ABRUPTO

1.12.12


ESPÍRITO DO TEMPO:  HOJE
 

 
Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO: A LIBERDADE DE IMPRENSA CAPTURADA 

A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Alguém  me explique,-  não que eu precise, mas outros sim, - o silêncio absurdo e muito, muito preocupante, da nossa comunicação social (incluindo blogues e "redes sociais") face aos sucessivos artigos do Jornal de Angola, orgão do MPLA e do governo, sobre Portugal e os portugueses. E o silêncio do governo, o silêncio dos comentadores, e o silêncio do silêncio. Eu e outros somos sujeitos a insultos pessoais miseráveis, mas isso é um pequeno preço a  pagar para provocar um debate público sobre o que se está  a passar e a "captura" da nossa liberdade pública pelos interesses coligados do dinheiro de cá, com o dinheiro de lá. Como os insultos, as ameaças (que também há) e a baixaria generalizada não me intimidam, aqui vai exemplo de um Rui Ramos que escreve no Jornal de Angola sobre os portugueses:

O povo português é tradicionalmente um povo pobre, povo de olhar o chão para ver se encontra centavos, tostões ou cêntimos. Mas de repente votou num poder que lhe abriu as portas do paraíso artificial. Desatou a contrair empréstimos para comprar primeira, segunda e terceira habitação, carros para cada membro da família, computador para cada membro da família, cão para cada membro da família, um telemóvel por cada operadora para cada membro da família.
Os bancos fizeram o seu trabalho de casa, deram empréstimos a cada membro da família, deram cartões de crédito, cinco para cada membro da família, até bebé tem cartão de crédito e empréstimo bancário em Portugal.
Narizes empinados, até pareciam ricos. Parecia que estavam a crescer, a subir. Tinha até motorista de autocarro 463 que não parava na paragem quando trabalhadora cabo-verdiana tocava. Trabalhar para pretos?
Menina mais castanha era chamada de “suja”, vai para a tua terra. Presidente da Câmara de Lisboa apanhou sol desde os tempos dos avós e muitas pessoas chamavam-lhe “o preto da Câmara”. Gostam muito de chamar “pretinho”, gostam mesmo.
De repente acabou a teta da loba, secou, voltou ao que era, como sempre foi: país muito pobre. Quase dois milhões no desemprego para o resto da vida. Prosperam negócios ilegais, nas cervejarias trafica-se droga na cara da polícia, à luz do dia assaltam-se pessoas e supermercados impunemente, a polícia diz que não pode fazer nada.
Então chegam notícias, não de Preste João, mas da teta angolana: tem leite enriquecido.
Chiu, não chama mais preto, eles não gostam e não te dão visto. E então a procissão de nossa senhora da esperança avança para Alcântara, enche o passeio como uma jibóia. Marcam lugar, vão rápido no bar, menina, uma bica bem escura, eu não sou racista. Na bicha só se ouve “eu não sou racista, nunca fui, eu nunca chamei preto a ninguém, acho que me vão dar visto…
Esses são os desgraçados, arruinados, miseráveis de um país no abismo. Outros vivem desses. Os candongueiros, os fugitivos dos impostos, mas também os intelectualóides que já foram paridos com um livro na mão. Passam lá de madrugada quando voltam para casa e ao verem aquela bicha espumam como cão vadio, põem cara de podre e murmuram “pretos da merda”, passam na bicha e trombeiam “aquilo lá é uma ditadura, os chineses comem pessoas…”.


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OS INTELECTUAIS E "A ANULAÇÃO DO DESTINO"







Ninguém pode, a não ser por abuso, tratar os portugueses como se não estivessem conscientes de que os tempos estão difíceis Pode-se sempre dizer que qualquer tempo é um tempo de exigência para os intelectuais, embora os intelectuais não tenham uma história particularmente brilhante de "interpretação" dos tempos. Bem pelo contrário, os intelectuais têm uma história no século XX de participarem activamente nas grandes mentiras do século, fascismo e comunismo em particular, e de justificarem as mais monstruosas das ideias e das práticas, quando estas enunciavam, mais do que praticavam, dar-lhes um papel de interlocutor privilegiado na "interpretação" do que se passava. 


