ABRUPTO

9.1.10

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COISAS DA SÁBADO: POR FALAR EM PRESSÕES



Anda por aí uma enorme pressão para que os partidos da oposição, a começar pelo que verdadeiramente conta, o PSD, votem o Orçamento de Estado como os analfabetos, assinando de cruz, ou como os analfabetos funcionais, sem o ler, e permitam assim a salvação da pátria sem problemas. Aliás essa pressão vai até mais longe; a habitual amálgama das “forças vivas” quer que o PSD diga desde já que vai “viabilizar” (interessante palavra) o Orçamento, mesmo que nada se saiba sobre ele. Os argumentos são a estabilidade política, e o dar ao PS “a possibilidade para governar”.

Em todos os casos, estas pressões são agnósticas quanto ao conteúdo do Orçamento. Elas querem “viabilização” mesmo que o Orçamento possa ser uma série de mentiras pegadas, desorçamentações de que só se voltará a falar quando o Tribunal de Contas o disser, tarde demais, descontrolo das finanças públicas e sanção (e dinheiro) para uma política de “investimentos públicos” que é o dada do Primeiro-ministro. Ou seja, assinem já, quanto mais depressa melhor, seja o que for que lá venha, em nome dos altos desígnios de salvar a economia, controlar o défice, pôr em ordem as contas públicas, defrontar a dívida, mesmo que o Orçamento nada tenha a ver com essas intenções salvíficas e prolongue todas as políticas que estão erradas há muitos anos e nos meteram no buraco em que estamos metidos.

Se Portugal não fosse o que é, e a poderosa coligação de interesses, socialismo de estado, incompetência e impotência e muito dolo misturado com muita ingenuidade, não existisse, do gabinete do Primeiro-ministro às redacções dos jornais, talvez valesse a pena inflectir as pressões para aquilo de que nunca se fala: o conteúdo do Orçamento. E que tal pressionar o PS e José Sócrates, a deixar-se de megalomanias tecnocráticas e do betão armado, para tentar começar a combater a dívida, a tentar diminuir as despesas do estado que ele pensa serem “keynesianas”, a concentrar os recursos nos que deles mais precisam, a começar pelos desempregados, em vez de políticas universais e gratuitas, que apenas favorecem quem menos precisa, a baixar os impostos, a inflectir do estado gigantesco para uma economia melhor, libertando recursos, etc., etc.

Não é isso o programa do PS “sufragado pelos eleitores”? Se calhar não é, mas se é este o argumento, também não é isto que estava no programa eleitoral do PSD, pelo que dar caução a políticas de desastre também não é aceitável. Vamos ver o que vai sair dali, e só então decidir e, se há quem queira legitimamente que não haja uma crise política, então pressionem o governo para que dali saia alguma coisa minimamente aceitável. Essas pressões é que são positivas no actual contexto porque se exercem no sentido certo e com o alvo certo.

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EARLY MORNING BLOGS

1718 - Do Mero Ser

A palmeira, onde a mente acaba,
Para lá do último pensamento, ergue-se
Na distância do bronze,

Um pássaro de penas douradas
Canta na palmeira, sem sentido humano,
Sem sentir humano, uma canção estrangeira.

Então tu sabes que não é a razão
Que nos faz felizes ou infelizes.
O pássaro canta. As penas brilham.

A palmeira ergue-se à beira do espaço.
O vento move-se nos ramos lentamente.
Pendidas, oscilam as penas do pássaro ornadas de fogo.

(Wallace Stevens, tradução de João Ferreira Duarte)

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8.1.10


PONTO / CONTRAPONTO

- 12

Aqui.

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COISAS DA SÁBADO: ÉTICA REPUBLICANA



A expressão “ética republicana”, uma imitação francesa que era raramente usada entre nós, começa a tornar-se demasiado comum e, sendo assim, ganha em ambiguidade e em sentido perverso. Quando ouvi Cavaco Silva usá-la na sua mensagem de Ano Novo, como se fosse a coisa mais natural do mundo, mesmo descontando que o Presidente vai ser mais “republicano” em ano de celebrações do aniversário da República, pareceu-me demais. E pareceu-me demais porque usada como está a ser usada, a expressão tem dois efeitos perversos: por um lado, associa a ética ao “republicanismo”, o que na prática significa o nosso “republicanismo” jacobino, anti-clerical, autoritário, intolerante; e por outro, desqualifica a ética que não precisa de qualificativos. Ora como nós precisamos de ética como pão para a boca, e como ela deve vir dos homens públicos, como “virtude” no sentido romano, melhor do que o “republicano”, estar a qualificá-la de uma forma redutora, enfraquece a ideia geral de que é o serviço do bem público o sentido essencial da ética na acção política democrática.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1717

