ABRUPTO

7.2.06


DEZ ANOS DE COMMAND & CONQUER












Saiu hoje. É pena não ser um jogo novo, mas a compilação de dez anos de Command & Conquer, o meu jogo favorito, será bem-vinda.

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NOTÍCIA TRISTE

O encerramento da Sampaio Ferreira & Cª de Riba de Ave, uma fábrica que conheci bem dos meus tempos de antigamente.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
CONCORDÂNCIAS, DISCORDÃNCIAS E OUTRAS DÂNCIAS
(Actualizado)



NOTA: alguma correspondência enviada de fora de Portugal não tem acentos. Corrigi um ou outro caso, mas continua a haver missivas não acentuadas.

Ontem no prós e contras a meu ver foram ditas por verdades tamanhas mentiras.
Vamos aos argumentos.
Quando se afirma que a liberdade de expressão está acima de qualquer (direito de) indignação pelo o que é publicado, estamos a inverter o sentido da liberdade.
Quando se afirma que a liberdade de expressão custou muito sangue, estamos afirmar que a partir desta conquista tudo é viável...
O meu problema e, o nosso problema é limitar a liberdade. Ao dizermos que a minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro é dizer que nas nossas sociedades ocidentais a liberdade conquistou-se à custa da afirmação do ego e do alter e, acima de tudo, pelo respeito do outro.
Porque se afirmamos que podemos usar a liberdade, mesmo que isso provoque sofrimento ao outro (falta de respeito pelas suas convicções) em nome do valor da liberdade então, no limite, a indignação dos árabes para com as embaixadas ocidentais, pode ser uma expressão da sua liberdade.
Isto para dizer que todo valor terreno (liberdade) tem limites. Estes estão quando o projecto que cada um faz ou uma sociedade em direcção ao bem
(liberdade) provoca sofrimento no outro.
Assim, não compreendo como poderei ser livre se o queme possibilita ser livre atenta contra o alter.

(José Carlos Lima)

*

Uma coisa é a defesa do multiculturalismo e a especificidade de cada cultura/religião. Outra é a aceitação de fundamentalismos. E multiculturalismo, neste caso, não é apenas a aceitação de valores culturais muçulmanos por parte dos ocidentais, como muitas vezes se coloca a questão para não ferir susceptibilidades e para dar o ar de que somos tolerantes. E há que meter na cabeça que a religião muçulmana - ou os estados religiosos muçulmanos - não se pode sobrepôr a uma garantia que já existe há algum tempo no mundo ocidental, independentemente do que é dito sobre essa mesma religião. No entanto, o direito a defenderem-se e mostrar o seu desagrado também existe e está consagrado institucionalmente, e se o quiserem fazer, podem-no fazer. Mas não é isso que está a acontecer.

E se há coisa que por vezes muita gente não quer perceber é que existe liberdade de expressão, ponto. E aqui não pode haver cedências, independentemente de que se ache de mau gosto os cartoons. Pessoalmente, acho que alguns desses cartoons são de uma falta de senso e perfeitamente ridículos. E sou da opinião que da primeira vez que foram editados no jornal dinamarquês, houve um propósito político bem claro.
Contudo, independentemente de gostar ou não, de estar de acordo ou não, o que não posso criticar é um aspecto fundamental, que é o direito de publicarem aquilo que quiserem. Lembro-me da famosa frase de Voltaire: "Senhor, sou contra tudo o que vossa senhoria disse, mas defenderei até a morte o seu direito de dize-la"

Finalmente, pode-se discutir a forma de resolver este problema. Se por um lado temos a resolução através do apelo ao bom senso e a diplomacia como forma de apaziguar a fúria fundamentalista, por outro - e se estivermos dispostos a pagar um possível preço (ocorre-me de momento um aumento do petróleo e um ou outro atentado terrorista) - a solução passa pela publicação maciça dos cartoons em todos os jornais ocidentais durante um certo tempo, como forma de protesto e mostrar que a liberdade de expressão existe. Será uma provocação, sem dúvida. Mas ambas as vias são possíveis e aceitáveis.

(Tiago André Pereira)

*


O tema já é velho mas, numa sociedade globalizada como é a nossa actualmente, o problema desencadeado pelas caricaturas de Maomé (que incendiaram o mundo islâmico - qualquer coisa como 1300 milhões de pessoas!) faz-nos recordar que há certos temas que devem ser objecto de cuidados acrescidos, especialmente quando se pretende usá-los para fazer humor.

Aliás, foi precisamente essa a opinião manifestada há dias por Raúl Solnado na TSF quando, juntamente com António Feio e Ricardo Araújo Pereira respondeu à questão que Carlos Pinto Coelho colocou: «Pode fazer-se humor com tudo?».
Enquanto os dois mais jovens defenderam que sim, Solnado foi prudente e socorreu-se de um exemplo que - mal ele sabia! - pouco depois viria a revelar-se perfeitamente apropriado: «Com a religião é preciso cuidado...» - pois é algo que mexe com o «sagrado», terreno altamente melindroso em que o nosso direito de fazer humor pode facilmente esbarrar com o direito que os crentes têm de não ser agredidos nos seus sentimentos mais profundos.
Tudo dependerá, também, da assistência, pois uma graçola que, contada à mesa do café, faz rir três pessoas, pode, se publicada num órgão de informação de grande audiência, revelar-se explosiva.

Há uns anos, e devido ao excesso de alumínio na água, vários diabéticos morreram num centro de hemodiálise em Évora, facto esse que inspirou Carlos Borrego, à altura ministro do Ambiente, a contar em público uma anedota segundo a qual se podia obter alumínio reciclando os mortos.
Foi demitido, mas é bem possível que tenha pensado (como agora oiço dizer em relação ao caso que está a dividir o mundo) que apenas estava a exercer o seu sagrado direito de liberdade de expressão de pensamento. Imagino que tenha sido também o que pensavam os adolescentes que há dias, em Lagos, andavam a fazer graffitis em residências, lojas e monumentos... até serem detidos pela PSP.

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Nota 1- O nosso Código Penal prevê pena de prisão para quem cometa «ultraje por motivo de crença religiosa, quem PUBLICAMENTE ofender pessoa ou dela escarnecer em razão da sua crença ou função religiosa por forma adequada a perturbar a paz pública». No entanto, no caso em apreço, o recurso aos tribunias não teria qualquer efeito, visto que o pretenso crime não parece sê-lo no país onde foi "cometido".

Nota 2 - O jornal dinamarquês em causa recusou-se em tempos a publicar caricaturas de Cristo... porque seriam ofensivas.

Nota 3 - Neste caso não é possível o velho argumento «Gostavas que te fizessem o mesmo?» porque a nossa noção de "valores" está de rastos.
Veja-se, em Portugal, o achincalhar do Hino e da Bandeira - neste caso, até Mário Soares se permitiu "martelar" o Escudo, para fazer dele um coração foleiro - perante a total passividade do povo...

C. Medina Ribeiro

*

O
El Pais dá conta de que um diário Iraniano vai publicar cartoons sobre o Holocausto. Isto sim é uma provocação, porque não se trata de retratar a actualidade, mas sim enveredar numa lógica pueril de contra ataque. Já para não falar da manobra pouco subtil para meter Israel ao barulho.

De qualquer forma, como seria de esperar, nada que não estivesse já feito em países em que a liberdade de expressão é um direito consagrado, e que uma simples pesquisa no google images pode facilmente desvendar. Entre muitos outros aqui está um exemplo.

(Jorge Gomes)

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Um testemunho da Dinamarca (sem acentos):

Eu resido na Dinamarca (...) Em relação a polémica do Cartoon: esta situação é ainda mais inaceitável para quem conhece essas minorias árabes, nao-integradas, sem desejo nenhum de o fazerem e com a sua arrogância alimentada pela intransigência religiosa e a humilhação que sentem por, lá no fundo, se sentirem inferiores.


Esta questão veio levantar uma série de questões sobre nós próprios e sobre os muçulmanos:


1)Há uma ideia, de génese anti-americana, dos árabes serem vitimas. Não são. São sociedades improdutivas que se sustentam do petróleo, que Alá foi tão generoso em lhes dar a quase exclusividade, não lhes dando no entanto o engenho de inventar o automóvel. Sem Ocidente, a "Arábia" não seria a sociedade desenvolvida que nos vendem, seria sim algo muito primitivo. A Palestina ser pobre e Israel rico nao é prova de exploração mas sim de diferenças entre as duas culturas.


2)As recentes manifestações, tanto em Franca, como as de agora, vêem mostrar que a religião não só não permite o desenvolvimento das sociedades, com impede a integração destas pessoas quando emigrantes, criando tensões ainda maiores. Veja-se que são alguns dos muçulmanos emigrados na Dinamarca que promovem o actual conflito. A Dinamarca é dos, senão o, pais no mundo mais generoso para emigrantes, dando-nos possibilidades, apoio e oportunidades diferenciadas. Um exemplo: como emigrante tenho aulas (de qualidade) de dinamarquês de graça, a sala ao lado está cheia de dinamarqueses aprendendo italiano ou português à sua custa (e é bem caro).


3)A nossa liberdade de expressão, quão fundamental é? Se é tão fundamental assim, porque continuamos a não permitir escritos que mencionem diferenças entre povos, entre sexos, ou generalizadoras? Porque não permitimos a livre expressão ideologias a que chamemos "nazis"? Apesar de entender o ideal humanista que limita a liberdade de expressão, toleramos o comunismo, e não foi por isso que ficámos comunistas e que a revolução aconteceu. Se calhar estará na altura de revogar estas limitações.


4)O que é um cartoon? Bem, a verdade é que um cartoon é uma invenção ocidental para satirizar subjectivamente e assim fugir aos mecanismos de controle objectivos (leis) que nós implementamos na nossa sociedade. Suponho que terá nascido para fugir à censura. Não faz o mesmo sentido para um muçulmano, onde um líder pode decidir subjectivamente o que é mau ou não. Tomemos por exemplo o cartoon do Maomé de turbante explosivo. Por palavras, seria algo que relacionaria concerteza Maomé com atentados, os muçulmanos com terroristas. Na realidade, a descrição do dito cartoon poderia ser contra as nossas próprias leis que limitam a liberdade de expressão. Ja para a sociedade islâmica, um desenho é pior que as palavras.
No entanto, e embora isto tenha que ser levado em conta, este argumento não serve para desculpar os árabes, porque nos pedem que usemos a nossa "bondade" para eles, enquanto as suas sociedades usam de maldade para nós (vejam os cartoons abaixo, publicados em países árabes).