Mas, também por isso, tempos como os de hoje são particularmente exigentes para a réstia de função que ainda podemos atribuir aos intelectuais. Por duas razões: há uma enorme circulação de mentiras em curso, e há um enorme sofrimento na maioria das pessoas comuns e uma perda colectiva da esperança, em si mesmos, na sociedade, na democracia, no país. Esta é a crise perfeita, como a tempestade perfeita.

Comecemos pelo sofrimento. A não ser em guerra, onde todo o tipo de violências, a começar pela morte, marca indelevelmente a vida de cada um, o plano inclinado da pobreza e da miséria são particularmente destrutivos. Não estamos numa parte do mundo onde se morra à fome, onde a vida seja destruída por epidemias evitáveis, ou no limiar da subsistência. Nem vale a pena perdermos tempo com esses exageros que muitas vezes nos deitam à cara, para estarmos mesmo assim felizes porque não passamos o pior. Não é a miséria africana, a violência urbana latino-americana, o espectro da pobreza asiática do Bangladesh.
Não é isso. É uma sociedade europeia, saída ainda há muito pouco tempo de uma pobreza ancestral rural e de bairro de lata, da emigração e da tuberculose, da mortalidade infantil e do analfabetismo, para um mínimo de condições de vida, de esperança, de conforto urbano, de consumos "espirituais", de posse de alguns bens materiais e de segurança e alguns direitos precários. Tudo pouco acima do mínimo, com diminuição da pobreza, criação de uma classe média, e também retorno de alguma riqueza. A diferenciação social e a exclusão continuaram, mas foram colocadas num patamar diferente. 


Foi tudo uma ilusão artificial, como agora nos dizem? Teve aspectos ilusórios, expectativas excessivas, mas não foi uma ilusão, foi uma melhoria. Não precisamos que nos venham dar lições morais com a parte da ilusão, para nos arrancarem as melhorias, porque a melhoria de vida dos portugueses deve ser defendida ao limite. O que conseguiram nos últimos anos foi feito com muito esforço, já para não falar da obrigação de reparação do muito que se devia ao homem comum, pobre e trabalhador, pela ideologia da santidade da "pobreza honrada" dos últimos quarenta anos, que deixou uma pilha de ouro no banco e uma população analfabeta e cujos filhos morriam no parto como tordos. 


A discussão em "economês" dos nossos dias faz-se para legitimar o desprezo por estas melhorias, tidas como esbanjamento; pela esperança das pessoas em não perder o pouco que conseguiram, tido por uma reivindicação egoísta de direitos; a que se soma um efectivo desprezo pelo seu sofrimento, tido como pieguice. Sempre achei que atribuir aos governantes que têm de tomar medidas difíceis estados de alma de indiferença face às dificuldades era excessivo, mas agora não tenho qualquer dúvida sobre a frieza e a incompreensão com que olham para o sofrimento dos seus concidadãos.


No meio disto tudo, acabou a esperança, ou seja, acabou o futuro. Para várias gerações, em particular aquela que o desemprego de longa duração - um eufemismo para não dizer eterno - marca com enorme violência, o futuro acabou. Sabem, com um saber magoado mas certeiro, que a partir de agora é só caminhar num plano inclinado sem fim, ou seja, até ao fim dos seus dias. O resultado é não só uma vida devastadora no presente, onde tudo está a começar ou já começou, e onde o amanhã é apenas o agravamento do dia de hoje. Estes homens e mulheres estão sozinhos e também já perceberam que ninguém cuida deles. Estão do lado torto de tudo, não são "jovens" e por isso nem sequer têm direito ao discurso retórico sobre a juventude, são os restos vivos do "esbanjamento" do passado, mesmo quando eram apenas operários têxteis, metalúrgicos, empregadas de limpeza, secretárias, professores, enfermeiros, funcionários públicos, encarregados de armazém, trolhas. Ao lado deles, os jovens têm um futuro radioso, só que fora do país.


Por tudo isto, as mentiras são insuportáveis, até porque as pessoas comuns sabem a verdade. Toda a gente tem uma percepção realista da situação, as pessoas sabem que não vão poder continuar como antes, sabem que as dificuldades são inevitáveis, e sabem que medidas de autodefesa têm que tomar, com as suas poupanças e com os seus gastos. Ninguém pode, a não ser por abuso, tratar os portugueses como se não estivessem conscientes de que os tempos estão difíceis, e que não podem esperar muito, sendo que este "ajustamento" natural das pessoas já se deu há muito. 


