ABRUPTO

10.5.03


A distância e sem teclado que permita pôr os acentos direitos , - corrijo depois na pátria [ entretanto já o fiz ] - e no meio do bragadoccio das viagens , tenho lido o que tem aparecido sobre o Abrupto e o que se tem discutido nos blogs . Segunda feira penso retomar em pleno e já possuidor dos meus acentos portugueses . Li o artigo do DN , apressado e ignorante , como é muitas vezes costume e pelos vistos cheio de erros . Lamento ter-lhe dado pretexto , mas infelizmente não vai ser único.

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8.5.03


Vai haver agora um pequeno provável silëncio , não sei se um dia ou dois , dada a natureza da vida de judeu errante do autor.
Mas se conseguir entre aviões , comboios , carros , vaporettos , e outros meios de mobilidade terrestre , aéria e aquática , escrever alguma coisa virá para o Abrupto .

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A BBC Learning estraga-me o sono à noite , tornando-me num atento aluno da Open University . Ontem foi um documentário sobre Blake e eu que conhecia a poesia , mas sabia pouco da vida , pude assistir a um magnifico retrato de um genuíno e genial excëntrico inglês , uma espécie que não há em lado nenhum do mundo . Nós percebemos que se há criação literária em estado puro , profético , numa comunicação directa com a revelação , com o divino , está ali , naqueles versos do tigre ardente . O tigre bem pode ser o povo de Paris na Revolução e ter levado Blake a empurrar um soldado de Sua Majestade e a proferir frases subversivas sobre Napoleão - que melhor homenagem pode querer o corso que esta - que pouco importa . Aquele fogo arde mesmo , como o de Sá de Miranda .

Fica aqui o poema :

Tiger, tiger, burning bright,
In the forest of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?

And what shoulder, and what art,
Could twist the sinews of thy heart?
When thy heart began to beat,
What dread hand forged thy dread feet?

What the hammer? What the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? What dread grasp
Dared its deadly terrors clasp?

When the stars threw down their spears
And watered heaven with their tears,
Did He smile his work to see?
Did He who made the lamb make thee?

Tiger, tiger, burning bright,
In the forest of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?

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A Visão de hoje é um exemplo típico de como é estéril o pensamento da nossa esquerda "independente" - não gosta do PS , mas vota no PS ; ataca o PCP a favor do PS , mas tem-lhe uma reverência total pelo "antifascismo" ; gosta do BE , mas vota no PS por bipolarização . etc . por aí adiante . Vejam-se os artigos - um cheio de raiva do José Carlos Vasconcelos , outros cheios de nada ou coisas piores de Pintasilgo e de Helena Roseta , um de Boaventura muito interessante pela enunciação do que é bom ou mau ( serve de índice à Visão ) , etc. Os elogios a Soares e Freitas são espantosos . Saramago que anda mais azedo que o costume , idem .
Mas esta corrente ideológica tem mais poder do que se pensa , nos meios culturais , nas editoras , no establishment das fundações e dos prémios . Podem não conseguir promover tudo o que querem nos meios literários e artísticos - no Jornal de Letras , pago do OE em nome dos professores de português - mas conseguem exercer um efeito de marginalização , o que é bem mais importante .

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A crise do Iraque , da "guerra" , revelou a fragilidade da comunicação social chamada de referência aos nacionalismos , patriotismos e chauvinismos nacionais . Admito que tal é verdade para parte da comunicação social americana , mas ainda é mais verdadeiro para a francesa . Aí não é a parte , é o todo . A direita com Chirac , a esqueda com Chirac e todos pela França , pelo galo-francesismo . Na Bélgica a mesma coisa , incluindo uma proposta fabulosa apoiada por vários orgãos da comunicação social de levar o Ministro dos Negócios Estrangeiros Michel a Prémio Nobel da Paz . Para quem conheça Michel , isto parece a Terra de Oz.
Quem se sai bem são os ingleses . Os jornais tomaram posições editoriais a favor ou contra a intervenção e depois quem lia , já sabia o que lia . É por isso que nunca me importei de ler os artigos de Robert Fisk no Independent e comprei muitas vezes o Guardian . Só que quando tinha que ler os mesmos artigos de Fisk no DN , penso que o jornal devia informar os seus leitores de que Fisk trabalhava para um orgão de comunicação social com uma linha editorial defenida . Estou cada vez mais defensor que , nestes casos , os jornais devem ter uma posição editorial conhecida e depois nada os impede de serem plurais .

