ABRUPTO

30.5.07


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 30 de Maio de 2007


Uma característica dos nossos dias: a enorme hostilidade comunicacional às greves, tão evidente em noticiários como o da SIC. O governo agradece que o olhar dos jornalistas sobre a greve seja uma réplica do seu, tão evidente no efeito de espelho dos jornalistas, que queriam que a CGTP usasse a mesma grelha de análise dos secretários de estado. O modo como impediram Carvalho da Silva de falar contrasta com o silêncio reverencial com que ouviram secretários de estado tirar "lições políticas" da greve. Diante deles, mal ou bem, Carvalho da Silva dava informações que nenhum órgão de comunicação tinha dado, como, por exemplo, que houve cerca de sessenta voos cancelados nos aeroportos. Eu gostava de o ter ouvido, para fazer o meu julgamento, em particular os exemplos concretos dados, mesmo sem os números globais que são fáceis de avançar pelo governo mas que são (como muitos números sindicais) uma mistificação. Sinais dos tempos.

NOTA suplementar - Pelo contrário, a SICN, no noticiário das 22 horas com Ana Lourenço, está a tratar com muita seriedade a questão da greve. Faz uma diferença!

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E só porque estou ao computador enquanto vejo o telejornal na tv, o que faz deste um mail de impulso.2 pontos:

1.não posso deixar de me perguntar quem são os "intended observers" dessa conferência de imprensa do governo. Os óbvios seriam: o país e os sindicatos. Mas se é perfeitamente lógico perceber o segundo caso, o mesmo não se passa para o primeiro. Sobretudo porque hoje em dia os eventos escondem múltiplas causas: a fraca adesão à greve será provavelmente melhor explicada por receios em casos de precaridade no trabalho do que por concordância com as políticas do governo. O que faz, na minha opinião, com que todos desenvolvam má vontade para com o governo. Ninguém gosta de ver as suas circunstâncias difíceis expostas na praça pública como uma vitória.

2. Esquecendo as causas, o evento em si, que parece de facto não ter atingido os propósitos, também me remete para uma outra questão: é que se começamos a falar de "cabeças-duras", devemos talvez olhar também para os sindicatos. Há 20 anos que vemos as mesmas caras, com os mesmos discursos; e não é segredo para ninguém que dentro das empresas (tanto privadas como públicas) os sindicatos começam a ter tão má imagem como as administrações prepotentes, e não conseguem disfarçar certas fragilidades, e certas tentações. Pessoalmente, acabo por respeitar Carvalho da Silva. Mas não chega para limpar a imagem gasta e falsa de muitos outros. Não deveriam estas organizações ser também mais democráticas?

(Paulo L)

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Eu por acaso senti o oposto, ao ver o da RTP1: tudo estava fechado, nada funcionava e não foi assim o meu dia. Num país com alguns milhões de trabalhadores poderá uma reportagem de telejornal ser exacta ou fazer mais que ilustrar com meia dúzia de exemplos uma impressão geral? A verdadeira notícia seria dada em números: “tantos trabalhadores (% do total) fizeram greve”, incluindo na contagem os do sector privado, que também são portugueses e trabalhadores (embora nestes dias pareça que só são trabalhadores os dos transportes, educação e saúde). É deplorável dizer que fecharam mais de mil escolas, sem dizer o que ouvi mais tarde que é serem 11 mil o total das escolas e sem dizer o que é a minha experiência pessoal: numa escola com cerca de 20 professores, 3 educadores de infância e meia dúzia de auxiliares, fecha por greve da meia dúzia de auxiliares, com os professores e educadores à porta sem poderem entrar.

(Mónica G.)

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Se há coisa para a qual já não tenho pachorra, em dias de greve-geral, é ouvir as discussões em torno dos números de grevistas e não-grevistas.

Como se sabe, sindicatos e governo dizem o que gostariam que fosse verdade, chamam-se mutuamente de mentirosos, e o mundo continua a rodar... até à próxima.

No entanto, desta feita, fomos surpreendidos com uma novidade: o governo lembrou-se de usar os dados do consumo de energia como indicador da redução da actividade económica do país motivada pela greve.

«Boa!» - pensei eu - «Ora aí está uma medida inteligente!». Só que não estava preparado para a revelação que veio a seguir: o consumo de energia AUMENTOU!

Ou seja: já não temos só 20% de grevistas, nem 10%, nem mesmo zero: pelos vistos, desta vez, até houve... um número negativo deles!

(C. Medina Ribeiro)

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