ABRUPTO

31.7.10


APRENDENDO COM RUY BARBOSA


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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (123) : SERVIÇO PÚBLICO PARA ZOMBIES


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

A RTP no seu principal noticiário da manhã às 9 horas: um acidente, futebol-1, um jogo qualquer; futebol-2, outro jogo qualquer; futebol-3, um treinador que regressa de férias e uma longa entrevista de aeroporto, malas na mão. Antes das 9 já tinham passado 30 minutos de futebol e desportos vários (uma imagem valia: a de um homem esgotado que desistiu dos cinquenta quilómetros de marcha, a explicar que todo o corpo dói, e a sua imensa culpa por desistir).  Treze minutos depois das 9, entrava o Portugal que não é para zombies, uma notícia mais importante do que tudo: a hecatombe das notas de matemática. "Serviço público" da RTP é uma típica expressão da novilíngua orwelliana.

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UMA PAISAGEM PÓSTUMA: O RIO TÂMEGA EM VAU 
(QUE VAI DESAPARECER COM A CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DO FRIDÃO)

(Fotos de Hélder Barros)

Uma das heranças deste governo é a destruição acelerada de tudo o que resta de paisagem natural em Portugal. As preocupações ecológicas param sempre à porta das energias renováveis e do deslumbramento tecnológico que ofusca o nosso Primeiro. A energia é um bem, mas a paisagem natural é outro e essa ponderação hoje não se faz. Não há cume de monte que não seja povoado de ventoinhas, e nenhum rio vai sobrar no seu estado natural. A destruição do Rio Tâmega atinge uma sucessão de vales, com rápidos e pequenas quedas de água, povoados de uma fauna e flora únicas. Conheço-os bem, tendo feito parte do primeiro grupo que o desceu em canoa em 1979 (junto com Ana Barbosa e Pedro Vilas Boas), o que motivou algum espanto nos jornais da época e uma recepção popular na Ribeira do Porto, porque o rio era tido como impossível de navegar. E na verdade, mais do que descer, era cair por ali abaixo, principalmente em zonas como a de Arcossó em Vidago, em Ribeira de Pena, junto à foz do seu afluente  Rio Beça, cujas trutas passavam ao nosso lado, até à entrada no Douro, tão assoreada que se fez quase a pé. O Tâmega tinha várias represas e mesmo uma pequena barragem industrial  meia abandonada, mas continuava a ser no essencial um rio, com rochas afiadas pela erosão da água, rápidos e quedas numa paisagem intocada. Vai acabar, como vai acabar o Tua e o Sabor, às mãos de gente de gabinete que nunca olhou para o céu pelo intervalo escuro das margens agrestes de um vale escavado, desconhece o que é água límpida a correr e o cheiro de urze. Quando já for tarde vamos todos lamentar não saber o que é um rio.

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COISAS DA SÁBADO:  PROTEGE A “JUSTIÇA” O PRIMEIRO MINISTRO ? (2)


Também não percebo nada da destruição completa nos despachos do PGR das referências às escutas do PM. Não percebo mesmo nada porque o PGR disse à Comissão de Inquérito sobre a TVI, para justificar não enviar os despachos, que esses só seriam divulgados no fim do processo chamado “Face Oculta”. Tal frase só tem sentido se essa divulgação fosse integral, porque a parte conclusiva desses despachos era já conhecida. Não percebo que agora houvesse esta reviravolta. Mas há mais: face a uma nova insistência para que o PGR enviasse os despachos sem a transcrição das escutas do PM, o PGR respondeu que não sabe o que é isso de despachos “truncados”, pelo que se negou pela segunda vez . E agora o próprio PGR trunca os seus próprios despachos... Não percebo como é que se pode saber da correcção da decisão do PGR sem ser pela integralidade dos seus despachos, visto que as acusações a que decidiu não dar andamento, só podem ser analisadas pelo seu todo. Não percebo mesmo nada disto. A única coisa que eu sei é que um elemento fundamental para o julgamento da atitude do PM e da decisão do PGR foi destruído. Isto é normal, até à luz das sucessivas contradições do PGR? Não o é de todo. É completamente anormal.

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EARLY MORNING BLOGS
1844

There are people who strictly deprive themselves of each and every eatable, drinkable, and smokable which has in any way acquired a shady reputation. They pay this price for health. And health is all they get for it. How strange it is. It is like paying out your whole fortune for a cow that has gone dry.