"It is ... the task of criticism to establish principles; to improve opinion into knowledge; and to distinguish those means of pleasing which depend upon known causes and rational deduction, from the nameless and inexplicable elegances which appeal wholly to the fancy, from which we feel delight, but know not how they produce it, and which may well be termed the enchantress of the soul. Criticism reduces those regions of literature under the dominion of science, which have hitherto known only the anarchy of ignorance, the caprices of fancy, and the tyranny of prescription."

(Samuel Johnson)

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7.1.10


ESPÍRITO DO TEMPO: NESTES DIAS



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)





Noite de Reis em Lisboa. (MJ)

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5.1.10


EARLY MORNING BLOGS

1716 - Destiny

They deliver the edicts of God
without delay
And are exempt from apprehension
from detention
And with their God-given
Petasus, Caduceus, and Talaria
ferry like bolts of lightning
unhindered between the tribunals
of Space and Time

The Messenger-Spirit
in human flesh
is assigned a dependable,
self-reliant, versatile,
thoroughly poet existence
upon its sojourn in life

It does not knock
or ring the bell
or telephone
When the Messenger-Spirit
comes to your door
though locked
It'll enter like an electric midwife
and deliver the message

There is no tell
throughout the ages
that a Messenger-Spirit
ever stumbled into darkness

(Gregory Corso)

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4.1.10


VOLATILIDADE


O fim do ano de 2009, que erradamente é tratado como o fim de uma década (o que é que os jornais farão no fim de 2010, quando a década acaba mesmo?), suscita os habituais balanços e previsões. Perguntado por um amigo sobre o que vai acontecer em 2010, eu respondi que tudo podia acontecer. O comentário dele foi "pareces o Professor Karamba a responder sobre quem ganha o campeonato, é o Benfica, mas também pode ser o Porto ou o Sporting". Eu acrescentaria ao sábio, ou o Pevidém Sport Clube. É isso mesmo, a ciência sobre 2010 é do tipo da do Professor Karamba, tudo pode acontecer, a mais certeira de todas as previsões. Vou por isso acertar de certeza.

Pode cair o Governo? Pode. A qualquer altura, amanhã mesmo, daqui a uma semana, basta acontecer outro daqueles que o PS amavelmente chama "romances judiciais", o Freeport, a Face Oculta, etc. Aparece um novo "romance judicial" e o copo não aguenta outra gota e entorna.

Cai porque quer ou sem querer? Pode ser por vontade e cálculo ou por desespero e raiva. Pode cair porque José Sócrates pensa (ia colocar o PS em vez de Sócrates, mas hoje escrever o "PS pensa" é uma contradição nos seus termos) que indo a eleições sai de lá com uma nova maioria absoluta, ou, porque, voltando ao ponto anterior, um qualquer escândalo ou o desenvolvimento de um qualquer "romance judicial" o faz cair com fragor e ranger de dentes.

E pode cair por muito mais coisas: conflito grave com o Presidente da República ou com a Assembleia da República. Pode começar por uma pequena coisa, aparentemente inócua ou inocente ou descuidada, e depois avolumar-se dia após dia até chegar a um impasse ou a um medir de forças em que não há outro remédio senão dissolver a Assembleia ou substituir o Governo e o primeiro-ministro por outro. A bizarra sucessão de prazos em que pode ou não haver dissolução ainda complica mais a questão, mas não lhe altera o fundo.

Pode tudo correr "normalmente"? Também pode, por muito pouco provável que pareça. O complexo sistema de interesses presente no topo dos dois partidos, PS e PSD, pode tomar conta da situação e dar origem a uma direcção do PSD complacente com o PS e que desenvolva com ele um casamento de conveniência que, como se sabe, é mais estável dos que os de amor. O peso da "responsabilidade", essa palavra tenebrosa em política democrática, pode gerar uma pasta suficientemente pastosa, perdoe-se o pleonasmo, para que ambos os partidos se entendam na cegueira. Para isso, Sócrates pode ficar, mas Manuela Ferreira Leite - ou alguém semelhante - tem que ser rapidamente excomungada e remetida para as trevas exteriores para que, com grande alívio do PS e das "forças vivas da nação", do BES à Mota e Companhia, passe a haver uma "oposição responsável". O tumulto será adiado, mas não evitado, e como é só de 2010 que falo, ficará mais para a frente.