É o velho argumento de mulher ocidental que ande de calcoes e cabelo descoberto num pais arabe está a violar os costumes dos locais e deverá por isso ser violada vs a àrabe que tem o direito de nao mostrar a cara num país ocidental. Temos de ter cuidado e não dar tiros no pé.

5) Este último ponto é mais distante da polémica, mas parece-me extremamente importante. É acerca do que define a boa integração de emigrantes, que não é um tema lateral, mas sim central nesta polémica.
Postulo sem provas mas da observação que o que define a boa integração de um novo povo é a quantidade de elementos negativos no povo hospedeiro. Visualizando o que digo, imaginemos que desenhamos uma curva, de forma gaussiana, que representa a "boa cidadania", crescendo esta da esquerda para a direita. Um grupo de emigrantes árabes tem bons e maus, e se o desenharmos neste gráfico vai também gerar uma curva gaussiana ou parecida. Imaginemos agora dois povos hospedeiros, podendo estes ser o Inglês e o Dinamarquês. No povo inglês, há muitos alcoólicos, homens que não trabalham, vivem da segurança social, batem na mulher, berram com outros, e se envolvem em cenas de pancadaria com regularidade. Esta é a cauda da curva do povo inglês, do lado esquerdo da curva. Entram agora os imigrantes. A curva destes estará compreendida na do povo inglês. Os piores dos imigrantes talvez sejam tão maus cidadãos como os locais que referi, os melhores também não ultrapassarão o povo hospedeiro. Assim, não há razoes para grande discriminação, nem diferenciação económica, e não há tanta tensão entre locais e imigrantes.

Olhando agora para a Dinamarca, temos uma situação diferente. Comparada com a curva do povo inglês, a da Dinamarca está deslocada para a direita. Pelo menos na cauda da má cidadania. Na realidade, nao ha maus cidadãos neste pais. Não há violência. Não há crime. Assim, quando os imigrantes chegam, embora muitos se comportem como os locais, todos os novos maus cidadãos serão imigrantes. Isto gera ressentimentos justificados.
É verdade que nem todos os árabes são maus cidadãos, mas também é verdade que se não houvesse árabes, não haveria maus cidadãos (tal ja não é verdade em Inglaterra. Assim, sou de opinião que não são nem as politicas de esquerda, nem a generosidade do povo hospedeiro que dita a boa ou má integração. Muito pelo contrário, é a quantidade de maus elementos no povo hospedeiro).
Da mesma forma, vai haver um fosso económico entre os referidos "maus cidadãos" e o resto da população. Junte-se a isto os dinamarqueses serem dos povos mais evoluídos no mundo, e as suas qualidades não serem fáceis de perceber, para gerar entre os árabes uma grande humilhação e ressentimento, que vai alimentar a conversa da "discriminação" e os sentimentos religiosos.
A única forma de um árabe tem de se sentir "importante/superior" num destes países é, ou abandonar os ensinamentos dos seus pais e tentar imitar a civilização superior onde está, ou acreditar na religião que lhe garante ser superior por não beber álcool, bater na esposa, e afins...

(Rodrigo Gouveia de Oliveira)

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Se por um lado é compreensível a reacção do lado de lá quanto às caricaturas publicadas num jornal dinamarquês, do lado de cá só é compreensível esta reacção se usarmos na nossa análise a palavra MEDO. E se me pedissem para escrever um título que representasse os últimos acontecimentos, parafraseava José Gil e imediatamente escrevia Ocidente, hoje: O medo de existir, o medo de falar, o medo de ser livre.

Há duas análises possíveis em espaços diferentes. Do lado de lá, este foi um pretexto para encetar uma espécie de guerra religiosa entre dois lados profundamente antagónicos quanto ao modo de ver o mundo. Porém, o motivo não é puramente religioso mas sobretudo (ou talvez unicamente) político. Mas o modo de acção é que é religioso, primeiro porque lhes dá, na sua perspectiva, uma causa. Segundo, porque nessa causa tem de haver um inimigo e nós cumprimos quase na perfeição esse papel. Do lado de cá, as reacções dividiram-se entre aqueles que teorizam e filosofam sobre o conceito abstracto de liberdade de expressão e, dessa forma condenam a publicação dos cartoons, e aqueles que mantém a sua convicção de um mundo livre de censura, livre de fantasmas, simplesmente livre. Se por um lado devemos preocupar-nos com as reacções do lado de lá, é do lado de cá que precisamos de fazer um esforço muito grande de forma a compreendermos o que se passa nesta Velha Europa. E eu, muito honestamente, talvez pela minha tenra idade, não o consigo fazer sozinho.

Por outro lado, não deixa de ser curioso que, talvez culpabilizada pelo seu passado igualmente fanático e sanguinário, a Igreja Católica não tenha tido qualquer pudor em condenar a publicação dos cartoons. E talvez tenha sido a opção mais responsável, como gostam agora de dizer. Mas isso não implica que tenhamos de nos vergar perante o dogma. E já que falei em dogma, permita-me que diga que o conceito de liberdade religiosa é, per si, discriminatório. Senão vejamos. Eu sou ateu. Não acredito nem milito qualquer religião. Logo, para mim, a minha liberdade é desprovida de qualquer conspurcação dogmática. Partir do princípio que a liberdade religiosa se sobrepõe à liberdade de expressão, é discriminar-me, é discriminar todos aqueles que são ateus ou agnósticos, como preferirem.

O dogmatismo leva os homens a matarem-se mutuamente. François Jacob dizia que nada é tão perigoso como a certeza de se ter razão, que nada causa tanta destruição como obsessão duma verdade considerada absoluta. F. Jacob tem razão quando diz que, historicamente, todos os massacres foram cometidos por virtude, em nome da verdadeira religião, do nacionalismo legítimo, da política idónea, da ideologia justa; em suma, em nome do combate contra a verdade do outro. Tudo estaria bem se nos confortássemos com as nossas verdades e não fizéssemos questão de impô-las uns aos outros a qualquer preço. Tudo estaria bem se, do lado de lá, rezassem a Alá e do lado de cá rezassem ao Deus cristão. Tudo estaria bem se vivêssemos num mundo perfeito.

Mas não vivemos num mundo perfeito. E esta retracção do ocidente serviu apenas para mostrar o medo que revolve as nossas entranhas desde o 11 de Setembro e serviu também para mostrar que nos tornámos submissos e incapazes de lutar pela nossa liberdade. Perdemos esta batalha e devemos envergonhar-nos disso. Desta vez, o terrorismo não precisou de sair de casa. E o efeito foi precisamente o mesmo. O MEDO.

Vale a pena citar Agustina Bessa-Luís, in Antes do Degelo:

«O medo é o que impede que tudo o que chega às mãos dos homens não se torne em sua propriedade. Basta produzir uma impressão que não se pode explicar, inserindo no medo o desconforto da culpa. É assim que milhões de pessoas podem ser pastoreadas nas ribeiras da paz por muito poucas. E nas trincheiras da guerra por outras tantas, senão as mesmas.»

(Ricardo S. Reis dos Santos)

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(sem acentos)

Tive acesso ao seu blog e li algumas considerações sobre o assunto das caricaturas do jornal dinamarques. Sou filha de portugueses emigrados e vivo em Paris onde nasci. Em Franca sou sem duvida francesa, em Portugal sou uma portuguesa diferente. Gracas ao imenso esforco de meus pais consegui licenciar-me à ENST e tenho um emprego ainda provisorio como muitos estudantes aqui em Franca. O primeiro emprego esta dificil por todo o lado.
O que lhe queria exprimir da minha visao do que representa o Islao para quem, como eu, viveu durante muitos anos lado a lado com musulmanos e beurs. O que eu vivi nunca esquecerei, sei da forma de vida das minhas amigas musulmanas sempre reprimidas, das mães delas, pessoas de segunda categoria porque tiveram a infelicidade de nascerem mulheres e ainda sei dos apoios do estado frances as familias musulmanas. Meus pais nunca tiveram um apoio que fosse e minha educacao foi paga com o trabalho dos dois.
Ha um todo pequeno detalhe que todo o mundo parece nao ver ou nao querer ver, mesmo os que agora acham mal que alguem caricature o Islao sem perceber como se faz o Islam dos nossos dias. A leitura estreita do Islao a situacao das mulheres musulmanas est, para dar um exemplo, medieval.

Vou tentar traduzir bem algumas passagens do livro da musulmana Irshad Manji "Musulmane mais Libre": " Em Franca, os Musulmanos perseguiram na justica um escritor que declarou que 'O Islam era a religiao mais estupida do mundo'. Aparentemente tratava-se de uma incitation ao odio racial. Estamos aqui capazes de fazer valer os nossos direitos - coisa que na maioria dos países islamicos nunca poderiamos fazer. Mas este frances fez mal em escrever que o Islam precisava de crescer? Que pensar do incitamento ao odio aos judeus no Corao? Os Musulmanos que invocam o Coran para justificar o antisemitismo não deveriam, também, serem perseguidos pela justice? Ou seria ainda 'repression violenta'? O que faz que nos estamos no nosso bom direito de o que o resto do mundo seja racista? Com a nossa piedade sobre nos mesmos e os nossos silencios ostentatorios, nos, Musulmanos, conspiramos contra nos mesmos. Estamos em crise e queremos arrastar o mundo inteiro com a nossa crise." mais adiante: "Mesmo no Ocidente ensina-se correntemente aos Musulmanos que o Corao est a ultima manifestacao da vontade de Deus, que suplanta a da Torah e a do Novo Testamento. Como manifestacao ultima, o Corao est o texto 'perfeito' - que nao pode ser questionado, analisado ou interpretado. Ele nao pode ser senao acreditado." agora repare nesta parte: "O Corao lembra aos Musulmanos que eles nao sao Deus. E por consequencia os homens e as mulheres fariam bem de serem justos nos direitos que exigem uns a outros: (...) 'Honrem as vossas maes que vos carregaram. Deus observa-vos sempre.' O que parece estranho est que no mesmo capitulo - algumas linhas na frente - o Corao inverte completamente a corrente: 'Os homens tem autoridade sobre as mulheres porque Deus fez os homens superiores as mulheres e porque os homens gastam as suas riquezas para as sustentar. Deus fez as mulheres obedientes... Quanto as mulheres de quem duvidem da obediencia, castiguem-nas, ponham-nas a dormir em camas separadas e espanquem-nas.'"

Por mais incredulos que fiquemos, estas passagens do Coran nao sao inventadas. E isto que as mulheres e os homens Musulmanos aprendem nas suas vidas religiosas. Muito mais poderia eu aqui deixar sobre o Islao tal como ele e vivido no dia a dia. Seja no Ocidente, seja no Oriente.