(Mark Twain)

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30.7.10


COISAS DA SÁBADO:  PROTEGE A “JUSTIÇA” O PRIMEIRO MINISTRO ? (1)


Aparentemente “acabou” o caso Freeport dando origem a acusações de corrupção. Havia portanto, na visão do Ministério Público, alguma coisa de irregular no processo de licenciamento do empreendimento. Essas acusações envolvem os representantes nacionais dos promotores, e delas foram excluídas à ultima hora, um autarca e alguns funcionários menores do Ministério do Ambiente. Pode ser que esta lista seja aquela para que o MP entende haver indícios suficientes para incriminar, não o contesto. Só que não conheço um único cidadão, um único político, que sendo envolvido por acusações directas de corrupção por parte de terceiros, não tenha pelo menos sido ouvido. Dito com toda a clareza: admito que José Sócrates, então Ministro do Ambiente, nada tenha a ver com o assunto e o seu nome tenha sido abusivamente usado, e haja apenas responsabilidade objectiva, só não admito que num caso como este nunca tenha sido ouvido pela justiça. Isto é que é absolutamente excepcional, para alguém que é sujeito a acusações directas de corrupção, para alguém que estava objectivamente envolvido no processo quer como decisor, quer pelos seus familiares. Qualquer Presidente da Câmara teria sido imediatamente ouvido, mas neste caso, o antigo Ministro de um ministério onde tudo aconteceu, e actual Primeiro-Ministro, parece ter sido sujeito a uma protecção especial, que mais do que o proteger de suspeitas, o deixa ficar para sempre envolvido nelas, Pode-se argumentar que houve cuidado dos investigadores de não envolver desnecessariamente o Primeiro-Ministro pelas suas funções oficiais, e admito que esta possa ser uma razão de peso. Mas, neste caso, essa razão inplica também uma gigantesca protecção, visto que não existe nenhum precedente de um político tão directamente envolvido que não tenha sido ouvido. Na verdade há uma excepção, Mário Soares no caso Emaúdio.

(Escrito antes de se saber o que entretanto se veio a saber...)

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EARLY MORNING BLOGS
1843 -  Aubade: Lake Erie

When sun, light handed, sows this Indian water
With a crop of cockles,
The vines arrange their tender shadows
In the sweet leafage of an artificial France.


Awake, in the frames of windows, innocent children,
Loving the blue, sprayed leaves of childish life,
Applaud the bearded corn, the bleeding grape,
And cry:
"Here is the hay-colored sun, our marvelous cousin,
Walking in the barley,
Turning the harrowed earth to growing bread,
And splicing the sweet, wounded vine.
Lift up your hitch-hiking heads
And no more fear the fever,
You fugitives, and sleepers in the fields,
Here is the hay-colored sun!"


And when their shining voices, clean as summer,
Play, like churchbells over the field,
A hundred dusty Luthers rise from the dead, unheeding,
Search the horizon for the gap-toothed grin of factories,
And grope, in the green wheat,
Toward the wood winds of the western freight.

(Thomas Merton)

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29.7.10


COISAS DA SÁBADO: A QUERELA CONSTITUCIONAL


Eu bem sei que muito do barulho vem de uma mistura da silly season, com as necessidades socialistas de terem alguma coisa “ideológica” a que se agarrar no meio de uma governação muito mais “liberal” do que as propostas “liberais” de Passos Coelho. É certo que é uma governação obrigada pelo estrangeiro, de má fé e a contre coeur, mas é o que é. Depois acrescenta-se o facto da nossa Constituição ter os donos vivos e os donos não gostam que se lhes mexa na propriedade e querem tudo no sítio onde o colocaram há quase 35 anos. E há também, numa Constituição que já foi mexida e remexida dezenas de vezes, muitas vezes inutilmente por causa da Europa, o facto de ela ser considerada simbólica à esquerda, sacrossanta e até um pouco de fetiche, o que em tempos de vacas magras ideológicas, conta. E depois, com a Constituição, tudo é grátis, não se prevê que alguma coisa vá mudar de decisivo no actual contexto, e por isso mexer com ela pelo menos de boca, não custa dinheiro e não tem consequências. Isto é válido para o PS, mas acima de tudo para o PSD que pode propor o que quiser, que sabe que nada vai passar no crivo da maioria qualificada.

Dito tudo isto, mesmo assim, e sem conhecer em detalhe e por escrito qual é a proposta do PSD, muita coisa parece-me ir no bom sentido. Acabar com a gratuitidade da saúde e da educação não é uma medida “liberal”, é abrir caminho para uma justiça social que coloque todos os recursos do estado a favor dos mais pobres. A “gratuitidade” universal é do domínio do puramente ideológico, mas na prática tem os efeitos exactamente contrários aos proclamados. O actual sistema é mais do que injusto, é socialmente favorável aos mais ricos cuja saúde e educação são pagas também pelos pobres, Mantendo-se um principio de solidariedade social, em que os que tem mais posses continuam a contribuir para a saúde e educação dos que necessitam, não há razão para se manter uma gratuitidade universal injusta.

