ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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29.4.06
JUDEU ERRANTE
Mais uma corrida, mais uma viagem. (url) RETRATOS DO TRABALHO EM RUIVÃES - VIEIRA DO MINHO , PORTUGAL Esta fotografia foi tirada hoje durante a tarde junto à Ponte da Misarela no lugar de Frades, freguesia de Ruivães, concelho de Vieira do Minho. Estes dois homens estavam a cortar o mato para o transportar para as cortes do gado. Quando lhes perguntava se podia tirar esta fotografia, dizia-me um deles que os Portugueses só se sabem queixar, mas que verdadeiramente não querem é trabalhar; eles ao contrário, estavam ali a trabalhar debaixo daquele sol (quase) abrasador. (Paulo Miranda) Etiquetas: trabalho - retratos (url) RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL Trabalhos na barra do Douro. (Gil Coelho) Etiquetas: trabalho - retratos (url)
NUNCA É TARDE PARA APRENDER: GENEALOGIA DAS PALAVRAS
Salazar aos legionários em 1956 sobre a "guerra das civilizações": “Há vinte anos foi nítido para nós - mas não o foi para muitos - em face do caso espanhol, que o que essencialmente se desenrolava no Mundo eram conflitos de civilização; ou mais precisamente que a civilização ocidental estava sendo desmantelada ate aos alicerces e batida nos seus princípios fundamentais e nas suas criações por outros conceitos filosóficos, outras maneiras de encarar o homem e a vida, novas medidas de valor para as realizações do espírito.” (url)
MINHO, MINHO, MINHO À NOITE
Pelas estradas do interior, dez quilómetros são cinquenta. Terra, sobre terra, sobre terra. Nomes antigos, nomes bárbaros, consoantes fortes. Bês e guês, erres. De dia, parece estar tudo em cima de tudo, vinhas e terrenos, casas e igrejas. De noite, até parece que há bosques, lugares de escuridão antiga, com casas isoladas, janelas vagamente amarelas ao longe. As igrejas, no cimo das colinas, iluminadas. No iPod, Joan Didion fala de mortes na família, funerais, do seu livro The Year of Magical Thinking. Numa curva, em Roriz, pergunto-me se alguma vez a voz de Didion se ouviu no Minho. Passou-me Camilo à frente, pelos olhos. Não é verdadeiramente nada de importante. Adiante. (url) (url) 28.4.06
RETRATOS DO TRABALHO NA MAURITÂNIA Esta fotografia foi tirada no decorrer da semana passada algures entre a pista de praia que liga as localidades de Nouakchott a Nouadibou. Esta ligação/pista é utilizada não só por pescadores mas também por todos os que se deslocam a este local com o objectivo de apreciarem o encanto da conjugação do deserto com o mar. (...) Ao longo da praia são inúmeras as comunidades de pescadores. (Frederico Moreira Rodrigues) (url) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (28 de Abril de 2006) __________________________ Uma muito interessante vantagem nas "antecipações" jornalísticas (sobre as quais tenho as maiores das reservas) é o de obter uma divulgação quase que inteiramente controlada pela fonte da "antecipação". Consegue-se assim "passar" uma mensagem limpa de ruído, do ruído que inevitavelmente existe quando a "antecipação" se torna um facto (e do meu ponto de vista se torna notícia). Um discurso parlamentar pode ser assim divulgado sem o aborrecimento do contraditório, e com os sublinhados que pretende o seu autor, que "passa" preferencialmente a mensagem que lhe convém e não a integralidade do que vai fazer. Consegue-se ainda mais: a de fazer o jornalista incorporar no texto da notícia a argumentação da fonte como sendo do jornalista, logo oferecendo uma mensagem que parece mais legitimada e incontroversa a quem a recebe. Um caso típico ocorreu nos últimos dias, com a notícia em primeira-mão dada à SIC sobre as alterações nos cálculos da reforma. A SIC e a SICN passaram em vários noticiários não só a informação do essencial do que o Primeiro-ministro ia dizer no dia seguinte (o que é relevante em termos jornalísticos) como a argumentação governamental sobre a inevitabilidade de tal medida tendo como sujeito o jornalista que a escreveu ou o pivot que a leu. Ora, independentemente do juízo que se possa fazer sobre a virtude das medidas governamentais, elas são escolhas politicas definidas, escolhas entre escolhas, e não cabe ao jornalista valida-las como soluções inevitáveis dos problemas da segurança social.
