. Por exemplo, o Arquitecto Ribeiro Teles não tem críticos das suas posições sobre a cidade? Certamente que tem, igualmente qualificados, porque há quem veja os problemas da cidade de forma diferente, o arquitecto Graça Dias por exemplo, o “homem que gostava das cidades”. Paulo Varela Gomes, cujo artigo tremendista foi claramente o mote do programa pelo fascínio que exerce o radicalismo simples das análises, não tem quem dele discorde de fundo? Se houvesse pluralismo haveria quem escavasse um pouco mais no artigo que deslumbrou a sala e veria que ele era omisso, por razões ideológicas, na referência aos factores principais da degradação da cidade que estão muito para além da crise actual. Por exemplo, quando se invectiva o transporte em automóvel privado a favor do transporte público e não se fala da responsabilidade da legislação salazarista-socialista sobre o arrendamento urbano, talvez o factor singular mais grave da decadência da cidade, percebe-se que há uma opção ideológica que não se revela e não se discute.

Os absurdos elogios a Duarte Pacheco não passariam o escrutínio simples de quem soubesse um mínimo da história do Estado Novo e explicasse que o que ele fez só era possível em ditadura e com a subordinação da propriedade privada não à cidade, mas a uma cidade monumental de inspiração nas obras públicas do fascismo italiano. É isso que querem? Grandes avenidas, bairros sociais, estádios “nacionais”, urbanismo imperial, e exposições coloniais? Se calhar é ainda este modelo o que inconscientemente povoa os sonhos de grandeza da esquerda e da direita.

*
Pergunta se o Arquitecto Ribeiro Teles não tem críticos das suas posições sobre a cidade: Tem-los obviamente. Só que esses, não perdem tempo a refutá-lo já que têm vindo a fazer desde sempre na cidade, tudo aquilo contra o qual ele luta.

Como pode achar absurdo que se elogie o único Ministro das Obras Públicas que deixou obra realmente pública para o público? “O que ele fez só era possível em ditadura e com a subordinação da propriedade privada não à cidade, mas a uma cidade monumental de inspiração nas obras públicas do fascismo italiano”? O que há de “monumental” nas casas do Bairro da Encarnação, de Alvalade ou do Restelo? Eu só vejo qualidade. Uma qualidade arquitectónica e urbanística que poucas intervenções posteriores conseguiram igualar. “Bairros sociais, estádios “nacionais”, urbanismo imperial, e exposições coloniais”? Se quer comparar a qualidade de bairros sociais do Estado Novo com bairros sociais feitos em caixotes de betão do Estado Democrático, temo que sairá decepcionado com a sua aposta – basta que visite Chelas ou a Ameixoeira para constatar o facto (e já que fala no “homem que gostava de cidades”, relembro-lhe que também ele faz a apologia desses bairros berrantes); quanto a Estádios, prefere o vergonhoso despesismo e assalto ao erário público trazido pelos
Estádios do EURO (muito clubísticos e nada nacionais, por sinal)? Eu não.

Quanto ao urbanismo imperial, deve detestar Viena pela “imperialidade” do seu urbanismo, certo? Eu não. Em relação a exposições coloniais, pelo menos da primeira, ficaram-nos jardins, o Padrão dos Descobrimentos, um museu de Arte Popular (que agora querem eliminar) e muito espaço público. Compare-se agora esse evento com a mais recente exposição do Estado Democrático chamada EXPO 98 e diga-me o que surgiu de verdadeiramente público? Eu digo-lhe: pouco. Muito pouco. Porque o que se pretendeu realmente, foi potenciar especulação
imobiliária. É isso que temos e não vai terminar por aqui.

Perdoe-me a arrogância, mas sugiro-lhe que se se informe melhor acerca de arquitectura e urbanismo para que não apregoe estereótipos do género “lá estão os saudosistas da arquitectura fascista”. Não há arquitecturas fascistas, imperiais, ditatoriais, de esquerda, ou de direita: há bom e mau urbanismo; os últimos 30 anos de Estado Democrático (?) têm-nos dado muito do segundo. E nem é preciso passear por toda a Costa Portuguesa para perceber isso: basta ir ao Algarve...

(Miguel Ferreira Rodrigues, Arq.)

