ABRUPTO

7.5.03



SONETO

Dezarrezoado amor, dentro em meu peito
tem guerra com a razão. Amor, que jaz
i já de muitos dias, manda e faz
tudo o que quer, a torto e a direito.
Não espera razões, tudo é despeito,
tudo soberba e força, faz, desfaz,
sem respeito nenhum, e quando em paz
cuidais que sois, então tudo é desfeito.
Doutra parte a razão tempos espia,
espia ocasiões de tarde em tarde,
que ajunta o tempo: em fim vem o seu dia.
Então não tem lugar certo onde aguarde
amor; trata treições, que não confia
nem dos seus. Que farei quando tudo arde?



Já que este blog é de inspiração mirandina ( acho que é assim que se diz) fica aqui outro belíssimo soneto de Sá de Miranda . Aquele último verso “Que farei quando tudo arde?” , quando o digo aos meus amigos modernos , ninguém o identifica como antigo. Esteve para ser o título do blog mas depois achei que essas things of beauty não devem ser trivializadas .

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© José Pacheco Pereira
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