ABRUPTO

18.12.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: CORES



Cores, um andar acima, outras cores, outro andar acima, novas cores. O que é que se respira nessas cores? Que atmosfera pertence a estas cores? Em Janeiro, quando descermos em Titã, vamos respirar este ar.

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ANTOLOGIA DA TRAIÇÃO: EFIALTES

Efialtes é nome de demónio e de gigante. O meu é um homem. Borges escreveu sobre o demónio “Siempre es la pesadilla. / Su horror no es de este mundo." Mas não é este o meu traidor. O pesadelo não trai quem não sonha. O traidor é outro: Efialtes, natural da Tessália, traiu os 300 espartanos no desfiladeiro das Termópilas por ouro. Os 300 espartanos eram “iguais”, Efialtes era diferente. Ensinou a Xerxes um caminho que levava os persas à retaguarda da defesa grega. O traidor não recebeu a sua paga, porque Xerxes entretanto viu a sua frota destruída em Salamina. Xerxes mandou chicotear o mar, mas o mar não tinha costas. Como muitos traidores não pagou o preço da sua traição, embora pagasse com a vida uma querela menor com Atenades da Trácia. Mas um traidor está sempre morto antes de morrer. A traição é uma morte.

(A seguir: Judas)

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UM RETRATO DO PODER: GOZO, PREOCUPAÇÃO, AMBIÇÃO



Esta fotografia de António Pedro Ferreira, publicada no Expresso da semana passada, é o melhor retrato do poder que temos. Tudo está certo, tudo bate certo. Escrevo sobre ela, considerando-a a melhor foto da semana, na Sábado.


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APRENDENDO COM EMILY DICKINSON SOBRE A TRAIÇÃO

Sweet is the swamp with its secrets


Sweet is the swamp with its secrets,
Until we meet a snake;
'Tis then we sigh for houses,
And our departure take

At that enthralling gallop
That only childhood knows.
A snake is summer's treason,
And guile is where it goes.


(Emily Dickinson)

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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA SOBRE O PÓ

"Duas coisas prega hoje a Igreja a todos os mortais, ambas grandes, ambas tristes, ambas temerosas, ambas certas. Mas uma de tal maneira certa e evidente, que não é necessário entendimento para crer: outra de tal maneira certa e dificultosa, que nenhum entendimento basta para a alcançar. Uma é presente, outra futura, mas a futura vêem-na os olhos, a presente não a alcança o entendimento. E que duas coisas enigmáticas são estas? Pulvis es, tu in pulverem reverteris: Sois pó, e em pó vos haveis de converter. - Sois pó, é a presente; em pó vos haveis de converter, é a futura. O pó futuro, o pó em que nos havemos de converter, vêem-no os olhos; o pó presente, o pó que somos, nem os olhos o vêem, nem o entendimento o alcança. Que me diga a Igreja que hei de ser pó: In pulverem reverteris, não é necessário fé nem entendimento para o crer. Naquelas sepulturas, ou abertas ou cerradas, o estão vendo os olhos. Que dizem aquelas letras? Que cobrem aquelas pedras? As letras dizem pó, as pedras cobrem pó, e tudo o que ali há é o nada que havemos de ser: tudo pó.

Vamos, para maior exemplo e maior horror, a êsses sepulcros recentes do Vaticano. Se perguntardes de quem são pó aquelas cinzas, responder-vos-ão os epitáfios, que só as distinguem: Aquêle pó foi Urbano, aquêle pó foi Inocêncio, aquêle pó foi Alexandre, e êste que ainda não está de todo desfeito, foi Clemente. De sorte que para eu crer que hei de ser pó, não é necessário fé, nem entendimento, basta a vista. Mas que me diga e me pregue hoje a mesma Igreja, regra da fé e da verdade, que não só hei de ser pó de futuro, senão que já sou pó de presente: Pulvis es? Como o pode alcançar o entendimento, se os olhos estão vendo o contrário? É possível que êstes olhos que vêem, êstes ouvidos que ouvem, esta língua que fala, estas mãos e êstes braços que se movem, êstes pés que andam e pisam, tudo isto, já hoje é pó: Pulvis es? Argumento à Igreja com a mesma Igreja: Memento homo. A Igreja diz-me, e supõe que sou homem: logo não sou pó. O homem é uma substância vivente, sentitiva, racional. O pó vive? Não. Pois como é pó o vivente? O pó sente? Não. Pois como é pó o sensitivo? O pó entende e discorre? Não. Pois como é pó o racional? Enfim, se me concedem que sou homem: Memento homo, como me pregam que sou pó: Quia pulvis es? Nenhuma coisa nos podia estar melhor que não ter resposta nem solução esta dúvida. Mas a resposta e a solução dela será a matéria do nosso discurso. Para que eu acerte a declarar esta dificultosa verdade, e todos nós saibamos aproveitar dêste tão importante desengano, peçamos àquela Senhora, que só foi exceção dêste pó, se digne de nos alcançar graça. Ave Maria. "

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OUVINDO



Furacões pela manhã. Não está mal. Dias de Verão no Inverno. Não está mal.