Nao me ficara bem dizer o que lhe vou dizer: mas esta religiao não me merece respeito nenhum.

Desculpe ter-lhe tomado tanto tempo e ainda desculpe mais o meu mau portugues mas os portugueses de Portugal nao sabem do que falam, a maioria, quando fala do Islao. Essa realidade nao a vivem no dia a dia. Os que vivemos na Europa, sobretudo em Franca ou Belgique ou Alemanha sabemos bem do que falamos.

Recomendo a todos o site desta Musulmana escritora Irshad Manji.

(Guiomar Almeida)

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A ver se percebo...
Certa esquerda quer discutir e investigar o holocausto?!
Certa esquerda até tenta compreender as atitudes dos radicais extremistas muçulmanos que, entre outras coisas, proibem as mulheres de ter acesso a carta de condução e andar de cara destapada?!
Certa esquerda coloca em causa a liberdade de publicação livre de cartoons sejam eles sobre que tema for?!
Certa esquerda tenta explicar, à luz de anacronismos sociais, o que é fanatismo puro e simples?!
Certa esquerda ao tentar explicar que até pode haver razões e tal para o fanatismo tresloucado, coloca-se inevitavelmente numa discussão que, logo à partida, é desculpabilizante de comportamentos fascisantes?!

Mas isto é esquerda?!!

Pensei que era extrema direita...

(Paulo Duarte)

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Na maioria dos casos, as pessoas teem-se limitado a debater aquilo em que o Ocidente tem razao e uma evidente superioridade: a liberdade de imprensa e de expressao; e as liberdades democraticas, em geral.

Aquilo de que se fala menos e' o seguinte: que a actuacao (politica, economica e militar) dos paises ocidentais no Medio Oriente e na Asia Central e' tudo menos consentanea com esses valores que inventamos e que sao, na minha opiniao convicta, universais.

Agora, se o que esta' de facto em causa nesta cacofonia mediatica e' a liberdade de expressao e de imprensa, entao parte da solucao comecaria pela realizacao de um debate livre. Nesse debate, os muculmanos ou os emigrantes oriundos daquela regiao do Mundo, teriam a oportunidade de expor livremente os seus pontos de vista, explicar as suas razoes de revolta (se for esse o caso) em relacao ao Ocidente, e poderiam ver as suas opinioes testadas e confrontadas de modo critico e veemente por outros (ocidentais ou nao); e' evidente que as nossas razoes, ambiguidades e inconsistencias tambem seriam criticadas. Assim, sim, estariamos a considerar de forma seria o problema da liberdade de expressao e de imprensa, as dificuldades e as oportunidades relativas 'a coexistencia pacifica entre as civilizacoes.

Caso contrario, podera' ficar a suspeita que se esta' a assistir a uma mera encenacao... mesmo nas vesperas do seguimento da questao nuclear do Irao ao Conselho de Seguranca.

(Miguel Preto)

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Mas a publicação dos desenhos não foi um acto oficial de algum país. Os desenhos foram publicados por jornais independentes de distribuição nacional. É uma extrapolação imensa querer analisar esse acto fora do contexto próprio. Os protestos surgem na alegação de que esses desenhos violam o que está nos textos sagrados muçulmanos. Mas podemos imaginar o direito recíproco de um dinamarquês, à luz dos textos dos direitos do Homem, de se revoltar com os maus tratos infligidos ‘legalmente’ às mulheres muçulmanas.

A revolta incide sobre a particularidade de se ter representado o profeta (acto proibido pelo alcorão) mais do que qualquer outra inferência politica. Se em vez da imagem se tivesse publicado, no mesmo jornal, um artigo de opinião em que a certa altura o autor dissesse «o profeta Mahomet instiga o terrorismo» (em dinamarquês) ninguém daria por nada. O absurdo é alguém querer que o resto do mundo funcione pelas suas regras.
Imaginando que na minha religião eu tinha a forte convicção de que me era permitido amar e servir um só Deus. Estariam por isso todos os muçulmanos, por respeito à minha crença, proibidos de ter a sua vida normal e amarem o Deus deles? A vida normal de um dinamarquês passa pela sua liberdade de expressão. Faz sentido que alguém de um país longínquo venha ditar-lhe novos costumes?

O que faz sentido é se algum dinamarquês muçulmano (ou não) se sentir ofendido instruir um processo por abuso da liberdade de expressão ao outro dinamarquês. O que faz sentido é qualquer dinamarquês muçulmano (ou não) compreender que vive num país onde é possível ridicularizar qualquer religião, incluindo a sua. Se não gosta só tem duas hipóteses: ou muda de país ou espera mais um pouco que os muçulmanos invadam a Dinamarca.

(Nuno Galvão)

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Estou fascinado pela quantidade de pessoas eminentes que têm escrito nos últimos dias, no âmbito do caso dos cartoons dinamarqueses, que não se deve caricaturar o sagrado. Não me tinha apercebido de que tal ideia está tão espalhada na nossa sociedade e, em particular, nas nosas elites. Só me resta saber onde estavam essas pessoas quando o cartoonista Sam publicou o livro «Ai Jesus», inteiramente constituído por caricaturas de Jesus crucificado. Ou quando esteve em exibição a comédia «Dogma», onde Deus era caricaturado (e representado por Alanis Morissette!). Ou quando esteve em exibição o filme «Bruce, o todo poderoso», onde Jim Carey caricaturava a abertura do Mar Vermelho por Moisés... «abrindo» uma tigela de sopa de tomate! Ou, é claro, quando José Saramago publicou «O evangelho segundo Jesus Cristo».

Ou será que só podemos caricaturar os valores sagrados da nossa cultura mas não os das outras?

(José Carlos Santos)

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Exmo. Sr. Engº. Ângelo Correia,

Acabei neste preciso momento de ver o programa "Prós e Contras" em que o Sr. participou e não posso deixar de lhe manifestar a mais profunda indignação pela sua atitude, que não podendo acreditar que se deva a superficialidade ou ignorância, só posso considerar profundamente manipuladora, tentando evitar uma discussão, assaz pertinente e urgente, sobre a natureza do Islão, o que quer que isso seja e quaisquer que sejam as suas multiplicidades, que existe na prática e é invocado como legitimação dos maiores actos de desumanidade, a par com a famigerada solução final nazi, alguma vez vistos.

Neste sentido há alguns comentários que tenho de lhe fazer chegar:

- Já pondo de parte o ridículo de tentar fazer crer que os muçulmanos chegaram à península com Averróis e outros homens sábios de igual e inquestionável valor, a recitarem os clássicos da antiguidade e não pela força das armas, acho lamentável que o Sr. que o invocou e muito bem, como uma figura património da cultura universal do Homem, não tenha referido as perseguições que ele sofreu na Andaluzia, feitas não por cristãos muito pouco instruídos, mas precisamente por islâmicos fundamentalistas religiosos que o perseguiram e o impediram de continuar, de desenvolver e de difundir a sua obra.

Mais, esta obra, aquando das perseguições que ele e a sua família sofreram e que os obrigaram a fugir, sobreviveu às fogueiras em que os seus livros foram queimados, apenas pelas cópias feitas e contrabandeadas, a tempo, pelos seus discípulos.

Ou seja, Averróis é um exemplo de um muçulmano, homem de paz, de saber e de cultura, que foi perseguido (por muçulmanos), apenas por ter essas ideias de tolerância, de desenvolvimento e de busca do saber, pelo mesmo tipo de fanático religioso que está na origem do que hoje faz os apelos ao assassinato por delito de opinião, aos atentados e as manipulações de massas que estivaram na origem do programa em que o Sr. participou.

Se ainda hoje encontramos os fanáticos é muito pertinente perguntarmo-nos, ao não encontrarmos “os Averróis”, se foram ou não os fanáticos, que ganharam a guerra, que existe desde o início, dentro do Islão, pelo seu controlo. Se um conjunto de povos ou de culturas, que em dada época foram fonte de desenvolvimento cultural e científico da Humanidade, ao preservarem e desenvolverem (!) o conjunto de saberes em que se alicerçaram as revoluções intelectuais que estão na origem do que de melhor e de mais desenvolvido hoje existe no mundo, da democracia à ciência, se estes povos e estas culturas se tornaram e são hoje em dia tão próximas do cultural e cientificamente estéreis, tão violentas e tão contrárias ao desenvolvimento individual e colectivo, onde o que se faz é feito quase sempre com o risco da própria vida de quem o faz, onde mesmo sobre esses seus grandes homens do passado se podem encontrar “comentários oficiais” sobre o valor da sua obra mas muito mais dificilmente a obra em si, é extraordinariamente pertinente perguntarmo-nos se “os Averróis”, de há muito a esta parte, não serão, internamente, impedidos de existir no Islão.

O cineasta egípcio Youssef Chahine, em 1997, em “O Destino” (uma obra de arte e não um documento histórico, concedo-lho), ao usar precisamente estes factos da vida de Averróis como uma metáfora para o que se passa hoje em dia nos mais moderados países do Islão, levanta precisamente esta questão (e durante quanto tempo mais e onde poderá levantá-la?).

Devo acrescentar que desculpabilização grosseira que fez destes povos e destas culturas, ao fazê-los objectos inocentes de perfídias externas que os ultrapassam sempre e impedem de agir como a todos os outros se exige, por ser simultaneamente um atestado de menoridade intelectual e civilizacional, deveria ser, como a Dra. Fátima Campos Ferreira lhe tentou fazer ver, a maior das ofensas. Muito maior do que quaisquer caricaturas. Concedo-lhe também que assim o não sentirão os visados, mas então também isso deve ser motivo de preocupação e reflexão. Haverá um qualquer conjunto de povos disposto a, auto-desculpabilizando-se permanentemente, agir como um qualquer adolescente borbulhoso, achando que tudo lhe pertence, a tudo tem direito, tudo lhe tiram e de nada é responsável?

Para além de os líderes religiosos muçulmanos dinamarqueses terem levado não as doze caricaturas publicadas mas quinze, de ter sido uma das não publicadas que, apresentada como tendo sido publicada, levantou mais do que todas polémica (a de Maomé com cabeça de porco a que eu nunca consegui ter acesso, precisamente por não ter sido publicada), para além de ser passados meses e quando se passa o que se passa no Irão e na Palestina, que os líderes locais fazem aparecer esta questão, para além da conivência de estados islâmicos com os distúrbios, as caricaturas em si, podem e devem ser discutidas.

