ABRUPTO

21.5.07


COISAS DA SÁBADO: BELAS E MESTRES



Antigamente havia a Bela e o Monstro, hoje há a Bela e o Mestre.
Este é o "programa" do programa:

"Imagine oito Mulheres de cortar o fôlego, e que acima de tudo gostam de se olhar ao espelho¿ Imagine 8 Homens muito inteligentes¿mas cromos e com pouco jeito para lidar com o sexo feminino¿ Uns e outros têm como objectivo provar que são capazes de ter uma dinâmica de equipa ao longo de várias semanas. Para isso vão viver juntos durante 9 semanas numa casa. Genuinamente juntos¿ Eles vão ter que as educar e Elas vão ter que os treinar¿ o insucesso de um será o insucesso do outro¿ Boa disposição, lágrimas, ranger de dentes, alegria e tristeza tudo junto num programa que vai pôr Portugal a vibrar! ¿Beauty & The Geek¿ é o novo formato inovador da Televisão que vai entreter os portugueses neste primeiro semestre de 2007. Mais do que um reality-show, ¿Beauty & The Geek¿, é uma ¿social experience¿, em que se pretende provar que estes homens e mulheres, com características tão específicas e diferentes, podem trabalhar em conjunto, tornar-se melhores pessoas, mais tolerantes e confiantes. Tudo vai girar à volta da dinâmica de cada casal, que como unidade deve conseguir ultrapassar todos os desafios e provas e seduzir o público, que terá a última palavra, ao decidir qual o casal vencedor que vai partilhar o prémio de 100.000 €. Poderão estes casais ultrapassar as suas diferenças e tornar-se mais do que apenas... belas e mestres? Não perca todas as emoções do ¿¿Beauty & The Geek, brevemente na TVI!"
Uns meninos espertos mas tortos e umas meninas com tudo no sítio mas burras, fizeram mais um dos reality shows de que se alimenta a nossa televisão. Supostamente o que separava uns de outros era a sabedoria (deles) e a beleza (delas) e não sei o que mais ofendia ou perturbava quem via. Presumo que a conjugação da beleza com a ignorância crassa, um típico estereotipo, deve ter sido a chave do sucesso, mais do que a “sabedoria” dos meninos. Claro que cá fora, as mulheres são de um modo geral mais “mestres” e mais “belas” e eles dificilmente competem quer numa quer noutra qualidade, mas talvez tenha sido também isso uma fonte de atracção, porque ajuda ao escapismo masculino pensar que, pelo menos, na televisão, as mulheres são mais burras do que eles.

As meninas esforçaram-se bastante para consolidar a sua posição de burras. O cômputo geral do programa acrescentou mais uma série de spoonerisms ao escasso catálogo nacional (o britânico é vastíssimo), com uma “pluriosidade” no clima da Madeira, o “multimato”, o “conflito israelo-pasteliano” e a “mesopausa”. As meninas não sabiam a capital do Iraque, nem quem era Fidel, mas sabiam que a capital da África do Sul era Moçambique, quem era Margaret Tish, vulgo Tatcher, e achavam que o “bailado típico do Ribatejo era o flamenco”, que a canção era “se uma gaveta voasse”... Não está mal e um dos mestres disse e muito bem que “a Vera tem falta de desconcentração”, o que também não está mal.

Acabado o concurso o que vai ser destes produtos magnificos do sistema escolar português? Elas certamente que vão singrar na vida, entre as páginas da Nova Gente, da Flash, do 24 Horas, esticando os seus quinze minutos de fama pelas discotecas, bares e restaurantes de Lisboa, arranjarão namorados e “amigos especiais”, casarão e e descasarão, colocarão e arrancarão tatuagens, serão patrocinadas por lojas e marcas de produtos para as belas burras, farão plásticas e terão alguns meninos, poucos que o mundo das revistas não suporta muitas gravidezes. Elas não leêm um livro, mas estão mais especialmente adaptadas para ter sucesso na sua faixa etária do que muitos e muitas mestres. Quem não compreende isto, não compreende o mundo dos dias de hoje. O mundo é delas. Não disse uma das Belas que “um sinónimo de bonito é feio”?

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© José Pacheco Pereira
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