* O New York Times não faz parte daqueles que acham que os blogues não são importantes. É assim que, num e-mail aos assinantes, introduzem uma categoria nova, a de "most blogged": "Most Popular: See what your fellow Times readers are buzzing about. Refer to the constantly updated lists: Most E-Mailed, Most Blogged, Most Searched and Most Popular Movies." (url) EARLY MORNING PICTURES Movimento matinal de hoje no Tejo: veleiros, navios de guerra e paquetes. Hoje o Colombo vai estar cheio de marujos. Mas os marujos já não são o que eram, as sopeiras já desapareceram, e temos todos telemóveis. (J.) (url)
EARLY MORNING BLOGS 768
Insomnia Now you hear what the house has to say. Pipes clanking, water running in the dark, the mortgaged walls shifting in discomfort, and voices mounting in an endless drone of small complaints like the sounds of a family that year by year you've learned how to ignore. But now you must listen to the things you own, all that you've worked for these past years, the murmur of property, of things in disrepair, the moving parts about to come undone, and twisting in the sheets remember all the faces you could not bring yourself to love. How many voices have escaped you until now, the venting furnace, the floorboards underfoot, the steady accusations of the clock numbering the minutes no one will mark. The terrible clarity this moment brings, the useless insight, the unbroken dark. ( Dana Gioia) * Bom dia! (url) 27.4.06
(url) QUEM PAGA A CRISE? No fim de um ano de aumento de impostos, de excepcional recolha fiscal e do arranque de várias medidas de contenção, o Governo conseguiu ter um défice superior ao previsto no último orçamento de Santana Lopes / Bagão Félix, descontadas as receitas extraordinárias. Nunca saberemos se o previsto se iria realizar, como nunca saberemos se os 6,8% calculados pelo Banco de Portugal não seriam contrariados por medidas do Governo. O que sabemos é que os resultados são maus. Os relatórios da última semana da OCDE e do BM apenas acentuaram a impressão de que nada vai bem, e as medidas do Governo só tocam na superfície dos problemas, na “epiderme” como diz Medina Carreira. Tudo isto num contexto excepcional quanto às condições políticas, com um governo de maioria absoluta e com uma oposição muito fragilizada, e com considerável apoio da opinião pública. Torna-se evidente que os dilemas que já existiam em 2005 estão hoje mais acentuados e a margem de manobra, com a passagem do tempo, é já bastante menor. Vamos pois a caminho de tempos muito difíceis, agravados pela conjuntura internacional, mas não explicáveis nem exclusiva, nem principalmente por ela. Agora que realmente tudo vai começar a apertar, e já sem a sombra nem a desculpa legitimadora do governo Santana Lopes, as opções erradas de Sócrates, do Governo e do PS começam a perceber-se com maior clareza. Deixo de lado, que havia uma maneira alternativa de actuar, uma política genuinamente liberal, que no entanto não corresponde às opções políticas e ideológicas do Governo socialista. Como nas histórias infantis, tudo começou no princípio, “naquele tempo”. No balanço da actuação de Sócrates esquece-se várias coisas: uma é que o discurso com que o PS ganhou as eleições não era um discurso de crise, bem pelo contrário, era o da sua negação. Não se chegava ao ponto de anunciar a “retoma”, mas o discurso socialista era o de que havia “vida para lá do défice”. É uma história da carochinha da propaganda acreditar que Sócrates só se apercebeu da situação real depois do relatório Constâncio, porque tal era impossível. É verdade que Sócrates corrigiu o discurso logo que ganhou as eleições e fez bem, mas uma coisa é corrigir um erro outra é compreender totalmente a necessidade de uma viragem de fundo. Depois de um ano a ser saudado com justiça pela sua coragem nas medidas difíceis, pouca gente se apercebeu que os problemas de fundo do nosso desequilíbrio financeiro se mantêm, em particular com o estado a gastar sempre mais e a “comer” não só o que tinha, mas também o que estava a entrar de novo. Apresentar como resultado um défice maior do que o governo anterior não tem volta que se lhe dê – é andar para trás. Porque é que é hoje mais difícil passar de 6% para 4,8% do que seria um ano antes? Primeiro, porque é (foi) um erro gravíssimo, ter cedido ao populismo no pior momento para o fazer. O Governo podia muito bem ter pedido todos os sacrifícios e ter anunciado todas as medidas difíceis com um único argumento: eram necessárias para o país, eram uma questão de “salvação nacional”. Ponto final. Mas o Governo cedeu à tentação de dizer que o que estava a fazer era uma luta contra os “privilégios “ de muitas classes profissionais e com isso deslegitimou-os na sua respeitabilidade social. Hoje sabemos o efeito dessa táctica comunicacional: deixou cada grupo profissional de per si, socialmente isolado, face a uma opinião pública hostil, mas azedou irremediavelmente o ambiente dentro de cada corporação e grupo entrincheirados contra o Governo. Fez as corporações e os grupos profissionais fracos por fora e fortes por dentro. Uma segunda vaga ainda mais dura de medidas de austeridade e contenção vai dar origem a conflitos sociais mais tenazes. Os comportamentos desesperados vão ser mais comuns, a resistência maior. Isto significa que muito do tempo psicológico para uma política de efectiva dificuldade, já se perdeu, no exacto momento em que é preciso ir muito mais longe e começar a perceber quem ganha e quem perde com a crise que atravessamos e o modo como o governo a defronta. Segundo, porque o Governo apenas esboçou as políticas necessárias, excluindo muitas medidas que lhe foram sugeridas e que melhor traduziam a gravidade da situação. Claro que o problema é também político-ideológico, em particular na intocabilidade do “estado social” universal, em que nunca ousou mexer, apesar de ser um caminho que garantia melhor justiça social. Sócrates diminuiu regalias sociais, mas manteve esquemas de universalidade, em particular na segurança social e no sistema de saúde, o que torna muitas medidas mais duras para os mais pobres e irrelevantes para os mais ricos. Na verdade, as medidas de Sócrates acabam por atingir essencialmente os sectores