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COISAS SIMPLES


Andy Warhol

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EARLY MORNING BLOGS 387

Mutability


We are as clouds that veil the midnight moon;
How restlessly they speed, and gleam, and quiver,
Streaking the darkness radiantly! -yet soon
Night closes round, and they are lost for ever:

Or like forgotten lyres, whose dissonant strings
Give various response to each varying blast,
To whose frail frame no second motion brings
One mood or modulation like the last.

We rest. -- A dream has power to poison sleep;
We rise. -- One wandering thought pollutes the day;
We feel, conceive or reason, laugh or weep;
Embrace fond woe, or cast our cares away:

It is the same! -- For, be it joy or sorrow,
The path of its departure still is free:
Man's yesterday may ne'er be like his morrow;
Nought may endure but Mutablilty.


(Percy Bysshe Shelley)

*

Bom dia!

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17.12.04


A LER / A VER

No Jaquinzinhos As Notícias que Nunca Saem na Primeira Página. Está longe de ser caso único.

Páginas sobre Orlando Ribeiro.

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: PÉROLAS



Dione passa em frente de Saturno como uma pérola intocável, intangível. "Noli me tangere" diz, numa língua antiga. "É para mim que olhas, e não para a vastidão que está atrás de mim".

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AR PURO


Levitan

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EARLY MORNING BLOGS 386

Delight in Disorder


A sweet disorder in the dress
Kindles in clothes a wantonness.
A lawn about the shoulders thrown
Into a fair distraction;
An erring lace which here and there
Enthralls the crimson stomacher;
A cuff neglectful, and thereby
Ribbons to flow confusedly;
A winning wave, deserving note,
In the tempestuous petticoat;
A careless shoestring, in whose tie
I see a wild civility;
Do more bewitch me than when art
Is too precise in every part.


(Robert Herrick)

*

Bom dia!

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: GRAFIA DO POEMA DE ROSALIA DE CASTRO

Por que não fazer com os poemas de Rosália o que habitualmente se faz com os clássicos portugueses, a começar por Camões? Isto é: "actualizar" a grafia... Por exemplo, (escrevo em MAIÚSCULO a "actualização") de autoria do Prof. Dr. António Gil Hernandez, (...) que é um dos mais lúcidos intelectuais da lusofonia na Galiza que já conheci. Essa actualização de grafia foi publicada no grupo "Galiza", no yahoo:



- CantaM os galos p'ra o dIa
Ergue-te, meu beM, e vai-te.
COmo me hei-de ir,
cOmo me hei-de ir e deixar-te?

- DeSes teus olHiNHos negros
como doas relumbrantes,
ATÉ Às noSsas mÃOs unidas
as bágoas ardentes caeM.
COmo me hei-de ir
sE c'a lÍngua me desVotas
e c'o coraÇÃO me atraIs?
NuM corruncho do teu leito
cariNHosa me abrigaSTE;
c'o teu manso caloriNHo
os frIos pÉs me quentaste;
e de aquI Juntos miramos
por Entre o verde ramaGeM
QUAl Ía correndo a lUa
por enriba dos pinHares.
COmo queres que te deixe?
COmo, que de ti me aparte
sE mAis que O mel ÉS
e mAis que as fLoRes sUave?

- MeiguiNH, meiguiNHo, meigo,
meigo que me namoraste,
vai-te de onda miM, meiguiNHo,
antes que o sol se levante.

- Ainda dorme, queridiNHa,
Entre as ondiNHas do mare;
dorme porque me acariNHes
e porque amante me chames,
que SÓ onda ti, meniNHa,
poSSo contento folgare.

- JÁ cantaM os paSSariNHos.
Ergue-te, meu beM, que é tarde.
- Deixa que canteM, Marica;
Marica, deixa que canteM...
SE tU sEntes que me vÁ,
eu relouco por quedar-me.

- Comigo, meu queridiNHo,
mitAD' da noite pasSaSTE.

- Mais eM tanto tU dormIas,
contentEi-me coM mirar-te,
que aSSIM, sorrindo entre soNHos
cUidaVa que eras uM ánGel',
e nÃO coM tanta pureza
AO pÉ duM ánGel' velaSse.