Em particular gostaria de discutir duas:

-a das virgens que se acabaram no céu, alusão à crença completamente abstrusa de que por se matarem assassinando outros, seriam, aqueles rapazinhos a quem as regras da sua sociedade em geral e a prática da poligamia em particular, impede uma saudável vivência da sexualidade, recompensados com 70 virgens, cada um, no céu. Recuso-me a discutir muito a ideia de fazer os outros crerem que terão no céu aquilo que lhes negamos na Terra, se se matarem por nós, assassinando outros e dando-nos com isso poder. Sinto como demasiado abstruso sequer equacioná-lo seriamente (e no entanto nunca vi que essa ideia invocada em nome do Islão gerasse manifestações de indignação, mais do que circunstanciais comentários, no mundo islâmico).

A razão por que a quero discutir é porque eu próprio já fiz esse comentário inúmeras vezes, perante a risada geral dos conversados. Diga-me uma coisa: Também eu devia ter pensado melhor? Também eu não tinha o direito de o dizer? Também eu tinha de me calar? E os conversantes? Poder-se-iam rir ou não?

- mais significativamente gostaria de discutir a caricatura de Maomé com turbante em forma de bomba. Não diz que todos os muçulmanos são terroristas, mas acho muito difícil interpretá-la sem admitir que os há que o são e que o são em nome do Islão. Mas isso é inquestionável porque de facto, actos terroristas inqualificáveis foram cometidos por muçulmanos reivindicando fazê-lo em nome da sua fé.

Se o islamismo se advoga ser uma religião de paz, porque não suscitaram estes actos imensa indignação entre os muçulmanos? E porque não há-de haver moderados que interpretem esta caricatura não como uma ofensa gratuita a todos os muçulmanos mas como havendo outros muçulmanos que apresentam o Islão, mesmo que contradizendo-o com a sua prática, como terrorista?

Por honestidade digo-lhe já que esta caricatura não suscitou um mim interpretação tão benévola para com o islamismo, mas por que carga de água isto não é uma possibilidade admissível? Será que o islamismo é tão moralmente superior que nada do que seja feito em seu nome, pelos seus crentes, o poderá alguma vez manchar?

Mais porque é que as caricaturas provocam muito mais manifestações de indignação aos moderados do que os assassinatos em massa feitos em nome da sua fé? Será o assassinato dos outros menos relevante do que as ofensas a mim? Para os muçulmanos o mundo divide-se entre muçulmanos e não muçulmanos e a uns e a outros aplicam-se leis diferentes? Um moderado, como o imã da mesquita de Lisboa sente-se mais próximo do caricaturista ou do que apela à morte deste? Não estou a dizer que não condene o apelo à morte, estou a perguntar se, por absurdo, se visse obrigado a ter de escolher entre cometer uma daquelas que certamente considera serem duas indignidades, qual delas seria, para ele, menos grave?

Dá sempre a ideia de que o que quer que se entenda que se tenha feito a um muçulmano é sempre mais grave do que o que quer que se faça a um não muçulmano. E isso por a diferença na manifestação de indignação por parte dos moderados, aparecer como desculpabilizante para com os actos dos radicais, que matam em nome da fé que se diz comum a ambos.

Assim faz todo o sentido perguntar-se, uma vez que o Islão faz a hierarquização das pessoas face à sua crença religiosa (1º os muçulmanos, depois os crentes no Livro, dos quais primeiro vêm os cristãos e depois os judeus, depois os animistas e penso que depois os que não professam qualquer religião), se isto é ou não assim? Se é ou não “mais grave incomodar um crente do que matar um infiel”? Se mesmo repudiando os fanáticos, os moderados se sentem ou não mais próximos deles do que das suas vítimas, sejam elas quem forem, precisamente por partilharem religião muçulmana com os agressores?

É meu desejo e esperança que não, mas desejos são desejos, esperanças são esperanças e as realidades constroem-se e se se discutirem talvez se construam realidades melhores.

Estas questões podem pôr-se, devem-se pôr-se face a tudo o que tem acontecido e a caricatura faz todo o sentido ao suscitá-las. Ela é pelo menos uma interrogação e se será ou não uma afirmação, depende da resposta a questões como as acima e duma discussão que se pode fazer, precisamente com os moderados como o Sr. imã da mesquita de Lisboa e que o Sr. quis impedir. Sentir-me-ia muito mais tranquilo hoje se tivesse ouvido finalmente sem rodeios a discussão destas questões e não evitá-las, transferindo responsabilidades, desculpabilizando, como o Sr. hoje fez e como ontem fez o prof. Marcelo Rebelo de Sousa, no seu exercício semanal de tirar médias para tentar agradar sempre a todos (mostrando mesmo ignorância ao afirmar que Maomé é deus para os muçulmanos!).

Como se não bastasse ainda teve de ir buscar Israel e de fazer afirmações que intelectualmente o deveriam envergonhar (que fique já esclarecido que tenho tanto sangue judeu - e muçulmano - como qualquer outro, anónimo, português).

Comparar Israel com o Irão, com um Irão que tem uma ditadura fanatizante como aquela, que tem um presidente que afirma para todo o mundo o ouvir, que quer riscar o estado de Israel do mapa, é indesculpável.

Israel é, desde logo, uma democracia, na terra milenar de um povo, um país com todo o direito a existir, onde uma parte significativa dos cidadãos é muçulmana (cidadãos, têm os mesmos direitos!), criado em 1948 por resoluções da ONU, reconhecido internacionalmente com excepção dos países vizinhos muçulmanos que o tentaram aniquilar, que sofreu já nestes 57 anos, três tentativas de destruição e de invasão.

Tem armas nucleares (originalmente fornecidas pelos franceses contra a vontade dos americanos) como parte fundamental da defesa dum povo, cercado por outros, apostados e, na prática comprometidos, em destruírem-no e que nunca as usou para iniciar qualquer agressão. Nada comparável com um estado fanático, fanatizante, suporte moral e logístico de vários movimentos terroristas, cujo presidente entende como auto-promoção a negação do holocausto e o anúncio da intenção da utilização de armas nucleares para a destruição de Israel. A comparação é completamente abstrusa.

Mas se quiser envolver a questão entre Israel e os países muçulmanos pelo menos aprofunde o assunto e não o faça duma forma que sugere o acto de quem sacrifica outro, pensando assim ficar de bem com o agressor.

Ou seja, falemos da Palestina. Simultaneamente com a criação do estado de Israel, foi pela ONU criado um estado palestiniano. Estranhamente (será?) esta solução foi recusada pelos países árabes tentando negar a existência a Israel. Quanto mais não fosse por Arafat ter, na prática, rejeitado o último acordo de paz, em que todas as suas reivindicações eram atendidas, com excepção do controlo total sobre Jerusalém (também era o que mais faltava!), mas em que ainda assim esta cidade ficava com um controlo dividido pelos dois estados, se vê que é precisamente aqui que reside o cerne da questão (Arafat ambicionava ficar conhecido na História como o conquistador de Jerusalém).

Jerusalém é a terceira cidade mais sagrada para os muçulmanos. Porquê? Meca, Medina é fácil ver que fazem todo o sentido. Mas Jerusalém? Porquê? A mais de 2000 kms de Meca…Porque a tradição muçulmana pretende que Maomé, depois de morrer e antes de ascender aos céus terá ido a Jerusalém, encontrar-se com Moisés e Cristo, para que estes lhe dissessem que a religião dele era a religião verdadeira e que eles teriam apenas preparado a sua vinda.

É com base nisto que Jerusalém é sagrada para os muçulmanos, o que é uma crença legítima como qualquer outra, desde que permaneça no domínio da fé. A partir do momento em que pretenda ser razão de legitimação de apropriação territorial do coração de outras religiões é, completamente, indefensável. Imagine-se o que seria se uma qualquer nova religião invocasse o mesmo relativamente a Meca e a Maomé.

Em face disto é ou não legítimo pensar-se que o Islão, que mais uma vez trata esta questão em bloco, vê na posse de Jerusalém, uma questão de supremacia da sua religião? E que os judeus são um alvo a eliminar por se recusarem a ceder a terra onde já há milhares de anos estavam as suas raízes?

É isto inevitável? Países mais moderados como o Egipto (onde um presidente foi por isso assassinado), ou a Jordânia, depois de lhe terem feito a guerra, assinaram a paz e estabeleceram relações com Israel, mas a questão palestiniana, em que os palestinianos já várias vezes preferiram continuar a guerra a poder construir o seu estado em paz e lado a lado com Israel, continua a ser tratada em bloco pelo mundo islâmico e apresentada como algo que os une e tantas vezes como justificação do terrorismo.

E agora? Um muçulmano, um moderado, sente-se mais próximo do presidente do Irão, que ambiciona riscar Israel do mapa, ou dos israelitas ameaçados por tarados como esse? (será aceitável que qualquer um de nós se sinta mais próximo dos nazis do que dos judeus, por ser o povo alemão maioritariamente cristão? Ou chama-se a isso xenofobia?).

E qual a posição dos moderados face a tudo isto, quando os radicais que cometeram actos terroristas como os 11 de Setembro e de Março (e muitos outros, mesmo em países muçulmanos e contra muçulmanos) apregoam nos textos que publicam que pretendem que o Islão domine o mundo? (certamente na forma de Islão que lhes convém).

Não será altura de tudo isto indignar muito mais os moderados do que as caricaturas? Gerarem muito mais protestos os actos assassinos dos que professam a mesma religião do que as opiniões dos que professam outras ou nenhumas?

O Sr., ao ir demagogicamente invocar e embrulhar Israel no triste episódio das caricaturas, ao aceitar que a suposta retaliação caricatural da liga árabe seja como foi e tendo como alvo os judeus (querem ver que a Dinamarca e os seus caricaturistas são judeus israelitas?) prestou um péssimo serviço à verdade e à seriedade e tentou mais uma vez culpabilizar Israel e os judeus pelos problemas que existem com o fundamentalismo muçulmano. Atitude tão frequente (e que nos devia envergonhar a todos) na Europa.

Considero que todo o seu discurso e atitude foi esta noite uma manipulação, uma tentativa de não discutir a realidade, uma tentativa de ocultar divergências e problemas. Divergências e problemas que se não forem assumidos, mais tarde ou mais cedo, se nos imporão e nesse caso isso significará a mais cruel, desumana, brutal e extensa guerra jamais vista.

São precisos dois para dançar o tango e para fazer amor, mas basta um para começar a guerra. Os radicais muçulmanos há muito que a fazem, primeiro aos outros muçulmanos que consideram traidores ao Islão e depois a todos os não muçulmanos. Ultimamente declararam guerra total a todos os infiéis. Nesse sentido pode passar-se muito bem sem as caricaturas, mas não sem a discussão e a reflexão que a reacção à sua publicação está a gerar.

