ABRUPTO

1.12.12


ESQUERDA MOLE, ESQUERDA DURA E ESQUERDA VIOLENTA (5): E A VIOLENTA


11. Existe hoje uma esquerda violenta e essa esquerda está a recrutar nos filhos da classe média radicalizada. Seria de estranhar que assim não fosse. As divisões no BE, com a criação do Movimento Alternativa Socialista, mais radicalizado, e alguns movimentos de aliança entre franjas do BE, jovens comunistas “leninistas”, trotsquistas desirmanados, no Movimento Sem Emprego, jornais e revistas como Rubra, várias páginas do Facebook, alguns neo-anarquistas, estão a dar origem aos grupos que ficam no fim das manifestações diante dos polícias a ver se há pancada. 

12. Os comunistas desconfiam deles, que acham demasiado folclóricos para seu gosto, e compreendem o efeito perverso da simulação simbólica da violência para as câmaras verem, sem consequências. Com máscaras do Guy Fawkes, lenços palestinianos a cobrir a cara, parkas a esconder a cabeça e muto arremedos diante dos polícias, derrubando as barreiras que já se percebeu, pelo comportamento da policia, não é considerado motivo para carga, e ficando ali a provocar com petardos e garrafas de cerveja, diante dos robocops, acabam por prestar um péssimo serviço à violência revolucionária que pretendem encenar. Um bom português, amigo dos forcados amadores, dirá “se eles vão lá para a porrada, por que é que não andam á porrada? Parecem aqueles que dizem “segurem-me senão vou-me a eles, e não vão.” 

13. O que se passa no conjunto de todas as esquerdas, moles, duras e violentas é a sua enorme divisão não só estratégica, como táctica. As suas ideias são diferentes, as suas práticas são diferentes, os seus motivos são diferentes. Enormes diferenças geracionais, de estilo, cultura política e acima de tudo, de condição social, pesam sobre esta desunião de forma até agora decisiva. Não podem mobilizar a gigantesca força latente que a crise gerou, - a recusa populista dos partidos e a raiva contra os políticos, - e por isso acantonam-se nos seus territórios entre a nostalgia e encenação. Vão acabar por votar Seguro contra Passos Coelho, e é difícil encontrar destino mais irónico para a esquerda portuguesa.

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© José Pacheco Pereira
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