- ASSIM te quero, meu beM,
como uM santo dos altares;
mas fuGe..., que o sol dourado
por riba dos montes saie.

- IrEi; mas dÁ-me uM biquiNHo
antes que de ti me aparte,
que eSses labiNHos de rosa
inda nÃO sei cOmo sabeM.

- CoM mil amores cho dera;
mas teNHo que confeSsar-me,
e mUita vergonHa fora
ter uM pecado tÃO grande.

- Pois confEsSa-te, Marica,
que, QUando casar nos casen,
nÃO che hÃO-de valer, meniNHa,
nEM confesSores nEM frades.

AdEUs, cariNHa de rosa!

- Raparigo, DEUs te gUarde!


...

Houve tantas mudanças?

(Pedro Santos)

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16.12.04


BIBLIOFILIA



Esta foi a minha primeira edição do Capital e estava na biblioteca familiar no "Inferno", no armário dos livros proibidos. Antes do 25 de Abril era um livro perigoso. A edição não era a da obra completa, mas sim a antologia de Lafargue, e fazia parte de uma colecção francesa "Petite Bibliothèque Économique" editada na década de noventa do século XIX. O Prefácio era de Vilfredo Pareto. Tem os meus sublinhados a lápis muito leve porque não se estragava um livro antigo. Um marcador de página, perdido lá dentro, é um quarto de papel dos boletins de voto da Oposição do Porto de 1969, rasgado em quatro e que me servia de ficha. Quando acabou o período eleitoral permitido, e antes de fecharem as instalações do Oposição, numa garagem junto do Mercado do Bom Sucesso, fui lá e trouxe alguns milhares de votos sobrantes - era a oposição que imprimia os seus próprios votos - para servirem de papel e fichas.

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DR. PORTAS, LEITOR DO ABRUPTO

Um aspecto, que tem sido bastante silenciado da questão da coligação, para o qual o Abrupto chamou a atenção – que, concorrendo os dois partidos separados, e não havendo uma maioria absoluta de parlamentares dos dois, há que garantir que o PSD seja o partido mais votado para que o “esquema” de casamento ex post facto da coligação tenha viabilidade política – suscitou o comentário do dr. Portas. O dr. Portas claramente não acredita que o PSD seja o partido mais votado, senão não falava disto. Face à probabilidade, em que acredita, que o PS possa ser o partido mais votado, resolveu teorizar uma situação em que a coligação deva ter prioridade na escolha presidencial para formar governo após as eleições.

É um argumento de mera propaganda, porque não é líquido que o PS , partido mais votado, não possa dar origem a um governo minoritário, como os de Guterres que duraram legislatura e meia, que subsista com os votos da esquerda parlamentar, nem que consiga a posteriori qualquer coligação com o BE ou o PCP, o que o coloca nos mesmos termos da coligação PSD-PP. Acresce que seria interessante ver, o que é possível, a coligação a governar com o PS, o partido mais votado, afastado do poder. Tal é possível formalmente, mas criaria um problema de legitimidade política gerador de instabilidade.

Tudo isto são problemas mais que conhecidos, gerados pelo elevado limiar eleitoral necessário para se obterem soluções estáveis de governabilidade. Mas a verdade é que todos se queixam e ninguém quer alterar a lei eleitoral. Houve várias tentativas durante as maiorias de Cavaco para baixar o nível de governabilidade solitária para cerca de 38% dos votos, mas o PS, raciocinando a curtíssimo prazo, recusou-o, gerando este problema que era evidente acabaria por lhe bater à porta.

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ATIRADOR FURTIVO

diz o dr. Portas que eu sou. Infelizmente os exemplos que citou, incluindo o meu, são de atiradores de primeira linha, bem pouco furtivos. Furtivas são as "fontes anónimas", furtivos são os que "passam" notícias para os jornais, furtivos são os que, apoiados em aparelhos de imprensa pagos pelo Estado, os usam para promover e despromover quem lhes convém. Esta é uma especialidade que ele conhece bem, como produtor e receptador, não é a minha.

Dito isto, bem pobre é a acusação a quatro homens, só com o poder da palavra, da opinião e do argumento, para os culpar de tão grandes coisas: a queda de um governo e uma maioria e o fim de uma coligação que tinha jurado existir até 2014.

