ABRUPTO

31.8.06


RETRATOS DO TRABALHO EM MARCHEGG BANHOF, AÚSTRIA



Tirei esta foto em Julho de 2006 na cidade austríaca de Marchegg Banhof a 1km da fronteira com a Eslováquia e frente à fabrica da Volkswagen. Asfaltavam a rua em frente da “vivenda Lisboa” onde passo férias.

(Luís Falcão da Fonseca)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: PERGUNTA



No átrio das Chegadas do Aeroporto da Portela, estão três máquinas, separadas por meia-dúzia de metros:

Uma ATM, um quiosque de informações da Direcção Geral de Transportes Terrestres e um posto-público (mas pertencente a uma empresa privada) para navegação na Internet.

Há ainda, ali perto, carrinhos para crianças (que funcionam com moedas), máquinas diversas (de venda de chocolates, de águas e de refrigerantes), além das de pagamento do parque de estacionamento.

Sucede que, de todas estas máquinas, há uma (e só uma) que não funciona. Como, há cerca de um ano, já estava assim, perguntei a uma funcionária da ANA o que se passava. Sorriu, e respondeu-me que «Normalmente NÃO funciona».

A pergunta (que, por ser demasiado fácil, não tem direito a prémio) é: a qual dessas máquinas me estou a referir?

Uma "dica": segundo se lê numa etiqueta, foi co-financiada pelo POSI (e POR SI) e pelo FEDER.

(C. Medina Ribeiro)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: BENDITO MERCADO

Nunca o senhor Orestes Handy de São João imaginou que o seu exemplar de Os Lusíadas, comprado em Boston em 16 de Fevereiro de 1867, e deixado em legado à Universidade de Stanford estaria disponível para leitura e cópia para qualquer pessoa no mundo. Bendito mercado que leva Google Books a pensar que poderá fazer dinheiro oferecendo Os Lusíadas de graça.

(Luís Teixeira)

Descrição em português.

(Nuno M. Cabeçadas)

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RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Casa da Música, no Porto, onde se procede à limpeza dos vidros - tirada ontem à tarde.

(José Manuel de Figueiredo)

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota LENDO / VENDO / OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 25 de Agosto de 2006 com o comentário do jornalista Filipe Campos Ferreira responsável pelo directo da SIC feito na Azinhaga dos Besouros.

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DEVE HAVER CONFUSÃO COM A RESOLUÇÃO 1701...



Fico a saber que a força que vai para o Líbano é uma companhia de engenharia, e segundo o ministro foi enviada "num contexto humanitário". Sempre apoiei o envio de tropas da UE, a começar pelas portuguesas, para implementar a Resolução 1701 das Nações Unidas... mas tanto quanto eu sei a missão da UNIFIL não é propriamente humanitária, nem tem como objectivo "reconstruir" o Sul do Líbano. O seu objectivo não é construção civil, mas garantir que o Governo do Líbano “exerça a soberania plena de modo a que não haja aí armas sem consentimento do Governo do Líbano”, e o “desarmamento de todos os grupos armados no Líbano (…) de modo a que não haja armas ou autoridade no Líbano que não sejam as do Estado Líbanês.

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 31 de Agosto de 2006


Vários dias de jornais, muitas e variegadas coisas. Um jornal morto, o Independente, o que é sempre mau. Não importa que se concorde ou discorde, e o Independente teve coisas muito más e coisas muito boas, mas quando acaba um jornal fica-se sempre mais pobre. Posso agora arrumar a colecção integral do Independente no arquivo morto, mas tenho a certeza que continuarei a consulta-la.

Agora que um jornal morreu, continuo perplexo com a vida de outros. Como é que o Semanário sobrevive? Não lhe desejo nada de mal, mas é para mim um mistério a sua continuidade sem jornalistas, sem leitores e sem anunciantes.

*

Hoje no Diário de Notícias uma grande entrevista a Mário Soares, que há muitos anos dá a este jornal as suas melhores entrevistas. Não importam todas as discordâncias, quer com a sua campanha presidencial recente, quer com as opiniões sobre política internacional que mais uma vez reitera. Há uma coisa que só Soares podia dizer de si próprio, aquilo que é ao mesmo tempo a sua força e a sua pulsão para só se ouvir a si próprio e fazer asneiras, a sua fusão única de virtudes que são ao mesmo tempo defeitos e vice-versa: "Sou resistente, tenho uma carapaça sólida. Não sou uma anémona impressionável, quer por qualquer crítica ou por um simples desaire eleitoral.". Não, não é uma "anémona", mas também o seu desaire eleitoral não foi "simples"...


(Continua)

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JUDEU ERRANTE


Mais uma corrida, mais uma viagem.

De regresso.

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29.8.06


COISAS SIMPLES



(John Frederick Peto)

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RETRATOS DO TRABALHO EM MADRID, ESPANHA



Homem-estátua (de barro) prepara-se para iniciar o seu trabalho em frente ao Museu do Prado em Madrid.

(Pedro Oliveira)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
A CENTÉSIMA DE ÁLCOOL QUE FAZ NOTÍCIA


Vejo os telejornais na "diagonal", tal qual os jornais em papel, porque me deprimiriam se lhe desse a importância que pedem. Saltito de canal quando o sangue me invade a mesa de jantar, e uma bola que rola e rola me parte a loiça! Mas não deixei de ouvir com a atenção possível o disparate sobre a taxa de alcoolémia. Não ouvi uma só referência, nos canais que vi, ao erro dos instrumentos.
Lembrar-se-ão, por exemplo, que o Euro valia 200,482 Escudos. Terá significado, científico e fisiológico, a centésima de álcool que faz capa de TV e de Jornal nestes dias? Saberão que um medidor digital de tensão arterial, por exemplo, é menos fiavél que um analógico?

Perguntas/notícias para ouvir, nos dias que se seguem, se não houver outro sangue a noticiar!