Só que uma coisa é esta percepção e outra é validar políticas cujo objectivo não é corrigir excessos, mas empobrecer estruturalmente o país, para que ele possa fornecer mão-de-obra barata, e atirar para a caridade ou para o estrangeiro os muitos milhões de portugueses que estão a mais neste glorioso plano de "refundar" Portugal como um país estruturalmente pobre, que talvez daqui a algumas décadas - a palavra surge com cada vez mais regularidade nos discursos do poder - possa ficar um pouco menos pobre, se "trabalhar muito" e "fizer o trabalho de casa". Será que os governantes não percebem como isto é ofensivo?

Daí as mentiras e a petulância. Um secretário de Estado resumiu essa mentira entranhada quando afirmou no Parlamento que os portugueses deviam estar felizes porque iam ter a devolução de um dos subsídios tirados, porque o Governo cumpria, presume-se com alegria, a decisão do Tribunal Constitucional. Aliás, ele apenas se excitou canhestramente com uma das muitas mentiras circulantes cujo melhor exemplo é o Orçamento do Estado e as sucessivas avaliações positivas da troika, peças de uma política cujos perigos dois ou três dias depois vem o FMI enunciar. A verdadeira avaliação da troika é essa, repete o que toda a gente está a dizer do Orçamento, antecipa o que vai acontecer, mas "Tout va bien Madame la Marquise".


Há por isso mais verdade, na tentativa tardia e desesperada de no Orçamento comunitário se tentar obter o maior número de fundos para Portugal, do que no mambo jambo irreal do nosso Orçamento. Porque, face ao falhanço dos méritos da política de "ajustamento", os nossos governantes, mais Passos do que Gaspar, voltam-se desesperados para as ajudas europeias, porque sabem que são a única esperança de poderem minimizar as suas asneiras. São hayekianos cá dentro e keynesianos lá fora e serão o que for preciso porque se começa a perceber o desespero nas hostes.


Na verdade, os portugueses também já "ajustaram" os governantes. "Miúdos", "garotos", como o povo manifestante bem intui, percebendo a sua inexperiência da "vida", saídos da pior escola, carreiristas e espertos, obcecados pela "imagem" mediática, conhecedores de mil e um truques, tão vingativos como ignorantes, deslumbrados pelo seu poder actual, subservientes face a todos os poderosos, e que incorporaram um profetismo grandioso sobre "refundar" o país, que rapidamente se torna numa luta pela própria sobrevivência política, custe o que custar. O resto é expendable, no inglês técnico de que gostam.


Pode ser que, mais uma vez, os intelectuais traiam, com a obsessão de respeitabilidade, o respeitinho moderado e o sufoco dos bens escassos para distribuir. Mas a obrigação do intelectual, como escreveu Emerson, é "anular o destino", pensar para haver "liberdade". Presos neste miserável destino, o sofrimento de muitos é uma efectiva ameaça à liberdade.

(Versão do Público de 24 de Novembro de 2012.)

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EARLY  MORNING BLOGS   
 
2278 - There is No Frigate Like a Book


There is no Frigate like a Book
 To take us Lands away, 
Nor any Coursers like a 
Page Of prancing Poetry –  
This Traverse may the poorest take
 Without oppress of Toll – 
 How frugal is the Chariot 
That bears a Human soul.

(Emily Dickinson)

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ESQUERDA MOLE, ESQUERDA DURA E ESQUERDA VIOLENTA (5): E A VIOLENTA


11. Existe hoje uma esquerda violenta e essa esquerda está a recrutar nos filhos da classe média radicalizada. Seria de estranhar que assim não fosse. As divisões no BE, com a criação do Movimento Alternativa Socialista, mais radicalizado, e alguns movimentos de aliança entre franjas do BE, jovens comunistas “leninistas”, trotsquistas desirmanados, no Movimento Sem Emprego, jornais e revistas como Rubra, várias páginas do Facebook, alguns neo-anarquistas, estão a dar origem aos grupos que ficam no fim das manifestações diante dos polícias a ver se há pancada. 