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COISAS SIMPLES


Edmund C. Tarbell

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DE VERGÍLIO FERREIRA A THOMAS HARDY

Nature's Questioning


WHEN I look forth at dawning, pool,
Field, flock, and lonely tree,
All seem to look at me
Like chastened children sitting silent in a school;


Their faces dulled, constrained, and worn,
As though the master's ways
Through the long teaching days
Their first terrestrial zest had chilled and overborne.


And on them stirs, in lippings mere
(As if once clear in call,
But now scarce breathed at all)--
"We wonder, ever wonder, why we find us here!


"Has some Vast Imbecility,
Mighty to build and blend,
But impotent to tend,
Framed us in jest, and left us now to hazardry?


"Or come we of an Automaton
Unconscious of our pains?...
Or are we live remains
Of Godhead dying downwards, brain and eye now gone?


"Or is it that some high Plan betides,
As yet not understood,
Of Evil stormed by Good,
We the Forlorn Hope over which Achievement strides?"


Thus things around. No answerer I....
Meanwhile the winds, and rains,
And Earth's old glooms and pains
Are still the same, and gladdest Life Death neighbors nigh.


(Thomas Hardy)

(Filipe V. Castro lembra este poema a propósito do texto de Vergílio Ferreira publicado no Abrupto)


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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: POPULISMO E CONTEÚDOS LÓGICO-LINGUÍSTICOS

"(...) as declarações de Paulo Portas sobre a apresentação dos dois partidos em listas separadas. Dizia mais ou menos isto: sempre tinha sido a favor da bipolarização, isto é dois pólos, um do centro (!) para a direita, outro da esquerda, mas contra o bipartidismo (sic), ou seja, sempre defendeu liberdade de escolha dos eleitores em cada pólo. É óbvio que a segunda asserção representa o oposto da primeira: com fragmentação partidária dentro dos pólos não há bipolarização. Mas parece que não importa: o populismo rompe com as barreiras da linguagem e da lógica. Nada mais interessa que o articulado formal das palavras, desde que soe bem. Vale tudo."

(Fazenda Martins)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O FUTURO JÁ NÃO É O QUE ERA


(Enviado por Von)

Como a foto não é verdadeira, o passado já não é o que era.

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TAMBÉM JÁ TE APANHEI, Ó VAGABUNDO



Ontem, lá estava, com uma ainda quase inexistente cabeleira, no sítio devido. Que augúrio nos trazes, vagabundo?

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EARLY MORNING BLOGS 385

Épitaphe d'un paresseux


Jean s'en alla comme il était venu,
Mangea le fonds avec le revenu,
Tint les trésors chose peu nécessaire.
Quant à son temps, bien le sut dispenser :
Deux parts en fit, dont il soulait passer
L'une à dormir et l'autre à ne rien faire.


(La Fontaine)

*

Bom dia!

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15.12.04


AR PURO


Levitan

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LEMBRANDO

o que escrevi a 3 de Dezembro:

JÁ SE PERCEBEU

como uma parte da campanha de Santana Lopes será feita: o governo caiu porque os grandes interesses económicos não queriam o OE, as suas medidas de combate à fraude fiscal, e de imposição de impostos à banca. É hábil, apela ao populismo, e aos amadores das teorias da conspiração, mas não é verdade.

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A CRISE DO SENTIDO DA AUDIÇÃO

Dois debates entre parlamentares na SIC Notícias e na RTP2: o grau zero do debate e uma completa incapacidade de ouvir, com destaque para uns jovens parlamentares do PP que falam, falam, falam, sem pararem um minuto para ouvir quanto mais para pensar.(Já não falo do cinzentismo do PS, cada vez mais habitual, como se tentassem esconder-se na paisagem ...)

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14.12.04


A LER

Esta precisão do Clube dos Jornalistas sobre as circunstâncias em que foi feita a entrevista de Morais Sarmento ao Diário Económico.

Acrescento: alguém ouviu a primeira pergunta que foi feita ao mesmo ministro, no Telejornal das 13 horas de hoje, sobre o novo Media Parque a criar no Monte da Virgem? Qualquer coisa do género, dito logo à cabeça pelo jornalista, "há um ano o Monte da Virgem era a imagem perfeita da desolação e agora é o que se vê (ainda não se vê...mas não tem importância), como é que foi possível?". A seguir, o ministro brilha. Estava tudo dito na pergunta. Dizer tudo na pergunta é extremamente eficaz.

Outro acrescento: espero que uma atitude de denúncia resoluta deste tipo de promiscuidades continue caso o PS ganhe as eleições. Poucas vezes me lembra de ter visto uma maior circulação de "influências" entre o governo e as redacções do que nos governos Guterres, tanto mais eficaz quanto não denunciada. Se o caminho dos dias de hoje de atenção crítica não é apenas um epifenómeno suscitado pelas inépcias actuais, (a que não é alheia a composição política da “classe”) pode-se melhorar o ar que se respira na comunicação social .


