ABRUPTO

9.6.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
VOZES DE TIMOR E VOZES SOBRE TIMOR



JPP dixit: ADENDA: Por exemplo, ninguém se pergunta sobre o significado de "acantonar" a GNR num único bairro em Timor e o que isto significa de entradas de leão e saídas de sendeiro.

Queria só dar-lhe conta de que quando vi esta notícia o que me passou pela frente (embora nunca possa certamente vir a ter tão desgraçado e infeliz desfecho) foi a imagem dos nossos bravos do Corpo Expedicionário Português, enviados para as piores localizações e, em muitos casos, para a morte, para algo que duvido muito que tenha tido – em termos estritamente políticos – justo destaque na altura. Claro que nada de semelhante se passará agora, mas parece-me patente a intenção de nos dar algo para tratarmos que será certamente sempre complicado e, por outro lado, sempre pequeno.

A fama da GNR em Timor é muita, a capacidade será também certamente muita, mas haverá todo o interesse em que não brilhe…

(António Delicado)

*

Não saí de Timor-Leste.

E cá estarei apesar desta guerra de nervos. Todos os dias somos bombardeados por uma campanha sistemática que tem como único objectivo derrubar o primeiro-ministro.

Para nós, portugueses, praticamente que o nosso dia-a-dia é o mesmo. Mas as tragédias pessoais das famílias timorenses são assustadoras.

Vale tudo. Os boatos iniciais que resultaram no pânico colectivo da população, e que a levou a abandonar a capital, tentando parar todas as instituições; às declarações diárias do Ramos-Horta a manifestar a sua disponibilidade de ser Califa no lugar do Califa, vendendo o seu país aos invasores; os ataques dos governantes australianos ao governo; as manobras de certo corpo diplomático; as tentativas de virar os orgãos de soberania uns contra os outros; o apoio e a passividade das tropas australianas com os desertores e afins; os títulos da imprensa australiana; e as recentes provocações à Fretilin para que isto se transforme numa guerra civil. Enfim, vale tudo para desestabilizar e dar ao mundo uma imagem da necessidade de derrubar um governo que enfrenta os objectivos da Austrália na região.

Mas uma coisa é certa. A única pedra no sapato, o único obstáculo entre a ocupação de Timor-Leste pela Austrália, tem sido a imprensa portuguesa e o Governo português.

Patriotismos exarcebados ou não, é aqui que se tem feito resistência a um invasor arrogante e sem escrúpulos..

Fora de Díli, excepto nas vilas onde estão os ex-militares sustentados pelos militares australianos, as instituições funcionam, a polícia existe e a vida parece a mesma como há dois meses atrás.

Assisti à tentativa da missão da UN em evacuar todos os internacionais que apoiam os orgãos de soberania de forma a parar o país.

Assisti ao Ramos-Horta a ajudar os objectivos australianos numa campanha de auto-promoção ridícula, esperando eu ainda, que o esteja a fazer acreditando que é o melhor para o país.

Assisti incrédula à passividade das tropas australianas ao lado de jovens que incendiavam e que disparavam, assisti aos apelos desesperados de outros para os defenderem.

Assisti ao alegre convívio entre militares americanos e australianos, e os desertores.

Assisti aos pedidos de governantes ao comando australiano para que parasse a violência e defendesse a população sem qualquer efeito.

Assisti à tentativa do comando australiano em neutralizar capacidade que a GNR tem de acabar com os distúrbios nas ruas de Díli.

Assisti a muitos timorenses corajosos ficarem nos seus postos, onde agora vivem, por lhes terem sido destruídas as casa e tudo o que tinham.

Mas também assisti à resistência de muitos funcionários da UN e de outras instituições, na maior parte portugueses e brasileiros, que ficaram mesmo ameaçados que os seus contratos acabassem.

Assisti a muitos portugueses que no meio dos confrontos foram buscar amigos timorenses e os seus familiares, debaixo de fogo, já com uma presença de mais de 1.500 militares australianos que nada, nada fazem para evitar a violência.

Assisti a outros que tudo fizeram para mostrar ao mundo que estávamos à beira de um golpe de estado.

Outros que conseguiram travar a intriga entre o PR e o PM e que ajudaram a que se entendessem.

Assisti também, aos esforços de dirigentes da Fretilin em travar militantes desesperados que queriam vir defender o PM, que quer queiram quer quer não, foi eleito com larga maioria, e cujo partido há poucos meses, nas eleições locais, voltou a demonstrar que representa a maioria dos eleitores, com larga margem.

E assisto todos os dias ao empenho de muitos timorenses, portugueses e brasileiros, para que os orgãos de soberania, não deixem de funcionar como seria tanto do agrado do governo australiano que levou o país ao caos, sustentando e manipulando todos os grupos insatisfeitos que encontraram.

Exaustos, uns dias mais difíceis, outros com mais esperança. Fazemos tudo o que está ao nosso alcance para que a situação volte ao normal e que o país funcione.

Como sabe não votei no partido do Governo que elegeu o primeiro-ministro de Portugal. Nem alguma vez simpatizei politicamente com o nosso MNE.