12. Os comunistas desconfiam deles, que acham demasiado folclóricos para seu gosto, e compreendem o efeito perverso da simulação simbólica da violência para as câmaras verem, sem consequências. Com máscaras do Guy Fawkes, lenços palestinianos a cobrir a cara, parkas a esconder a cabeça e muto arremedos diante dos polícias, derrubando as barreiras que já se percebeu, pelo comportamento da policia, não é considerado motivo para carga, e ficando ali a provocar com petardos e garrafas de cerveja, diante dos robocops, acabam por prestar um péssimo serviço à violência revolucionária que pretendem encenar. Um bom português, amigo dos forcados amadores, dirá “se eles vão lá para a porrada, por que é que não andam á porrada? Parecem aqueles que dizem “segurem-me senão vou-me a eles, e não vão.” 

13. O que se passa no conjunto de todas as esquerdas, moles, duras e violentas é a sua enorme divisão não só estratégica, como táctica. As suas ideias são diferentes, as suas práticas são diferentes, os seus motivos são diferentes. Enormes diferenças geracionais, de estilo, cultura política e acima de tudo, de condição social, pesam sobre esta desunião de forma até agora decisiva. Não podem mobilizar a gigantesca força latente que a crise gerou, - a recusa populista dos partidos e a raiva contra os políticos, - e por isso acantonam-se nos seus territórios entre a nostalgia e encenação. Vão acabar por votar Seguro contra Passos Coelho, e é difícil encontrar destino mais irónico para a esquerda portuguesa.

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ESQUERDA MOLE, ESQUERDA DURA E ESQUERDA VIOLENTA (4): A DURA


7. A esquerda dura é o PCP e a CGTP e é composta por um contínuo social e político muito consistente e entretecido. Tem uma história, tradições, famílias e identidade. Tem uma base social com muito maior homogeneidade do que o PS e o BE e essa base social está em grande parte organizada no partido e nos sindicatos por mecanismos de enquadramento e mobilização. Não há nada de semelhante em qualquer outro partido, e a comparação que fazia sentido com o PSD do passado, já não tem sentido para o PSD do presente. 

8. A direcção de Jerónimo de Sousa trouxe um ainda maior reforço de identidade, levando o PCP pela primeira vez na sua história a fazer manifestações como partido e não disfarçado de CDU, ou de qualquer outro rótulo “unitário”. Jerónimo não suscita o respeito reverencial de Cunhal, mas também não reproduz o seu afastamento aristocrático, não desejado mas real. Jerónimo é “um deles”, próximo e igual, que transporta consigo o mundo da base comunista como ninguém o fez nunca na história do PCP, a que acrescenta a força e a empatia gerada por ser o único líder político que no parlamento fica genuinamente indignado com a sorte dos “seus” e dos portugueses. É por isso que ele pode sair á rua e ser recebido com estima, por muitos que não são comunistas, mas que reconhecem a sua genuinidade. E também por isso travou a crise do PCP, embora não a tenha resolvido. Mas é um facto que o PCP sobreviveu melhor à crise do que muitos outros partidos europeus, e é impossível falar da esquerda activa e que existe sem falar do PCP. Em França, o PCF, por exemplo, é muito irrelevante. 

9. Mas o PCP ao reforçar a identidade está a acentuar o seu acantonamento, as suas fronteiras e limites. Usa e abusa da linguagem de pau, como é o caso da designação canónica do acordo com a troika de “pacto de agressão”, e tendo a parte de leão na resistência organizada ao governo, das vaias às greves, parece ter atingido uma barreira de crescimento que a prazo se revelará como impotência. 

10. A CGTP tem resistido á crise melhor do que a UGT, perdida nas suas contradições. Mas a CGTP com a sua nova liderança, - que é um erro considerar incapaz,- tem tido também como reflexo do PCP, um processo de auto-afirmação sectária, que lhe pode dar capacidade de organização, mas que dificulta a mobilização. Não se compreende do ponto de vista da eficácia, por exemplo, da greve geral, que a CGTP não apareça genuinamente interessada em obter a adesão dos sindicatos da UGT. Pode-se dizer que muitos vão aderir, mas o impacto de uma greve conjunta das duas centrais seria maior. No actual contexto de contínuas humilhações à UGT, seria difícil, face a um esforço de entendimento e consulta efectivo, a sua direcção recusar uma greve em que os interesses de alguns dos seus principais sectores sindicais, função pública, banca, seguros, são dos mais afectados pelas medidas do governo. 