Pode aparecer um populista que vire tudo ao contrário e cujo "carisma" (palavra que a ignorância dominante pensa retratar uma virtude) subverta o "sistema"? Poder, pode, mas é pouco provável. Os populistas que nós conhecemos têm exactamente esse inconveniente, é que já os conhecemos. Há dois ou três, mas não se está a ver qualquer entusiasmo que leve os descamisados a vitoriarem-no numa praça qualquer, ou a marchar com ele sobre Roma. Os militares também já não andam de cavalo branco, impecáveis na sua farda número um. Populismo temos, bastante até e reforçando-se todos os dias, até no voto tribunício, mas populistas eficazes não há.

Mudança política? Há no verbo, não há na acção e, mais do que isso, dificilmente pode haver, porque vontade de mudar existe pouca. Há muita conversa sobre a mudança, muita retórica, mesmo muita zanga a pedir mudança, mas quando mudar significa mesmo mudar, com o cortejo de dificuldades que a mudança trás, ninguém a quer, ninguém está disposto a dar-lhe o seu voto. O eleitorado mudou desde o 25 de Abril com o seu voto as coisas duas vezes: uma, com a vitória da AD, e outra, com a primeira maioria absoluta de Cavaco Silva. Depois fez dois pequenos ajustamentos: elegeu Guterres para se apaziguar, ou seja, evitar que houvesse novas mudanças, e elegeu Sócrates porque não queria Santana Lopes, foi uma coisa pessoal e intransmissível, mas nem num caso nem noutro se pode falar de mudanças. Com a AD e com Cavaco em 1987, os eleitores tinham esperança e queriam mesmo mudar as coisas. Sabiam que os governantes que escolhiam não iam deixar as coisas como estavam, arriscavam políticas novas. Muito significativamente a vontade de mudança mais funda do eleitorado foi sempre a favor da direita e do centro reformista, até porque se fazia não apenas contra o PS, o PCP e o MFA (na AD), ou contra o PS e o "bloco central" (em 1987), mas a favor de rupturas de todo o tipo, institucionais, económicas, sociais e políticas, e contra tudo, a comunicação social e o establishment.Hoje, não se vislumbra em lado nenhum qualquer genuína vontade de mudança, o que também se compreende: o eleitorado está demasiado conservador e estatista, porque se agarra ao pouco que tem e não o quer perder. Mais até do que os partidos políticos, onde pode haver forças de mudança, demasiado minoritárias na actual conjuntura, por causa da conjuntura, os eleitores protestam ruidosamente, mas são no essencial muito prudentes, vivem totalmente no presente e assim não há futuro. Mas, como no futuro estamos todos mortos, mais vale o presente precário e remediado do que nada. E se for preciso hipotecar o futuro, como estamos a fazer todos os dias, porque não?

O que é que muda isto? Só vejo uma circunstância e não é brilhante: é o futuro bater-nos à porta mais cedo. Foi o que aconteceu aos argentinos, que acordaram numa bela manhã sem moeda e sem economia, e aos islandeses ou aos gregos, que tinham a bancarrota anunciada no Financial Times. Há outras versões menos economicistas deste futuro, mas igualmente pouco amáveis. Há o conflito social a descambar na violência. Há a possibilidade de a violência aparecer na vida política.


A ideia de que os actores políticos controlam o processo político é das ideias mais erradas que por aí circulam. Há demasiado ruído circulante e esse ruído não vem só de dentro da "classe" política. Esse ruído é um eco, por si só não levaria a nada. O ruído também não vem do "povo", por muito que haja um levantamento de cansaço (mais de cansaço do que indignação até agora) quanto à "situação". Não havendo populistas disponíveis na próxima esquina e tropas sublevadas, o ruído do "povo" fica pelos telefonemas ao Forum da TSF e a outros fora semelhantes, e no voto do protesto no BE e no PP. Mas também não é daí que vem o enorme ronco que nos confunde a todos.

O verdadeiro estrondo, o silvo agudo, o ribombar de todos os céus, vem de um Portugal encalhado em vários recifes, um pobre Titanic sem orquestra. Um Portugal com uma economia cada vez menos competitiva, com uma dívida que ninguém sabe como se vai pagar, com o drama social gravíssimo do desemprego, com um Estado que gasta metade do que se produz e por isso impede a economia de crescer, com corrupção generalizada, com partidos políticos desacreditados e encurralados, com uma comunicação social superficial e pouco independente do poder, com um povo cansado e desesperado, com uma elite demasiado confortável nos seus medos e nas suas ilusões, ou seja, o ruído e os seus múltiplos ecos vêm de uma profunda crise nacional, a maior desde 1974. O capitão em funções pensa que pode escapar aos recifes acelerando o navio e rasgando ainda mais o casco. E manda tocar a orquestra que não há.