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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: MEMÓRIA DE VERGÍLIO FERREIRA

"...Nós não pensamos o tempo em que não havia tempo por não haver homens que o instaurassem, pela ideia oculta e impensável de não haver um Universo que se não orientasse para a existência humana. E todavia sabemos que o acaso governou essa orientação. Nós não conseguimos pensar esse Universo para antes de haver homens e ser impensável que se pensasse a questão do seu sentido. Mas não abdicamos por isso de lho querer encontrar, agora que o homem existe para a tudo questionar. Assim é dificilmente pensável o Mundo para lá da espécie que é a nossa e se alinha entre as múltiplas espécies que se vão extinguindo. Mas é só pensando como disse, o vazio do Universo sem ninguém que o consciencialize, que o problema do sentido se pode pôr. Não há sentido nenhum, há só a obtusidade de tudo estar aí. É preciso repeti-lo,

Mas como é amirável pensar que num instante fugitivo dos biliões e biliões de anos estelares, uma espécie apareceu e gritou à solidão dos espaços a sua vinda no que lhe foi dado criar, para imediatamente o Universo inteiro recair na estupidez do seu silêncio eterno. Perante quem ou quê isto tem significado? Porque o não tem perante nada. Foi um grito de louco no seu infinitesimal instante de loucura. Espécies que findam, estrelas que se apagam, vazio inerte pela exterioridade do sem-fim. Mas houve um momento em que tudo isso existiu só por haver a mente humana que a fez existir...."


Vergílio Ferreira, Conta-Corrente, nova série, IV (Enviado por António Ferreirinho)

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS:THALASSA! THALASSA!



Xenofonte estava atrás e ouviu os gritos. Bom militar, pensou que mais uma vez tinha inimigos pela frente num terreno hostil. A retaguarda começou a correr na direcção dos gritos. Mais gritos. Xenofonte montou a cavalo pensando que “alguma coisa de extraordinário tinha acontecido” e, à frente da cavalaria, correu a socorrer os seus homens. Então viu e percebeu. Ouviu: "Thalassa! Thalassa!”. O mar. Havia água a perder de vista. O mar. Os gregos encontravam o mar que tinham de há muito perdido. A sua casa. Voltavam.

Mais provas de que houve água em Marte. Houve mar.

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INCONFIDÊNCIAS

Ponho a nu, salvo seja, o meu computador: o sistema é o Windows XP Professional, os programas básicos são os da Microsoft Office, mas verdadeiramente usados só Word, o Access, o Outlook. O browser é o Mozilla Firefox já na versão 1.0. Depois há o Scansoft Paperport 9.0, um programa para mim indispensável e merecedor de todos os elogios, e que uso desde pelo menos a versão 5.0. Para além disso, uso o Copernic Desktop Search, (e o Copernic Agent Professional,) tendo experimentado o X1 e o Google Desktop, sem nenhum me satisfazer tanto como o Lotus Magellan num passado longínquo. Uso extensivamente o Access, cada vez mais preocupado com o limite das bases de dados de 2 GB, sem total satisfação. Já experimentei o AskSam, com interesse para as suas vantagens, embora o tenha abandonado pelo Access. De novo, vem-me à memória algumas funcionalidades do Lotus Agenda nunca conseguidas de forma simples no Access, embora suspeite que se conhecesse melhor a programação pudesse construí-las no Access. Depois, o tradicional Norton System Works, e blindagem diversa contra a intrusão e a malvadez.

Parafraseando, para que o computador não se tome a sério, é suposto que o computador esteja defendido de tudo , menos de mim próprio.

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COISAS SIMPLES


Roy Lichtenstein

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EARLY MORNING BLOGS 384

Under Saturn


Do not because this day I have grown saturnine
Imagine that lost love, inseparable from my thought
Because I have no other youth, can make me pine;
For how should I forget the wisdom that you brought,
The comfort that you made? Although my wits have gone
On a fantastic ride, my horse's flanks are spurred
By childish memories of an old cross Pollexfen,
And of a Middleton, whose name you never heard,
And of a red-haired Yeats whose looks, although he died
Before my time, seem like a vivid memory.
You heard that labouring man who had served my people. He said
Upon the open road, near to the Sligo quay -
No, no, not said, but cried it out - 'You have come again,
And surely after twenty years it was time to come.'
I am thinking of a child's vow sworn in vain
Never to leave that valley his fathers called their home.