mais desfavorecidos da sociedade, mais dependentes da inflação, do aumento das taxas de juro, dos despedimentos, da erosão das reformas e menos a classe média. Dos ricos nem falo, porque esses podem sempre bem com as crises. O que o discurso de Cavaco Silva no 25 de Abril traz de novo para a análise desta questão é chamar a atenção para que, se nada mais se fizer, a crise será “paga” pelos mais pobres e agravará a exclusão. A ênfase que “surpreendeu” muita gente, só é surpresa porque se tem ignorado que essas dificuldades não são igualmente distribuídas e que o “pagamento da crise”, deixando-se estar as coisas como estão, irá para baixo e não para o meio. Insisto que, em cima, nada verdadeiramente conta no plano “social”. A classe média, até agora só tem sido tocada ao de leve. Os padrões de consumo não revelam significativas restrições nos hábitos típicos desse sector social (férias, viagens nas “pontes”, por exemplo) e, no essencial, o efeito da crise tem sido superficial, em detrimento das muito maiores dificuldades escondidas e que raras vezes chegam à comunicação social, no baixo funcionalismo, no mundo do trabalho industrial, nos jovens com trabalho precário, na pequena burguesia urbana dos serviços, muito endividada. O agravamento da crise aprofundará este fosso de degradação de qualidade de vida. O problema da justiça social nesta crise não está apenas, bem longe disso, na assistência aos casos extremos de miséria e exclusão, aos marginais e aos velhos desprotegidos, que já era exigida pela nossa pobreza há muito tempo. A questão está em se compreender que esta forma de atacar a crise atirará com os seus custos para os grupos sociais que menos defesa têm e, como o que aconteceu até agora é apenas um ligeiro assomar de dificuldades que aí vêm, convém prevenir não contra a austeridade, nem o contra o combate ao descalabro financeiro, mas contra um injusto “pagamento da crise”. E não é o PCP quem o diz. (No Público de hoje.) (url) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (27 de Abril de 2006) __________________________ * Sobre as querelas da Academia a propósito dos dicionários, leia-se esta nota do Da Literatura. * O Canhoto merece ser lido de forma ambidextra. * Bem-vindo seja o novo blogue russo do Público, de autoria do nosso bom mujique José Milhazes. Há uma razão especial para estar atento à Rússia: tudo o que lá acontece, mesmo quando parece velho e semelhante, é novo. A "transição para o capitalismo" é um fenómeno sem precedente histórico, como foi em 1917 a Revolução Russa. (url) RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL ( o trabalho industrial está mal representado) ( a fábrica fechou) (António Carvalho) Etiquetas: trabalho - retratos (url)
EARLY MORNING BLOGS 767
Chanson Innocente, I in Just- spring when the world is mud- luscious the little lame balloonman whistles far and wee and eddieandbill come running from marbles and piracies and it's spring when the world is puddle-wonderful the queer old balloonman whistles far and wee and bettyandisbel come dancing from hop-scotch and jump-rope and it's spring and the goat-footed balloonMan whistles far and wee (e.e.cummings) * Bom dia! (url) 26.4.06
RETRATOS DO TRABALHO 140 retratos do trabalho já foram publicados no Abrupto, com a colaboração de cerca de cem leitores em Portugal e fora. Muitos outros retratos foram recebidos e serão publicados a seu tempo. Em breve, se fará uma análise dessas fotografias, do olhar sobre o trabalho que revelam, das profissões que faltam ( o trabalho industrial está mal representado) e das que são mais populares, ou mais visíveis. * Em relação à questão da pouca representatividade do "trabalho industrial" na sua série "Retratos do Trabalho em Portugal", eu aventaria uma razão bastante prosaica. A maior parte das fotografias que lhe chegaram são de fotógrafos amadores, que as captam em momentos de lazer (essencialmente fins de semana e férias), pelo que é compreensível que nesses momentos se captem fotografias de "exterior". Etiquetas: trabalho - retratos (url) RETRATOS DO TRABALHO NO CAIRO, EGIPTO Nestes últimos meses em que tenho estado a viver/trabalhar no Egipto, tenho notado bastantes diferenças na abordagem ao trabalho e à vida em geral, nem todas tão evidentes como esta. (Nuno Alexandre Lopes Marques) Etiquetas: trabalho - retratos (url) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DESTAQUE DE NOTÍCIAS (...) hoje no Publico vêm duas noticias muito interessantes: 1) a Faculdade de Psicologia do Porto corre o risco de ficar fora do processo de Bolonha porque uma funcionária não pagou um excesso de peso no dia 27 de Março. O prazo limite era 31, e os documentos só seguiram no dia 3. O que é que se terá passado nessa semana (de 27/3 a 3/4) é um mistério; como é que é possível que o erro não tenha sido corrigido a tempo é outro mistério. Como se costuma dizer, a realidade ultrapassa a ficção. Aguardemos pelas cenas dos próximos capitulos. 2) vai haver uma exposição sobre a Custódia de Belém de Gil Vicente. Saúda-se a iniciativa. O que é incrível é que quando se vai ao Museu de Arte Antiga, a Custódia passa despercebida. Não há (pelo menos não houve durante anos e não havia até ao ano passado) um texto que evidencie a singularidade da obra, ou que explique quem é o autor. Apenas são prestadas as informações minimas usuais: data, nome e autor. Sem querer ser destrutivo de modo saloio, parece-me muito pouco. E parece-me revelador de duas coisas: - um modo elitista de ver a cultura (supõe-se que as pessoas já conhecem a obra) que resulta em Museus que são montras (e onde não se aprende nada / o conteúdo didáctico é pouco). - um modo muito "sub-desenvolvido" de nos valorizarmos e de preservarmos a nossa memória colectiva. Estamos sempre a pensar que somos piores que os Europeus, mas Shakespeare, Rabelais, Montaigne ou Cervantes não eram ourives. Outro povo evidenciaria provavelmente mais essa fantástica versatilidade de Gil Vicente. Tornar-nos realmente desenvolvidos vai passar por aí: cuidar da nossa história, dos nossos feitos. Essa versatilidade aliás ainda existe. Um dos artigos base de uma das ultimas edições da Publica (se não me engano) era dedicado a essas pessoas. (Eduardo Tomé) (url) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: UM DIÁLOGO MATERNO-INFANTIL E AS NOVAS TECNOLOGIAS "Mãe, jà foi a algum leilão? Já, de livros. Na internet? Não. Numa leiloeira. Acha que podiamos tentar vender o João no ebay? Acho. O que é que achas João? Acho que faziam para ai uns dois milhões..." (Mãe do João.) (url) 25.4.06