O que há é demasiada volatilidade, esta é a única previsão certa.

(Versão do Público de 2 de Janeiro de 2010.)

*
(...) li o seu artigo de hoje no Público e agradou-me, como é natural, logo a primeira frase, na qual faz notar que esta década só termina no fim de 2010.

(José Carlos Santos)
*
Escrevo-lhe para deixar uma pequena nota a respeito de um pormenor que escreveu no seu texto de hoje ("Volatilidade"). Trata-se da questão de 2009 não ser o final de uma década, um tema que tenho visto referido em mais sítios, e que julgo ter origem na discussão que houve em torno da última passagem de século/milénio, mas que não julgo ser aplicável ao conceito de década tal como é comummente entendido.

Uma década é um intervalo de 10 anos, qualquer que seja, tal como um século são 100 anos ou um milénio 1000 - até aqui julgo que estaremos de acordo. Por questões práticas para referenciar séculos ou milénios, intervalos relativamente longos de tempo, convencionou-se usar uma numeração ordinal, começando no primeiro século ou milénio e contando a partir daí. Ora, não tendo havendo ano zero, então o século I (tal como o primeiro milénio) começou em 1 e terminou em 100 (de 1 a 1000 o milénio) - foi isto que gerou confusão no ano 2000, que foi erradamente apontado como o primeiro do novo século/milénio.

Ora, no caso das décadas, não se usa essa numeração ordinal - não se diz, por exemplo, que a 1ª Guerra Mundial teve lugar na 192ª década, embora seja de facto a 192ª década desde o ano 1. A convenção que existe (provavelmente não escrita, mas por uso) é referir uma década como um período entre um ano terminado em zero e o ano terminado em nove seguinte - por exemplo, a década de sessenta do século passado (ou "os anos 60") são os anos 1960-1969. Nesta terminologia, os anos 2000-2009, são uma década no sentido comum do termo, à qual os ingleses chamaram "the noughties" (para nós é mais difícil arranjar um termo - os 'anos zero'?).

A frase que o Pacheco Pereira ("O fim do ano de 2009, que erradamente é tratado como o fim de uma década") seria sempre formalmente incorrecta, visto que qualquer ano é o fim de uma década, se a entendermos no sentido formal de intervalo de dez anos. Mas mesmo no sentido corrente do termo, não está certo, a menos que se queira referir à contagem ordinal de décadas, que está longe de ser um conceito corrente.

(Bruno Espadana)

*
É nas pequenas coisas que (também) se confirma a preocupação em respeitar a verdade dos factos.
Neste momento os jornais e TV’s afadigam-se a fazer os mais diversos balanços da 1ª década deste século. Faço no entanto notar que a década só acaba no final de 2010 e não de 2009 como a generalidade da imprensa (e já agora das pessoas) assume. O assunto pode ser facilmente consultado e confirmado. O erro, aliás, já vem de trás, quando se considerou o ano 2000 como o primeiro do século XXI e do 3º milénio, sendo que na realidade isso só aconteceu com 2001.
Isto é assim pela mesma e simples razão de que quando uma pessoa conta uma dezena ou uma centena de ovos o ovo nº10 pertence á primeira dezena e o 100 à 1ª centena.

(Fernando Gomes da Costa)

*

Num artigo (“VOLATILIDADE”) que aborda questões fundamentais para Portugal, é sintomático que os comentários (pelo menos os que JPP dá relevo) sejam os relativos ao pequeno-grande detalhe do culminar ou não de uma década.

E, incorrendo eu no mesmo enfoque (talvez porque já farto de “questões fundamentais” - quem quer ouvir falar mais nesses assuntos…), aqui vai o meu contributo para a confusão.

Muito se pode dizer com base na ciência e na história sobre a chamada questão do milénio. A discussão é profunda, detalhada e como em tudo, a roçar o fanatismo de algumas posições.

A Humanidade, como sempre, resolve o caso à sua maneira, por costumes e por convenções, com base na ciência e na história, usa o que mais lhe dá jeito. É por isso que usamos uma base decimal para contar e não a logarítmica (que dá muito mais jeito e situações de alguma complexidade) ou uma de base 11 que não dá jeito nenhum. Ainda que com uma razão científica por trás, a convenção é quase sempre adoptar o que mais facilita. É o caso dos milénios, séculos, décadas, dos seus usos e costumes.

