ABRUPTO

29.8.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
A CENTÉSIMA DE ÁLCOOL QUE FAZ NOTÍCIA


Vejo os telejornais na "diagonal", tal qual os jornais em papel, porque me deprimiriam se lhe desse a importância que pedem. Saltito de canal quando o sangue me invade a mesa de jantar, e uma bola que rola e rola me parte a loiça! Mas não deixei de ouvir com a atenção possível o disparate sobre a taxa de alcoolémia. Não ouvi uma só referência, nos canais que vi, ao erro dos instrumentos.
Lembrar-se-ão, por exemplo, que o Euro valia 200,482 Escudos. Terá significado, científico e fisiológico, a centésima de álcool que faz capa de TV e de Jornal nestes dias? Saberão que um medidor digital de tensão arterial, por exemplo, é menos fiavél que um analógico?

Perguntas/notícias para ouvir, nos dias que se seguem, se não houver outro sangue a noticiar!

(Amílcar A.)

*
Considerar-se que um determinado erro é "grande" ou "pequeno" é algo que tanto pode fazer sentido como não fazer - depende do que estiver em causa, evidentemente. Neste caso da alcoolemia, Amílcar A. defende que a diferença entre 0,57 g/l e 0,50 g/litro não tem significado fisiológico - apesar de esse facto implicar a possibilidade de a pessoa ter mais 14% de álcool no sangue. É bem possível que tenha razão (pois muitas das reacções fisiológicas são aproximadamente logarítmicas e não lineares); só não me parece curial misturar essa argumentação com euros, pois se alguém me dever € 57 euros e só me quiser pagar € 50... eu sinto a diferença...

Mas isso tem pouca importância. O que é grave (como hoje, e bem, escreve Nuno Pacheco no Editorial do «PÚBLICO») são os sinais que são dados aos automobilistas num país onde morre mais gente nas estradas do que norte-americanos no Iraque.

Então e a DGV demorou 8-anos-oito a descobrir que devia aplicar a directiva da Organização Internacional de Metrologia Legal? Então e as pessoas que, durante todos estes anos, foram multadas, detidas ou punidas com cassação de carta à conta de valores que, porventura, estarão errados?

Mas dizem-nos que «o problema já está a ser resolvido», pelo que nos resta o consolo de verificar que, mais uma vez, se confirma o famoso diagnóstico que uma empresa internacional de consultadoria fez - ao analisar rábulas semelhantes:

«Os gestores portugueses são muito bons a resolver os problemas que eles próprios criam».

C. Medina Ribeiro

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© José Pacheco Pereira
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