(Continua.)

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ESQUERDA MOLE, ESQUERDA DURA E ESQUERDA VIOLENTA (3): A MOLE-DURA


6. Classificar o Bloco de Esquerda não é difícil: é hoje um partido socialista radical, próximo de partidos como era o PSU e o PSIUP no passado em França e Itália. No fundo, foi sempre este o projecto de muitos trotsquistas, e ele foi conseguido. O problema do BE é que é pouco para a crise que se vive, o que torna a sua posição demasiado indistinta. Reduzido à sua dimensão parlamentar tem vindo a perder a rua mais radical, deixando a mobilização preguiçosa, fácil e enganosa nas redes sociais, sobrepor-se á organização pura e dura. Com isto, e aqui os comunistas têm razão, os governos podem bem. Está por isso inócuo e acaba por ficar dependente apenas da evolução do PS, que é um pouco esperar sentado por um milagre.

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ESQUERDA MOLE, ESQUERDA DURA E ESQUERDA VIOLENTA (2): A MOLE


4. Comecemos pela esquerda mole, ou seja o PS. Sem o PS nada se faz, com o PS nada se faz, este é o dilema dos que querem pensar ou “trazer” o PS à esquerda, o que é a mesma coisa. O PS tornou-se antes de tudo, como o PSD, numa partidocracia de governo, que não conhece outras regras que não seja manter os lugares, carreiras, território e influência partidária. Não existe nem identidade política, nem ideológica, nem sequer a expressão de interesses sociais e isso verifica-se numa altura em que a crise atinge profundamente as bases sociais dos dois partidos e acaba por não ter expressão no topo. A lógica do topo é apenas a da partidocracia e por isso misturam-se com o establishment que servem, e absorvem todo o pensamento balofo que para aí circula. A geração de Seguro e de Passos Coelho nos partidos, transporta consigo uma enorme necessidade de respeitabilidade, eles sabem que os de cima com quem lidam, não os respeitam, e os de baixo os não consideram, e por isso são pouco mais do que interpretes do mainstream dos interesses já estabelecido. 

5. Por isso, o PS é a grande dificuldade de toda a esquerda, porque no fundo quem chega á sua direcção não é de esquerda, como quem chega à direcção do PSD, não é social-democrata. Entalado entre o silêncio incomodado de Seguro sobre Sócrates, o PS é sempre presa fácil para a propaganda governamental e para a sua “narrativa” da crise. Por outro lado, se assumisse o “socratismo”, institucionalizaria um keynesianismo corrupto, pragmático, e oportunista, tão desertificador como a actual indecisão estratégica e fala-baratismo táctico. Vai ser difícil sair disto. 

(Continua.)

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28.11.12


ÍNDICE DO SITUACIONISMO

A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

O silêncio incomodado com Angola continua em pleno. Embora aqui tenha causa própria, visto que esta "dinamite cerebral das elites portuguesas" do Jornal de Angola de 26 de Novembro me diz respeito, a verdade é que há aqui muito que justificaria notícia. Depois não digam que não há bruxas...

Aqui vai o editorial completo, com sublinhados meus, já que a política e a comunicação social portuguesa  parecem não querer falar mais do assunto:

"Angola tem feito os impossíveis por dar à CPLP a importância que merece e sobretudo para que cumpra o seu principal objectivo: ser um espaço de defesa e promoção da Língua Portuguesa, das culturas dos Estados membros e de solidariedade. Quando ainda Angola estava no meio de uma guerra de agressão sem precedentes em África, choveram pressões para que aderíssemos ao projecto. José Eduardo dos Santos, um dia despiu o camuflado, vestiu o fato e foi a Lisboa participar na fundação da CPLP. Desde então, Angola tem dado o seu melhor por este projecto de futuro e que pode ser importantíssimo para os povos que falam a Língua Portuguesa.
Mas nestes anos há também os que deram o seu pior. As elites portuguesas que nas últimas décadas partilham o poder em Portugal tentaram fazer da CPLP aquilo que a França e Inglaterra fizeram no espaço dos seus antigos impérios. A cultura dos Estados membros é tratada com desprezo. Foi imposto um Acordo Ortográfico que transforma a Língua Portuguesa numa coisa que ninguém lê sem tropeçar em obstáculos. Nos jornais e televisões só interessa aquilo que encaixa no modelo de oportunismo histórico das elites europeias. No Portugal da CPLP actual, os governos africanos são tratados como ditaduras corruptas e ferozes, apesar de realizarem eleições regulares e serem exemplos de democracia, boa gestão e exercício da cidadania.
Angola não se sente bem nesta CPLP que recebe mal e persegue os bens e os investimentos dos angolanos em Portugal, ao mesmo tempo que aumenta como nunca a entrada de empresários portugueses no mercado angolano, em vários ramos da economia, incluindo no sector dos Media. Em Portugal os políticos e jornalistas fazem tudo para manchar e impedir que os negócios dos empresários angolanos se realizem com normalidade, ou pelo menos nas mesmas condições de reciprocidade que os seus colegas portugueses encontram em Angola. Apesar de, desde há muito, haver vários órgãos de comunicação social em Angola comprados por portugueses, há presentemente na imprensa lusa uma nojenta campanha contra empresários angolanos que estariam interessados em investir, legitimamente, neste sector em Portugal.

As razões de tanto azedume são evidentes. As distorções no seio da CPLP são provocadas pelas elites portuguesas que não foram capazes de se libertar dos fantasmas do passado, mesmo aqueles que se dizem amigos de Angola ou reclamam para si o estatuto de antigos lutadores anti-colonialistas.
Dou um exemplo. O político português José Pacheco Pereira foi convidado por mim a vir a este jornal para ver como aqui se faz jornalismo. Pacheco Pereira é um dos que mostra estar desactualizado em relação a Angola. Íamos aproveitar a sua presença para aprender com ele coisas que não sabemos ou sabemos pouco. Queríamos ouvir as suas críticas, os seus argumentos, as suas opiniões. Os jornalistas que aqui trabalham ficavam mais ricos. Mas Pacheco Pereira inviabilizou o convite. Ensinaram-me que quando alguém nos abre as portas de sua casa, devemos levar alguma coisa. Se formos de mãos vazias, então é obrigatório levar o coração limpo, amizade e cordialidade. Pensava eu que Pacheco Pereira se ia apresentar assim em nossa casa. Mas foi grosseiro e malcriado e reproduziu os defeitos morais que hoje atravessam a sociedade portuguesa. Os problemas dos portugueses têm a ver com a falta de civismo e não com um qualquer problema de falta de competetividade.