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Os agradecimentos que ainda falta fazer são tantos que o melhor é fazer por junto . Não ficam esquecidos , ficam para a semana.

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7.5.03


Para que não se perca muito tempo com as dúvidas de autoria , isto saí amanhã no Público :

"Ataturk foi capaz de criar um estado laico, de abolir os véus nos serviços públicos , de acabar com o fez , de mudar a forma da escrita , com punho de ferro , construindo como instrumento dessa mudança o exército turco e dando-lhe poderes constitucionais incompatíveis com a nossa noção de democracia . O nosso dilema na UE com a entrada da Turquia é mesmo este : o que gostamos na Turquia – a laicidade do estado – teve sempre o preço do que não gostamos , os poderes e o seu uso , do e pelo exército turco ."

Agora as hipoteses estão reduzidas a três : eu , um jornalista do Público , o revisor do dito . A não ser que o Minority Report exista . Aí já é bem mais complicado.

Saudações a todos que saudaram o Abrupto . Os agradecimentos particulares seguirão nos próximos dias .

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Hoje é o dia dos agradecimentos

Repito o haikai desta vez para a Liberdade de Expressão , para a A Causa Foi Modificada , para o Espigas e para a Memória Inventada .

A Memória , fiel ao seu tema , tem receio de que haja invento na “persona” . Não há . É o mesmo , ele próprio , o outro . E nunca , jamais , em tempo algum , teria um peixe e muito menos com aquele nome , nem um gato com nome socrático . E , por favor , deixem lá o Vangelis para o engenheiro .Já serve para identificar ?


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HAIKAI DOS AGRADECIMENTOS

Mais agradecimentos ,
qual japonês ,
dobrando-me .



Do Abrupto ao Intermitente , e ao Fora da Lei .



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SONETO

Dezarrezoado amor, dentro em meu peito
tem guerra com a razão. Amor, que jaz
i já de muitos dias, manda e faz
tudo o que quer, a torto e a direito.
Não espera razões, tudo é despeito,
tudo soberba e força, faz, desfaz,
sem respeito nenhum, e quando em paz
cuidais que sois, então tudo é desfeito.
Doutra parte a razão tempos espia,
espia ocasiões de tarde em tarde,
que ajunta o tempo: em fim vem o seu dia.
Então não tem lugar certo onde aguarde
amor; trata treições, que não confia
nem dos seus. Que farei quando tudo arde?



Já que este blog é de inspiração mirandina ( acho que é assim que se diz) fica aqui outro belíssimo soneto de Sá de Miranda . Aquele último verso “Que farei quando tudo arde?” , quando o digo aos meus amigos modernos , ninguém o identifica como antigo. Esteve para ser o título do blog mas depois achei que essas things of beauty não devem ser trivializadas .

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Novos agradecimentos

Do Abrupto ao Valete Frates! ao De Direita , ao Gato Fedorento , e ao Fumaças pela gentileza das referências . Ao Gato Fedorento , meu amável corrector ortográfico , introduzidas estão as correcções . Nunca tive nada contra a perfeição .


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INDIFERENÇA FACE À CORRUPÇÃO

È verdade que o nosso sistema político contem em si mesmo uma grande indiferença face à corrupção . Na maioria dos casos ele não precisa de nenhuma lei a mais "sistematica" , nem da endémica "reforma do sistema político" , precisa de actos e de gerar dentro de si escolhas de pessoas que tenham uma simples , epidérmica e normal recusa da corrupção . Normal , insisto , porque a vozearia alta e justiceira sobre a corrupção é quase sempre populista e enganadora em política , como aliás se viu e se vê .
Mas a verdade é que esta atitude nos políticos tem uma fundada base popular . Basta olhar para o que se passa em Felgueiras , independentemente de se estar já a falar de culpados e inocentes , para ver que a atitude normal da maioria dos portugueses é também de grande indiferença face à corrupção . Basta alguém se colocar na posição da vítima ou falar alto e grosso e já tem quem a defenda e minimize os actos . É verdade que outra coisa não seria de esperar em quem tem que viver mergulhado (e em muitos casos praticar) na pequena corrupção das cunhas e favores e subornos e gorjetas . É verdade que os que assim vivem - e nunca conheceram outro mundo - tendem a falar alto contra a "corrupção" dos outros , mas pouco passa de conversas de café , telefonemas para o Forum da TSF ou cartas anónimas aos jornais . É mais ressentimento social do que genuína recusa da corrupção .
Num sociedade como a nossa isto é um dos sinais do nosso atraso .