Muitos bloqueios que a Constituição suporta, em nome longínquo das “conquistas da revolução”, são sempre pagos por quem é mais fraco. A enorme rigidez do contrato de trabalho só é boa para quem tem um emprego sólido, porque o seu custo é a institucionalização da precariedade, e o desemprego colectivo. Parece proteger, mas não protege ninguém. Não é preciso ser especialmente “liberal”, um termo papão que cobre tudo de um manto do mal, para chegar a esta evidência. E por aí adiante.
Se o PSD não estragar a pintura com propostas inconsideradas e conjunturais sobre o sistema político (espero para ver o texto de algumas que foram “sopradas” à comunicação social, em particular ao órgão oficioso da actual direcção, o Diário de Notícias), o saldo é positivo. Mas é preciso ter atenção ás consequências; o programa do PSD tem que ser alterado nalguns aspectos chave, mantendo o património genético do partido, o que exige muito saber e rigor político e ideológico. Ao mesmo tempo, para estas propostas não serem apenas “constitucionais”, o que no contexto actual as pode tornar apenas propagandísticas, é preciso moldar a actuação prática do partido ao seu conteúdo, o que não tem acontecido por exemplo no Parlamento onde tem havido posições erráticas em relação a este “molde” constitucional.

Vamos ver.

(Escrito antes de se saber  o texto final das propostas do PSD, que afinal ainda não é final.)

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(António Leal)

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PONTO / CONTRAPONTO

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Aqui.

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EMPANCADOS



Está tudo dito sobre o todo e o todo tem muita força. Está aí pousado em cima de nós, com o peso dos milhares de milhões da dívida, com o olhar desconfiado dos "mercados" e das tenebrosas agências de rating, com as ordens, ainda assim suaves, da Comissão Europeia, e está para ficar. Debaixo deste todo, nada mexe. Por isso, não vale a pena estar a repetir-me. Mas tenho que repetir-me, porque nesta canção só há refrão e sempre o mesmo refrão. Empancados.


Está tudo dito sobre o pequeno navio encalhado que é hoje Portugal. Ou se quiserem sobre o Titanic de uma qualquer linha obscura do mar Negro, que se afunda já nem sequer ao som da orquestra. Nesse país encalhado, tudo está bloqueado: o Governo não governa, o primeiro-ministro vocifera impotente com a má sorte que lhe calhou devido aos demónios neoliberais do estrangeiro, o ministro das Finanças anda curvado ao peso da dívida e do défice. A oposição que conta está errática: diz ter a obrigação "patriótica" de apoiar o Governo nas medidas anticrise, mas logo em seguida ameaça a aprovação do OE, num contexto que não é diferente da mesma crise que justificava os votos favoráveis aos PEC. Ainda estou para perceber o que se passou entretanto. Deixou de haver ameaça de bancarrota nacional? Duvido. Tudo isto dá uma sensação de impasse e de impotência. Empancados.


Uma das coisas que se dizem é que o Governo não passa de 2011 e que haverá eleições. Importam-se de me explicar como? Há várias hipóteses, nenhuma especialmente convincente. Depois das presidenciais, Sócrates demite-se? Duvido que o faça sem que pense ganhar alguma coisa com isso, o que me parece difícil de imaginar. O PS muda de líder para novas eleições? É provável, e dá-lhe uma oportunidade real, mas isso pressupõe que Sócrates quer ir-se embora. E para onde? Para gerir uma empresa de eólicas? Para uma fundação? Para uma embaixada política algures no Vanuatu? Difícil arranjar algum lugar dourado para um antigo primeiro-ministro pouco qualificado. Uma coisa me parece certa, o PS só força eleições se pensar que as pode ganhar. Empancados.

Depois quem vai "derrubar" o Governo em 2011? O Presidente se for Manuel Alegre? Impossível. Se for Cavaco Silva? Não é impossível, mas será difícil. Aqui deixemos uma hipótese que depende e muito do contexto de 2011. Admito que esse contexto é muito volátil para se excluir esta hipótese. O PSD apresenta uma moção de censura? Para que daqui resulte a queda do Governo é preciso que haja todos os votos da oposição, o que não é certo. Não me parece que BE, PCP e CDS queiram eleições antecipadas. Empancados.