RETRATOS DO TRABALHO NO DOURO, PORTUGAL Podando oliveiras no Douro. (Abilio Tavares da Silva) Etiquetas: trabalho - retratos (url) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TERRORISMO EM DAHAB Esta vila é umas das pérolas do Mar Vermelho, ainda pouco explorada turisticamente. Em Assalah, a zona sul da vila já cresceram alguns 'resorts', no resto da vila uns quantos pequenos hotéis e um passeio marítimo com restaurantes, lojas e esplanadas junto à água, onde se pode fumar shisha, comer um peixe grelhado fresquíssimo, não deve haver melhor no Egipto. As praias são calmas e o fundo do mar uma maravilha da natureza, onde os turistas se deleitam a fazer mergulho. Em suma um local muito agradável, onde é possivel descontrair. E era isso mesmo isso que os turistas, em boa parte italianos, alemães e russos e muitas famílias egipcias estavam a fazer, aproveitando os feriados desta semana.Ontem ao final da tarde com a explosão de três bombas, despoletadas à distância ou por suicidas, ainda não se sabe, se foram os mesmos terroristas beduinos que nos últimos dois anos foram responsáveis por ataques semelhantes com ligações a redes terroristas internacionais ou alguma dessas redes internacionais também não se sabe. O que se sabe e se vê é o sangue derramado, o sofrimento, os destroços e os estilhaços. O terrorismo é isto mesmo, é transformar a alegria, a vida, o sossego, os negócios em angústia, em morte, em medo e destroços. (Nuno Alexandre Lopes Marques aka Temba, Cairo)
(url) ONDE ESTÁ A DIFERENÇA Se não tivessemos a obsessão entre a "esquerda" e a "direita", percebíamos o fosso potencial que existe entre o discurso do Presidente e o do Governo : a separação de águas entre o discurso desenvolvimentista e tecnológico, muitas vezes deslumbrado, do Primeiro-ministro, e a observação do Portugal real, pobre, estragado, desigual, excluído que só poderá agravar-se em período de crise social e económica. Não são as reformas que os separa, mas o Portugal diferente para que olham na análise dos seus efeitos. (url) PALAVRAS QUE SÃO MULETAS DO NOSSO JORNALISMO: ESQUERDA / DIREITA Ao "analisar" o discurso do Presidente da República repetem n vezes a muleta da "esquerda" e da "direita" e nem sequer se apercebem de que o fazem para enunciar uma perplexidade, - o Presidente da "direita" fez um discurso de "esquerda" -, que talvez justificasse outro tipo de análise. Só que esta é simples e permite simplificar. O problema é que os factos são mais teimosos do que as palavras. * A propósito do discurso do Presidente da República, e a sua observação, ou seja, sobre o estado da Nação, não resisto a transcrever o que José Daniel Rodrigues da Costa versejou, sobre o mesmo assunto em 1819, e sucessivas edições (1820, 1822 e 1829), há 177 anos portanto, com o título infra, e onde transparece algum retrato de um Portugal que se vai parecendo a si mesmo, como se o tempo tivesse parado no tempo. (url) 24.4.06
EARLY MORNING BLOGS 766 Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso. É possível, porque tudo é possível, que ele seja aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo, onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém de nada haver que não seja simples e natural. Um mundo em que tudo seja permitido, conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer, o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós. E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto o que vos interesse para viver. Tudo é possível, ainda quando lutemos, como devemos lutar, por quanto nos pareça a liberdade e a justiça, ou mais que qualquer delas uma fiel dedicação à honra de estar vivo. Um dia sabereis que mais que a humanidade não tem conta o número dos que pensaram assim, amaram o seu semelhante no que ele tinha de único, de insólito, de livre, de diferente, e foram sacrificados, torturados, espancados, e entregues hipocritamente â secular justiça, para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.» Por serem fiéis a um deus, a um pensamento, a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas à fome irrespondível que lhes roía as entranhas, foram estripados, esfolados, queimados, gaseados, e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido, ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória. Às vezes, por serem de uma raça, outras por serem de uma classe, expiaram todos os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência de haver cometido. Mas também aconteceu e acontece que não foram mortos. Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer, aniquilando mansamente, delicadamente, por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus. Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror, foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha há mais de um século e que por violenta e injusta ofendeu o coração de um pintor chamado Goya, que tinha um coração muito grande, cheio de fúria e de amor. Mas isto nada é, meus filhos. Apenas um episódio, um episódio breve, nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis) de ferro e de suor e sangue e algum sémen a caminho do mundo que vos sonho. Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém vale mais que uma vida ou a alegria de té-1a. É isto o que mais importa - essa alegria. Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto não é senão essa alegria que vem de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém está menos vivo ou sofre ou morre para que um só de vós resista um pouco mais à morte que é de todos e virá. Que tudo isto sabereis serenamente, sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição, e sobretudo sem desapego ou indiferença, ardentemente espero. Tanto sangue, tanta dor, tanta angústia, um dia - mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga - não hão-de ser em vão. Confesso que multas vezes, pensando no horror de tantos séculos de opressão e crueldade, hesito por momentos e uma amargura me submerge inconsolável. Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam, quem ressuscita esses milhões, quem restitui não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado? Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes aquele instante que não viveram, aquele objecto que não fruíram, aquele gesto de amor, que fariam «amanhã». E, por isso, o mesmo mundo que criemos nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa que não é nossa, que nos é cedida para a guardarmos respeitosamente em memória do sangue que nos corre nas veias, da nossa carne que foi outra, do amor que outros não amaram porque lho roubaram. Lisboa, 25 de Junho de 1959 (Jorge de Sena) (url) RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL