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EARLY MORNING BLOGS
1027 - The Star-Splitter (fragmento)

You know Orien always comes up sideways.
Throwing a leg up over our fence of mountains,
And rising on his hands, he looks in on me
Busy outdoors by lantern-light with something
I should have done by daylight, and indeed,
After the ground is frozen, I should have done
Before it froze, and a gust flings a handful
Of waste leaves at my smoky lantern chimney
To make fun of my way of doing things,
Or else fun of Orion's having caught me.
Has a man, I should like to ask, no rights
These forces are obliged to pay respect to?"
So Brad McLaughlin mingled reckless talk
Of heavenly stars with hugger-mugger farming,
Till having failed at hugger-mugger farming,
He burned his house down for the fire insurance
And spent the proceeds on a telescope
To satisfy a life-long curiosity
About our place among the infinities.

(Robert Frost)

*

Bom dia!

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NUM BLOGUE PERTO DE SI, NUMA GALÁXIA MUITO LONGE



NESTES DIAS

OS LIVROS DA MINHA VIDA 6 (OS PROPRIAMENTE DITOS, OS VERDADEIROS, OS DA BAYER) + NOVO comentário de António Conceição.

NOVO - comentários de António Lobo Xavier e Manuel Lopes Rocha ao Coração de Amicis em OS LIVROS DA MINHA VIDA 4

LENDO / VENDO / OUVINDO / ÁTOMOS E BITS de 22 de Maio de 2007 - sobre o "professor que falou demais"... + NOVO comentário de Gabriel Mithá Ribeiro.

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COISAS DA SÁBADO: BOYS E GIRLS EM ACÇÃO

O caso do professor punido por delito de anedota por uma comissária política do PS, bem conhecida no aparelho da educação regional do Norte e o modo como a Governadora Civil de Lisboa, bem conhecida na Federação do PS de Lisboa, dependente de António Costa, que aparece a apoiar como “cidadã”, actuou para acelerar a data das eleições de Lisboa e foi desautorizada pelo Tribunal Constitucional, são apenas dois exemplos mais evidentes do modo como a politização dos lugares de nomeação governamental é usada em momentos críticos. Aqui está para que servem os boys e as girls, que o PS (normalmente com maior eficácia e em maior número que o seu congénere PSD, réu do mesmo delito) coloca no aparelho de Estado.

Esta é uma das razões porque convém ser muito prudente ao embandeirar em arco com medidas que, na função pública, acentuam os critérios de classificação por quotas e a penalização dos que não chegam aos “excelentes” e “muito bons”. Essas medidas seriam de saudar se as chefias na função pública tivessem uma tradição de independência política e profissionalismo, o que , como se sabe, não têm por culpa e responsabilidade em particular do PS e do PSD. Por isso, o problema dos boys e girls vai mais fundo do que estas zelosas medidas que chegaram à opinião pública. Já agora, pelo menos no caso da responsável pela DREN, quanto tempo falta para o governo demitir a senhora do seu cargo?

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24.5.07


IMAGENS QUE FALAM

Clicar sobre a foto para aumentar.

Cartaz à entrada do bairro ortodoxo de Meah Shearim em Jerusalem.

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 24 de Maio de 2007


Progressões (nas carreiras) rima com eleições. Vejam-se as datas.

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NUM BLOGUE PERTO DE SI, NUMA GALÁXIA MUITO LONGE



NESTES DIAS

OS LIVROS DA MINHA VIDA 6 (OS PROPRIAMENTE DITOS, OS VERDADEIROS, OS DA BAYER) + NOVO comentário de António Conceição.

NOVO - comentários de António Lobo Xavier e Manuel Lopes Rocha ao Coração de Amicis em OS LIVROS DA MINHA VIDA 4

LENDO / VENDO / OUVINDO / ÁTOMOS E BITS de 22 de Maio de 2007 - sobre o "professor que falou demais"... + NOVO comentário de Gabriel Mithá Ribeiro.

COISAS DA SÁBADO: BELAS E MESTRES - o sucesso das Belas como forma de Destino Manifesto.