E depois 2011 será no pleno da crise. Quem se atreverá a provocar eleições em plena conflituosidade social, em ambiente que será de hostilidade populista aos políticos, em dimensões nunca vistas desde o 25 de Abril? Só mesmo em condições muito excepcionais é que o PSD poderá correr o risco de fazer cair o Governo e assumir o ónus de eleições, porque o próprio acto de provocar a queda muda muito o ambiente político. Empancados.


A linha de argumentação de um PS com um novo líder baterá forte e feio na "imaturidade" da liderança do PSD, que o PS está hoje a experimentar e tem mais pés para andar do que se imagina. E o debate feio, em que algum PS e algum PSD são mestres, ainda não saiu da gaveta, mas sairá então. A actual direcção do PSD tem gozado de um estado de graça que, quando as coisas apertarem, evaporar-se-á como já se começa a ver. No PSD pensa-se nas sondagens favoráveis de 2010, mas as sondagens de 2010 premeiam o "consenso", as de 2011 punirão a ruptura. Pode não chegar para contrariar o desgaste imenso de Sócrates, mas o PS e Sócrates não têm a mesma usura. Por tudo isto, pode ser muito imprudente fazer cair o Governo em 2011, na lógica da mera alternância do poder. Empancados.

Admito o exacto contrário do que disse antes: um levantamento nacional do género "livrem-me desse homem", "qualquer coisa é melhor do que continuar com Sócrates". Não é impossível, mas o grau de descrença na mudança, a falta de esperança, a indiferença de quem já ouviu e viu tudo sem nenhuma consequência gerou tal anomia que a fúria pode permanecer mansa e alheada. E tudo continuar na mesma até 2013. Nesse caso, quando os partidos que contam para o Governo, PS, PSD e CDS, perceberem que têm que lidar com um tempo mais longo, terão um dilema sério visto não poderem continuar como até aqui: a viver num tempo curto que implica sempre uma crise política a prazo de meses. O Governo tem que tentar governar, a oposição estabilizar uma linha de actuação e abandonar o curso errático actual de arranques e recuos. Empancados.

Seja como for, não é brilhante. Encalhados, dentro de um pequeno navio, com os bens cada vez mais escassos e muita fome, com um capitão que pensa que o navio está a singrar alegremente para a terra do mel e das rosas e nem sequer olha para o banco de areia onde repousa, com uma tripulação entre o Navio Fantasma e a Nave dos Loucos, ninguém parece ter vontade, nem saber para tentar escavar alguma areia à espera de uma salvadora maré. Empancados.

É difícil viver num país sem esperança

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28.7.10

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EARLY MORNING BLOGS
1842 - Não Quero

Não quero recordar nem conhecer-me.
Somos demais se olhamos em quem somos.
Ignorar que vivemos
Cumpre bastante a vida.


Tanto quanto vivemos, vive a hora
Em que vivemos, igualmente morta
Quando passa conosco,
Que passamos com ela.


Se sabê-lo não serve de sabê-lo
(Pois sem poder que vale conhecermos?)
Melhor vida é a vida
Que dura sem medir-se.

(Ricardo Reis)

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27.7.10


EARLY MORNING BLOGS
1841 -Voz numa pedra

Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento


Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se
não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal

(Jorge de Sena)

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26.7.10

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COISAS DA SÁBADO: MAIS EXEMPLOS DE “CULTURALÊS”


Na semana passada referi aqui vários exemplos do “culturalês”, uma forma de linguagem burocrático-cultural, que tem ligações próximas com o “politiquês” e o “eduquês”. Eu criei o termo “politiquês”, com algum sucesso, e o “jornalistês”, sem nenhum sucesso, Marçal Grilo criou o “eduquês” com muito sucesso, espero agora contribuir para se perceber a identidade profunda entre estes falares correntes no nosso Portugal contemporâneo. É através deles que as nossas pequenas e médias elites falam com o Estado, de cima ou para o lado, e com o resto do povo de cima para baixo. Muitos exemplos de “culturalês” ficaram na gaveta na semana passada porque não cabiam no texto e vão agora, para acrescento e proveito dos ignaros incultos, ser aqui refereridos.

