ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
|
25.5.07
COISAS DA SÁBADO: DEBATES POUCO PLURAIS E CONDICIONAMENTO DA OPINIÃO O último Prós e Contras sobre Lisboa foi um exemplo de como é possível fazer um programa mau, confuso e politicamente muito pouco pluralista. Digo isto, como o mesmo à vontade com que muitas vezes elogiei o programa. Mas este último foi de facto um case study de como se pode fazer tudo mal, com a agravante de se estar praticamente em pré-campanha e por isso haver claras incidências políticas no modo como o programa gere “evidências” como a atribuição implícita da crise da cidade às peripécias da presidência Carmona Rodrigues como se essa crise só com ele emergisse do nada. Se houvesse pluralismo no Prós e Contras alguém se teria incomodado com esta ideia, tão útil para a campanha dos dias que correm, quanto falsa. O pluralismo num programa de opinião não está em colocar um do PS, outro do PSD e por aí adiante, como pensa a ERC. Está em retratar as fracturas de opinião realmente existentes, e essas não vieram a um programa que ironicamente se chama Prós e Contras e é o mais importante programa de debate da televisão pública. Por exemplo, o Arquitecto Ribeiro Teles não tem críticos das suas posições sobre a cidade? Certamente que tem, igualmente qualificados, porque há quem veja os problemas da cidade de forma diferente, o arquitecto Graça Dias por exemplo, o “homem que gostava das cidades”. Paulo Varela Gomes, cujo artigo tremendista foi claramente o mote do programa pelo fascínio que exerce o radicalismo simples das análises, não tem quem dele discorde de fundo? Se houvesse pluralismo haveria quem escavasse um pouco mais no artigo que deslumbrou a sala e veria que ele era omisso, por razões ideológicas, na referência aos factores principais da degradação da cidade que estão muito para além da crise actual. Por exemplo, quando se invectiva o transporte em automóvel privado a favor do transporte público e não se fala da responsabilidade da legislação salazarista-socialista sobre o arrendamento urbano, talvez o factor singular mais grave da decadência da cidade, percebe-se que há uma opção ideológica que não se revela e não se discute. Os absurdos elogios a Duarte Pacheco não passariam o escrutínio simples de quem soubesse um mínimo da história do Estado Novo e explicasse que o que ele fez só era possível em ditadura e com a subordinação da propriedade privada não à cidade, mas a uma cidade monumental de inspiração nas obras públicas do fascismo italiano. É isso que querem? Grandes avenidas, bairros sociais, estádios “nacionais”, urbanismo imperial, e exposições coloniais? Se calhar é ainda este modelo o que inconscientemente povoa os sonhos de grandeza da esquerda e da direita. * Pergunta se o Arquitecto Ribeiro Teles não tem críticos das suas posições sobre a cidade: Tem-los obviamente. Só que esses, não perdem tempo a refutá-lo já que têm vindo a fazer desde sempre na cidade, tudo aquilo contra o qual ele luta. (url)
© José Pacheco Pereira
|