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OS LIVROS DA MINHA VIDA 6
(OS PROPRIAMENTE DITOS, OS VERDADEIROS, OS DA BAYER)

Não eram tanto os livros, mas a colecção. A verdadeira Feira do Livro, então na Avenida dos Aliados, começava quando o meu pai me comprava mais um livro desta colecção. Li-os por volta dos anos da campanha de Delgado, as minhas primeiras vagas memórias de que havia conflito político. Era um tempo em que o mais breve sinal de agitação nas ruas levava, numa cidade que mantinha memórias difusas da "revolução" de 1927, ao armazenamento de mantimentos de emergência. Conservas, arroz, massas, eram comprados e colocados na despensa. Quando a despensa ficava cheia, para além do consumo imediato, eu sabia que havia "revolução" nas ruas. Delgado neste caso, como tinha sido Norton e 1927, e como o meu avô se recordava, tinha sido a Monarquia do Norte. Convém lembrar que é o Porto e foi sempre no Porto que estas coisas foram mais sérias.

Mantimentos e livros. Nesta colecção nunca me interessei pela biografia de Florence Nightingale, capa roxa, porque tinha o coração já empedernido, mas sim pelas de Pasteur e pela Madame Curie, capa amarela. Curioso este "madame", para Maria Skłodowska, que me introduziu ao mundo da pechblenda, no seu armazém-laboratório, onde ela, uma noite, viu luzir um tubo de ensaio. O Pasteur começava pelo olhar pelas tanoarias do vizinho, passava pelo leite estragado e tinha o seu clímax na história do rapaz enjaulado com raiva. A raiva não era como agora uma inexistência, ainda metia medo, como o tétano, tão próximos ainda estavamos do mundo dos campos. Cães com raiva, pregos enferrujados, medos, lendas rurais.

Li também estas Grandes Invenções, a História da Electricidade e muitos outros, introduzindo-me à lâmpada e ao fonógrafo de Edison, ao radar, à televisão, a Marconi experimentando as suas antenas. Nestes livros foi a "biografia" da descoberta que aprendi, mais do que a física ou a química das coisas. Essas aprendi-as numa outra colecção que se chamava... "Nunca é Tarde para Aprender". Infelizmente perdi esses livros não sei como, com muita pena. Eram muito pequenos, mais pequenos do que um bolso, e penso que de produção nacional. Eram diálogos sobre as coisas do mundo, sobre os "mistérios" da natureza e a sua explicação. Sobre os terramotos, por exemplo. Destas duas colecções fui Leitor Ávido, por isso foram de facto "livros da vida". Sem eles seria diferente, saberia menos no tempo certo. Porque nos livros há sempre um tempo certo, que, quando se perde, nunca se recupera.

*
Pacheco Pereira deve ser uns dez anos mais velho do que eu (tenho 46). Isto, na adolescência, representa uma eternidade. Muito mais, quando a diferença é vivida na transição do salazarismo para o marcelismo e deste para a democracia; da escola primária e do liceu, para a universidade. As minhas primeiras memórias com uma componente política reportam-se à inauguração da ponte sobre o Tejo (cujas fotografias vi nas páginas do "Diário de Notícias" que a minha avó espalhou pelo chão recém-encerado da sala de jantar), à invasão da Checoslováquia, à ida à Lua, à doença e morte de Salazar, às deventuras da "Apolo XIII", aos atentados no Jogos Olímpicos de Munique, às conversas em família de Marcello Caetano e ao golpe de estado de Pinochet no Chile, de que o programa "Semana 7" (acho que era assim que se chamava. Ou seria "TV 7"?), de João Coito, e a educação numa família adapatada ao regime, me fizeram fiel apoiante. E às mensagens de Natal dos soldados na colónias, claro.

Apesar de coetâneo, provavelmente por causa da censura, não tenho ideia absolutamente nenhuma do Maio de 68. As eleição de Humberto Delgado, o seu homicídio, o início da guerra colonial, o desvio do Santa Maria são acontecimentos que não me dizem nada e que só conheço dos livros e programas de História. Natural é, portanto, que nunca me tenha identificado com o passado e com as experiências de Pacheco Pereira. Hoje, porém, o post dedicado aos livros juvenis da colecção da Livraria Civilização, uniu a sua geração à minha.

Também eu e a minha geração crescemos com a Madame Curie, o Louis Pasteur e o Thomas Alva Edison da "Civilização". No meu caso, os livros da minha vida foram os "Pioneiros da Aviação", de autor que não recordo, e "Os Portugueses no Brasil", de Elaine Sainceau. A leitura do primeiro representou um dos grandes choques culturais da minha vida. Gago Coutinho e Sacadura Cabral - que eu na escola tinha aprendido serem portuguesíssimos e os maiores aviadores de todos os tempos - no livro, só figuravam num capítulo aditado à versão portuguesa, da autoria de Sarmento Beires. Na edição original, em inglês, à travessia aérea do Atlântico Sul (o maior feito da História da aviação, imaginava eu) não era dedicada uma única linha.
Gostei sempre mais de Samuel Cody do que de Charles Lindbergh.