(Vítor Paulo Vajão)

*

"A história das caricaturas dinamarquesas é extremamente simples e começa e acaba numa linha: é uma questão de liberdade. Ou há, ou não há.

O que é novo e precupante são as toalhas de palavras e justificações que começam a ocultar o que devia ser absolutamente simples e onde qualquer palavra a mais é demais."

Antes de mais, a liberdade deveria ser também bom senso.

(José Von Barata)

*

Juro que adorava saber qual foi a sua reacção quando surgirem problemas parecidos com estes em Portugal.

Gostava de saber se o seu raciocínio na altura foi tão esquemático quando os católicos se insurgiram, por exemplo, contra O Evangelho segundo Jesus Cristo ou a rábula que o Herman José fez da última ceia de Jesus Cristo. Há muita gente agora indignada contra os muçulmanos que na altura tomaram partido da Igreja.

(Mário Azevedo)


*

Ainda a propósito das caricaturas de Maomé e da generalidade dos comentários que li no "Abrupto", o que me parece é que não está em causa o querermos manter e até lutar pela liberdade de expressão - conquista não definitiva, como se sabe. Ninguém de senso defenderá que ela ceda perante interesses menores. Mas não devemos ser tão arrogantes na preservação desse direito que o queiramos "impor" às massas do islão. E é isso que julgo que transparece nalgumas das observações a esse propósito. A nossa civilização (ainda tão novinha...!) não é transponível por nosso desejo para todo o mundo por muito vantajosa que se possa apresentar.


(Fernando Barros)

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RETRATOS DO TRABALHO EM VILA NOVA DE GAIA, PORTUGAL


Enchendo um molde de uma escultura na Fundição Lage.

(Ana Carvalho)

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RETRATOS DO TRABALHO EM HAVANA, CUBA


Corte de cabelo, Fevereiro de 2005.

(Joana Marques)

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INTENDÊNCIA

Continuo a receber muito correio com CONCORDÂNCIAS / DISCORDÂNCIAS. Será publicado em breve, com base no único critério habitual nesta casa, o de ter argumentos, o de contribuir para a discussão, independentemente do "lado". No Abrupto a opinião dos leitores vai para a primeira página, não vai para os comentários e é editada pelo autor. É um critério, haverá outros.

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(7 de Fevereiro de 2006)


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Querem um exemplo pelo absurdo do mundo em que estamos, nem por isso tão absurdo como parece? Um exemplo de como daqui resulta censura e medo? Vamos admitir que um dos dois participantes no Prós e Contras de ontem, que disseram o que havia a dizer (António e Vasco Rato), face aliás a uma coligação de interesses, confusionismo, multiculturalismo que infelizmente é hoje o pão nosso de cada dia (não é blasfémia dizer isto?), o caricaturista António se lembra de fazer uma caricatura do Profeta, a pretexto dos eventos actuais. Aliás, a caricatura de Maomé com um turbante-bomba é o mesmo tipo de estrutura metafórica dos desenhos de António, só que pior desenhado. O António chega ao Expresso e entrega a caricatura. Soam sirenes de alarme, porque o jornal se sente “responsável”, o que, dito em linguagem terra a terra, significa que o jornal tem medo das consequências. O Expresso é mais importante do que o obscuro jornal dinamarquês e pode sempre haver alguém que se lembre de singularizar a caricatura de António como um exemplo de blasfémia infiel. O que é que o Henrique Monteiro faz? Não está em causa a qualidade da caricatura. Publica-a, censura-a porque os tempos estão difíceis? O governo desaconselhará, discretamente. E se a publica, vamos ter a bandeira portuguesa no chão e o António a ter que se esconder como os caricaturistas dinamarqueses, a que uma comunicação habitualmente tão solidária, deixa sozinhos nos seus riscos?

É exactamente por estas coisas que o que está em causa é a liberdade de expressão, a nossa, como a entendemos, a única que existe no mundo, a que nos custou muito sangue, aquela sem a qual perdemos a identidade e os valores. E está em causa pelo mesmo mecanismo que no passado dizia que mais vale sermos “vermelhos do que mortos”.

*

Que a comunicação social precisa de pensar a sua “responsabilidade”, estamos todos de acordo. Que quase sempre se recusa a fazê-lo, bradando à censura e ao interesse público ou do público, também é habitual. Que nunca teria esse discurso “responsável”, com a veemência com que tem agora, se do outro lado estivesse a Igreja, ou uma qualquer instituição ocidental, também me parece sustentável, por ausência de exemplos a contrario. Por tudo isto, agora que se está inteiramente no domínio da liberdade de expressão, num quadro cuja legitimidade me parece inquestionável (olhem para as caricaturas, gostem ou não delas como caricaturas, e vejam se elas não são o mesmo tipo de humor que Deus-Pai, Deus-Filho, Papas, governantes, eminências, são sujeitos todos os dias?), a conversa sobre a “responsabilidade” é , para não dizer outra coisa, sinistra.

*

No meio de uma imprensa que se descobriu "responsável" (*) e que directa ou indirectamente culpa os caricaturistas e o jornal dinamarqueses, salomonicamente colocando no outro prato da balança os excessos da "rua árabe", (o que traduzido do politicamente correcto significa que só culpa os dinamarqueses), valha-nos o artigo de hoje no Público de Teresa de Sousa:
"Há um problema sério no mundo islâmico de percepção do mundo ocidental, que a globalização e o terrorismo islamista, com a resposta da "guerra ao terror", vieram agravar. Há um sentimento real de frustração e de humilhação em relação ao Ocidente e essa é uma questão que preocupa muito justamente a Europa, onde vive hoje uma larga minoria islâmica. Essa preocupação está na base dos seus esforços para promover a tolerância e a compreensão entre civilizações, bem como das suas políticas de cooperação e de ajuda ao mundo árabe. Mas ceder à chantagem e à ameaça, contemporizar e justificar a demência fundamentalista antiocidental ou o arbítrio e a brutalidade de alguns regimes árabes será sempre a melhor forma de alimentar as suas ideologias e de manter aprisionadas as sociedades que dominam.
Haverá uma forma de racismo mais ultrajante do que a nossa complacência? A aceitação de que os valores que entendemos como universais são afinal fruto exclusivo da nossa cultura e da nossa riqueza, não são valores a que podem aspirar e pelos quais têm o direito de lutar todos os povos do mundo? Haverá melhor forma de alimentar a islamofobia no Ocidente do que considerar justificáveis os actos dementes e de violência contra o Ocidente?
É preciso mudar os termos da discussão e pôr fim de uma vez por todas ao politicamente correcto."

(*) Exemplos de hoje, com sublinhados meus:

José Luis Ramos Pinheiro no Correio da Manhã (sem ligação).

António José Teixeira no Diário de Notícias:
"Não há dúvida de que a democracia suporta a falta de sensibilidade e de bom senso e que a liberdade de expressão "é absoluta e não é negociável", como disse o primeiro-ministro dinamarquês. Tal como devem ser absolutamente condenáveis as reacções violentas do mundo islâmico. Não podemos ainda ignorar que alguns imãs aproveitaram as caricaturas para internacionalizar o conflito e criar ambiente de resposta ao "ódio" ocidental. O Irão e a Síria agradecem o pretexto. Mas estas verdades exigem também que se tenha a lucidez de criticar com veemência todos e quaisquer actos humilhantes ou xenófobos. Não podem proibir-se para não nos igualarmos ao obscurantismo despótico, mas devem merecer crítica frontal. O combate da liberdade exige inteligência. A humilhação em nome da liberdade é uma caricatura trágica da nossa civilização."
Eduardo Prado Coelho no Público:
"Quando os caricaturistas dinamarqueses deformam a imagem de Maomé estão, em primeiro lugar, a pôs em causa a dimensão do sagrado. Independentemente do facto de ser Maomé, devemos pôs a questão: é legítimo caricaturar o sagrado?
Em princípio, o sagrado está acima de tudo o mais, e em particular acima das caricaturas, sejam elas quais forem. Aquilo que é sempre uma degradação dos traços poderá estar sujeito à arma visual? Estou convencido de que não, e, mesmo sem ser crente, acredito que o religioso é demasiado importante para que as pessoas façam sobre ele caricaturas. E isto envolve Maomé. Estamos perante questões que põe problemas essenciais. As imagens matam e e o religioso não pode morrer. Pelo menos, não deve."

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6.2.06


RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL



Pesca da sardinha, ao largo de Vila do Conde.

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ESTES DIAS


Estamos banhados em dias belíssimos, claros, frios, luminosos. Não há detalhe que não se destaque, e uma espécie de prematura primavera percorre as árvores, as grandes percursoras. Bem sei que há muito ruído, muita fúria, muito sturm und drang, uma enorme nuvem de palavras por todo o lado.

Já olharam lá para fora, lá para cima, lá para o lado, onde tudo é recorrente, menos o tempo que nos faz a nós? Já olharam para a luz destes dias, fora do tumulto dos noticiários, da zanga e do azedume dos blogues, fora da escravidão dos ecrãs? Vale a pena. Aproveitem, não vai durar muito. Cada vez se percebe mais que, também nós, estamos de novo em guerra. Nas trincheiras da Flandres era assim, nas margens do Bug, a caminho de Treblinka, eram belos os dias.

Fico-me pela simplicidade, como os simples. É que tudo é verdadeiramente simples, nós é que complicamos. Vou ler Thoreau. Escapismo? Não, comprometimento com as coisas simples.

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COISAS QUE FORAM SIMPLES


Inscrição na fachada do Liceu (agora Escola Secundária) Alexandre Herculano no Porto, que comemora o seu centenário.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: MAIS SOBRE OS PARTIDOS



A propósito da “lenta dissolução dos partidos” gostaria de deixar alguns comentários. Para que se entendam algumas das coisas que digo em seguida informo que tenho 42 anos, tinha portanto 11 anos no 25 de Abril.

Num regime democrático os partidos são inevitáveis. De facto, os partidos são a forma organizada de grupos de cidadãos, partilhando referências ideológicas comuns, intervirem na sociedade. São as “corporações da cidadania”, na medida em as restantes formas de organização colectiva têm fatalmente uma base que não é partilhável pelo universo de todos os cidadãos. Os partidos são o fórum correcto para reunir no seu seio pessoas com interesses e origem diferentes, mas com uma visão comum da sociedade e da forma de a organizar e gerir. Repare-se que os próprios movimentos de cidadania mais não são do que partidos em estado embrionário e que, para terem efectiva capacidade de intervenção na sociedade terão, mais cedo ou mais tarde, que se constituir formalmente como tal. Nesta perspectiva o problema não são os partidos. O problema em Portugal é um problema de qualidade, qualidade dos protagonistas.