Calceteiros na Praça da Liberdade, no Porto. (Álvaro Mendonça) (url) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (24 de Abril de 2006) __________________________ Por mim, os jornais em papel não perdem nas vendas. Leio-os em linha e dias depois em papel. A experiência de ler em papel é muito diferente de ler em linha e, às vezes, perde-se muito ao não se poder "ver". Mas há outro aspecto interessante, que é o perceber como os jornais suportam a prova do tempo, mesmo que seja a de alguns dias. É um exercício muito útil e pedagógico. Acabei agora de ler a Visão com vários dias de atraso. Duas coisas interessantes: a caricatura do "Puro veneno" com um Bush a rasgar e a comer um tapete persa. A legenda é que é interessante: "Não suporta nada que tenha a ver com o Irão!" diz uma voz off. No entender do caricaturista seria interessante saber o que é que hoje é "suportável" no Irão. A outra é uma explicação de Freitas do Amaral sobre a sua ida ao Canadá que foi ignorada pela imprensa, certamente porque o assunto já não está na agenda mediática. Independentemente de se concordar ou não com o MNE, uma coisa tem que se elogiar: Freitas do Amaral desce muitas vezes da sua posição ministerial para se explicar, o que é um mérito. * A. S. Byatt sobre Everyman, o novo Philip Roth: "Roth's characters inhabit a truly post-religious world, in which we do not have immortal souls, only sick, lively desire, and the dying of the animal. The title of this new, bleak tale is taken from a mediaeval morality play in which Everyman, the human soul, is called by Death to appear before God's judgement seat. He is deserted by his strength, discretion, beauty, knowledge and five wits, leaving only his Good Works to speak for him at the end." (url) EARLY MORNING BLOGS 765 Icebergs Icebergs, sans garde-fou, sans ceinture, où de vieux cormorans abattus et les âmes des matelots morts récemment viennent s'accouder aux nuits enchanteresses de l`hyperboréal. Icebergs, Icebergs, cathédrales sans religion de l'hiver éternel, enrobés dans la calotte glaciaire de la planète Terre. Combien hauts, combien purs sont tes bords enfantés par le froid. Icebergs, Icebergs, dos du Nord-Atlantique, augustes Bouddhas gelés sur des mers incontemplées. Phares scintillants de la Mort sans issue, le cri éperdu du silence dure des siècles. Icebergs, Icebergs, Solitaires sans besoin, des pays bouchés, distants, et libres de vermine. Parents des îles, parents des sources, comme je vous vois, comme vous m'êtes familiers... (Henri Michaux) * Bom dia! (url) 23.4.06
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SUSTO E PAVOR Na habitual linha editorial das nossas TVs de sinal aberto que estão mais ao nível das "trash TVs" de 3º mundo, arrepia até pensar no que virá por aí em Junho 2006 com o inicio do mundial de futebol na Alemanha. O horário nobre será tomado de assalto pela barbárie da futebolândia com reportagens no inicio, no meio e no fim dos telejornais cá do burgo com noticias tão relevantes como a lesão do avançado, o cartão amarelo ou a cor do underware da selecção portuguesa... É assim a nossa pequenês, a nossa cultura saloia, a nossa procissão mediática profano - religiosa em que pululam expressões com o "sobretudo de Mourinho", "o regresso de Mantorras" ou "as escolhas de Felipão" que fazem as primeiras páginas até de jornais ditos de referência... Portugal é o paradigma de pequena pátria ansiosa por heróis perenes que nada acrescentam de concreto ao verdadeiro desenvolvimento do país... Portugal é uma pátria exacerbada, uma espécie de "bonfire of vanities" à espera que heróis virtuais façam grandes milagres...e o pior ? O pior, é que até as designadas elites que nos governam e desgovernam alinham no esquema... (António Ruivo) (url) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (23 de Abril de 2006) __________________________ Num pilar de acesso à Ponte 25 de Abril: "Dr. Salazar"? Se fosse só "Salazar" percebia-se, o "Dr." é que é todo um programa em duas letras. Salazar era Professor, "Prof.", mais do que apenas "Dr.", mas na altura bastavam as duas letras para enunciar a distinção. O autor da inscrição sente essa distinção tanto quanto a quer transmitir com a simplicidade de um nome que diz tudo. É uma pichagem ingénua e por isso eficaz. Mas não há diferença nenhuma entre este "Dr." e o "camarada" das pichagens sobre o "camarada Gonzalo". * (...) tanto quanto sei (e pouco mais sei que isso), "Dr. Salazar" é o nome de uma banda que, aliás, chegou a actuar na Festa do Avante, há uns anos atrás. Essa inscrição está em inúmeros outros sítios. Parece-me que estes factos alteram o príncipio (uma inscrição isolada, num local específico) de que parte para o seu raciocínio e interpretação. "Ouvido" no Overheard in New York Does Psycho Killer Start with P? (url) EARLY MORNING BLOGS 764 La Génisse, la Chèvre, et la Brebis, en société avec le Lion La Génisse, la Chèvre, et leur soeur la Brebis, Avec un fier Lion, seigneur du voisinage, Firent société, dit-on, au temps jadis, Et mirent en commun le gain et le dommage. Dans les lacs de la Chèvre un Cerf se trouva pris. Vers ses associés aussitôt elle envoie. Eux venus, le Lion par ses ongles compta, Et dit : "Nous sommes quatre à partager la proie. " Puis en autant de parts le Cerf il dépeça ; Prit pour lui la première en qualité de Sire : "Elle doit être à moi, dit-il ; et la raison, C'est que je m'appelle Lion : A cela l'on n'a rien à dire. La seconde, par droit, me doit échoir encor : Ce droit, vous le savez, c'est le droit du plus fort Comme le plus vaillant, je prétends la troisième. Si quelqu'une de vous touche à la quatrième, Je l'étranglerai tout d'abord. " (La Fontaine) * Bom dia! (url) 22.4.06
