ABRUPTO

9.1.10


COISAS DA SÁBADO: POR FALAR EM PRESSÕES



Anda por aí uma enorme pressão para que os partidos da oposição, a começar pelo que verdadeiramente conta, o PSD, votem o Orçamento de Estado como os analfabetos, assinando de cruz, ou como os analfabetos funcionais, sem o ler, e permitam assim a salvação da pátria sem problemas. Aliás essa pressão vai até mais longe; a habitual amálgama das “forças vivas” quer que o PSD diga desde já que vai “viabilizar” (interessante palavra) o Orçamento, mesmo que nada se saiba sobre ele. Os argumentos são a estabilidade política, e o dar ao PS “a possibilidade para governar”.

Em todos os casos, estas pressões são agnósticas quanto ao conteúdo do Orçamento. Elas querem “viabilização” mesmo que o Orçamento possa ser uma série de mentiras pegadas, desorçamentações de que só se voltará a falar quando o Tribunal de Contas o disser, tarde demais, descontrolo das finanças públicas e sanção (e dinheiro) para uma política de “investimentos públicos” que é o dada do Primeiro-ministro. Ou seja, assinem já, quanto mais depressa melhor, seja o que for que lá venha, em nome dos altos desígnios de salvar a economia, controlar o défice, pôr em ordem as contas públicas, defrontar a dívida, mesmo que o Orçamento nada tenha a ver com essas intenções salvíficas e prolongue todas as políticas que estão erradas há muitos anos e nos meteram no buraco em que estamos metidos.

Se Portugal não fosse o que é, e a poderosa coligação de interesses, socialismo de estado, incompetência e impotência e muito dolo misturado com muita ingenuidade, não existisse, do gabinete do Primeiro-ministro às redacções dos jornais, talvez valesse a pena inflectir as pressões para aquilo de que nunca se fala: o conteúdo do Orçamento. E que tal pressionar o PS e José Sócrates, a deixar-se de megalomanias tecnocráticas e do betão armado, para tentar começar a combater a dívida, a tentar diminuir as despesas do estado que ele pensa serem “keynesianas”, a concentrar os recursos nos que deles mais precisam, a começar pelos desempregados, em vez de políticas universais e gratuitas, que apenas favorecem quem menos precisa, a baixar os impostos, a inflectir do estado gigantesco para uma economia melhor, libertando recursos, etc., etc.

Não é isso o programa do PS “sufragado pelos eleitores”? Se calhar não é, mas se é este o argumento, também não é isto que estava no programa eleitoral do PSD, pelo que dar caução a políticas de desastre também não é aceitável. Vamos ver o que vai sair dali, e só então decidir e, se há quem queira legitimamente que não haja uma crise política, então pressionem o governo para que dali saia alguma coisa minimamente aceitável. Essas pressões é que são positivas no actual contexto porque se exercem no sentido certo e com o alvo certo.

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© José Pacheco Pereira
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