A geração que actualmente lidera os partidos de poder (PS e PSD) fez-se adulta nos 10 a 15 anos subsequentes ao 25 de Abril. Os membros activos e líderes dos partidos foram formados no pós 25 de Abril no seio das juventudes partidárias, dedicando grande parte do seu tempo e empenho à actividade política em detrimento da actividade escolar e do empenhamento na obtenção de formação superior de qualidade. Estamos pois em presença de uma geração muito experiente no mundo da “política partidária”, no pior sentido da expressão, mas, de forma geral, muito mal preparada académica e profissionalmente. Se este problema é evidente nas estruturas partidárias nacionais é então gritante e perfeitamente confrangedor nas estruturas regionais.

Mas então e os outros? Os espertos e aplicados que andaram a estudar toda a vida em vez de organizarem festas na Associação de Estudantes para angariar fundos para a concelhia? Bem, esses acharam que valia mais a pena investir em carreiras profissionais sólidas e estão agora no topo do nosso tecido empresarial. E estão tranquilos. Estão tranquilos porque por um lado a democracia não tem alternativa e, por outro lado é sabido que há um preço a pagar por ela. O preço a pagar é admitir um nível razoável (entenda-se suportável economicamente) de corrupção e alguma ineficácia de funcionamento do sistema. E assim, como não há riscos óbvios e imediatos para o regime e o preço tem sido suportável, não houve até aqui razões ponderosas que levassem os melhores desta geração a intervir, tanto mais que a intervenção necessária terá que ser feita através dos partidos e implica necessariamente correr riscos e sujar as mãos. Os riscos fundamentais são os que estão associados à exposição mediática e o sujar das mãos é a necessidade de expurgar o partido em que se intervenha.

A dúvida que se coloca é saber se saberemos reconhecer os sinais de perigo para o regime, a tempo de intervir. De facto, a degradação sucessiva do desempenho dos partidos de poder, pode levar ou ao colapso económico, o que está obviamente longe de se antever de imediato, ou, muito mais grave, à criação de condições para o florescimento de tendências extremistas e populistas que, aproveitando as regras do próprio regime democrático, poderão pô-lo directamente em causa. Veja-se o que se está a passar em Itália, em que claramente a democracia, não a formal mas a substancial, está em risco.

O que há a fazer é pois aderir aos partidos, reunindo grupos de cidadãos disponíveis para, partindo das estruturas locais, promover uma melhoria global do nível médio do militante partidário. Leva tempo, é difícil, mas brevemente será inadiável ...

(Alexandre Candeias Portugal)

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RETRATOS DO TRABALHO EM VENEZA, ITÁLIA


Trabalhos de construção civil em Veneza.

(Marco da Cruz)

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EARLY MORNING BLOGS 715

Siren


I became a criminal when I fell in love.
Before that I was a waitress.

I didn't want to go to Chicago with you.
I wanted to marry you, I wanted
Your wife to suffer.

I wanted her life to be like a play
In which all the parts are sad parts.

Does a good person
Think this way? I deserve

Credit for my courage--

I sat in the dark on your front porch.
Everything was clear to me:
If your wife wouldn't let you go
That proved she didn't love you.
If she loved you
Wouldn't she want you to be happy?

I think now
If I felt less I would be
A better person. I was
A good waitress.
I could carry eight drinks.

I used to tell you my dreams.
Last night I saw a woman sitting in a dark bus--
In the dream, she's weeping, the bus she's on
Is moving away. With one hand
She's waving; the other strokes
An egg carton full of babies.

The dream doesn't rescue the maiden.


(Louise Glück)

*

Bom dia!

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SÓ PARA SE PERCEBER AS DIFERENÇAS: A CONTROVÉRSIA DO "PISS CHRIST"





Na Wikipedia:
"Piss Christ is a controversial photograph by American photographer Andres Serrano. It depicts a small plastic crucifix submerged in a glass of the artist's urine. Some have suggested that the glass may also contain the artist's blood. The piece was underwritten by the National Endowment for the Arts, which offers support and funding for projects that exhibit artistic excellence.

The piece caused a scandal when it was exhibited in 1987, with detractors accusing Serrano of blasphemy and others raising this as a major issue of artistic freedom. On the floor of the United States Senate, Senators Al D'Amato and Jesse Helms expressed outrage that the piece was supported by the National Endowment for the Arts, since it is a federal taxpayer-financed institute.

Serrano produced other similar works to much less controversy; Madonna and Child II (1989), for example, in which the subject is similarly submerged in urine, is not nearly so well known as "Piss Christ".

Piss Christ is often used as a test-case for the idea of freedom of speech, and was described in the journal Arts & Opinion as "a clash between the interests of artists in freedom of expression on the one hand, and the hurt such works may cause to a section of the community on the other."

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: CONCORDÂNCIAS



Depois de ter publicado o conjunto de cartas, mensagens e comentários de discordância, que, insisto, foram a esmagadora maioria de missivas recebidas, desde ontem tenho vindo a receber correspondência noutro sentido. Aqui ficam as "concordâncias".

*

O grande problema, o problema suicidário do Ocidente é ele mesmo não querer entender que a democracia e a liberdade foram invenção sua, que a relativação, o escrutínio e o respeito pela diferença foram invenção sua e que o metadiscurso no plural assim como a superação de uma estrita teo-semiose também foi invenção sua (como sabemos, o Mu´tazilismo e outras escolas reformadoras do Kalâm, i.e. da filosofia escritural islâmica do séc. IX, duraram muito pouco tempo e não chegaram sequer a esboçar o que, a partir de final de seiscentos, viria a ser modernidade a Ocidente). Hoje em dia, a sobreposição massificadda e mediática de planos e a relativação sem limites (nem valores) conduz a inferências em que o sentido acaba por diluir-se. Daí que muita gente diga, com se repetisse a mais pura invisibilidade de um slogan: se os EUA têm poder nuclear, por que não o há-de ter o Irão? Tenho dito: apoio a sua sucinta mas clara posição.

(Luis Carmelo)

*

Temos de ter cuidado com as susceptibilidades muçulmanas porquê? Quero dizer "nós" enquanto sociedade.
Porque eu posso chocar-me com os desenhos, posso achá-los horríveis, posso querer chamar nomes ao autor - mas é essencial que ele possa publicá-los e que eu possa dizer sobre eles o que entendo - essa é a questão fundamental.
Como é que se pode comparar caricaturas publicadas numa sociedade democrática com propaganda anti-semita? De resto, talvez fosse bom começar a lembrar que o problema da Alemanha nazi não foi a propaganda anti-semita, foi o Holocausto. Não é a mesma coisa. A menos, claro, que se ache também que o Mein Kampf devia ter edição proibida. Há quem ache...

Três notas finais.
Uma. O que pretende Rosa Barros da Costa dizer com "Se os Judeus, nessa altura tivessem reagido como agora o fizeram os muçulmanos, talvez se tivesse evitado o Holocausto"? Acha que os judeus deviam ter feito atentados suicidas nas ruas de Berlim?
Duas. Há um ror de anos, a senhora Tatcher mobilizou os dinheiros públicos que odiava gastar para proteger da ira religiosa Salman Rushdie.
Evidentemente, há quem tenha achado o gesto da senhora Tatcher uma rematada estupidez.
Três. Há alguns anos, a propósito de contracepção e prevenção da SIDA, António publicou no Expresso uma caricatura de João Paulo II com um preservativo no nariz. Haveríamos nós de ver os cristãos queimarem embaixadas portuguesas por esse mundo fora, e até, quem sabe, Pinto Balsemão também? (E note-se: eu compreendo e partilho a ideia do Papa - mas daí a achar que o Papa não é caricaturável vai uma enorme distância.) Nestes dias tenho recordado as palavras de Kennedy em Berlim, há 40 anos. A única resposta decente a este assunto é dizermos: TAMBÉM NÓS SOMOS DINAMARQUESES.

(Luis Teixeira Rodrigues)

*

Pegando em MRS ontem à noite e no leitor que refere o caso da chaminé em França, num estado de direito quem se sente ofendido tem a via dos tribunais para ver reparada a ofensa e não a via de queimar bandeiras, atacar embaixadas e ameaçar de morte tudo e todos. E VPV já relembrou a quantidade de “ofensas” que têm sido escritas sobre Cristo e Deus. Eu sou ainda mais radical. Quem não promove o estado de direito, quem apoia terroristas, etc. não tem o direito de exigir seja o que for dos estados direito. E independentemente da fé em si é bom não esquecer que a maioria dos lideres Islâmicos em países Islâmicos não têm promovido a democracia, mas sim as ditaduras religiosas. O pedido de desculpas da governo dinamarquês é ridículo. Num estado de direito o governo não é responsável pelas atitudes dos jornais publicado no país, isso é nas ditaduras, incluindo as muçulmanas. Mas toda a esta subserviência tem uma causa: A DEPEDÊNCIA DO PETRÓLEO. Tudo o resto é acessório.

(Miguel Sebastião)

*

Onde estão as vozes todas de indignação quando se goza repetidamente com a imagem de Buda, de Krishna e até do próprio Cristo?
Liberdade significa a possibilidade de se dizer, escrever e mesmo, porque não, desenhar o que se pense e se sinta, sem qualquer censura de lápis azul ou de qualquer outra cor. Não me surpreende que o fundamentalismo islâmico se insurja, pela sua POLÍTICA e não pela sua FÉ - devo frisar -, mas surpreende-me que num continente onde tanto se luta pelas liberdades individuais de cada um se tenha este estilo de reacções como vi dos seus caríssimos leitores.
Indigna-me, espanta-me, surpreende-me que não se perceba que não há intenção no cartoon de ofender fé alguma, apenas de salientar um facto político.

(Jorge Vassalo)

*

Eu confesso que a reacção dos seus leitores não me surpreendeu. Muitas pessoas acreditam que se pode manter um regime democrático impondo limites à liberdade de expressão. Para um europeu estes são dias muito tristes, mesmo o governo dinamarquês aparenta ceder. Que raio de democracias são as nossas?