VER A NOITE
Agora mesmo, numa terra sem luz pública, imersa numa escuridão quase total. * Outra mudança, mais subtil, a da geografia interior da casa. Sem a luz que entra de fora, da lua (que não há), dos candeeiros, que estão apagados, os contornos da casa perdem-se por dentro. As janelas abrem-se para um escuro que fecha a casa em si mesma. É difícil atravessá-la sem abrir todas as luzes, falta um reflexo de uma clarabóia, um traço amarelo que vem da rua, um rastro de néon ou de magnésio, mesmo de longe, do mundo exterior. (url) COISAS DA SÁBADO: OS TELEJORNAIS DOENTES COM TANTA DOENÇA Hoje não há telejornal sem doenças. Ou são congressos sobre doenças, com reportagens sobre os doentes, ou são campanhas contra esta ou aquela doença, mais reportagens sobre os doentes; ou são casos raros, abstrusos, excepcionais, sobre uma doença que ataca meia dúzia de pessoas, mais reportagens sobre os doentes da rara doença. Não é possível chegar ao fim do longo tempo de noticiário sem a dança intercalada entre o futebol e as doenças. Nos períodos de “operações” da GNR para controlar o trânsito das pontes, miniférias idas e vindas de feriados e férias pequenas, médias e grandes, como se sabe uma actividade constante entre os portugueses, temos o menu intercalado entre futebol, doenças, acidentes e filas de trânsito. Infeliz país o nosso, que só tem doenças. Feliz país o nosso, em que não há notícias. (url) COISAS DA SÁBADO: O FINANCIAMENTO DO HAMAS O Hamas ganhou as eleições no território da Autoridade Palestiniana. Muito bem. Ganhando as eleições deve constituir governo. Muito bem. Um dos erros trágicos da diplomacia ocidental, que se pagou com uma guerra civil foi apoiar o golpe de estado contra a FIS na Argélia, impedindo-a de chegar ao governo. O Hamas não quer mudar duas das suas posições centrais – o não reconhecimento da existência de Israel e o apelo à violência bombista contra os israelitas. Muito bem, embora aqui seja muito mal. O Hamas coloca-se assim fora do “processo de paz” tal como ele existia, mesmo que fragilmente. Muito bem, está no direito de o fazer. O que não pode, nem ele, nem os seus “compreensivos” amigos na esquerda ocidental, é querer que Israel, os EUA e a União Europeia continuem a financiar o governo palestiniano do Hamas, financiamento que era um contrapartida para a aceitação do “processo de paz”. (url) ARQUIVO: OUTRAS MÚSICAS
Velhos discos de 45 RPM, directa ou indirectamente relacionados com a vida política. (url) RETRATOS DO TRABALHO EM SANTIAGO DE COMPOSTELA, ESPANHA Abastecimento matinal (08H00 da manhã, 07H00 na república portuguesa). (José Pedro Oliveira S.) Etiquetas: trabalho - retratos (url) EARLY MORNING BLOGS 763 Today and Two Thousand Years from Now The job is over. We stand under the trees waiting to be told what to do, but the job is over. The darkness pours between the branches above, but the moon's not yet on its walk through the night sky trailed by stars. Suddenly a match flares, I see there are only us two, you and me, alone together in the great room of the night world, two laborers with nothing to do, so I lean to the little flame and light my Lucky and thank you, comrade, and again we are in the dark. Let me now predict the future. Two thousand years from now we two will be older, wiser, having escaped the fleeting incarnations of workingmen. We will have risen from the earth of southern Michigan through the tangled roots of Chinese elms or ancient rosebushes to take the tainted air into our leaves and send it back, purified, down the same trail we took to escape the dark. Two thousand years passed in a flash to shed no more light than a wooden match gave under the trees when you and I were lost kids, more scared than now, but warm, useless, with names and different faces. (Philip Levine) * Bom dia! (url) 21.4.06
RETRATOS DO TRABALHO EM SORGAÇOSA, SERRA DO AÇOR - ARGANIL, PORTUGAL Carregando um tronco de pinheiro para fazer cavacas destinadas à fogueira. (António Lopes Pedro) Etiquetas: trabalho - retratos (url)
INTENDÊNCIA
Actualizadas as notas NUNCA É TARDE PARA APRENDER: "A ILHA HERÓICA" (MALTA STORY) e A FAUNA DAS CAIXAS DOS COMENTÁRIOS. (url) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (21 de Abril de 2006) __________________________ Nós temos o nacionalismo típico dos pobrezinhos: o astronauta brasileiro foi quase sempre designado no Telejornal das 12 horas da RTP1 como "lusófono", e o ter-se falado português no espaço como o evento principal da viagem. Como se Portugal tivesse algum mérito, algum papel, na ida para o espaço do nosso estimado brasileiro. * Ao ler o seu post lembrei-me que no passado já tinha sentido o mesmo, nas últimas eleições americanas com a senhora Teresa Heinz Kerry e a possiblidade da primeira dama americana falar português. * Dilemas dos académicos na televisão: sound bites ou argumentos? * Sartre e Beauvoir, o casal insuportável, começa a ter boa imprensa. Não há nada que, deixando passar o tempo e as fúrias, não tenha boa imprensa. Ele dizia " Je suis écrivain, j'ai besoin d'amours contingentes !", ela era menorizada como La Grande Sartreuse. Agora um telefilme Amants du Flore retoma a história do casal e Assouline conclui: "Mais des deux, le génie, c'est elle. Rien dans l'oeuvre de Sartre n'arrivera à la capacité d'influence et de bouleversement des mentalités du Deuxième sexe. Sur la durée et dans la profondeur, c'est Beauvoir qui restera -et qui reste déjà, n'en déplaise à la secte des gardiens du temple sartrien, qui d'ordinaire assimile la moindre réserve à une insulte." * Algumas perguntas e afirmações certeiras de João Adelino Faria no Diário de Notícias: "Há quanto tempo não damos notícias? Há quanto tempo nós, jornalistas, corremos quase obsessivamente, todos os dias, para escutar mais uma reacção sobre uma declaração feita por um ministro, político, advogado, juiz ou procurador? (...) Porque andamos todos atrás uns dos outros? Um jornal avança com um tema, a rádio segue, a televisão completa, ou vice- -versa - a ordem pouco importa. É uma tarefa quase inglória descobrir algo diferente nos jornais, na rádio e na televisão. Estamos todos quase sempre à volta do mesmo.(...) (url)
