ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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26.9.08
Se em Portugal se desse importância às coisas importantes, ou porque são mesmo decisivas para a vida da maioria das pessoas, ou porque são decisivas para o “ar” democrático que queremos respirar, a decisão da maioria socialista de acabar com o voto por correspondência dos emigrantes tinha tido certamente mais títulos nos jornais do que as irrelevâncias com que nos entretemos. O PS deu um péssimo exemplo de manipulação dos resultados eleitorais, dificultando o voto de comunidades de portugueses de que desconfia (têm a tendência absurda de votarem mais no PSD), dando assim uma machadada na participação eleitoral dos emigrantes por razões de pura contabilidade eleitoral. Levou uma reprimenda da Comissão Nacional de Eleições, que também se fez o possível por não ouvir, e o clamor que vai pela emigração contra esta medida do PS foi cuidadosamente ocultado pela RTP, que preferiu fazer uma entrevista a meia dúzia de emigrantes num café que diziam estar mais interessados na bola do que na política. Os emigrantes tinham sempre votado ou directamente ou por correspondência, e nunca desde o 25 de Abril isso tinha suscitado qualquer controvérsia, nem em Portugal, nem nas comunidades de emigração. O voto por correspondência, prática habitual em muitos países democráticos, para casos em que os seus nacionais não podiam votar presencialmente, sempre foi uma não-questão quer na emigração, quer em Portugal. A controvérsia tinha sido o voto dos emigrantes nas presidenciais, reivindicação das comunidades a que o PS também se opôs durante muitos anos. Porquê agora este surto de “transparência”? É fácil de explicar: o PS está preocupado com a sua maioria veio agora agitar uma necessidade de “transparência” e quer dificultar tudo o que lhe tire votos. Por isso, o PS em vez de melhorar o controlo do voto por correspondência, veio acabar com ele. Numa altura em que se assiste ao encerramento de muitos dos consulados esta medida deixa aos emigrantes a obrigação de, se quiserem votar, de fazer centenas de quilómetros até às urnas mais próximas, o que, como é óbvio, quase ninguém fará. Lindo serviço para associar ás palavras retóricas sobre a emigração. Como é óbvio vai sobrar para o Presidente da República, que não deixará de acautelar o facto de alterações em leis eleitorais com esta gravidade deverem exigir o maior consenso possível, assim como para os efeitos da lei no aumento da abstenção numa comunidade em que tudo o que favoreça a participação política é positivo e exigível. * Completamente de acordo com o seu "post" sobre a votação dos emigrantes. (url)
© José Pacheco Pereira
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