ABRUPTO

1.12.12



ÍNDICE DO SITUACIONISMO: A LIBERDADE DE IMPRENSA CAPTURADA 

A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Alguém  me explique,-  não que eu precise, mas outros sim, - o silêncio absurdo e muito, muito preocupante, da nossa comunicação social (incluindo blogues e "redes sociais") face aos sucessivos artigos do Jornal de Angola, orgão do MPLA e do governo, sobre Portugal e os portugueses. E o silêncio do governo, o silêncio dos comentadores, e o silêncio do silêncio. Eu e outros somos sujeitos a insultos pessoais miseráveis, mas isso é um pequeno preço a  pagar para provocar um debate público sobre o que se está  a passar e a "captura" da nossa liberdade pública pelos interesses coligados do dinheiro de cá, com o dinheiro de lá. Como os insultos, as ameaças (que também há) e a baixaria generalizada não me intimidam, aqui vai exemplo de um Rui Ramos que escreve no Jornal de Angola sobre os portugueses:

O povo português é tradicionalmente um povo pobre, povo de olhar o chão para ver se encontra centavos, tostões ou cêntimos. Mas de repente votou num poder que lhe abriu as portas do paraíso artificial. Desatou a contrair empréstimos para comprar primeira, segunda e terceira habitação, carros para cada membro da família, computador para cada membro da família, cão para cada membro da família, um telemóvel por cada operadora para cada membro da família.
Os bancos fizeram o seu trabalho de casa, deram empréstimos a cada membro da família, deram cartões de crédito, cinco para cada membro da família, até bebé tem cartão de crédito e empréstimo bancário em Portugal.
Narizes empinados, até pareciam ricos. Parecia que estavam a crescer, a subir. Tinha até motorista de autocarro 463 que não parava na paragem quando trabalhadora cabo-verdiana tocava. Trabalhar para pretos?
Menina mais castanha era chamada de “suja”, vai para a tua terra. Presidente da Câmara de Lisboa apanhou sol desde os tempos dos avós e muitas pessoas chamavam-lhe “o preto da Câmara”. Gostam muito de chamar “pretinho”, gostam mesmo.
De repente acabou a teta da loba, secou, voltou ao que era, como sempre foi: país muito pobre. Quase dois milhões no desemprego para o resto da vida. Prosperam negócios ilegais, nas cervejarias trafica-se droga na cara da polícia, à luz do dia assaltam-se pessoas e supermercados impunemente, a polícia diz que não pode fazer nada.
Então chegam notícias, não de Preste João, mas da teta angolana: tem leite enriquecido.
Chiu, não chama mais preto, eles não gostam e não te dão visto. E então a procissão de nossa senhora da esperança avança para Alcântara, enche o passeio como uma jibóia. Marcam lugar, vão rápido no bar, menina, uma bica bem escura, eu não sou racista. Na bicha só se ouve “eu não sou racista, nunca fui, eu nunca chamei preto a ninguém, acho que me vão dar visto…
Esses são os desgraçados, arruinados, miseráveis de um país no abismo. Outros vivem desses. Os candongueiros, os fugitivos dos impostos, mas também os intelectualóides que já foram paridos com um livro na mão. Passam lá de madrugada quando voltam para casa e ao verem aquela bicha espumam como cão vadio, põem cara de podre e murmuram “pretos da merda”, passam na bicha e trombeiam “aquilo lá é uma ditadura, os chineses comem pessoas…”.


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© José Pacheco Pereira
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