EARLY MORNING BLOGS 762
International Incidents 1. Wang Ping asks if we went to a seder last night She did, in Minneapolis No, I say, we’re not observant as though we constantly overlook details 2. The teachers in the lounge crowd around the Swedish visitor You must be very proud one of them beams to be Swedish She has no idea what that means She says, I don’t dislike being Swedish 3. Who’s ever met a Bulgarian? he would shout in the bar Then one night two homely blond sisters smiled and said We are Bulgarians! They smiled for two weeks then went away forever (Robert Hershon) * Bom dia! (url) 20.4.06
RETRATOS DO TRABALHO EM CORUCHE, PORTUGAL Lavrando, Coruche, Vale do Sorraia, Abril 2006. (António Ferreira de Sousa) Etiquetas: trabalho - retratos (url) A FAUNA DAS CAIXAS DOS COMENTÁRIOS A Rede está a mudar tudo, a criar coisas novas, a realizar outras muito antigas que as tecnologias até agora existentes ainda não permitiam e a dar eficácia a velhos, e muitas vezes maus, hábitos que existiam no mundo exterior e agora passam para o mundo interior da Internet. Alguns casos recentes voltaram de novo a mostrar a Internet sob uma luz pouco amável, bem preconceituosa aliás, porque nada do que lá se faz se deixou de fazer cá fora. O que há é um upgrade tecnológico no crime, que a Rede melhora e nalguns casos favorece pela sua acessibilidade e universalidade. São estes os múltiplos exemplos da chamada “fraude nigeriana”, ou os casos de Phishing que leva os incautos a fornecerem palavras-passe de acesso a contas bancárias; os casos de “cyberstalkers”, pessoas que perseguem outras cujo nome e morada aparece na Internet. Isto tudo depois da pedofilia, e de outras utilizações criminosas da Rede. O que é novo na Rede, quer na “normal” quer na criminosa, são as características psicológicas especificas do mundo em linha, em especial a exploração da fronteira, mais ténue do que parece, entre a realidade e a virtualidade. E isso traz elementos novos como se vê se analisarmos para além do crime em si. Um caso actual é o do assassinato de uma menina de 10 anos, por um autor do blogue chamado “Strange Things are Afoot at the Circle K.” , que tinha feito pouco antes um comentário sobre canibalismo, O que há de novo neste caso e no interesse mediático sobre ele, é que em vez de um diário em papel, ou escritos mais ou menos dementes ou geniais, como era o caso pré-Internet do Unabomber, agora, quase de imediato, todos se voltam para o blogue, para o perfil do blogue, para o rastro na Rede do putativo criminoso. A Rede fica indissociável da nova identidade das coisas, como se entre o mundo virtual e o real a teia fosse completa. E, se calhar, é. Mas não é este apenas o único aspecto interessante, há outro para que não se tem chamado a atenção: o mundo muito próprio dos que escrevem sobre textos alheios nas caixas de comentários dos blogues ou de órgãos de comunicação em linha. O Strange Things are Afoot at the Circle K. continua em linha e tem, à data em que escrevo, 644 comentários na última nota escrita pelo seu autor, todos eles posteriores ao conhecimento do crime. O blogue continua vivo mesmo depois da prisão do seu autor. Mas os 644 comentários empalidecem face aos portugueses 1321 comentários do Semiramis cuja anónima autora teria morrido de morte súbita, suscitando as mais contraditórias versões na própria caixa de comentários do blogue. Deixando de parte a polémica sobre as caixas de comentários abertas ou moderadas, ou sobre a sua própria utilidade e valor, deixando de lado também a história pessoal inverificável do que aconteceu à sua autora (ou autor?) anónimo, o interessante é registar que o que há nesse blogue é uma comunidade que aproveita o “lugar” para se encontrar. A caixa de comentários tornou-se numa espécie de chat, que parasita a notoriedade do blogue, como já acontecera no Espectro com os seus finais 494 comentários, onde as pessoas se encontram numa pequeníssima “aldeia global”, que tomam como sua. O comportamento destas pessoas-em-linha é compulsivo, eles “habitam” nas caixas de comentários que são a sua casa. Deslocam-se de caixa para caixa de comentário, deixando centenas de frases, nos sítios mais díspares, revelando nalguns casos uma disponibilidade quase total para comentar, contra-comentar, atacar, responder, mantendo séries enormes que obedecem à regra de muitos frequentadores desta área da Rede: horário laboral na maioria dos casos, quebra no fim-de-semana e nos feriados. São pessoas que estão a escrever do seu local de trabalho ou de estudo, de empresas ou de escolas, onde tem acesso à Internet. Há no entanto, alguns casos de comentadores caseiros e noctívagos, que só podem estar a escrever noite dentro, como era o caso nos primeiros anos da blogosfera portuguesa, antes de se democratizar. É um fenómeno aparentado com muitas outras experiências comunitárias na Rede, mas está longe de ser o mundo adolescente dos frequentadores do MySpace ou dos “salas” de conversa virtual. No caso português, os comentadores não parecem ser muitos, embora a profusão de pseudónimos e nick names, dê uma imagem de multiplicidade. São, na sua esmagadora maioria, anónimos, mas o sistema de nick names permite o reconhecimento mútuo de blogue para blogue. Estão a meio caminho entre um nome que não desejam revelar e uma identidade pela qual desejam ser identificados. Querem e não querem ser reconhecidos. É o caso da “Zazie”, do “Euroliberal”, do “Sniper”, do “Piscoiso”, “Maloud”, “Bajoulo” “Xatoo”, “Atento”, Dasanta”, “José”, “e-konoklasta”, “Cris”, “Sabine”, “José Sarney”, “anti-comuna”, etc,, etc, Trocam entre si sinais de reconhecimento, cumprimentam-se, desejam-se boas férias, e formam mini-comunidades que duram o tempo de uma caixa de comentários aberta e activa, o que normalmente dura pouco. Depois migram para outra, sempre numa tempestade de frases, expressando acordos e desacordos, simpatias e antipatias, quase sempre centrados na actividade de dizer mal de tudo e de