Mas Pacheco Pereira fez pior. Aproveitou-se do meu convite para, mais uma vez, lançar uma diatribe desatinada contra os dirigentes angolanos. Pacheco Pereira fez as habituais acusações sem provas, debitou argumentos sem consistência, mostrou que está encarquilhado pela inveja e o azedume, destilou ódio dissimulado num discurso pretensamente político. Os colonos quando viam um angolano com uma camisa nova diziam logo que era ladrão. No tempo do colonialismo, os angolanos só podiam andar rotos e descalços. Pacheco Pereira está no mesmo registo. Se aparece um angolano rico, é ladrão. Está muito enganado. Para mim, os ricos angolanos não são um tabu. Eu sei donde lhes vem a riqueza. Pelo menos aqueles que eu conheço, trabalharam muito, comeram o pão que o diabo amassou, arriscaram a vida dias, meses e anos seguidos. Merecem a riqueza que têm. Oxalá muitos mais angolanos enriqueçam.
Os países ocidentais, inclusive Portugal, disseram aos angolanos que tinham de aderir à economia de mercado.Angola aderiu ao capitalismo que Pacheco Pereira bem conhece. E cá estamos nessa via. As riquezas do Estado passaram para as mãos de privados, desde as casas onde viviam até aos espaços comerciais, às fazendas, propriedades industriais, minas e tudo o que era estatal. Essas riquezas são propriedade de angolanos. Angola tem direito a ter uma burguesia nacional que seja cada vez mais forte e mais rica. Que todos os angolanos sejam ricos! E no mínimo que todos vivam na paz e na abundância. Ricos, remediados e pobres, todos em Angola estão apostados em conseguir esse objectivo. 
Nos últimos dez anos a pobreza caiu em Angola mais de 40 por cento. Até ao fim da actual legislatura, esses números vão ser ainda mais expressivos. A pobreza em Angola tem os dias contados. É por isso que os angolanos, dentro do espírito de amizade e solidariedade para com o Povo Português irmão, fazem grandes investimentos em Portugal. Recebem de braços abertos empresários e trabalhadores que em Angola querem governar a sua vida ao mesmo tempo que nos ajudam a resolver os muitos problemas que ainda temos.  É por isso que os cofres de Angola têm cada vez mais riqueza e o Estado Social é potente. No próximo ano, o Orçamento de Estado reforçou as verbas para a Saúde e Educação. Os especialistas dizem que ainda é pouco. Em 2014 temos de melhorar ainda mais nesses campos. 
A única coisa que dispensamos é a pobreza de espírito, a mediocridade de intelectuais ignorantes, as agressões por actos e palavras aos nossos dirigentes políticos, democraticamente eleitos e que são alvos de investigações e perseguições abusivas dos poderes em Portugal. Se os políticos angolanos da oposição forem agredidos, também os defendemos sem hesitar. Só excluo aqueles de quem as elites portuguesas se servem para atacar Angola e embaciar a sua imagem.
A pobreza em Angola está em forte queda, mas em Portugal, as elites políticas esvaziaram os cofres do Estado e estão a empobrecer os portugueses de uma forma que mete pena.
Lá, sim, é preciso investigar por que a pobreza está a aumentar e é preciso saber para onde foi o dinheiro dos portugueses. E é fácil. Basta saber qual era o património dos velhos políticos antes do 25 de Abril de 1974 e qual é agora. Quanto aos políticos mais novos, basta saber qual era o seu património antes de entrarem para a política e qual é agora. Os políticos e jornalistas portugueses devem deixar de usar o nome de Angola para esconder as suas traficâncias e os escândalos de corrupção que conduziram fatalmente à crise.
Lembro que em Portugal os governos também ofereceram os bancos nacionalizados a grandes empresários portugueses. O actual Governo ofereceu as “golden share” a privados, quando se sabe, pelo exemplo da Portugal Telecom, que elas eram extremamente valiosas. Espero que Pacheco Pereira se pronuncie sobre isso mas sem cair na sua dinamite cerebral, na calúnia e na mentira, como fez em relação aos angolanos.
Os seus parceiros de debate na Quadratura do Círculo são juristas sabedores, inclusive o moderador. Pergunte-lhes o que é o Direito à Inviolabilidade Pessoal. Pode ser que tenha mais cuidado com o que diz. Por fim, um conselho: leia o meu editorial sobre a manchete falsa do “Expresso”. Se o fizer não vai dizer que eu insultei e ameacei. Esse não é o nosso estilo. "

O que me admira é que, após a resposta que dei ao convite do Jornal de Angola na Quadratura do Círculo, que justifica este editorial, tenha caído um grande silêncio sobre essa matéria. Admirar, na verdade, não me admira. Agora ninguém pode  deixar de estar atento a este editorial do jornal que exprime as opiniões do governo angolano. Tudo nele é revelador e interessante. Merecia muito mais atenção, mas as coisas são como são. Ou melhor, as coisas estão como estão. Aqui dá-se-lhe atenção.

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27.11.12

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EARLY  MORNING BLOGS   
 
2278 -  A Poem of Unrest 


Men duly understand the river of life,
misconstruing it, as it widens and its cities grow
dark and denser, always farther away.

And of course that remote denseness suits
us, as lambs and clover might have
if things had been built to order differently.

But since I don’t understand myself, only segments
of myself that misunderstand each other, there’s no
reason for you to want to, no way you could

even if we both wanted it. Do those towers even exist?
We must look at it that way, along those lines
so the thought can erect itself, like plywood battlements.


(John Ashbery)

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25.11.12


ESPÍRITO DO TEMPO:  HOJE
 

 
Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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© José Pacheco Pereira
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