(Amílcar A.)

*
Considerar-se que um determinado erro é "grande" ou "pequeno" é algo que tanto pode fazer sentido como não fazer - depende do que estiver em causa, evidentemente. Neste caso da alcoolemia, Amílcar A. defende que a diferença entre 0,57 g/l e 0,50 g/litro não tem significado fisiológico - apesar de esse facto implicar a possibilidade de a pessoa ter mais 14% de álcool no sangue. É bem possível que tenha razão (pois muitas das reacções fisiológicas são aproximadamente logarítmicas e não lineares); só não me parece curial misturar essa argumentação com euros, pois se alguém me dever € 57 euros e só me quiser pagar € 50... eu sinto a diferença...

Mas isso tem pouca importância. O que é grave (como hoje, e bem, escreve Nuno Pacheco no Editorial do «PÚBLICO») são os sinais que são dados aos automobilistas num país onde morre mais gente nas estradas do que norte-americanos no Iraque.

Então e a DGV demorou 8-anos-oito a descobrir que devia aplicar a directiva da Organização Internacional de Metrologia Legal? Então e as pessoas que, durante todos estes anos, foram multadas, detidas ou punidas com cassação de carta à conta de valores que, porventura, estarão errados?

Mas dizem-nos que «o problema já está a ser resolvido», pelo que nos resta o consolo de verificar que, mais uma vez, se confirma o famoso diagnóstico que uma empresa internacional de consultadoria fez - ao analisar rábulas semelhantes:

«Os gestores portugueses são muito bons a resolver os problemas que eles próprios criam».

C. Medina Ribeiro

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EARLY MORNING BLOGS

853 - Les mauvais artisans



Ce sont, dans les vingt-huit maisons du Ciel ; la Navette étoilée qui jamais n’a tissé de soie ;

Le Taureau constellé, corde au cou, et qui ne peut traîner sa voiture ;

Le Filet myriadaire si bien fait pour coiffer les lièvres et qui n'en prend jamais ;

Le Van qui ne vanne pas ; la Cuiller sans usage même pour mesurer l'huile !

Et le peuple des artisans terrestres accuse les célestes d'imposture et de nullité.

Le poète dit : Ils rayonnent.

(Victor Segalen)

*

Bom dia!

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28.8.06


RETRATOS DO TRABALHO EM PONTE DA BARCA, PORTUGAL



Preparando a iluminação para as festas em Ponte da Barca.

(Gil Coelho)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 28 de Agosto de 2006


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: rochas marcianas de um novo tipo. O mundo torna-se mais complexo. Quem disse que os diagramas não têm a categoria da beleza?

http://marsrovers.jpl.nasa.gov/gallery/press/spirit/20060823a/McSweenPIO_br.jpg

*

No Natureza do Mal, notas e reproduções do catálogo da exposição da Fundação Cartier-Bresson, comissariada por Agnès Sire, com fotos surpreendentes. Simone Beauvoir como "jeune fille" de costas e como intelectual existencialista de frente.

*

No Da Literatura mais uma nota cautelar sobre os sixties e a dificuldade de generalizar. Nos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO escrevi há algum tempo uma nota sobre a difícil fusão entre o radicalismo cultural e político que se começou a dar nos anos à volta de 1968, sendo as raízes da contra-cultura radical anteriores e mesmo percursoras do radicalismo político. Este movimento a dois foi travado na década de setenta pela extremização dos movimentos político-estudantis (em Portugal e na Europa) e pelo fim do período "liberal" do marcelismo. No entanto, depois do 25 de Abril verificou-se que tinha sido um ponto sem retorno.

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FONTES PARA A HISTÓRIA DA IMPRENSA ENQUANTO INSTRUMENTO DO GRANDE CAPITAL



(De uma história aos quadradinhos de propaganda nazi, England ahoi!, publicada em Portugal nos anos quarenta durante a guerra.)

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: NAPOLEÃO

http://www.powells.com/cgi-bin/imageDB.cgi?isbn=




J Marshall Cornwall, Napoleon as Military Commander


Durante a retirada da Grande Armée da Rússia, o seu primeiro grande desastre militar, Napoleão teve muita dificuldade em atravessar o rio Bereziná tendo que construir uns pontões de emergência debaixo de fogo. Devido ao congestionamento na travessia, Napoleão ordenou a destruição da maioria dos transportes de bagagens pessoais dos seus oficiais, ordem que nem sempre foi cumprida. Napoleão deu o exemplo e um dos seus trens de bagagem que foi queimado continha a sua biblioteca pessoal.

*

Marshal Jean-Baptiste Bernadotte
Depois da morte de Napoleão, Jean-Baptiste Bernadotte, (veio a ser Carlos XIV, rei da Suécia, progenitor da actual dinastia, e que tinha fama de ter uma tatuagem revolucionária a dizer "Mort aus rois"...) que começou como marechal de Napoleão e acabou seu inimigo, disse do seu mentor:

"Napoleão não foi conquistado pelas armas. Ele era maior do que qualquer de nós. Mas Deus puniu-o porque ele apoiava-se apenas na sua inteligência, até que esse poderoso instrumento foi levado a um ponto de ruptura. No fim, tudo se quebra."

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EARLY MORNING BLOGS

852 -Un libro

Apenas una cosa entre las cosas
Pero también un arma. Fue forjada
En Inglaterra, en 1604,
Y la cargaron con un sueño. Encierra
Sonido y furia y noche y escarlata.
Mi palma la sopesa. Quién diría
Que contiene el infierno: las barbadas
Brujas que son las parcas, los puñales
Que ejecutan las leyes de la sombra,
El aire delicado del castillo
Que te verá morir, la delicada
Mano capaz de ensangrentar los mares,
La espada y el clamor de la batalla.

Ese tumulto silencioso duerme
En el ámbito de uno de los libros
Del tranquilo anaquel. Duerme y espera.

(Jorge Luis Borges)

*

Bom dia!