(António Conceição)

*

O leitor António Conceição comentou o facto de ter em comum com JPP a leitura juvenil do livro "Grandes Invenções" e a sua coleção, apesar de os separarem cerca de 10 anos. Eu tenho 37, por isso levo de atraso outra década e, no entanto, nos livros da minha infância lá figuraram as biografias de Madame Curie, de Edison e, temo-o bem, a minha preferida, de Florence Nightingale. Assim como figuraram os livros da
Condessa de Ségur: o preferido era precisamente o "Coração" mas também o "O pequeno Lord", "A Pricesinha", e tantos outros. Eram livros dos meus avós mas que eu lia avidamente, de resto como tudo o que me chegasse às mãos. Lembro-me que já estranhava alguns pormenores de época, como o facto de os casais se tratarem por "caro amigo/a" e, claro, os açoites na Sofia. O resto, as carruagens, os vestidos compridos, os chás, eram comuns aos contos de fadas e, por isso, familiares. Depois vieram os Cinco, os Sete e, sendo menina, as Gémeas e as Quatro Torres. Cenários ingleses, colégios ingleses, lanches com sandes de pepino e salsichas fritas. Nada estranhei, tudo me seduzia.

É espantosa esta força que os livros têm de unir assim gerações e imaginários. Vou tentar dar os mesmos livros às minhas filhas mas receio que a "generation gap" seja agora maior ou mais formal ou mais estética e não permita a compreensão do outro mundo.

(Helena Mota)

*

Eu tenho menos 9 anos do que a sua leitora Helena Mota e da Condessa de Ségur só li um livro, do qual não me lembro absolutamente nada. O gosto pela leitura ganhei-o graças à Ana Maria Magalhães e à Isabel Alçada, com a excelente colecção "Uma Aventura" (e também graças à minha mãe, que me impingiu o "Uma Aventura no Algarve"). Dos meus irmãos, "herdei" os livros de Enid Blyton. Lembro-me da minha irmã me dizer, vendo-me agarrada a um livro de "Uma Aventura", "Tens de ler Os Cinco, são muito melhores". Não sei se devido a esta injusta competição, a minha colecção preferida de Enid Blyton foi "O Mistério", com apenas 15 livros, com os astutos "cinco descobridores e o seu cão", os scones e o polícia Arreda (que alcunha teria a personagem no original?). Depois veio a "Patrícia", colecção americana "para meninas", apesar de se centrar nos mesmos temas, com a novidade de haver algum romance à mistura.

(Ana Mouta)

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EARLY MORNING BLOGS
1026 - The Red Wheelbarrow


so much depends
upon

a red wheel
barrow

glazed with rain
water

beside the white
chickens

(William Carlos Williams)

*

Bom dia!

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22.5.07


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 22 de Maio de 2007


RTP, noticiário das 13 horas: uma pequena peça sobre o processo do professor do Porto que disse uma frase jocosa sobre José Sócrates e foi punido pela zelosa DREN, uma conhecida militante do PS do Porto. A peça estava escrita numa linguagem um pouco confusa e usava um vocabulário bizarro, sempre á volta de um inuendo: o que o professor disse terá sido mais grave do que o que se diz que ele disse. O inuendo é sugestivo, a linguagem rebuscada da peça pode ser apenas incompetência. O que não é incompetência é a frase com que se termina e que aqui reproduzo ipsis verbis: "o professor não quer falar sobre o assunto porque provavelmente já falou demais." Interessante "jornalismo"...