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Obrigado

Aos companheiros deste éter que saudaram o Abrupto com palavras amáveis , ao Bloque dos Marretas , Complot e a Voz do deserto , que eu saiba.
Vamos ver se com a vida de judeu errante que levo consigo manter alguma regularidade . On va voir ...

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6.5.03


Rio , o Porto e o futebol.

Percebo bem demais as dificuldades que tem Rui Rio em manter uma posição de princípio face à continuada tradição de promiscuidade entre a política e o futebol . O futebol tem um papel excessivo e pernicioso na nossa vida pública e esse papel é hoje ainda mais reforçado pela quase obsessiva presença que tem nos órgãos de comunicação social . As pressões sobre quem tenha as posições como as de Rio são imensas e os “conselhos” são cómodos de dar à distância , difíceis de seguir quando se sente interiormente que segui-los é muitas vezes trair uma voz íntima que as pessoas integras nunca devem perder .
Mas que deve ser muito difícil nalguns momentos , é-o certamente e admito que às vezes não se saiba bem o que fazer . No entanto entre ser rígido e mole nestas ocasiões prefiro ser rígido , porque moles há que basta , e a moleza é mais do nosso desgraçado carácter .
Eu sou do Porto , da cidade e , se clube tenho , é aquele . Também estou contente pelos resultados . Mas o que está em causa tem pouco a ver com o futebol e a alegria dos portuenses pelo seu clube , tem a ver com o lugar da política em democracia , com o lugar da política em Portugal , onde tudo puxa para baixo , para relações de alarvidade e de força , de trocas de favor e influência , de grosseria e emoções colectivas excitadas .

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Conspiração dos Pazzi

Para os que leram ou viram (no filme) o dr. Hannibal Lecter em Florença a recriar a conspiração dos Pazzi , antes de comer a cabeça a um distinto membro do FBI , saiu agora um livro de Lauro Martines , April Blood . Florence and the Plot Against the Medici , da Jonathan Cape , sobre o evento florentino .

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LEITURAS

Vale a pena ler Diane Ravitch THE LANGUAGE POLICE How Pressure Groups Restrict What Students Learn . Há uma crítica no NYT

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SONETO 49

Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho,
e vejo o que não vi nunca, nem cri
que houvesse cá, recolhe-se a alma a si
e vou tresvaliando, como em sonho.

Isto passado, quando me desponho,
e me quero afirmar se foi assi,
pasmado e duvidoso do que vi,
m'espanto às vezes, outras m'avergonho.

Que, tornando ante vós, senhora, tal,
Quando m'era mister tant' outr' ajuda, d
de que me valerei, se alma não val?

Esperando por ela que me acuda,
e não me acode, e está cuidando em al,
afronta o coração, a língua é muda.

Sá de Miranda

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Porque razão tem os contribuintes e os ouvintes que ser sistemáticamente martelados com frases ideológicas sobre o "serviço público" na RTP nos reclames sobre a emissão ?
Porque razão tenho que aceitar que um canal de televisão pago pelo OE me diga que o futebol que passa na televisão é "futebol de serviço público" , uma bem bizarra categoria ? A ideologia tem os seus locais , os seus sujeitos e as suas normas de circulação numa democracia . A ideologia , traduzida em opções políticas , naturalmente divide . Porque razão os responsáveis pela RTP (em ultima instância o governo ) entendem que o estado português deve impor ou permitir que se imponha um conceito de "serviço publico" , completamente imerso em ideologia , a todos os portugueses que ligam para a RTP .
Já de há muito que esses reclames da "televisão de serviço público" deveriam ter acabado .

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RTP2

5 de Maio de 2003 - Noticiário das 22 horas - apresentação de um livro de poemas contra a guerra no Iraque . Música e imagens de fundo propagandísticas de responsabilidade dos autores do noticiário . Soldados americanos , bombas , sofrimento nos hospitais . Será que os nossos jornalistas não percebem que inserir estas peças num noticiário é pura propaganda e nada tem a ver com jornalismo ?

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© José Pacheco Pereira
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