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27.8.06


RETRATOS DO TRABALHO EM CASABLANCA, MARROCOS



Mesquita de Hassan II – Casablanca - Um operário a consertar os mosaicos

(Raul Cesar de Sá)

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RETRATOS DO TRABALHO EM MACAU, CHINA



Num andaime feito de canas de bambu, trabalhadores executam tarefas de reparação na pira do estádio da Taipa, palco da cerimónia de abertura dos 1.os Jogos da Lusofonia Macau 2006, entre os dias 7 e 15 de Outubro.A fotografia foi tirada em 21 de Agosto de 2006, na ilha da Taipa, Macau.

(Vasco Bismarck)

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BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS
ANTES DA GRIPE DAS AVES, QUANDO OS ANIMAIS DE CAPOEIRA ERAM NOSSOS AMIGOS


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EARLY MORNING BLOGS

851 - Money

Quarterly, is it, money reproaches me:
'Why do you let me lie here wastefully?
I am all you never had of goods and sex.
You could get them still by writing a few cheques.'

So I look at others, what they do with theirs:
They certainly don't keep it upstairs.
By now they've a second house and car and wife:
Clearly money has something to do with life

- In fact, they've a lot in common, if you enquire:
You can't put off being young until you retire,
And however you bank your screw, the money you save
Won't in the end buy you more than a shave.

I listen to money singing. It's like looking down
From long French windows at a provincial town,
The slums, the canal, the churches ornate and mad
In the evening sun. It is intensely sad.

(Philip Larkin)

*

Bom dia!

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26.8.06


FONTES PARA A HISTÓRIA DO "MODELO SOCIAL EUROPEU"



Werner Kahl, Viagens do Operário Alemão, Serviço Alemão de Informações , 1941

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BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS


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EARLY MORNING BLOGS

850 - The House Was Quiet and the World Was Calm

The house was quiet and the world was calm.
The reader became the book; and summer night
Was like the conscious being of the book.
The house was quiet and the world was calm.
The words were spoken as if there was no book,
Except that the reader leaned above the page,
Wanted to lean, wanted much most to be
The scholar to whom the book is true, to whom
The summer night is like a perfection of thought.
The house was quiet because it had to be.
The quiet was part of the meaning, part of the mind:
The access of perfection to the page.
And the world was calm. The truth in a calm world,
In which there is no other meaning, itself
Is calm, itself is summer and night, itself
Is the reader leaning late and reading there.

(Wallace Stevens)

*

Bom dia!

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25.8.06


COISAS DA SÁBADO

1- RESOLUÇÕES DA ONU DE PRIMEIRA E DE SEGUNDA
Os mesmos que dizem que Israel perdeu a guerra, os mesmos aliás que mostravam uma admiração sacrossanta por aquilo a que chamavam “comunidade internacional” e pela ONU, falam pouco do conteúdo da Resolução 1701 que permitiu o cessar-fogo. Mas dizem à boca cheia que a Resolução não é para aplicar, ou é inaplicável a anteriori e opõem-se à sua implementação no seu ponto mais importante – o envio de uma força militar – negando frontalmente, no caso português, qualquer participação de militares nacionais na implementação dessa Resolução.

Não há nada como ir ver o texto para perceber por que razão a Resolução incomoda tanto e também perceber as diferentes razões por que ela foi aceite pelos beligerantes. Tenho para mim que essas razões são evidentes: para Israel era fundamental a internacionalização do conflito envolvendo outros parceiros ocidentais que não os EUA na segurança da fronteira norte de Israel, colocando-os próximos daquilo que dói no vespeiro do Médio Oriente, ou seja próximos do Hezbollah, da Síria e do Irão a ver se percebem com quem Israel tem que lidar; para o Hezbollah evitava a invasão terrestre do Sul do Líbano, que essa sim poderia levar a uma forte derrocada do seu aparelho militar para o que os ataques aéreos não chegam. Depois, o resto se veria.
Há uma má fé evidente nas razões da aceitação por parte de ambos os lados: Israel sabe que sem agir militarmente contra o Hezbollah este nunca aceitará ser desarmado, e coloca o problema nos amplos braços da França (e por interposta França na amável UE), e o Hezbollah quer ganhar tempo e sabe que só muito dificilmente a força internacional actuará contra ele, como já aconteceu no passado.

2 – NADA COMO IR LER O TEXTO

O que é que diz o texto da Resolução (de origem americano-francesa registe-se)? Deixando de parte a retórica destinada a permitir que todos – neste caso todos é o governo do Líbano e Israel – salvem a face, a Resolução implica o cessar-fogo imediato e a retirada das forças israelitas do território libanês, entregando o controle pleno da fronteira sul ao exército libanês com a assistência das forças da UNIFIL

Ao Hezbollah pede-se que cesse todos os “ataques” e a Israel que cesse “todas as operações militares ofensivas”, o que já é uma diferença em “diplomatês”, embora aqui essa língua não seja muito relevante. A seguir começa a delinear-se a “solução” da “comunidade internacional” que, se for avante, muda de facto a situação do Líbano: é suposto que o governo libanês assuma o controlo da sua fronteira, “exerça a soberania plena de modo a que não haja aí armas sem consentimento do Governo do Líbano”, o que já não acontece há muitos anos devido à ocupação de facto dessa fronteira pelo Hezbollah. Mais à frente repete-se o que já tinha sido decidido noutras resoluções da ONU nunca aplicadas: o “desarmamento de todos os grupos armados no Líbano (…) de modo a que não haja armas ou autoridade no Líbano que não sejam as do Estado Líbanês.” Mais ainda: não deve haver “forças estrangeiras no Líbano sem o consentimento do Governo libanês”, o que se aplica a Israel, mas também à Síria.