Veja-se este exemplo do Teatro do Vestido. Não estou a falar de nada que tenha visto e por isso não é o espectáculo em si que comento, que até pode ser genial, mas da sua apresentação ao público potencial. Estou a falar do que os seus “criadores” dizem sobre o que fazem, neste caso a “3ª edição do projecto de intervenção e colaboração do Teatro do Vestido, Esta é a minha Cidade e Eu Quero Viver Nela, em que Joana Craveiro (...) convidou o criador e performer Miguel Bonneville”. O espectáculo tinha entrada livre com a seguinte nota: “Cada intervenção tem a duração aproximada de 15 minutos e uma entrada limitada a 5 pessoas. Recomendamos marcação prévia”. 5 pessoas, não parece haver gralha. E o que se passa nessa “intervenção”:
“Este espectáculo acontece em dois quartos de hotel com comunicação entre si.(...) . Este espectáculo é sobre estranhos, camas, lençóis sujos, telefones e telefonemas, comunicação, divisão, desencontrarmo-nos uma vez, o Navio Night, estar perdida de noite sem saber o caminho de regresso a casa, ser salvo por alguém, não haver salvação possível, arranjar uma alternativa, portas entreabertas, levantar o chão, cofres atrás de quadros, segredos, a solidão, não é sobre cartas, é sobre o depois das cartas, é uma carta-postal mais do que um telegrama, é sobre ter um lugar num daqueles restaurantes que está aberto a noite inteira e que tem a um canto um casal improvável e nós sozinhos noutro canto, é sobre uma música em específico, a solidão da Gena Rowlands no Opening Night, enganares-te num número, quase conseguir alguma coisa, uma declaração que é feita e para a qual não tens resposta, teres uma sensação de não caberes em lado nenhum, é sobre ele me ter deixado, é sobre acordar várias vezes durante a noite. Este espectáculo é sobre ser português. “
 Esta “intervenção” foi apoiada pela Fnac, Internacional Design Hotel, Teatro Nacional D. Maria II e financiado pelo Ministério da Cultura. Eu gosto mesmo é de que “este espectáculo é sobre ser português”.

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NOVOS DESCOBRIMENTOS: PEDRAS


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EARLY MORNING BLOGS
1840 - Atrás Não Torna

Atrás não torna, nem, como Orfeu, volve
Sua face, Saturno.
Sua severa fronte reconhece
Só o lugar do futuro.
Não temos mais decerto que o instante
Em que o pensamos certo.
Não o pensemos, pois, mas o façamos
Certo sem pensamento.

(Ricardo Reis)

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21.7.10


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE


Passagem do tempo por um banco de um  jardim de Cracóvia. (SC)

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COMEMORAÇÕES DA REPÚBLICA OU COMEMORAÇÕES DA PRIMEIRA REPÚBLICA?

Outro dia, à minha frente um eléctrico trazia pintado um dos símbolos da República, uma figura feminina com barrete frígio com um seio desnudado, uma variante, mesmo assim mais púdica, da figura de Delacroix da "liberdade guiando o povo". Um seio nu em vez de dois, certamente porque a Carris obedece aos bons costumes. Neste ano do centenário da República, actos dessa comemoração estão por todo o lado, mas toda esta sucessão de publicações, eventos, sessões, não escapam a uma ambiguidade que remete mais para uma história "oficial" do que para a história pura e simples, mais agnóstica quanto à política e à ideologia republicana. Ou dito de forma mais exacta, quanto à nossa tradição republicana jacobina e maçónica, que encontrou expressão numa parte da oposição à ditadura, quer nos sobreviventes da própria Primeira República, quer no oposicionismo não comunista, socialista, uma continuidade. Resumindo e concluindo, o que se está a comemorar não é a forma republicana de governo, mas sim a Primeira República de 1910 a 1926, através da imagem laudatória e mítica que se fixou nos anos da oposição ao regime do Estado Novo. É uma coisa bem diferente da República, até porque o próprio regime de Salazar e Caetano não só foi republicano na forma, como o foi muitas vezes mais do que na forma, na essência, sendo que a Salazar se deve o fim da querela república-monarquia que até aos anos 50 permanecia viva. Só que era outro tipo de republicanismo e esse não o estamos a comemorar.

Antes do 25 de Abril o republicanismo maçónico tinha sido absorvido na aliança que o PCP tinha feito com os elementos da velha oposição republicana e com os socialistas que representavam de alguma maneira a sua "juventude". Esta aliança conheceu altos e baixos e foi posta à prova pela aparição nos anos 60 de novos actores, os grupos esquerdistas, que obrigaram o PCP a ter que lidar não só com a sua direita, mas também com a sua esquerda. Até meados da década de 60, no calendário oposicionista, o 31 de Janeiro e o 5 de Outubro eram mais importantes do que o 1º de Maio ou a data da Revolução Russa, o 7 de Novembro. Nas romagens que se faziam aos cemitérios ou aos monumentos das figuras republicanas, no Porto e em Lisboa, manifestações sem-ilegais, havia sempre um grito emocionado de "Viva a República!", atirado para o ar. Recordo-me, no Porto, de um velho popular, penso que alfaiate, que aparecia sempre e que tinha uma voz possante, apesar de ser muito pequeno e atarracado e que gritava o "Viva a República" quase a chorar. Mas essa emoção já estava então a esmorecer, e, nas cadeias, esquerdistas e comunistas digladiavam-se pelas datas que se deviam comemorar pelos presos e, cá fora, aparecia uma nova geração de intelectuais esquerdistas que descobriam uma Primeira República bem diferente da que a oposição mitificara.