Confesso que me envergonha o facto de os governos ocidentais apresentarem desculpas e reiterarem o respeito pela religião ou religiões. Os governos não têm nada que respeitar religiões, devem tolerar aquelas que são compatíveis com os direitos humanos, e sobretudo zelar para que elas se mantenham fora das práticas governativas. Não me espantava nada que alguém viesse a propor leis anti-blasfémia na UE.
Esta cedência dos governos ocidentais é curiosa, estou a ver a Divina Comédia a ser afastada das salas de aula, e sobretudo as pinturas que mostram detalhes do Inferno de Dante a serem escondidas.

ps Pode parecer paradoxal, mas incomoda-me muito mais o email daquela sua leitora que compara estas caricaturas à campanha anti-semita na Alemanha dos anos 30. É obsceno e monstruoso. Sobretudo quando se constata que o que se passa é exactamente o oposto, estes grupos estão a perseguir activamente aqueles que discordam com eles e a querer abafar a liberdade de expressão noutro país através de manifestações que incluem ameaças de morte e actos de violência. A maioria daqueles que se manifestam não são vítimas de nada, são potenciais algozes.

(Jorge Filipe)

*

Quero dizer-lhe que apoio totalmente as suas palavras. É uma questão de liberdade, neste caso de imprensa.

Posso perceber alguns comentários mais desludidos e amargurados, mas não posso aceitar de todo duas coisas :

– Que a minha liberdade de expressão seja posta em causa. Os mais velhos no nosso pais lembram-se do que era isso, e é normamente o principio do fim da liberdade de uma nação de um povo ou de um país.

– A resposta por parte dos paises/populações a estas caricaturas é um pouco exagerada. E parece-me ser motivada politicamente, não sei com que intuito.

(Mário Coimbra)

*

Também a mim me doeu o estômago quando li o correio dos seus leitores.

Também eu acho, ou melhor isto não é uma questão de opinião, é uma questão de cerne da democracia, também eu sei que a liberdade de expressão é fundamental.

Qualquer limitação a esta liberdade só pode vir do indivíduo, mas não pode e não deve existir qualquer limitação exterior ao indivíduo – a limitação é a boa consciência ou civismo de cada um.

As caricaturas não saíram (parece-me) na 1ª página do jornal dinamarquês, o assunto remete-se a Setembro passado, os católicos já não incendeiam nem embargam produtos de outros países por motivos religiosos e sim estão no seu direito, como aliás os muçulmanos, de irem para a frente de qualquer assembleia nacional manifestarem o seu desagrado. Seria grossa sobranceria queremos que os muçulmanos modificassem as suas crenças, mas não podemos nós modificar as nossas para lhes agradar, degradando pelo caminho aquilo a que demorámos séculos a chegar – uma democracia avançada – espero eu.

Parafraseando Max Bickford (Richard Dreyfuss na fabulosa série que passou há cerca de 2 anos no 2º canal) – praticamos democracia avançada quando toleramos que se manifestem publicamente grupos de pessoas cujas opiniões nos revolvem o estômago, cujas opiniões são contrárias ao próprio cerne da democracia que lhes permite manifestarem essas opiniões.

Devemos ser firmes nesta convicção, não vacilar.

(Maria Baldinho)

*

Primeiro trata-se logo de um jornal europeu e dinamarquês (uma daquelas democracias que nos estão sempre a dizer que são quase perfeitas). Se o jornal tivesse sido americano, haveria mais gente a justificar a não publicação dos desenhos do que o contrário.
Depois, uma coisa é sentir-se ofendido, outra é ameaçar tudo em todos em nome dessa ofensa. Eu entendo perfeitamente que qualquer pessoa se possa sentir ofendida no que respeita aos seus credos. Já não acho legitimo ( inadmissível) que se possa incendiar, partir, querer matar tudo e todos que não concordem com isso. Mas imaginemos que tinha sido caricaturado Jesus Cristo. E a igreja tivesse dito que ofendiam a igreja e os seus acólitos. Apenas com estes actos lá teriamos nós os artigos da esquerda bem pensante que a Igreja era intolerante, fundamentalista, que tinha saudades do Torquemada, do Salazar, etc etc etc. Mas não, como foram os "coitadinhos" dos muçulmanos, já tudo é permitido...
Pior ainda é o medo. A sensação que tenho de medo colectivo é bastante grande. Parece-me que os jornais portugueses que mostraram as imagens fizeram-no num misto de coragem com medo. Sinto que reflectiram muito, muito mesmo se as deviam publicar ou não. Posso estar enganado, mas pelo menos esse misto de medo-coragem reflecte-se pelos jornais e televisões.
O pior de tudo é este relativismo: se justificarmos, se legitimarmos actos como invasões e queima de embaixadas, ameaças ao nosso mundo ocidental como o vivemos hoje, estamos cada dia a alimentar o monstro. Até que um dia....

Apenas um episódio: o meu avô é uma pessoa profundamente católica. Quando um dia o jornal "expresso" publicou o célebre cartoon do Papa com o preservativo, deixou de comprar o semanário e escreveu uma carta a protestar. Até hoje. É esta a diferença entre dois mundos. Uma em que nos podemos sentir ofendidos e respondemos civilizadamente, e outra em que não há espaço para a critica. Pacheco Pereira tem razão. Ou há ou não há liberdade. O resto é retórica, demagogia e populismos.

(Filipe Figueiredo)

*

Como sou um leitor seu à muitos anos gostaria de lhe transmitir em relação ao caso das caricaturas um ponto de vista não referido:- Os desenhos têm piada.
Não percebo porque é que o argumento do mérito artistico não é colocado, não são propriamente rabiscos sem o mínimo sentido estético.
Têm sentido de humor, acutilância, traço, nervo...são arte.
Se perdemos o nosso sentido de humor e capacidade de rirmos com católicos, islamitas, xintoistas, budistas e todos os daístas estamos a capar a nossa liberdade.

PS: Coloque um imagem do José Vilhena para chatear os moralistas.(*)

(Gonçalo Carvalho)
(NOTA de JPP: Vilhena tem muitas caricaturas de Deus-Pai e de Cristo.)

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5.2.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DISCORDÂNCIAS



Estas são algumas das mensagens que leitores do Abrupto me enviaram sobre a questão das caricaturas dinamarquesas. São representativas da esmagadora maioria da correspondência recebida. Raras vezes comento o que os leitores, que comigo "fazem" o Abrupto, entendem dizer, em particular quando exprimem opiniões diferentes da minha. Neste caso, discordo, discordo de todo, com o que dizem. Anoto apenas a minha surpresa com a facilidade com que são postos em causa valores que sempre pensei serem parte fundamental da nossa visão civilizacional da sociedade, aceitando-se uma relativização que, penso, põe em causa o cerne desses valores. O nosso entendimento de liberdade, de expressão e opinião, tem no centro o direito de os outros se exprimirem com toda a liberdade, mesmo que isso nos ofenda. É o direito de os outros dizerem aquilo que mais nos choca, que quem ama a liberdade defende acima de tudo. Não há relativização possível para este critério, o único que está em causa face a desenhos satíricos que são, em última razão, desenhos políticos. A maior das mistificações está em se pensar que estamos perante uma questão religiosa, quando se está perante uma questão política.

*
Relativamente ao seu post no Abrupto, do passado dia 3 de Fevereiro do corrente,(o post das 14.32) permita-me discordar, vivamente de si, quando afirma, relativamente à questão das caricaturas dinamarquesas que e passo a citar"é extremamente simplese começa e acaba numa linha: é uma questão de liberdade. Ou há ou não há".
Confesso-lhe que me senti absolutamente desiludida por esta afirmação vinda de uma pessoa com a sua formação filosófica, quando conhece o estatuto ôntico da liberdade. Como sabe esta questão ultrapassa qualquer questiúncula filosófica, porque afecta algo que está para além do bem e do mal, do certo e do errado, do verdadeiro e do falso. O que está em causa são princípios e valores, abraçados por um bilião e meio de pessoa, que traduzem uma absoluta Fé em Deus. Além disso, qualquer meio de comunicação social credível tem um estatuto editorial, em que fundamenta as linhas orientadoras das suas publicações. Quando se insinua algo de falso num orgão de comunicação social, quem é visado tem o direito de recorrer às vias legais para defender o seu bom nome.
O que acontece aqui é que o bom nome do profeta (saw) foi posto em causa, assim como os princípios e fundamentos do Islão, situação perigosíssima, associada a uma absoluta falta de informação sobre o que é ser-se muçulmano/a. Perante a publicação de injúrias e difamações, camufladas de sátira inocente, só se poderia assistir ao levantamento das populações muçulmanas contra o que se passou, com todas as situações perigosas e condenáveis que surgem associadas a estas situações.
A publicação destes cartoons só é comparável à propaganda anti semita perpetrada pelo regime nazi, na Alemanha, nos passados anos 30, do século XX, que culminou no Holocausto. Se os Judeus, nessa altura tivessem reagido como agora o fizeram os muçulmanos, talvez se tivesse evitado o Holocausto.

Como muçulmana, como cidadã portuguesa, como europeia, sinto-me ultrajada por se conotar liberdade com tais práticas.

(Rosa Barros da Costa)
*
Relativamente a este tema, discordo profundamente de si. É evidente que o direito de livre expressão e o direito de imprensa são, em qualquer Estado democrático que se preze, fundamentais e não devem ser tocados. Mas isso significa abuso? Se me permite uma analogia com o mundo jurídico, se alguém tem um direito – qualquer que ele seja – tal não significa que possa usá-lo conforme queira e bem lhe apeteça. Se o fizer, deixa de ser um uso legítimo e passa a ser um abuso de direito. Porventura, saberá como esta figura nasceu e começou a ser aplicada: em França, no século XIX, a propósito do uso da propriedade privada e das relações de vizinhança. O Sr. A não gostava do seu vizinho, B, e decidiu “prejudicá-lo” construindo uma chaminé tão alta que lhe fazia sombra o dia inteiro, impedindo-o assim de gozar o sol. Alegadamente, fê-lo no uso legítimo de um direito – o de propriedade – até aí de forma indiscutível. Só que os tribunais consideraram que tal uso era ilegítimo, porquanto lesava um direito alheio.

Ora, na questão das caricaturas, há uma coisa que me faz profunda espécie: que sobranceria é a nossa (católicos, agnósticos, ateus, etc.) para tentarmos impor os nossos valores a uma cultura por sinal milenar que deveria, no mínimo, merecer-nos respeito? Ontem mesmo o José Manuel Fernandes deu a resposta quando deu o exemplo de não se fazer uma 1.ª página de um jornal com uma imagem pornográfica. Porquê? Porque ofende os nossos valores e a nossa sensibilidade. Não se passará a mesma coisa com a publicação de imagens do Profeta Maomé? Se para si ou para mim a sua publicação não é ofensiva, também terá que o não ser para os muçulmanos? Que direito à livre expressão se sobrepõe ao respeito que nos deve merecer outras crenças e formas de vida?