*
Sobre o assunto do processo disciplinar ao professor da DREN, era bom que se visse a floresta e não apenas a árvore. Esse tipo de práticas há muito que dei por elas nas escolas. Mesmo perante casos evidentes de má gestão ou perante opções pedagógicas próximas do barbárie, a maior parte dos professores come e cala. O pior dos processos disciplinares aos professores nas escolas não é a sua efectivação, mas o seu poder persuasivo. Ele paira que nem fantasma omnipresente. É o que os impede de serem racionais e críticos face a tanta estupidez pedagógica. Basta comparar o conteúdo das conversas informais entre professores com o conteúdo dos discursos formais em reuniões. Esta incongruência é um dos aspectos que tipifica os sistemas (sociais, políticos ou institucionais) repressivos, pois a verdadeira e eficaz repressão é a simbólica e não a materializada, como bem se sabe. Acrescente-se à habitual irracionalidade do discurso sindical (quem confunde esse discurso com o «dos professores» erra rotundamente) a pressão populista trazida pelo actual governo, mesclada com a pressão do concurso para professor titular, e veja para onde e como se pode estar a caminhar. Isto arrasta-se há muitos e muitos anos, tanto mais grave quanto maior o poder politicamente correcto supostamente pró-alunos de «cientistas da educação» e psicólogos associados, os ideólogos «ingénuos» de serviço. Já não é a «cortina de ferro» que nos separa do Leste, mas uma cortina de estupidez com o rótulo de «esquerda moderna» que cria barreiras entre nós. O ar já foi mais saudável. Felizmente que numa democracia tudo pode mudar de um dia para outro.

(Gabriel Mithá Ribeiro)

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TUMULTOS HABITUAIS DA TERRA /
ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Clicar sobre a foto para aumentar.

Lagoa numa cratera vulcânica.

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EARLY MORNING BLOGS
1025 - An Improvisation for Angular Momentum (fragmento)

Walking is like
imagination, a
single step
dissolves the circle
into motion; the eye here
and there rests
on a leaf,
gap, or ledge,
everything flowing
except where
sight touches seen:
stop, though, and
reality snaps back
in, locked hard,
forms sharply
themselves, bushbank,
dentree, phoneline,
definite, fixed,
the self, too, then
caught real, clouds
and wind melting
into their directions,
breaking around and
over, down and out,
motions profound,
alive, musical!

(A. R. Ammons)

*

Bom dia!

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21.5.07




EM BREVE


OS LIVROS DA MINHA VIDA 6 (OS PROPRIAMENTE DITOS, OS VERDADEIROS, OS DA BAYER)

ONTEM E HOJE

NUNCA É TARDE PARA APRENDER: "LAS MOCICAS DE AGORA / TODAS VISTEN DE TANGO" - o livro de Mark Mazower sobre Salónica.

COISAS DA SÁBADO: “VENHO AQUI PAGAR AS COTAS DA MINHA SECÇÃO...” - sobre o recurso apresentado por militantes do PSD contra o pagamento de cotas pelo Multibanco.

PODER: "O QUE É TEM MUITA FORÇA" - sobre o significado das adesões de Júdice e Saldanha Sanches à candidatura lisboeta de António Costa.


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COISAS DA SÁBADO: BELAS E MESTRES



Antigamente havia a Bela e o Monstro, hoje há a Bela e o Mestre.
Este é o "programa" do programa:

"Imagine oito Mulheres de cortar o fôlego, e que acima de tudo gostam de se olhar ao espelho¿ Imagine 8 Homens muito inteligentes¿mas cromos e com pouco jeito para lidar com o sexo feminino¿ Uns e outros têm como objectivo provar que são capazes de ter uma dinâmica de equipa ao longo de várias semanas. Para isso vão viver juntos durante 9 semanas numa casa. Genuinamente juntos¿ Eles vão ter que as educar e Elas vão ter que os treinar¿ o insucesso de um será o insucesso do outro¿ Boa disposição, lágrimas, ranger de dentes, alegria e tristeza tudo junto num programa que vai pôr Portugal a vibrar! ¿Beauty & The Geek¿ é o novo formato inovador da Televisão que vai entreter os portugueses neste primeiro semestre de 2007. Mais do que um reality-show, ¿Beauty & The Geek¿, é uma ¿social experience¿, em que se pretende provar que estes homens e mulheres, com características tão específicas e diferentes, podem trabalhar em conjunto, tornar-se melhores pessoas, mais tolerantes e confiantes. Tudo vai girar à volta da dinâmica de cada casal, que como unidade deve conseguir ultrapassar todos os desafios e provas e seduzir o público, que terá a última palavra, ao decidir qual o casal vencedor que vai partilhar o prémio de 100.000 €. Poderão estes casais ultrapassar as suas diferenças e tornar-se mais do que apenas... belas e mestres? Não perca todas as emoções do ¿¿Beauty & The Geek, brevemente na TVI!"
Uns meninos espertos mas tortos e umas meninas com tudo no sítio mas burras, fizeram mais um dos reality shows de que se alimenta a nossa televisão. Supostamente o que separava uns de outros era a sabedoria (deles) e a beleza (delas) e não sei o que mais ofendia ou perturbava quem via. Presumo que a conjugação da beleza com a ignorância crassa, um típico estereotipo, deve ter sido a chave do sucesso, mais do que a “sabedoria” dos meninos. Claro que cá fora, as mulheres são de um modo geral mais “mestres” e mais “belas” e eles dificilmente competem quer numa quer noutra qualidade, mas talvez tenha sido também isso uma fonte de atracção, porque ajuda ao escapismo masculino pensar que, pelo menos, na televisão, as mulheres são mais burras do que eles.