Mas, aqui em Timor-Leste, em Camberra e em Nova Iorque, fez a diferença. Houve alguém no Palácio das Necessidades que se deu ao trabalho de reagir a tempo. Que nos ouviu. Que fez o que tinha que fazer. E que não escolheu o caminho mais fácil que seria o de abandonar os nossos aliados.

Como sabe, tanto se me dá o nome do país que consta no meu passaporte, não ponho bandeiras de Portugal à janela e nem sequer aí vou passar férias.

Mas o governo do meu país tomou a decisão correcta e está a ter sucesso.

E se alguém não compreende que, apesar de estrangeiros, nos sentimos em casa e que adoramos viver neste país, I could't care less.

Os timorenses compreendem. Ao lado deles resistimos, mesmo que alguém não nos considere politicamente correctos.

(M.)

*

Infelizmente mais uma situação que em nada dignificou o nosso país, com custos para a imagem da GNR em Timor-Leste.

Situação criada pela falta de preparação e insuficiência no campo das informações.

As Australian Defense Forces (ADF) seguem a doutrina NATO no que concerne ao emprego das suas forças. Isto é sabido pelos estados-maiores do nosso Exército e Força Aérea, pelo menos.

A doutrina NATO coloca grande ênfase na problemática do fratricídio, designado em linguagem NATO por “blue on blue”, expressão que ficou dos exercícios no tempo da guerra fria, em que o oponente era sempre “red” e as nossas forças “blue”.

Esta mesma doutrina foi aplicada durante a UNTAET e depois na UNMISET. Para evitar coordenações demoradas, complicadas e nem sempre seguras até pela diversidade de línguas dos diversos contingentes militares, o território de Timor-Leste foi dividido em Sectores. O Ocidental era comandado pela Austrália, o Central por Portugal e o Oriental pela Coreia do Sul. Mesmo dentro dos Sectores, cada escalão tinha áreas de responsabilidade definidas, de forma a poderem conduzir operações sem correrem o risco de abrirem fogo sobre tropas amigas. Para uma viatura militar de um Sector se deslocar a outro, tinha que preencher um “Road Space Request” definindo o itinerário, as horas, o propósito, os ocupantes da viatura, etc...

Na cidade de Díli esta situação não se punha porquanto a segurança cabia à polícia civil das Nações Unidas (CIVPOL), onde se integrava a Unidade de Reacção Rápida da GNR. Que na realidade era quem avançava sempre que havia confusão. O batalhão português cujo comando estava sedeado em Bécora suplementaria a GNR em caso de necessidade e a pedido desta.

Ora a situação presente é inversa. As ADF estão a fazer o policiamento da cidade e a GNR entra depois. E entrou logo em operação sem haver estabelecido o sistema de coordenação previamente. É do senso comum que não pode haver duas forças com armas a actuar na mesma área de operações sem a devida coordenação, ou então têm áreas de responsabilidade distintas. Hoje em dia não é aceitável enviar gente para casa em saco de plástico porque foi atingido por fogo “amigo”. A opinião pública não aceitaria tal. E é esse o argumento do comandante da Força Australiana para os tristes “equívocos”.

Bem sabemos (ou devíamos saber) que as ADF não iriam facilitar a vida à GNR. Já não o faziam em relação ao exército português durante a UNTAET e UNMISET, porque haviam de o fazer agora? A posição de princípio não mudou.

E o que a precipitação fez, foi dar às ADF razões para agirem como agiram.

E o governo lá teve que às pressas encontrar forma de salvar a face sem deitar tudo a perder. Mais uma vez a humilhação ficou para os homens da GNR. E agora vamos ver quanto tempo vai levar, se acontecer, para as ADF se retirarem de Díli e deixarem campo livre à GNR e à Polícia da Malásia. Como a Malásia vai ter mais polícias que a GNR, o comando unificado de polícia vai caber a......... Malásia, pois claro.

E as ADF só retirarão das funções de policiamento de Díli quando a Malásia tiver todo o seu equipamento e puder efectivamente comandar toda a acção policial. Até existir uma força policial das Nações Unidas. Porque aí, a Austrália vai querer ter também o Comando da força policial. Como aliás prevê o acordo Díli-Camberra.

Resta-nos a confiança no brio e preparação dos homens da GNR para conseguirem levar a cabo com honra e dignidade a sua missão.

É aqui que a impreparação (ignorância) dos nossos jornalistas vem ao de cima. Não sabem fazer as perguntas certas aos responsáveis políticos. O mesmo jornalista tanto pode cobrir o funeral de Raul Indipwo, como o fogo florestal de Barcelos, como a seguir cobrir esta triste conferência de imprensa. E as perguntas pertinentes ficam por fazer.

(João Tavares)

*

Ouvi na TSF uma noticia sobre os deslocados Timorenses...
Porque não usar a palavra habitual: refugiados?
Não entendo a relutância de certa imprensa em motrar que os timorenses são um povo como outro qualquer: capaz do melhor e do pior.
Porque carga de água são deslocados e não refugiados? Se até o ACNUR já está a ajudar.

(Alberto Mendes)

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