(William Butler Yeats)

*

Bom dia!

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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: O DESENHO ALTÍSSIMO E A FÁBRICA SEGURÍSSIMA

"A ordem hierárquica da providência divina, no governo de suas criaturas, é governar superiores e súbditos, mas os súbditos por meio dos superiores, e os superiores imediatamente por si mesmo. Uma e outra coisa temos nas chaves e nas cadeias de Pedro. Em todo o mundo cristão não há mais que um superior e um súbdito, um Pedro e uma Igreja; e este superior e este súbdito, este Pedro e esta Igreja, quem os governa? A Igreja governa-a a providência de Pedro, que tem o poder das chaves: Tibi dabo claves regni caelorum; a Pedro governa-o a providência de Cristo, que o livrou das cadeias de Herodes: Ceciderunt catenae de manibus ejus. Este é o desenho altíssimo, e esta a fábrica seguríssima da suprema providência. A Igreja segura na providência de Pedro, e Pedro seguro na providência de Cristo.

Caso foi verdadeiramente admirável, e por isso notado e advertido pelo mesmo historiador sagrado, que cercado S. Pedro de guardas, e atado a duas cadeias, na mesma noite daquele dia em que havia de sair a morrer, como homem sem nenhum temor nem cuidado, estivesse dormindo: In ipsa nocte erat Petrus dormiens. E se passarmos da terra ao mar, não é caso menos digno de admiração que, correndo fortuna a barca de Pedro com uma terrível tempestade, Cristo, que ia na mesma barca, também estivesse dormindo: Ipse vero dormiebat. Cristo e o Vigário de Cristo, ambos dormindo? Cristo dormindo no meio da tempestade, e Pedro dormindo no meio das guardas e das cadeias, e ambos com a morte à vista, sem nenhum cuidado? Sim. Na tempestade dorme Cristo, porque a barca está segura na providência de Pedro; e nas cadeias dorme Pedro, porque Pedro está seguro na providência de Cristo. Debaixo da providência de Cristo dorme Pedro ao som das cadeias, e debaixo da providência de Pedro dorme Cristo ao som da tempestade e das ondas. "

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13.12.04


POEIRA DE 13 DE DEZEMBRO

Hoje, há cento e quarenta e nove anos, Thoreau preparava-se para o Inverno. “Agradável”, escreveu, “estar preparado”, ter lenha, batatas, maçãs, na cave. Esperar que a neve descesse e cobrisse a terra de branco. Esperar que os flocos de neve se “entretecessem como uma teia no ar”, esperar por esse mundo de silêncio e paz. Esperar, função do Inverno.

*

"A propósito do silêncio e paz invernais, que vieram por sua vez a propósito do Thoreau, lembrei-me dos silêncios do Livro das Melancolias do Paulo Mantegazza, resgatado do sótão de casa dos meus pais (...)


Mais que os silêncios do homem, eu amo, porém, os da natureza. Nos bosques de abetos da Noruega, eu bebi os silêncios daquela fria e casta natureza nos longos dias que duram meses. Nenhuma ave cantava, nenhum insecto estridulava, nenhuma fera rugia, e até os meus passos sobre a macia e profunda almofada de brancos líquenes não faziam rumor. Naqueles lugares, o silêncio dormia eternamente o seu sono, e eu julgar-me-ia morto, se não tivesse tido os olhos abertos para ver, para saborear toda aquela paz tranquila duma vida verde, que vivia sem fazer rumor."

(R.M.)

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COISAS SIMPLES


Hans Thoma

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APRENDER COM ROSALIA SOBRE OS RAPARIGOS

- Cantan os galos pra o día
érguete, meu ben, e vaite.
- ¿Cómo me hei de ir,
cómo me hei de ir e deixarte?

- Deses teus olliños negros
como doas relumbrantes,
hastra as nosas maus unidas
as bágoas ardentes caen.
¿Cómo me hei de ir
si ca lengua me desbotas
e co corasón me atraes?
Nun corruncho do teu leito
cariñosa me abrigaches;
co teu manso caloriño
os fríos pes me quentastes;
e de aquí xuntos miramos
por antre o verde ramaxe
cál iba correndo a lúa
por enriba dos pinares.
¿Cómo queres que te deixe?
¿Cómo, que de ti me aparte
si máis que a mel eres
e máis que as froles soave?

- Meiguiño, meiguiño, meigo,
meigo que me namoraste,
vaite de onda min, meiguiño,
antes que o sol se levante.

- Ainda dorme, queridiña,
antre as ondiñas do mare;
dorme porque me acariñes
e porque amante me chames,
que sólo onda ti, meniña,
podo contento folgare.