Ao Governo libanês são assacadas várias responsabilidades, que se centram no impedimento de quaisquer actividades militares ou para-militares contra Israel: controle do fluxo de armas, treino militar de milícias, e vigilância nos postos de fronteira (com a Síria como é óbvio) para impedir a ajuda militar ao Hezbollah.

A principal diferença substantiva entre esta Resolução e as anteriores - cuja não aplicação foi consentida pelos mesmos que agora se indignam com o conflito – é o reforço da UNIFIL para um máximo de 15000 efectivos e aquilo que se considera um mandato mais musculado dessa força, ou seja é suposto que não se fique por ver e relatar o que se passa, mas que actue. Sobre esse mandato, cuja actuação deve ser coordenada com os governos do Líbano e Israel (com os dois, embora a força só esteja no Líbano) em vários aspectos, assenta na tomada “de todas as acções necessárias nas áreas onde estejam estacionadas as suas forças e em função das suas capacidades para assegurar que a sua área de operações não é utilizada para actividades hostis de qualquer tipo, resistindo a todas as tentativas para a impedir à força de não cumprir com os seus objectivos ao abrigo do mandato do Conselho de Segurança”.

Lendo o texto percebe-se que ele é o resultado directo da guerra, mesmo que reitere muito do que já tinha sido “decidido” em anteriores resoluções da ONU, naquilo que é uma maior obrigação da “comunidade internacional” de acabar com a ocupação militar do Sul do Líbano pelas milícias do Hezbollah e de assegurar uma fronteira norte segura para Israel. Como Israel não tem reivindicações territoriais sobre o Líbano, tudo o que diga respeito ao desenho da fronteira é irrelevante para Israel desde que esta permaneça segura.

3 – TOMAR A SÉRIO O TEXTO DA RESOLUÇÃO MESMO QUE SE DUVIDE DA SUA APLICAÇÃO

Conseguirá a ONU, sem os EUA presentes na força militar e contando com o suposto envolvimento das nações europeias (a atitude da França de um passo à frente e dois atrás não surpreende ninguém) ajudar a pacificar o Líbano, ou seja a retirar da política armada libanesa o Irão e a Síria? A julgar pelo passado, a resposta é não. É muito pouco provável que franceses, italianos, portugueses, espanhóis e outros andem aos tiros com o Hezbollah, para assegurar o efectivo controlo da fronteira, suprindo o ineficaz e hesitante controlo feito por um débil Governo libanês. E no entanto, tomar a resolução da ONU à letra, é um passo que se justifica, por maiores que sejam as reservas quanto à sua implementação. Há, insisto, vantagens de todo o tipo em dar esta última oportunidade à “comunidade internacional” na base de uma Resolução que consiste de facto numa vitória diplomática para Israel, como percebem muito bem os seus críticos. Israel que fez uma guerra pela metade, e as guerras pela metade normalmente perdem-se, jogou forte no envolvimento da “comunidade internacional” ou seja , na prática, no dos países da UE para os confrontar com as suas responsabilidades. O modo como eles vão responder – e há sinais contraditórios dessa resposta – vai definir mais eficazmente o significado político da “Europa” comunitária do que cem Constituições. Vamos ver.

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RETRATOS DO TRABALHO EM SANTO TIRSO, PORTUGAL



Limpando a escadaria do Tribunal de Santo Tirso.

(Vítor Alexandre Leal)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 25 de Agosto de 2006


Será que a SIC não compreende que os seus jornalistas não podem tomar o partido de uma das partes num conflito? Nos incidentes da Azinhaga dos Besouros, alguns moradores e uma organização ligada ao BE, "Solidariedade Imigrante", têm resistido às demolições sentando-se nos telhados. Por que razão a jornalista da SIC entrevista alguns moradores em cima do telhado, podendo certamente fazê-la no chão, visto que nada se estava a passar ? Qualquer manual deontológico sobre procedimentos televisivos em conflitos e manifestações é claro em afirmar que os jornalistas não devem tomar posição, o que, neste caso, significa falar de um determinado lugar - o lugar do protesto, o telhado.

[Actualização: a RTP fez a entrevista do chão. Bem.]

Sou jornalista /repórter de imagem na sic e acabo de ler no blog 'abrupto' (...) Escolhi fazer o "directo" do topo de uma das casas que estava prestes a ser demolida porque dali poderia dar, aos telespectadores, uma imagem abrangente do local, logo também da zona demolida até então. O facto dos trabalhos de demolição poderem recomeçar a qualquer momento e, repito, aquela casa estar na lista das construções a abater, ajudou-me a tomar a decisão.

Considero que há falta de discussão em relação às questões éticas e deontológicas no jornalismo. Estas discussões são fundamentais para um jornalismo que se quer cada vez mais credível.

Trabalho na SIC há 14 anos e ainda assim fiquei impressionado com aquela quantidade de casas demolidas.

(Filipe Campos Ferreira)

*

(sem acentos) Curioso tambem como a jornalista da SIC nao fez uma unica pergunta dificil:

- A construcao e’ legal?
- Os terrenos onde as casas estao pertencem a quem?
- Voce nao sabia que a sua construcao e’ ILEGAL?
- Se sabia, porque e’ que eternizou esta situacao pondo em risco o seu bem estar e dos seus filhos?
- Porque e’ que a Solidariedade Imigrante nao se preocupou com estes imigrantes ANTES das demolicoes terem sido aprovadas? Sera’ que a Solidariedade Imigrante nao sabia do caracter ILEGAL destas construcoes?

Jornalismo, quo vadis?

(Carlos Carvalho)

*

Antes de mais, quero esclarecer que sou pouco sensível a apelos de solidariedade para com pessoas que vêem as suas casas legalmente destruídas - quando elas sabiam (à partida e quando as construíram), que era isso que ia suceder.

No entanto, nesses dias de demolições camarárias, vêm-me sempre à memória aquelas velhas histórias americanas em que os bandidos saltam de estado para estado para aproveitar as diferenças existentes nas respectivas leis - é que, em matéria de demolições de casas clandestinas, estou há anos à espera de ver igual genica aplicada àquelas outras, de férias e de segunda habitação (algarvias, mas não só), que continuam de óptima saúde em terrenos de domínio público.