Essa Primeira República era intolerante, pouco democrática, anti-operária, anti-sindicalista, tão corrupta como todos os regimes, tinha uma clientela venal e convivia bem quer com milícias violentas, quer com o embrião de uma polícia política, a partir da qual a própria PVDE, depois, PIDE, depois DGS, evoluiu. Havia eleições, mas dificilmente se podiam considerar mais do que um simulacro, quer pelo desenho dos círculos eleitorais, quer pela escassa participação popular, num sistema que funcionava na base do clientelismo e do patrocinato, a favor do Partido Democrático.

Havia corrupção e grossa incompetência, de que são exemplo a companhia dos Transportes Marítimos do Estado, criada a partir dos barcos alemães apresados nos portos portugueses, quando da declaração de guerra, e a construção de bairros sociais, que acabaram apenas de ser construídos em pleno salazarismo, que não deixou de usar o contraste entre a sua "obra" e a ineficiência republicana. Havia mais censura do que se imaginava e as perseguições políticas eram comuns, assim como o número de presos e deportados. A prática de deportações em massa, para Timor, Guiné era habitual, assim como o exílio forçado de monárquicos, jesuítas, e mesmo dos republicanos que tinham que fugir da sequência de golpes militares que caracterizavam a enorme instabilidade política nas ruas e nos governos. E a Primeira República foi manchada igualmente pelos assassinatos políticos, em particular a célebre "noite sangrenta", em que foram mortos António Granjo, Machado Santos, José Carlos da Maia, Freitas da Silva, Botelho de Vasconcelos, entre outros. Por contraste, o único assassinato político que merece ser classificado como tal no Estado Novo foi o de Humberto Delgado, embora haja ainda muitas obscuridades quanto ao que se passou. Houve gente morta pela PIDE, nos campos de concentração, nas cadeias, sob tortura, em confrontos de rua, mas não existem provas de que se tratava de assassinatos deliberados.

Claro que os 16 anos da República não podem ser comparados aos 48 anos da ditadura, que instituiu todas as formas de violência numa organização estatal estável e muito mais eficaz, e que penetrou a sociedade portuguesa com mecanismos repressivos ao lado dos quais os da Primeira República parecem amadores. Mas esta é uma comparação que é perigosa, que posso fazer, mas que não desejo que se preste a uma confusão historicista, porque se trata de coisas muito diferentes, de regimes muito diferentes. Se quisermos fazer uma comparação mais compreensiva, é entre o republicanismo de 1910 a 1926 com o constitucionalismo monárquico, que os republicanos ajudaram a denegrir e que sob muitos aspectos era, esse sim, muito mais tolerante do que os momentos mais negros da República. Basta ler As Farpas, ou os jornais onde Bordalo Pinheiro colaborava, os Pontos nos Iis, o António Maria, a Paródia, para o perceber.

Na Primeira República havia partidos, liberdade de imprensa, competição eleitoral, tudo muito imperfeito e longe da visão idílica dos republicanos, mas no Estado Novo não só não havia nada disso, como a institucionalização num Estado protofascista nos anos 30, e depois conservador-autocrático, tornou o conformismo pela coacção num pano de fundo que castrou gerações inteiras. Quem desculpa o Estado Novo com os excessos da Primeira República não sabe do que está a falar ou então está a fazer outra coisa. Mas também convém não nos iludirmos que as comemorações deste ano conseguiram ultrapassar de forma significativa a visão do republicanismo maçónico e jacobino, preso à mitificação da Primeira República, e sem perspectiva crítica. Há excepções, mas esta foi a regra. Viva a República!

(Versão do Público de 17 de Julho de 2010.)

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EARLY MORNING BLOGS
1839 - Each Life Converges to some Centre 

Each Life Converges to some Centre --
Expressed -- or still --
Exists in every Human Nature
A Goal --


Embodied scarcely to itself -- it may be --
Too fair
For Credibility's presumption
To mar --


Adored with caution -- as a Brittle Heaven --
To reach
Were hopeless, as the Rainbow's Raiment
To touch --


Yet persevered toward -- sure -- for the Distance --
How high --
Unto the Saint's slow diligence --
The Sky --


Ungained -- it may be -- by a Life's low Venture --
But then --
Eternity enable the endeavoring
Again. 

