ABRUPTO

1.12.12


ESQUERDA MOLE, ESQUERDA DURA E ESQUERDA VIOLENTA (4): A DURA


7. A esquerda dura é o PCP e a CGTP e é composta por um contínuo social e político muito consistente e entretecido. Tem uma história, tradições, famílias e identidade. Tem uma base social com muito maior homogeneidade do que o PS e o BE e essa base social está em grande parte organizada no partido e nos sindicatos por mecanismos de enquadramento e mobilização. Não há nada de semelhante em qualquer outro partido, e a comparação que fazia sentido com o PSD do passado, já não tem sentido para o PSD do presente. 

8. A direcção de Jerónimo de Sousa trouxe um ainda maior reforço de identidade, levando o PCP pela primeira vez na sua história a fazer manifestações como partido e não disfarçado de CDU, ou de qualquer outro rótulo “unitário”. Jerónimo não suscita o respeito reverencial de Cunhal, mas também não reproduz o seu afastamento aristocrático, não desejado mas real. Jerónimo é “um deles”, próximo e igual, que transporta consigo o mundo da base comunista como ninguém o fez nunca na história do PCP, a que acrescenta a força e a empatia gerada por ser o único líder político que no parlamento fica genuinamente indignado com a sorte dos “seus” e dos portugueses. É por isso que ele pode sair á rua e ser recebido com estima, por muitos que não são comunistas, mas que reconhecem a sua genuinidade. E também por isso travou a crise do PCP, embora não a tenha resolvido. Mas é um facto que o PCP sobreviveu melhor à crise do que muitos outros partidos europeus, e é impossível falar da esquerda activa e que existe sem falar do PCP. Em França, o PCF, por exemplo, é muito irrelevante. 

9. Mas o PCP ao reforçar a identidade está a acentuar o seu acantonamento, as suas fronteiras e limites. Usa e abusa da linguagem de pau, como é o caso da designação canónica do acordo com a troika de “pacto de agressão”, e tendo a parte de leão na resistência organizada ao governo, das vaias às greves, parece ter atingido uma barreira de crescimento que a prazo se revelará como impotência. 

10. A CGTP tem resistido á crise melhor do que a UGT, perdida nas suas contradições. Mas a CGTP com a sua nova liderança, - que é um erro considerar incapaz,- tem tido também como reflexo do PCP, um processo de auto-afirmação sectária, que lhe pode dar capacidade de organização, mas que dificulta a mobilização. Não se compreende do ponto de vista da eficácia, por exemplo, da greve geral, que a CGTP não apareça genuinamente interessada em obter a adesão dos sindicatos da UGT. Pode-se dizer que muitos vão aderir, mas o impacto de uma greve conjunta das duas centrais seria maior. No actual contexto de contínuas humilhações à UGT, seria difícil, face a um esforço de entendimento e consulta efectivo, a sua direcção recusar uma greve em que os interesses de alguns dos seus principais sectores sindicais, função pública, banca, seguros, são dos mais afectados pelas medidas do governo. 

(Continua.)

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© José Pacheco Pereira
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