ABRUPTO

23.8.06


MORTE DE VASCO DE CARVALHO (1910-2006)

Recebi agora a notícia da morte de Vasco de Carvalho, um dos principais dirigentes do PCP nos anos trinta e a figura mais significativa da direcção afastada pela “reorganização” de 1940-1, no chamado processo do “grupelho provocatório”. Trabalhei extensivamente com Vasco de Carvalho na reconstituição desses eventos, dos mais obscuros da história do PCP. E quando digo “trabalhei” foi mesmo o que aconteceu porque Vasco de Carvalho não se limitou a confiar na memória que tinha dos eventos, mas fez ele próprio uma recolha por escrito de notas e apontamentos que possuía e comentou, linha a linha, as primeiras versões do meu texto (excerto de um longo manuscrito de comentários e precisões que fez sobre um esboço que lhe enviei sobre o “grupelho provocatório”).

Vasco de Carvalho tinha um forte sentimento da injustiça que lhe tinha sido feita pelo PCP, e confiava na história para a corrigir, não tanto no plano político, mas nas acusações e suspeitas sobre o papel da PIDE na actividade da direcção legítima do PCP que os “reorganizadores” tinham afastado. Embora Cunhal tenha mais tarde corrigido alguns dos excessos de Fogaça e dele próprio, afirmando não haver qualquer prova de colaboração com a PIDE na actuação do que chamava o “grupelho”, o PCP até as nossos dias não fez a Vasco de Carvalho, nem a muitos outros comunistas caluniados e insultados na sua dignidade pessoal e política, qualquer reparação pública, ao contrário do que aconteceu no PCF e no PCE.

(Nota mais completa nos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.)

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© José Pacheco Pereira
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