As meninas esforçaram-se bastante para consolidar a sua posição de burras. O cômputo geral do programa acrescentou mais uma série de spoonerisms ao escasso catálogo nacional (o britânico é vastíssimo), com uma “pluriosidade” no clima da Madeira, o “multimato”, o “conflito israelo-pasteliano” e a “mesopausa”. As meninas não sabiam a capital do Iraque, nem quem era Fidel, mas sabiam que a capital da África do Sul era Moçambique, quem era Margaret Tish, vulgo Tatcher, e achavam que o “bailado típico do Ribatejo era o flamenco”, que a canção era “se uma gaveta voasse”... Não está mal e um dos mestres disse e muito bem que “a Vera tem falta de desconcentração”, o que também não está mal.

Acabado o concurso o que vai ser destes produtos magnificos do sistema escolar português? Elas certamente que vão singrar na vida, entre as páginas da Nova Gente, da Flash, do 24 Horas, esticando os seus quinze minutos de fama pelas discotecas, bares e restaurantes de Lisboa, arranjarão namorados e “amigos especiais”, casarão e e descasarão, colocarão e arrancarão tatuagens, serão patrocinadas por lojas e marcas de produtos para as belas burras, farão plásticas e terão alguns meninos, poucos que o mundo das revistas não suporta muitas gravidezes. Elas não leêm um livro, mas estão mais especialmente adaptadas para ter sucesso na sua faixa etária do que muitos e muitas mestres. Quem não compreende isto, não compreende o mundo dos dias de hoje. O mundo é delas. Não disse uma das Belas que “um sinónimo de bonito é feio”?

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TUMULTOS HABITUAIS DA TERRA

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Ferro e enxofre deixado no chão pela água a ferver.

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER:
"LAS MOCICAS DE AGORA / TODAS VISTEN DE TANGO"


Mark Mazower, Salonica, City of Ghosts: Christians, Muslims and Jews, 1430-1950, Londres, Harper Collins, 2004.

Tenho agora que voltar a Salónica. Quando lá estive, vi igrejas e muralhas bizantinas, e os túmulos dos reis da Macedónia antiga nos arredores da cidade. É verdade que vi as "antiguidades romanas", a Rotonda, o arco de Galerius, e de passagem, como se nada fosse, uma antiga mesquita e um hamam e, ocasionalmente perdida num muro, ou numa fonte, uma inscrição em árabe ou uma assinatura ornada de um sultão. Mas nada de muito turco, nada de nada de judeu e quase tudo grego. Os meus amigos que me guiaram eram gregos e para eles era importante que eu visse uma terra grega, tão naturalmente grega como Atenas, e, de algum modo, Salónica hoje é assim.

O mérito deste excepcional livro, um dos melhores ensaios históricos que jamais li sobre uma cidade, é exactamente mostrar como esta "helenização" de Salónica, a Tessaloniki que os meus amigos gregos me queriam mostrar, é não só recente, como "falsa" em relação à identidade profunda da cidade, feita por gregos, turcos, búlgaros, albaneses e judeus e pela tragédia da sua progressiva, e às vezes muito rápida, desaparição, saída forçada e extermínio. O título remete para as três classificações dos seus habitantes durante quase quinhentos anos: "cristãos", na sua maioria gregos, mas também eslavos, muçulmanos, na sua maioria turcos, mas também uma comunidade muito especial de judeus convertidos ao Islão; e por fim, os judeus, oriundos na sua maioria de Portugal e Espanha.