(Emily Dickinson)

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20.7.10


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (122) : PONHAM LÁ COBRO À HISTERIA SFF


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

RTP - Telejornal das 20 Horas: o PSD de Passos Coelho em guerra, nem mais nem menos, do que com a "civilização", a pretexto do projecto de revisão constitucional. Para além do serviço à estratégia de dramatização do PS, aproveitando a silly season, (pobre país, que esse é que pedia dramatização...), é um pouco ridículo, não é? Ou, quando se fala da Constituição, estamos no domínio do sagrado?

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(António Leal)

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COISAS DA SÁBADO: O “CULTURALÊS” E O PODER DA AUTO-CLASSIFICAÇÃO

Olhando para os encontros dos “artistas” que venceram a Ministra encontramos um dos mundos menos conhecidos e escrutinados da vida pública portuguesa. Porém, existe uma relação directa entre a ausência de escrutínio do seu trabalho e a capacidade que têm de influenciar os media a favor das suas causas, quer porque o seu lugar é central em certas “indústrias culturais”, a que os media estão associados, quer pelo preconceito da intangibilidade da “cultura”, da “criação”, da “arte”.

Este mundo funciona em circuito fechado, e desconhece-se que critérios presidem ao seu funcionamento e como são verificados os resultados dessa aplicação do dinheiro dos contribuintes. Sabe-se que não é pelo interesse do público, visto que estes ramos de “cultura” e “arte” abominam tal critério vulgar, de serem avaliados, entre outras coisas, pelo interesse que suscita o seu trabalho pelo comum dos portugueses.

É verdade que a verba que gastam do erário público não é elevada, mas é dinheiro dos contribuintes que tem direito de saber onde e com quem é gasta. Os grupos de “artistas”, principalmente na área do teatro e da “performance”, empregam um número significativo de pessoas, cuja trabalho individual é desconhecido e não avaliado. São “artistas” e como se auto-classificam como tal, quase tudo lhes é permitido, e respondem com enorme arrogância a qualquer avaliação.

Organizados em várias “plataformas”, Plataforma do Teatro, das Artes Plásticas, do Cinema, a que se juntaram a Associação Portuguesa de Realizadores, da Plataforma do Cinema, a Plateia - Associação dos Profissionais de Artes Cénicas e a REDE - Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea, representam uma miríade de grupos cuja existência pública é quase ignorada se exceptuarmos alguns realizadores de cinema, o Teatro da Comuna, o Teatro da Cornucópia, e os Artistas Unidos. A REDE “reúne 26 estruturas transdisciplinares e de dança contemporânea” e a Plateia “agrega cerca de 70 profissionais e 20 estruturas do norte de Portugal, maioritariamente da Zona Metropolitana do Porto, das áreas do teatro e dança”. Só a Plataforma do Teatro inclui a Ar de Filmes, Barba Azul, Casa Conveniente, Chão de Oliva, Joana Teatro, KARNART C. P. O. A., A Mala Voadora, Mundo Perfeito, O Bando, Plateia, Primeiros Sintomas, Qatrel, Teatro da Garagem, Teatro da Rainha, Teatro do Vestido, Teatro dos Aloés e o Útero.

Tanto “artista”, tanto “criador”, que nós temos por metro quadrado! O modo como se apresentam tem toda a prosápia burocrática e cultural. O Teatro do Vestido quer com ousadia “criar uma dramaturgia original” para o que constituiu “uma equipa multidisciplinar, que aposta numa forte relação com os espaços de apresentação, valorizando-os, bem como numa relação de partilha com o público”. A Casa Conveniente explica-nos que no seu “espaço” no Cais do Sodré “todos têm os seus lugares: bares, prostitutas, clientes, actores, actrizes, espectadores – todos coexistem sem se misturarem, marcando diferenças e aceitando vizinhanças e influências.”. Uma coisa chamada KARNART C. P. O. A., (“Criação e Produção de Objectos Artísticos, explica-nos que a dita é “uma associação privada sem fins lucrativos (...) tem por objectivo aliar aos valores teatrais clássicos vertentes artísticas de outras áreas na criação de objectos de grande dimensão estética e forte impacto interventivo, quer do ponto de vista antropológico quer do ponto de vista sociológico (...) Valores tradicionais em vias de extinção, minorias sociais, direitos de animais, problemas ambientais, religiões e seitas, globalização, etc., são algumas das temáticas que ao colectivo interessa abordar numa perspectiva de arte interventiva e interactiva”. E por aí adiante.