Para resolver um problema científico e técnico adoptou-se (convencionou-se) um calendário de base astrológica adoptado por vários países (ISO 8601) que reconcilia usos e costumes e facilita a vida a todos.

Uma boa síntese da discussão (vale o que vale e deve ser visto sempre crivo crítico e dúvida metódica) pode ser encontrado na versão inglesa da Wikipédia sobre o inicio/fim do milénio e século, mas também sobre o uso da década. Sugiro a versão inglesa, pois é, usualmente, mais vigiada a alterações deturpadoras, mais explícita quanto a questões e posições distintas no debate de posições e também mais esclarecedora.

É tudo uma questão do referencial usado. Neste momento, usando o referencial astronómico (ISO 8601) em vez do calendário gregoriano (que contém erros na sua contagem, como hoje é sabido…) o Milénio começou no ano 2000, o século idem e a chamada década (como referido, usada também para designar períodos consecutivos de 10 anos, independentemente do ano inicial) ibidem.


Claro, podemos sempre usar um qualquer calendário dos ainda em uso…


(Manuel João Bóia)


PS Em nada se justifica a ligeireza com que os media abordam estes assuntos. Bastava um pequena nota editorial nas referências do seus respectivos sites (como para o uso ou não do acordo ortográfico, regras de conduta, etc., etc.) esclarecendo qual a convenção que usam e porquê. Mas, como outras, para quem é que isso importa nos media… As regras hoje só atrapalham…

*

O seu leitor Manuel João Bóia teceu comentários à questão da mudança de década com algumas imprecisões, que gostaria de assinalar. Comecemos pelo standard ISO 8601. Este não é, de maneira nenhuma, «um calendário de base astrológica» (presumo que fosse «astronómica» que o seu leitor tivesse em mente). É um standard sobre a maneira de se representarem datas, que nada tem a ver com o nosso calendário ser ou não de origem astronómica. Em particular, é falso que «usando o referencial astronómico (ISO 8601) […] o Milénio começou no ano 2000»; o ISO 8601 pura e simplesmente não se pronuncia sobre este assunto. Em segundo lugar, o nosso calendário continua a ser o gregoriano; desconheço quais sejam os «erros na sua contagem» a que se refere o seu leitor. Seja como for, o standard ISO 8601 e o calendário gregoriano são assuntos distintos; o primeiro ocupa-se, como já disso, de como representar as datas e o segundo de como contar a passagem dos dias. Podemos adoptar um e não o outro, podemos adoptar ambos ou podemos não adoptar nenhum.

O seu leitor também comentou que «usamos uma base decimal para contar e não a logarítmica». Mais uma vez, há aqui confusão entre dois tópicos de categorias distintas. Para já só há uma base decimal, pelo que seria melhor ter escrito «a base decimal». Além disso bases, neste sentido, têm muito pouco a ver com bases quando se fala de, por exemplo, «logaritmo na base 10». Finalmente, a ideia de que «uma de base 11 […] não dá jeito nenhum» não por onde se lhe pegue. A base 10 dá-nos mais jeito do que as outras porque somos ensinados a trabalhar com ela desde a infância e porque a nossa linguagem reflecte o facto de ser a base por nós empregue. Mas fora este factor não há grande diferença entre base 10, 11 ou 12, por exemplo. Aliás, existe mesmo uma organização (a Dozenal Society) que se dedica a tentar substituir o nosso uso da base 10 pelo da base 12. E os sumérios e os babilónios trabalharam em base 60 durante milénios, não se tendo dado mal com ela. Aliás, é por isso que os graus (em Geometria) e as horas estão divididos em 60 minutos e que os minutos estão divididos em 60 segundos.

(José Carlos Santos)

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (112):
O DR. FREUD EXPLICARIA


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

...mas é isto que está no Diário de Notícias em linha (às 10 horas de hoje) como se o seu "autor" fosse jornalista :
2010. Patrões apelam ao bom senso para travar instabilidade por ÂNGELO CORREIA, GESTOR, EX-MINISTRO DA, ADMINISTRAÇÃO INTERNA,

Ipsis verbis.