Nesta foto do início do século XX ainda se podem ver alguns dos muitos minaretes que faziam parte da paisagem urbana. Depois da cidade ser integrada na Grécia foram todos derrubados com excepção de um.
A actual cidade grega fala pelos "cristãos", embora os búlgaros fossem daí corridos na disputa nacionalista pela Macedónia, e não é preciso ir muito longe para encontrar os últimos turcos da Europa na Trácia e em Istambul. Já os judeus esses desapareceram de todo, em cinco semanas de deportação para as câmaras de gás de Auschwitz, pondo termo a uma comunidade que fazia parte indissociável da cidade durante quinhentos anos e a tornava na maior cidade judia do império otomano. Gozando sempre de excepcionais condições de liberdade civil e religiosa, os judeus sentiam-se bem no império otomano, e representavam o sector mais dinâmico da cidade, onde os turcos controlavam a administração e a segurança e os beys eram os proprietários fundiários de uma população rural "cristã". Na cidade eles eram a classe operária, os artesãos, os comerciantes e a elite ilustrada. Tinham jornais e clubes, cinemas e associações profissionais, hospitais e sinagogas.

A política otomana de comunidades religiosas entregava ao rabi (e ao patriarca grego para a comunidade ortodoxa) a responsabilidade do autogoverno religioso e a imposição dos costumes tradicionais. Os judeus sentiam-se muito melhor em Salónica do que na Europa do sul, de onde tinham sido expulsos, e do centro e leste, onde os pogroms se sucediam. Tudo corria bem até que a expansão do nacionalismo helénico desde o século XIX, a decadência do império otomano e a tentativa dos "Jovens Turcos" de criar uma consciência nacional turca para além da identidade religiosa e étnica, os colocava crescentemente na situação de só poderem dizer, no auge do crescendo nacionalista à sua volta, que "eram de Salónica" e não eram nem gregos, nem turcos. A cidade tornou-se grega durante as guerras balcânicas de 1912-3 (ver mapa ao lado).

Vistos pelos gregos como um resquício otomano, tratados de traidores quando o comunismo entrou na cidade pelas mãos dos trabalhadores judeus, acusados de estarem ao serviço da Bulgária e da Turquia de Ataturk, ele próprio nascido em Salónica, acabaram por se ver acusados da "Catástrofe": a expulsão em massa dos gregos da Anatólia, depois das aventuras militares de Venizelos. Os refugiados que vieram em grande número para Salónica, em particular de Esmirna, acabaram por fazer da cidade pela primeira vez uma cidade grega. E tinham contas a ajustar pela sua desgraça. Quando a ocupação nazi chegou e out of the blue os ajudantes de Eichmann acabaram com a Salónica judaica, muitos gregos ajudaram.

Um português que visitasse Salónica nos primeiros anos do século XX não teria dificuldade em entender-se. Ser-lhe-ia oferecido kezo blanco, e poderia encontrar, na letra de um foxtrot, diavlas koketas kon la elegansa el shik das meninas de Paris. O título desta nota sobre as mocicas e o tango é o de uma música popular que deixava o Rabi furioso pelos costumes dissolutos dos seus fiéis. É que em Salónica os judeus falavam o judesmo, uma variante do português e castelhano, que quase desapareceu como língua com o fim da presença judaica na cidade. A facilidade de o ler é tanta que experimentei sem qualquer dificuldade ler o Salom, um periódico judeu de Istambul, que ainda é publicado em judesmo. Na cidade havia sinagogas com o nome de Lisboa e Évora.
Na foto, famílias judaicas fugindo de suas casas depois de um motim anti-judeu instigado pelos nacionalistas gregos.
Se lá voltar, não tornarei a pisar o chão da universidade de Salónica, construída por cima do vasto cemitério judeu, vandalizado e pilhado, sem me lembrar de que muitos dos mortos que lá ainda continuam por debaixo do betão, devem ter tido nomes portugueses.

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EARLY MORNING BLOGS
1024 - Crusoe in England (fragmento)

Imagem:Sabrina Island 1811.jpg

A new volcano has erupted,
the papers say, and last week I was reading
where some ship saw an island being born:
at first a breath of steam, ten miles away;
and then a black fleck—basalt, probably—
rose in the mate’s binoculars
and caught on the horizon like a fly.
They named it. But my poor old island’s still
un-rediscovered, un-renamable.
None of the books has ever got it right.

( Elizabeth Bishop)

*

Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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