(C. Medina Ribeiro)
*

Isto de ler os jornais e revistas em papel com dias de atraso dá uma perspectiva diferente sobre as notícias e opiniões. Mas também têm os seus inconvenientes, como seja não ter visto esta opinião de Caetano Veloso, transcrita da Visão da semana passada, de que também não encontrei qualquer eco nos blogues apesar de ele se referir à "blogosfera portuguesa" e não apenas ao Abrupto...



Fica aqui reproduzido, seguindo os agradecimentos pessoais a Caetano Veloso por outra via. Parece que, sobre Israel, nem toda a gente segue o "pensamento único".

Nem sobre o Abrupto também...

(Alberto Serpa)
*

Por que é que os americanos são bons? Título da notícia da NASA e do Jet Propulsion Laboratory sobre a "despromoção" plutónica: Honey, I Shrunk the Solar System.

*

Com um dia de atraso. Pequenos pormenores em que só se repara lendo a imprensa em papel, que recebo dias depois de ter saído:

- no Diário de Notícias de 24 de Agosto, numa notícia assinada por Helena Tecedeiro, uma legenda de uma fotografia de um guerrilheiro do Hezbollah – “Enquanto líder militar do Hezbollah, Mugniya terá sido responsável pela vitória do grupo sobre o exército israelita (Sublinhados meus)

- no Diário de Notícias de 24 de Agosto, uma notícia sobre os recentes confrontos em Timor-Leste (ocorridos a 23) que deveria suscitar as maiores perplexidades a quem esteja atento. Lá se diz que os confrontos entre “grupos de jovens” (sempre esta estranha classificação) ocorreram no bairro de Comoro. É esse bairro que é suposto estar sob jurisdição da GNR que aí assume as funções de polícia. Só que a notícia refere que foram polícias australianos e malaios que defrontaram os grupos e que, só no fim, foi chamada a GNR. Balanço dos feridos: sete australianos e um malaio.

Verdadeiramente, o que é que a GNR está a fazer em Timor? A quem responde? Que cadeia hierárquica operacional existe? O que é que se passou com este incidente na sua área de intervenção? Mais uma série de questões que deviam estar a ser feitas a quem de direito, ou seja ao Governo.

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BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS, PESCA MACABRA


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EARLY MORNING BLOGS

849- Elephants Are Different to Different People

http://www.vision.jhu.edu/teaching/HW4Pictures/Gray/Elephants.jpg
Wilson and Pilcer and Snack stood before the zoo elephant.

Wilson said, "What is its name? Is it from Asia or Africa? Who feeds it? Is it a he or a she? How old is it? Do they have twins? How much does it cost to feed? How much does it weigh? If it dies, how much will another one cost? If it dies, what will they use the bones, the fat, and the hide for? What use is it besides to look at?"

Pilcer didn't have any questions; he was murmering to himself, "It's a house by itself, walls and windows, the ears came from tall cornfields, by God; the architect of those legs was a workman, by God; he stands like a bridge out across the deep water; the face is sad and the eyes are kind; I know elephants are good to babies."

Snack looked up and down and at last said to himself, "He's a tough son-of-a-gun outside and I'll bet he's got a strong heart, I'll bet he's strong as a copper-riveted boiler inside."

They didn't put up any arguments.
They didn't throw anything in each other's faces.
Three men saw the elephant three ways
And let it go at that.
They didn't spoil a sunny Sunday afternoon;

"Sunday comes only once a week," they told each other.

(Carl Sandburg)

*

Bom dia!

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24.8.06


RETRATOS DO TRABALHO NO FURADOURO - OVAR, PORTUGAL



O pescador conserta as redes da pesca de Arrasto (Arte Xávega), mais concretamente o saco onde vem o peixe, a safra...

(Fernando Manuel Oliveira Pinto)

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota LENDO / VENDO / OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 23 de Agosto de 2006.

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BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS, GRANDES CHASSES


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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 24 de Agosto de 2006


Leia mais, senhor Presidente, não é por falta de livros. O conselho é válido para todos, ou pensam que é só ele?



Publicidade encontrada na cidade de Toronto, Canadá (enviada por Francisco Cunha)

*

BLOGOSFERA CONTRA PROMESSOSFERA: O BLOGUITICA continua a fazer a pergunta certa no tempo certo : "O Projecto MIT não está esquecido, pois não?" Se não fosse o infantilismo competitivo de muita imprensa escrita, que não quer parecer ir atrás dos blogues, já a mesma pergunta teria sido feita aos responsáveis pelas promessas governamentais numa vontade de esclarecer e informar que é suposto ser a essência do seu papel em democracia, venha a pergunta de onde vier. Se o BLOGUITICA deixasse de insistir durante dois ou três dias, e voltasse o rápido esquecimento em que vivemos, já os jornalistas se sentiriam à vontade para fazer a pergunta sem parecer "ir atrás" dos blogues. O mesmo se passou no caso da OTA, não fosse um órgão da imprensa digital sem preconceitos ter abordado Mário Lino com a pergunta que os jornais não queriam fazer. Depois foi o que se viu. A questão central aqui é que um esclarecimento sobre o que se passa com o Projecto MIT é mais que devido, até porque já passou o prazo para se saber alguma coisa. Está na altura de acabar com pruridos territoriais e perceber que hoje há, queira-se ou não, um contínuo comunicacional com os blogues e uma pergunta certa e justa na blogosfera é também uma pergunta certa e justa na atmosfera e não se pode passar ao lado.