O problema é que hoje em dia não se acredita em nada. Ao ver na SIC-N a entrevista do João Adelino Faria e da Ana Lourenço ao Sheik Munir, fiquei chocado quando o primeiro, a certa altura, perguntou se o Sheik não considerava desmedida esta reacção do mundo islâmico, vista que se tratavam apenas de “desenhos” (sic)!!

Sem discutir que os muçulmanos devem, em muitos aspectos, “abrir” a actualizar as suas crenças, considero que esta iniciativa do mundo ocidental apenas tem o efeito contrário e não ajuda a pacificar a coexistência entre os dois mundos.

(Rui Esperança)

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Basta ler a Constituição, o Código Penal e Lei de Imprensa, sem mencionar uma infinidade de literatura jurídica sobre o assunto, para compreender que a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão, a liberdade artística e todas as liberdades têm limites. Têm limites jurídicos, têm limites morais e têm limites de bom senso.
Mas, para compreender isto, é preciso não ser tão fundamentalista como os outros fundamentalistas. Ser fundamentalista é recusar o outro, recusar ouvir, recusar pensar, recusar conceder.
O que há entre o Islão e o Ocidente não é um conflito de culturas, nem um conflito de religiões: é um conflito de estupidezes.
Todas as terras, todos os povos, todas as religiões têm os seus estúpidos. Quando eles dominam, é uma estupidez.
É um estupidez provocar e agravar uma situação que já não é boa.
Que Deus - o mesmo Deus dos judeus, dos cristãos e dos muçulmanos - nos acuda, e faça cair do Céu, como o maná na Biblia, um bocadinho de inteligência.

(Pedro Pais de Vasconcelos)

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Li o seu post sobre a publicação das fotos dinamarquesas e eu, que muito gosto de o ouvir e ler, não o comprendi. Acha que a liberdade existe em absoluto?

(M.J. C. Moreira)

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Parece-me que a questão não é tão simples como a põe. A liberdade tem o seu pendant, como o direito: acaba aonde começa o do outro.

(Monika Kietzmann)

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Juro que adorava saber qual foi a sua reacção quando surgirem problemas parecidos com estes em Portugal.

Gostava de saber se o seu raciocínio na altura foi tão esquemático quando os católicos se insurgiram, por exemplo, contra O Evangelho segundo Jesus Cristo ou a rábula que o Herman José fez da última ceia de Jesus Cristo. Há muita gente agora indignada contra os muçulmanos que na altura tomaram partido da Igreja.

(Mário Azevedo)

*

"A história das caricaturas dinamarquesas é extremamente simples e começa e acaba num linha: é uma questão de liberdade. Ou há, ou não há."
No contexto actual é mais do que "uma questão de liberdade" é também uma questão de bom senso. Num clima "conflituoso" como aquele em que vivemos (Ocidente) com o mundo islâmico (mais fundamentalista) era de esperar. Ou é ignorância ou insensatez.

(Conceição Soares)

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Acho que toda a gente já se esqueceu dos casos equivalentes cá no Burgo. Lembram-se das manifs de católicos à porta das amoreiras por causa da Sagrada Família com uma alface no lugar do menino? É certo que não se incendiaram bandeiras nem se dispararam tiros, mas seria bom que todos tivessemos a noção que se trata de um tema que não é simples, ao contrário do que você diz. E que todos pensassemos um pouco na velha máxima "não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti"

(João Paulo Telo)

*

«A história das caricaturas dinamarquesas é extremamente simples e começa e acaba NUMA LINHA: é uma questão de liberdade. Ou há, ou não há».

A realidade não é assim tão simples pois, nas relações humanas, há OUTRAS LINHAS, que não são PARALELAS mas sim CONCORRENTES:

Toda a gente sabe que «a nossa liberdade termina onde começa a dos outros», e «a liberdade de não ser insultado» é - alguém tem dúvidas? - uma delas.

Acresce que, normalmente, um conflito desses se resolve nos tribunais mas, neste caso, isso não será possível.

NOTA: Eu vivi de perto a realidade de três países muçulmanos (Marrocos, Tunísia e Argélia) e vejo que, neste caso, há uma dose de insensibilidade que ultrapassa (em quantidade e qualidade) o que eu julgaria ser possível hoje em dia.

(C. Medina Ribeiro)

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RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL HOJE, DOMINGO, DIA DE DESCANSO





Pequeno almoço dos feirantes em S. João da Corveira, Carrazeda de Montenegro, Trás-os-Montes. Hoje de manhã, à primeira luz, num chão coberto de gelo.

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4.2.06


COISAS SIMPLES


Edward Ruscha, Us

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EARLY MORNING BLOGS 714

Samuel Gardner

I who kept the greenhouse,
Lover of trees and flowers,
Oft in life saw this umbrageous elm,
Measuring its generous branches with my eye,
And listened to its rejoicing leaves
Lovingly patting each other
With sweet aeolian whispers.
And well they might:
For the roots had grown so wide and deep
That the soil of the hill could not withhold
Aught of its virtue, enriched by rain,
And warmed by the sun;
But yielded it all to the thrifty roots,
Through which it was drawn and whirled to the trunk,
And thence to the branches, and into the leaves,
Wherefrom the breeze took life and sang.
Now I, an under-tenant of the earth, can see
That the branches of a tree
Spread no wider than its roots.
And how shall the soul of a man
Be larger than the life he has lived?


Dow Kritt

Samuel is forever talking of his elm --
But I did not need to die to learn about roots:
I, who dug all the ditches about Spoon River.
Look at my elm!
Sprung from as good a seed as his,
Sown at the same time,
It is dying at the top:
Not from lack of life, nor fungus,
Nor destroying insect, as the sexton thinks.
Look, Samuel, where the roots have struck rock,
And can no further spread.
And all the while the top of the tree
Is tiring itself out, and dying,
Trying to grow.


(Edgar Lee Masters)

*

Bom dia!

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OBSERVAÇÕES PÓS-PRESIDENCIAIS



Não se ouviu até agora uma única palavra de crítica, reflexão, análise, seja lá o que for, por parte daqueles que patrocinaram ou deram cobertura à aventura de Mário Soares. O que todos eles estão a fazer é a bater em Alegre numa última manifestação de mau perder. O tardo-soarismo acha que não tem qualquer responsabilidade no que aconteceu, mesmo no resultado de Alegre.

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3.2.06


UMA DAS MINHAS CASAS FAZ CEM ANOS


lá estarei para comemorar.

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RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL


Limpador de janelas.

(Afonso Azevedo Neves)

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BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES
(3 de Fevereiro de 2006)


___________________________

A história das caricaturas dinamarquesas é extremamente simples e começa e acaba numa linha: é uma questão de liberdade. Ou há, ou não há.

O que é novo e precupante são as toalhas de palavras e justificações que começam a ocultar o que devia ser absolutamente simples e onde qualquer palavra a mais é demais.

*

Novos problemas (da BBC News) :

"Libraries have warned that the rise of digital publishing may make it harder or even impossible to access items in their collections in the future. Many publishers put restrictions on how digital books and journals can be used. Such digital rights management (DRM) controls may block some legitimate uses, the British Library has said. And there are fears that restricted works may not be safe for future generations if people can no longer unlock them when technology evolves. The British Library spends £2m of its £16m annual acquisitions budget on digital material, mainly reference books and journals. "

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RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL



Ao ver as fotos que tem colocado do trabalho em Portugal, lembrei-me que aqui, no Arquivo Fotográfico Municipal da Figueira da Foz, temos uma quantidade de imagens relativas ao tema muito interessantes.Junto envio uma imagem relativa às Marinhas de sal de Lavos de 1942.

(Guida Cândido)

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CRISTIAN BARBAROSIE / ANCA-MARIA TOADER
POEMAS PROIBIDOS DA ROMÉNIA DOS TEMPOS DE CEAUSESCU


1

Lá fora está um gelo,
A minha casa está um gelo.
Abro a janela e grito:
"Agradeço ao Partido amado,
por me ter treinado !"

(Anónimo)

NOTA: Poema que circulava na altura de boca em boca.

2

Alexandru Andries - Drácula blues

Na corte do voivoda há grande reunião,
Estão fidalgos sentados, e alguns de pé estão, Analisam problemas, discutem o que incomoda, o que não vai bem; Em lugar de honra, sentado, está o próprio Drácula, O fidalgo Velea chama a presença e faz a contagem.

Levanta-se Basil e diz: "Meu Voivoda,
Estamos bem com a produção de cereais e de carne, Ultrapassámos a planificação na indústria de resíduos E fui informado que já ninguem rouba; "Na produção de paus para empalar, Meu Voivoda, somos os primeiros no mundo Até ultrapassámos os americanos, sem receio, podemos dizê-lo!"

"Mas existem problemas mesmo na industria de paus!"
Levanta-se e diz o fidalgo Sulea Trepe.
"Já não temos madeira de plátano, a produção está parada desde óntem, E o carvalho, Dom Empalador, guardámo-lo para fidalgos, Por isso proponho que se façam os paus de madeira de ameixoeira!
Haverá menos bêbados e a madeira é razoavelmente boa ..."

"É uma boa proposta", diz Drácula, "Proponho que a partir de amanhã comece a produção com madeira de ameixoeira!
Que tudo corra bem, o pau de empalar que fique bom Que não desprezem o projecto de design, Que o pau seja esbelto, que satisfaça o cliente Que fique a condizer com o clima e o ambiente, Que enviem elementos do quadro para especialização, A poupança de madeira que não fique esquecida, Por um projecto judicioso que eliminem qualquer sofisma Do modo a que os pau resistem até em caso de sísmo!"

3

Alexandru Andries - Mercearia blues

Abriu a mercearia ao lado da minha casa ...
As prateleiras estão todas vazias,
A loja está cheia de gente !

Passada meia hora chega a carrinha,
Não sabemos o que trouxe, pois entretanto faltou a luz.

Ficamos todos na bicha duas horas e meia, Nós temos BIs, eles pedem passaportes !


NOTA - Nos anos 80, a capital Bucareste era melhor abastecida do que o resto do país. Como consequência, muitas pessoas se deslocavam frequentemente para a capital, com o único objectivo de comprar comida. Para contrariar este fenómeno, as autoridades introduziram a medida de em Bucareste apenas venderem alimentos a pessoas com residência na capital, pelo que era exigida a apresentação do BI. Quanto a passaportes, ninguém tinha, claro.

(Traduções originais)

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© José Pacheco Pereira
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