Este bla-bla do “culturalês” é como o “politiquês” e o “eduquês”, mas ninguém lhe toca. Só faltava tratar os “artistas” como gente vulgar!

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EARLY MORNING BLOGS
1838

—La libertad, Sancho, es uno de los más preciosos dones que a los hombres dieron los cielos; con ella no pueden igualarse los tesoros que encierra la tierra ni el mar encubre; por la libertad así como por la honra se puede y debe aventurar la vida, y, por el contrario, el cautiverio es el mayor mal que puede venir a los hombres . Digo esto, Sancho, porque bien has visto el regalo, la abundancia que en este castillo que dejamos hemos tenido; pues en mitad de aquellos banquetes sazonados y de aquellas bebidas de nieve me parecía a mí que estaba metido entre las estrechezas de la hambre, porque no lo gozaba con la libertad que lo gozara si fueran míos, que las obligaciones de las recompensas de los beneficios y mercedes recebidas son ataduras que no dejan campear al ánimo libre . ¡Venturoso aquel a quien el cielo dio un pedazo de pan sin que le quede obligación de agradecerlo a otro que al mismo cielo ! 

(Cervantes)

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19.7.10



(António Leal)

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COISAS DA SÁBADO: O MINISTÉRIO DA CULTURA DEIXOU DE TER MINISTRA

A implosão da Ministra da Cultura deu-se esta semana e cabe nesta frase:
"Consegui meios para não fazer cortes nenhuns no resto do ano. Foi possível porque o Ministério da Cultura se empenhou e obteve da parte do Governo solidariedade e, em particular do senhor primeiro-ministro, as condições para não aplicar os cortes."
 Andam a gozar connosco, o Primeiro-ministro e a Ministra, porque há uma semana era tudo ao contrário. Na verdade, a Ministra acabou, está póstuma, tanto faz lá estar como não estar. Ou melhor: como no sítio onde antes havia uma ministra está hoje apenas um fantasma que vagueia pelo Palácio da Ajuda e este não pode ser transportado para a sede do Conselho de Ministros, o governo que já soma quase tantos problemas como ministros que tem, passou a ter mais um.O que aconteceu à Ministra da Cultura é exemplar do vazio em que se tornou este governo. Infelizmente para o país é um vazio confuso, fragilizador, caótico, propício a asneiras caras, que se pega à nossa crise como um miasma a mais. A senhora que ocupa o lugar resolveu dar-nos um exemplo de como não se governa: anuncia um corte de 10% nos subsídios da cultura, passou uns dias a ouvir a gritaria dos subsidiados da cultura, cuja capacidade para se fazerem ouvir foi sempre grande, e veio depois anunciar que os 10% de corte, que há uma semana entendia serem absolutamente necessários, são agora superáveis pelo “empenho do Primeiro-ministro”. E manteve tudo na mesma.

Nessa mesma semana cometeu outros erros que lançam a suspeita sobre a sua preparação para o cargo. Não é preciso ser muito culto para se ser ministro da cultura, como já se viu no passado, mas algum trato com essas coisas bizarras da cultura ajuda. Principalmente quando se trata de uma Ministra que acha que Jorge Luís Borges se chama José Luís Borges (quando ouvi isto no Parlamento nem queria acreditar e gritei de lá de cima “Jorge”, que espero tenha sido ouvido no registo dos apartes...), e que acha que uma acção é “meritosa” em vez de meritória (gritei de lá de cima “meritória” a ver se havia correcção. Nada...). Ainda perguntei aos meus colegas açorianos se seria uma “açoreanismo”, mas parece que ninguém ouviu tal palavra. E assim vamos continuar tão “meritosa” função de estar no lugar de Ministra da Cultura e não o ser.

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EARLY MORNING BLOGS
1837 - Shakespeare

Others abide our question. Thou art free.
We ask and ask: Thou smilest and art still,
Out-topping knowledge. For the loftiest hill,
That to the stars uncrowns his majesty,
Planting his steadfast footsteps in the sea,
Making the Heaven of Heavens his dwelling-place,
Spares but the cloudy border of his base
To the foil'd searching of mortality:
And thou, who didst the stars and sunbeams know,
Self-school'd, self-scann'd, self-honour'd, self-secure,
Didst walk on earth unguess'd at. Better so!
All pains the immortal spirit must endure,
All weakness that impairs, all griefs that bow,
Find their sole voice in that victorious brow.

(Matthew Arnold)

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18.7.10

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© José Pacheco Pereira
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