Mas o mais interessante é que este "autor" não é citado no editorial, que, como é habitual no Diário de Notícias, funciona em uníssono com as encomendas de opiniões, num "jornalismo" que procura as opiniões para sustentar as posições que previamente tomou:

Depois de muitos meses de campanha eleitoral, e após outros tantos de crispação política, o que é pedido agora ao Governo, à oposição e também a Cavaco Silva é simples: que tenham o bom senso de pensar, antes do mais, no futuro do País, deixando os mais primários cálculos políticos. Leia-se o que dizem Jorge Armindo, António Câmara, Pedro Gonçalves, Luís Filipe Pereira ou Diogo Vaz Guedes, e ver-se-á que todos falam do mesmo: que os políticos abram uma nova etapa com o novo ano e negoceiem, procurem soluções, encontrem consensos, para que Portugal possa encontrar uma saída adequada desta crise.

Dos empresários ouvidos todos estão identificados com as suas empresas ou com as empresas que gerem: António Pires de Lima, presidente da Unicer; Carlos Martins, presidente da Martifer; Filipe Soares Franco, presidente da Opway; Luís Filipe Pereira, responsável pela gestão da Efacec; Jorge Armindo, da Amorim Turismo; Henrique Neto, ex-presidente da Iberomoldes; Pedro Gonçalves, da Soares da Costa; António Câmara, presidente da Ydreams. Apenas Ângelo Correia foge à regra para ser apresentado como "antigo ministro de Cavaco, agora no mundo empresarial".


É, o demónio está sempre nos detalhes.

ADENDA: Verifico agora que o lapso foi corrigido, mas esteve em linha até ao início da tarde (última vez que verifiquei): Patrões apelam ao bom senso para travar instabilidade por Francisco Mangas


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ESPÍRITO DO TEMPO: NESTES DIAS



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1715 - The Hell-Bound Train

A Texas cowboy lay down on a barroom floor,
Having drunk so much he could drink no more,
So he fell asleep with a troubled brain
To dream that he rode on the hell-bound train.

The engine with murderous blood was damp
And was brilliantly lit with a brimstone lamp;
An imp, for fuel, was shoveling bones,
While the furnace rang with a thousand groans.

The boiler was filler with lager beer
And the devil himself was the engineer;
The passengers were a most motley crew—
Church member, atheist, Gentile, and Jew.

Rich men in broadcloth, beggars in rags,
Handsome young ladies, and withered old hags,
Yellow and black men, red, brown, and white,
All chained together—O God, what a sight!

White the train rush on at an awful pace—
The sulphurous fumes scorched their hands and face;
Wider and wider the country grew,
As faster and faster the engine flew.

Louder and louder the thunder crashed
And brighter and brighter the lightning flashed;
Hotter and hotter the air became
Till the clothes were burned from each quivering frame.

And out of the distance there arose a yell,
“Ha, ha,” said the devil, “we’re nearing hell!”
Then oh, how the passengers all shrieked with pain
And begged the devil to stop the train.

But he capered about and danced for glee,
And laughed and joked at their misery.
“My faithful friends, you have done the work
And the devil never can a payday shirk.

“You’ve bullied the weak, you’ve robbed the poor,
The starving brother you’ve turned from the door;
You’ve laid up gold where canker rust,
And have given free vent to your beastly lust.

“You’ve justice scorned, and corruption sown,
And trampled the laws of nature down,
You have drunk, rioted, cheated, plundered, and lied,
And mocked at God in your hell-born pride.

“You have paid full fare, so I’ll carry you through,
For it’s only right you should have your due.
Why, the laborer always expects his hire,
So I’ll land you safe in the lake of fire,

“Where your flesh will waste in the flames that roar,
And my imps torment you forevermore.”
Then the cowboy awoke with an anguished cry,
His clothes wet with sweat and his hair standing high

Then he prayed as he never had prayed till that hour
To be saved from his sin and the demon’s power;
And his prayers and his vows were not in vain,
For he never rode the hell-bound train.

(Anónimo.)

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3.1.10

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COISAS SIMPLES



(Cézanne.)

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EARLY MORNING BLOGS

1714

"It is common for those who have never accustomed themselves to the labour of inquiry, nor invigorated their confidence by conquests over difficulty, to sleep in the gloomy quiescence of astonishment, without any effort to animate inquiry or dispel obscurity. What they cannot immediately conceive they consider as too high to be reached, or too extensive to be comprehended; they therefore content themselves with the gaze of folly, forbear to attempt what they have no hopes of performing; and resign the pleasure of rational contemplation to more pertinacious study or more active faculties."

(Johnson)

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© José Pacheco Pereira
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