- Xa cantan os paxariños.
Érguete, meu ben, que é tarde.

- Deixa que canten, Marica;
Marica, deixa que canten...
Si ti sintes que me vaia,
eu relouco por quedarme.

- Conmigo, meu queridiño,
mitá da noite pasaches.

- Mais en tanto ti dormías,
contentéime con mirarte,
que así, sorrindo entre soños
coidaba que eras un ánxel,
e non con tanta purea
e non con tanta pureza
ó pe dun ánxel velase.

- Así te quero, meu ben,
como un santo dos altares;
mais fuxe..., que o sol dourado
por riba dos montes saie.

- Iréi; mais dame un biquiño
antes que de ti me aparte,
que eses labiños de rosa
inda non sei cómo saben.

- Con mil amores cho dera;
mais teño que cofesarme,
e moita vergonza fora
ter un pecado tan grande.

- Pois confésate, Marica,
que, cando casar nos casen,
non che han de valer, meniña,
nin confesores nin frades.
¡Adiós, cariña de rosa!

- ¡Raparigo, Dios te garde!

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FALHOU DESTA VEZ, MAS VOU-TE APANHAR, MALANDRO! (2)



O cometa C/2004 Q2 Machholz já ultrapassou o limiar da visibilidade a olho nu. As nuvens continuam, mas vou-te apanhar. Se não, faço de vítima, que é o que está na moda.

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INTENDÊNCIA

Colocado no VERITAS FILIA TEMPORIS o JACARÉ E A LAGARTIXA 14 sobre como o "santanismo gostaria de ser um guterrismo", sobre o processo da Casa Pia, sobre Luís Delgado como o "melhor crente", e um elogio da Taschen.

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ICONOLOGIA

Para acrescentar a uma nova iconologia do presente (a continuar assim a Taschen fará um volume português para acrescentar ao México, e à California, ou ao Las Vegas chic): um boneco republicano, socialista e laico, com barrete frígio e tudo, bom para filhos de mações, e uma t-shirt patriótica com o hino, bastante melhor do que o kit patriótico do Ministro Portas para os fãs saberem o que cantam nos estádios. Tudo na loja do Museu da Presidência da República.

*

"Tal como a blusa patriótica da primeira dama na final do euro, creio que ninguém ficou indiferente ao catálogo fornecido gratuitamente (!!!) com os jornais de fim-de-semana, pelo museu da Presidência da República. O que mais me marcou no boneco foi o seu ar infeliz. Pudera tão pequenino e já republicano, socialista, maçon, laico e muito provavelmente ateu… Até para um boneco é demais!"

(J.)

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NO PORTAL DO ASTRÓNOMO

uma nota minha do género dos NOVOS DESCOBRIMENTOS intitulada "Pequena Pedra do Medo".


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COLIGAÇÃO

Eu não quero o PSD coligado com o PP, mas é por razões de fundo, as mesmas porque eu penso que é suicidário o curso actual do partido. Como já se viu e se verá, mas nessa altura pode já ser tarde. Não se diga que não foram prevenidos.

Mas é-me incompreensível porque razão um homem, que sempre defendeu as virtualidades da coligação e é ideologicamente mais próximo do PP de Portas do que do PSD de Sá Carneiro, acabou , pelo caos habitual, por estragá-la ou torná-la desvantajosa para o PP. Imaginem como as coisas devem estar (ou vão estar) para que o PP pense que é melhor concorrer sozinho. Pensem um pouco sobre isso.

A ideia (suportada no argumento dos argumentos, as sondagens), que é melhor concorrerem os partidos separados, significa que o PSD não consegue o efeito de bipolarização, o que mostra a hegemonia das expectativas no PS. Porque, é obvio, que, se as eleições forem polarizadas (e eu penso que vão ser), o PP para garantir o seu espaço precisa de atacar o PSD, e o PSD, para obter o efeito de “ou nós ou eles” e mobilizar o seu eleitorado, tem que sacudir a perturbação do PP. Por isso, as propostas idílicas de uma campanha não agressiva só teriam sentido se o caminho para a vitória fosse radioso, ou todos achassem que não vale a pena fazer nada porque a derrota está garantida. Inclino-me para a segunda hipótese.

Há também outra coisa que é esquecida, e também esquecida pela comunicação social e comentadores, que é a circunstância que este esquema “sozinhos agora, coligados depois”, só funciona de o PSD for o partido mais votado. Porque quem o Presidente chama para fazer governo, é o líder do partido mais votado e se o PS não tiver maioria absoluta, arranja-a, aliando-se com quem for preciso, liderando Sócrates uma coligação pós-eleitoral. Ou pensam que não?

