ABRUPTO

8.1.10


COISAS DA SÁBADO: ÉTICA REPUBLICANA



A expressão “ética republicana”, uma imitação francesa que era raramente usada entre nós, começa a tornar-se demasiado comum e, sendo assim, ganha em ambiguidade e em sentido perverso. Quando ouvi Cavaco Silva usá-la na sua mensagem de Ano Novo, como se fosse a coisa mais natural do mundo, mesmo descontando que o Presidente vai ser mais “republicano” em ano de celebrações do aniversário da República, pareceu-me demais. E pareceu-me demais porque usada como está a ser usada, a expressão tem dois efeitos perversos: por um lado, associa a ética ao “republicanismo”, o que na prática significa o nosso “republicanismo” jacobino, anti-clerical, autoritário, intolerante; e por outro, desqualifica a ética que não precisa de qualificativos. Ora como nós precisamos de ética como pão para a boca, e como ela deve vir dos homens públicos, como “virtude” no sentido romano, melhor do que o “republicano”, estar a qualificá-la de uma forma redutora, enfraquece a ideia geral de que é o serviço do bem público o sentido essencial da ética na acção política democrática.

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© José Pacheco Pereira
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