*

Bem-vindo de férias ó Almocreve das Petas :
"Depois de afagos de veraneio pendurámos a lembrança, em local decente. Nas muitas noites-ligados-a-dias sem novelas da paróquia, sem ambição de coisa alguma e em salutar "metafísica do ócio", a iluminação teria de ser total. E, na verdade, foi a nossa abastança virtuosa. A "estrita" observância a paixões deliciosas e sentimentos d'ócio peculiares, fez prolongar a visitação extraordinária, assim a modos "como gatos espapaçados ao sol" [M. Bandeira]. As instruções, os preceitos e as exortações do vate Sócrates & sua imprensa amestrada, não nos importunaram. Fomos piedosamente poupados à erudição doméstica. E, claro está, podemos dizer, humildemente ... que "cumprimos"!"

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EARLY MORNING BLOGS

848 -"Mezclarónse con los de Babylonia, y aprendieron sus costumbres"

Diximos en el argumento que el lenguaje d'este psalmo es de tristeza, de los que sienten el mal de su captiverio; mas que no es de todos, sino solamente de aquellos que no se descuydaron de llevar consigo los instrumentos con que solían alabar al Señor. Porque es cierto que no todos los captivos israelitas sospiravan por Sión, porque los más mezclados entre los Babylónicos, se hizieron de sus costumbres y aprendieron sus maldades, haziéndose como naturales de la tierra donde no eran. Y estos no eran los que lloravan sobre las riberas de Babylonia, ni los que colgavan los instrumentos de música en los salzes de aquel río. Mas eran aquellos de quien dixo David: Commixti sunt inter gentes, & didiscerunt opera corui. "Mezclarónse con los de Babylonia, y aprendieron sus costumbres". Y son figura de la distinctión de los que pertenescen a Sión predestinados, y de los que son para Babylonia prescitos. Y de los dos amores, de quien dize Augustino ser tan estraños que el uno edifica la ciudad de Babylonia y el otro la ciudad de Hierusalem. Y finalmente, significa los que tiene el demonio tan ciegos que el captiverio tienen por libertad y sus males juzgan por bienes. A differencia de los otros, que siendo captivos no se olvidan del fin para que fueron criados. Los unos cantan, los otros lloran; los unos biven sin contradictión de su consciencia, sin hazer contraste a nada de todo aquello que la sensualidad les pide; los otros quando mayores occasiones de plazeres mundanos les offresce el mundo, entonces se congoxan más, y de tal manera que, a no socorrer Dios en aquella tristeza, sería a los perfectos gran género de martyrio querer Babylonia hazer reyr por fuerça y cantar llorando, que son cosas que no vienen bien. Esto sintió bien David quando dixo: Renuit consolari anima mea, memor fui Dei, & delectatus sum. "Mi ánima desechó tales contentos, que más tristeza me causavan, y no tuve otro remedio sino acordarme de Sión". Que no es menos que dezir: Memor fui Dei. "Y assí me alegraba con la tristeza de no contentarme en Babylonia", y esto quiere dezir: & delectatus sum.

( Sermón donde se declara el Psalmo .136. que comiença: Super flumina Babylonis, con otro psalmo .72. y este postrero haze a la declaración del primero. Hecho y predicado por el muy Reverendo padre F. Pedro López de Cárdenas en Valencia, a instancia de una señora devota suya, 1562.)

*

Bom dia!

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23.8.06


RETRATOS DO TRABALHO NA COSTA DA CAPARICA, PORTUGAL



Vendedor de gelados, bolacha, pipocas e batatas fritas.

(Jorge Alexandre)

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MORTE DE VASCO DE CARVALHO (1910-2006)

Recebi agora a notícia da morte de Vasco de Carvalho, um dos principais dirigentes do PCP nos anos trinta e a figura mais significativa da direcção afastada pela “reorganização” de 1940-1, no chamado processo do “grupelho provocatório”. Trabalhei extensivamente com Vasco de Carvalho na reconstituição desses eventos, dos mais obscuros da história do PCP. E quando digo “trabalhei” foi mesmo o que aconteceu porque Vasco de Carvalho não se limitou a confiar na memória que tinha dos eventos, mas fez ele próprio uma recolha por escrito de notas e apontamentos que possuía e comentou, linha a linha, as primeiras versões do meu texto (excerto de um longo manuscrito de comentários e precisões que fez sobre um esboço que lhe enviei sobre o “grupelho provocatório”).

Vasco de Carvalho tinha um forte sentimento da injustiça que lhe tinha sido feita pelo PCP, e confiava na história para a corrigir, não tanto no plano político, mas nas acusações e suspeitas sobre o papel da PIDE na actividade da direcção legítima do PCP que os “reorganizadores” tinham afastado. Embora Cunhal tenha mais tarde corrigido alguns dos excessos de Fogaça e dele próprio, afirmando não haver qualquer prova de colaboração com a PIDE na actuação do que chamava o “grupelho”, o PCP até as nossos dias não fez a Vasco de Carvalho, nem a muitos outros comunistas caluniados e insultados na sua dignidade pessoal e política, qualquer reparação pública, ao contrário do que aconteceu no PCF e no PCE.

(Nota mais completa nos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 23 de Agosto de 2006


A crítica de Eduardo Cintra Torres no Público ao tratamento noticioso dos incêndios na RTP assenta em dois “factos” (1) ;

- um, a existência de ordens, ou instruções oriundas do Gabinete do Primeiro Ministro à direcção editorial da RTP quanto ao tratamento dos fogos
as informações de que disponho indicam que o gabinete do primeiro-ministro deu instruções directas à RTP para se fazer censura à cobertura dos incêndios: são ordens directas do gabinete de Sócrates».)
- dois, a minimização dos incêndios nos telejornais, em particular num dia em que graves incêndios ocorriam a Norte
E o Telejornal (RTP)? Não fez nenhum directo. Remeteu os incêndios para a 18ª notícia de 28, já depois do desporto. As três únicas notícias sobre incêndios activos foram tão breves que totalizaram menos tempo (1m50) do que a convalescença de Fidel Castro (2m16) ou a vitória dum João Cabreira na etapa do dia da Volta (2m18). As outras três notícias relacionadas com fogos eram todas positivas: um inventor dum autotanque; uma visita de bombeiros alemães a Vila Real; a entrega de 16 jipes pelo Instituto de Conservação da Natureza aos parques naturais (mas antes, sobre o incêndio no Parque Nacional da Peneda-Gerês, o Telejornal falou duas vezes em Arcos de Valdevez e só no meio da notícia referiu uma vez o Parque)”.