todos. Imaginam-se como uma espécie de proletariado da Rede, garantes da total liberdade de expressão, igualitários absolutos, que consideram que as suas opiniões representam o “povo”, os “que não tem voz” os deserdados da opinião, oprimidos pelos conhecidos, pelos célebres, pelos “sempre os mesmos”. São eles que dizem as “verdades”. Mas não há só o reflexo do populismo e da sua visão invejosa e mesquinha da sociedade e do poder, há também uma procura de atenção, uma pulsão psicológica para existir que se revela na parasitação dos blogues alheios. Muitos destes comentadores têm blogues próprios completamente desconhecidos, que tentam publicitar, e encontram nas caixas de comentários dos blogues mais conhecidos uma plataforma que lhes dá uma audiência que não conseguem ter. Não são bem “Trolls”, sabotadores intencionais, mas tem muitas das suas formas perturbadoras de comportamento. A sua chegada significa quase sempre uma profusão de comentários insultuosos e ofensivos que afastam da discussão todos os que ingenuamente pensam que a podem ter numa caixa de comentários aberta e sem moderação. Quando há um embrião de discussão, rapidamente morto pela chegada dos comentadores compulsivos, ela é quase sempre rudimentar, a preto e branco, fortemente personalizada e moralista: de um lado, os bons, os honestos, os dignos, do outra a ralé moral, os ladrões, os preguiçosos que vivem do trabalho alheio, e dos impostos dos comentadores compulsivos presume-se. O que lá se passa é o Far West da Rede: insultos, ataques pessoais, insinuações, injúrias, boatos, citações falsas e truncadas, denúncias, tudo constitui um caldo cultural que, em si , não é novo, porque assenta na tradição nacional de maledicência, tinha e tem assento nas mesas de café, mas a que a Rede dá a impunidade do anonimato e uma dimensão e amplificação universal. O que é que gera esta gente, em que mundo perverso, ácido, infeliz, ressentido, vivem? O mesmo que alimenta a enorme inveja social em que assentam as nossas sociedades desiguais (por todo o lado existe este tipo de comentadores), agravada pela escassez particular da nossa. Essa escassez não é principalmente material, embora também seja o resultado de muitas expectativas frustradas de vida, mas é acima de tudo simbólica. Numa sociedade que produz uma pulsão para a mediatização de tudo, para a espectacularização da identidade, para os “quinze minutos de fama” e depois deixa no anonimato e na sombra os proletários da fama e da influência, os génios incompreendidos, os justiceiros anónimos, o “povo” das caixas de comentários, não é de admirar que se esteja em plena luta de classes. (No Público de hoje.) * Quanto ao assunto das caixas de comentários, há caixas e caixas. Como há sempre comentadores de todos os estilos e para todos os gostos, o resultado depende em grande parte da forma como é gerida (ou não) a aceitação de comentários. Veja por exemplo o bom caso d'A Baixa do Porto , em que a "caixa de comentários" _é_ a própria página principal do blog. Etiquetas: blogosfera (url)
NUNCA É TARDE PARA APRENDER: "A ILHA HERÓICA" (MALTA STORY)
O filme foi feito em 1953 já o esquecimento e outras preocupações começavam a apagar a memória da epopeia maltesa durante a segunda guerra mundial. Basta olhar para um mapa para se perceber como Malta estava no pior sítio do mundo (para os seus defensores, para os malteses e para os italianos e alemães) e no melhor sítio do mundo (para os bombardeiros alemães, e para os ingleses que queriam cortar as rotas de abastecimento de Rommel). Isolada praticamente em território inimigo, Malta tinha que ser reabastecida com enormes dificuldades por submarinos e por comboios, que atravessavam uma das zonas mais perigosas de toda a guerra: aviões alemães, navios italianos e um emaranhado de campos de minas que protegiam a ilha, e cujas estreitas vias de acesso não permitiam qualquer erro. O filme retrata o momento crucial em que o abastecimento de mantimentos e gasolina para os aviões estava quase no fim, e foi preciso romper o bloqueio com muita dificuldade. O "herói" é um piloto de reconhecimento, representado por Alec Guinness, numa das mais aborrecidas e petrificadas actuações que jamais vi dele: o sorriso é o mesmo quer esteja no seu Spitfire, a namorar a maltesa, ou a beber na messe. Ele é arqueólogo (a quantidade de arqueólogos inglese que aparecem nesta guerra é abissal...), ela é irmã de um nacionalista maltês que se tornou espião italiano e é fuzilado. O romance, como as personagens, são moronic até ao limite. O que é interessante: a rara oportunidade de ouvir falar maltês, a Ave Maria em maltês; a cidade de Valleta, um posto fronteiriço único do Ocidente com toda a história turbulenta feita pedra, muralhas, subterrâneos, fortalezas, que aparece aqui em filmes verdadeiros dos bombardeamentos; e tudo o que são imagens reais da guerra. * A minha família é de origem maltesa. Os meus trisavós nasceram em La Valetta e como a família tinha negócios na Península Ibérica o meu bisavô e avô acabaram por se fixar por aqui, depois de terem vivido em Espanha (onde o meu pai nasceu) e do meu avô ter casado com uma francesa do sul, de Cassis. No século XVII, aliás, os meus antepassados Francesco e Nicola Cília foram os "senhores" do feudo (fief) de Budaq. Daqui a minha curiosidade e interesse sempre que aparecem referências a Malta, o que é raro apesar de ser um Estado-Membro da UE. Existem mais famílias de origem maltesa em Portugal (Zammit, por exemplo, ligados, salvo erro, ao Vinho do Porto) e é sempre fácil, pelo menos para nós, identificá-los pelos apelidos onde quer que estejam. Também Teresa Heinz-Kerry é uma portuguesa de origem maltesa, por parte da mãe. Não falo Maltês, mas sei, por exemplo, que é a única língua de origem semita da UE e a também a única que se escreve com alfabeto latino. Penso que a língua é de origem árabe, embora, hoje em dia, tenha adoptado muitas palavras inglesas (Malta foi colónia inglesa até aos anos 60) e italianas. De acrescentar que a George Cross incluída na bandeira de Malta foi-lhe atribuída pela coragem e bravura demonstradas pelo seu povo durante a II Guerra Mundial. (url)
© José Pacheco Pereira
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