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A LER

No Público, de Graça Franco "Deus, Língua e Integração".

A "Maioria" no Portugal dos Pequeninos.

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AR PURO


Levitan

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EARLY MORNING BLOGS 383

The Moon and the Yew tree


This is the light of the mind, cold and planetary.
The trees of the mind are black. The light is blue.
The grasses unload their griefs at my feet as if I were God,
Prickling my ankles and murmuring of their humility.
Fumy spiritious mists inhabit this place
Separated from my house by a row of headstones.
I simply cannot see where there is to get to.

The moon is no door. It is a face in its own right,
White as a knuckle and terribly upset.
It drags the sea after it like a dark crime; it is quiet
With the O-gape of complete despair. I live here.
Twice on Sunday, the bells startle the sky -
Eight great tongues affirming the Resurrection.
At the end, they soberly bong out their names.

The yew tree points up. It has a Gothic shape.
The eyes lift after it and find the moon.
The moon is my mother. She is not sweet like Mary.
Her blue garments unloose small bats and owls.
How I would like to believe in tenderness -
The face of the effigy, gentled by candles,
Bending, on me in particular, its mild eyes.

I have fallen a long way. Clouds are flowering
Blue and mystical over the face of the stars.
Inside the church, the saints will be all blue,
Floating on their delicate feet over cold pews,
Their hands and faces stiff with holiness.
The moon sees nothing of this. She is bald and wild.
And the message of the yew tree is blackness - blackness and silence.


(Sylvia Plath)

*

Bom dia!

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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: "PARA QUE NÃO SE ATRIBUA A CAUSAS NATURAIS ... OS EFEITOS QUE VÊM SENTENCIADOS"

"O primeiro motivo e mui principal por que Deus costuma revelar as cousas futuras (ou sejam benefícios ou castigos) muito tempo antes de sucederem, é para que conheçam clara e firmemente os homens, que todas vêm dispensadas por sua mão. Arma-se assim a sabedoria eterna contra a natureza humana, sempre soberba, rebelde e ingrata, ou porque se não levante a maiores com os benefícios divinos, e se beije as mãos a si mesma, como dizia Job, ou porque não atribua a cousas naturais (e muito menos ao caso) os efeitos que vêm sentenciados como castigo por sua justiça, ou ordenados para mais altos e ocultos fins por sua providência.

Foram mostradas ao Faraó em sonhos as sete espigas gradas e as sete falidas, as sete vacas fracas e as sete robustas, e logo ordenou a Providência divina que estivesse em Egipto um José (posto que vendido e desterrado), que lhe declarasse o mistério dos sete anos da fartura e sete de fome, para que conhecesse o bárbaro que Deus, e não o seu adorado Nilo, era o autor da abundância e da esterilidade, e que a ele havia de agradecer no benefício dos sete anos o remédio dos catorze. Como na terra do Egipto não chove jamais e se regam e fertilizam os campos com as inundações do rio Nilo, disse discretamente Plínio que só os Egípcios não olhavam para o céu, porque não esperavam de lá o sustento, como as outras nações.

Oh quantos cristãos há egípcios, que nem esperando, nem temendo, levantam os olhos ao Céu, e em lugar de reverenciarem em, todos os sucessos a primeira causa, só adoram as segundas! Por isso mostra Deus ao Faraó, tantos anos antes, quais hão-de ser os da fome e quais os da fartura; para que conheça a ignorante sabedoria do Egipto que os meios da conservação ou ruína dos reinos, a mão omnipotente de Deus é a que os distribui, quando são, pois só ele os pode determinar antes que sejam. "

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12.12.04


FALHOU DESTA VEZ, MAS VOU-TE APANHAR, MALANDRO!


(foto portuguesa aqui)

Preparado para o frio, binóculo em punho, terras altas numa serra a preceito, mapa das estrelas com a trajectória do C/2002 Q2 Machholz laboriosamente anotada e ... nada. Umas nuvens persistentes e miseráveis resolveram estabelecer-se quando nada o previa e o cometa ficou atrás delas.

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AR PURO / ÚLTIMA NEVE


Levitan

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EARLY MORNING BLOGS 382

The Soul unto itself


The Soul unto itself
Is an imperial friend --
Or the most agonizing Spy --
An Enemy -- could send --

Secure against its own --
No treason it can fear --
Itself -- its Sovereign -- of itself
The Soul should stand in Awe --


(Emily Dickinson)

*

Bom dia!


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© José Pacheco Pereira
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