Quanto ao primeiro, Eduardo Cintra Torres terá certamente que ir mais longe no seu esclarecimento, visto que parte de uma situação ambígua entre ser jornalista e dever preservar as suas fontes e emitir um comentário crítico que em principio não é uma notícia. Se tal “facto” (as instruções do Gabinete) foi resultado de uma actividade jornalística normal ele deveria ter sido pela sua relevância incluído no noticiário político do Público e só depois, ou em simultâneo, comentado na coluna de crítica. O estatuto de colunas de crítica como a que mantém no Público é ambíguo, como aliás acontece com muito do que hoje se escreve nos jornais em peças assinadas que misturam factos com opinião. Por se tratar de uma coluna identificada como tal, isso protege a opinião, mas “desprotege” os factos lá referidos em primeira mão. Isso explica o processo da RTP, que Cintra Torres certamente ponderou, como consequência possível do conteúdo da coluna.

Duas observações de passagem, mas relevantes para o “caso”. Uma é que Eduardo Cintra Torres produz uma das raras colunas de comentário sobre a televisão (na realidade é mais do que isso é crítica dos media, o que explica alguns furores) que pode ser chamada de “crítica”. A outra é que nas reacções de alguns jornalistas ao “caso” é claro que não perdoam a Cintra Torres ter colocado em causa não o Governo de Sócrates, mas a muito mais delicada questão das relações dos governos socialistas com a comunicação social. Quando os governos são do PSD e do CDS, as relações com a comunicação social são cuidadosamente escrutinadas e denunciadas, quando os governos são do PS a matéria torna-se sempre explosiva e a exigência de prova, mesmo em textos analíticos, vem sempre à cabeça. Um caso menor pode servir de comparação: a relativa complacência com que o livro de Manuel Maria Carrilho foi recebido, com acusações insubstanciadas muito mais graves do que as que fez Cintra Torres (caso fiquem elas também por provar, o que seria grave).

Sobra o segundo “facto” que aparentemente ninguém quer discutir, remete para uma análise da informação da RTP, repito aqui o que escrevi antes do artigo de Cintra Torres:
O governo tem beneficiado de uma cobertura jornalística que tem minimizado a importância dos incêndios este ano, e consequentemente, não confronta a realidade com o que foi prometido e anunciado. Parte desta situação vem dos compromissos que a comunicação social, em particular as televisões, assumiram quanto à cobertura dos fogos, corrigindo os excessos do ano passado. Mas, como quase sempre acontece, a correcção do excesso foi desequilibrada e neste ano, a não ser os atingidos pelos incêndios, não há percepção pública da gravidade do que se está a passar. Isso ajuda à desresponsabilização do governo e impede o debate sobre a eficácia das suas medidas e sobre o modo como está a reagir à situação, assumindo uma atitude de de muito mau agoiro para o futuro. (no Abrupto)

A governamentalização da informação da RTP (com este e com todos os governos) tem uma raiz de fundo impossível de corrigir sem a sua privatização: o seu carácter de estação “pública” torna-a dependente de orientações governamentais quanto à sua cadeia hierárquica de poder interno e financiamento . Como muitas vezes tenho dito, o mais importante é escolher as pessoas certas para o lugar certo, não dar “instruções “ pelo telefone. E depois há o dinheiro que vem do bolso dos contribuintes e cujas “orientações” de despesa (por exemplo na compra do circo do futebol) têm relevância política.

Acresce depois que a mais ambígua das coisas é aquilo a que se chama "serviço público", nunca claramente definido. Tanto serve para fazer a cobertura menos incómoda para o governo dos incêndios, como de muitas outras matérias, como para produzir simultaneamente alinhamentos no telejornal completamente tablóides (2) (com o argumento que uma televisão que ninguém vê não cumpre com o "serviço público"), como para tratar a agenda governamental com uma deferência particular dando a ministros, secretários de estado, inaugurações e anúncios de obras um lugar privilegiado nos telejonais (3). Etc., etc.

(1) Coloco factos entre aspas não por fazer um julgamento sobre a sua veracidade, mas para me referir a uma categoria jornalística determinada.

(2) Exemplos de ontem: o telejornal das 13 horas abre com uma longa peça sobre a queda de um ultraleve em Cascais, em contraste com o conteúdo noticioso das notícias da SIC (não vi a TVI).

(3) Um exemplo positivo de como um jornalista deve tratar uma inauguração e um anúncio governamental foi a de um jornalista da SIC que apertou Correia de Campos com perguntas sobre medidas que anunciavam uma cobertura da população por médicos de família. Acabou-se por saber que afinal essa cobertura era de um terço dos abrangidos e desse terço apenas um terço iria ser coberto até ao fim do ano, se tudo corresse bem. Passou-se de um anúncio genérico, para um terço de um terço. Mérito do jornalista que não tem o estilo dos telejornais da RTP.

*
A pretexto da «polémica» levantada pelo artigo de opinião de Eduardo Cintra Torres (ECT), gostaria de referir um pequeno pormenor, que não é de somenos importância. A análise que ECT aos noticiários da RTP, em contraste com as privadas, foi do dia 12 de Agosto (sábado). Por sinal, também detectei em 6 de Agosto (domingo), uma situação similar, que aliás me fez escrever um post no meu blog Estrago da Nação (www.estragodanacao.blogspot.com) intitulado «O frete televisivo», com o seguinte teor:

No Portugal da RTP - empresa pública de televisão -, hoje não houve fogos em Portugal. E os que houve ficaram remetidos para as calendas do alinhamento e apenas os que foram extintos. Enquanto as outras televisões (SIC e TVI) deram o destaque merecido, com directos q.b., a RTP gastou 33 minutos do seu telejornal das 20 horas a abordar a guerra no Líbano (com pelo menos três directos com outros quantos jornalistas), a tensão no Irão, os problemas em Gaza, a doença de Fidel Castro, um acidente no Parque da Pena devido à queda de uma ramada de eucalipto (que causou uma morte). Depois em dois ou três minutos, a RTP apenas abordou dois incêndios, ambos circunscritos de manhã e, nessa altura, já extintos: na Póvoa do Varzim e em Paredes (Aguiar de Sousa). De resto, nem uma única palavra sobre a situação actual, designadamente a mais de uma dezena de incêndios que então estavam ainda não circunscritos. Eis um exemplo de serviço público que, sob critérios inconfessáveis, se confunde com serviço do Governo. Eu bem que temia que a introdução de critérios para a abordagem dos incêndios pela Direcção de Informação da RTP - de que falei há dias -, ia dar nisto...

No dia seguinte (segunda-feira) e ao longo dos dias úteis, fazendo zapping pelas três estações, já não reparei em diferenças de tratamento tão avassaladoramente distintas, embora quase sempre com menor destaque na TV pública, mas as abordagens já eram isentas, conforme se pode constatar por aquilo que escrevi num post desse dia 7 de Agosto:

Hoje, a RTP viu-se obrigada a abordar os incêndios. A contra-gosto, é certo, porque não abriu o telejornal com esse tema, ao contrário dos outros canais. Mas vá lá, melhorou: falou dos incêndios que ainda estavam a lavrar e não apenas, como ontem, naqueles que já tinham sido extintos...

Aliás, houve pelo menos um dia nessa semana em que a RTP abriu o noticiário com os fogos que então se faziam sentir, com directos nos locais mais afectados.

Recordo-me também que em 9 de Julho (domingo), dia em que morreram seis bombeiros na Guarda, a RTP praticamente ignorou essa tragédia, se bem que apenas a TVI tenha dado destaque de abertura noticiosa.

Ou seja, notam-se, por estes exemplos, uma claríssima distinção entre notícias de fogos abordados pela TV pública ao «fim-de-semana» e aos «dias da semana», não apenas ao nível do destaque como de isenção noticiosa. Se o pivot dos telejornais é diferente (ao fim-de-semana não é o José Rodrigues dos Santos), penso que as equipas de coordenação editorial também serão diferentes. Ora, perante estas diferenças, podemos estar perante uma mera coincidência e que ECT está a mentir. Mas no mundo real há poucas coincidências...

(Pedro Almeida Vieira)

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As considerações de carácter geral que Cintra Torres faz acerca da influência do poder político na RTP não causam espanto a ninguém, pois o que ele diz é exactamente o que o cidadão-comum pensa: os governos só não interferem na televisão pública se não puderem - e, neste caso dos fogos, até é bem provável que isso tenha sucedido.

Até aí, tudo bem; o problema só aparece quando ele lança acusações concretas que, além de serem em segunda-mão, não pode provar.

De qualquer forma, já se sabe há muito tempo que é mesmo assim que "a coisa funciona": ao abrigo da liberdade de expressão e do estatuto da classe, um jornalista pode "dizer o que lhe disseram" as fontes em quem confia. A seguir, se necessário, ergue o escudo do "segredo das fontes" e dorme descansado. A lógica parece-me perversa mas, pelos vistos, é essa.

Mesmo assim, não resisto a contar o que, em tempos, se passou com Mário Castrim quando um dos seus adversários asseverou que "tinha ouvido dizer, acerca dele e de fonte segura, determinadas coisas".

O autor d' «O canal da Crítica» respondeu, na sua coluna do «Diário de Lisboa», algo como (e cito de memória):

«Agradeço que, por escrito, declare formalmente que me autoriza a divulgar tudo o que, de fonte segura, eu já ouvi dizer de si».

(C. Medina Ribeiro)

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847 - ...no hay para qué perdonar a ninguno, porque todos han sido los dañadores ...

El cual aún todavía dormía. Pidió las llaves a la sobrina del aposento donde estaban los libros autores del daño, y ella se las dió de muy buena gana. Entraron dentro todos, y el ama con ellos, y hallaron más de cien cuerpos de libros grandes muy bien encuadernados, y otros pequeños; y así como el ama los vió, volvióse a salir del aposento con gran priesa, y tornó luego con una escudilla de agua bendita y un hisopo, y dijo: tome vuestra merced, señor licenciado; rocíe este aposento, no esté aquí algún encantador de los muchos que tienen estos libros, y nos encanten en pena de la que les queremos dar echándolos del mundo. Causó risa al licenciado la simplicidad del ama, y mandó al barbero que le fuese dando de aquellos libros uno a uno, para ver de qué trataban, pues podía ser hallar algunos que no mereciesen castigo de fuego. No, dijo la sobrina, no hay para qué perdonar a ninguno, porque todos han sido los dañadores, mejor será arrojarlos por las ventanas al patio, y hacer un rimero de ellos, y pegarles fuego, y si no, llevarlos al corral, y allí se hará la hoguera, y no ofenderá el humo.

(Miguel Cervantes, Don Quijote de la Mancha)

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Bom dia!

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22.8.06


RETRATOS DO TRABALHO NA TORREIRA - MURTOSA, PORTUGAL



Dois fogueteiros a lançarem foguetes de cana, um tradição que está em vias de desaparecer. No entanto, e embora seja uma tradição de que não gosto, tem a sua lógica, pois era o método de, há bastantes anos atrás, uma povoação avisar as povoações próximas que ia decorrer algum tipo de festejo.

(José Carlos Santos)

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© José Pacheco Pereira
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