ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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4.2.06
COISAS SIMPLES
Edward Ruscha, Us (url)
EARLY MORNING BLOGS 714
Samuel Gardner I who kept the greenhouse, Lover of trees and flowers, Oft in life saw this umbrageous elm, Measuring its generous branches with my eye, And listened to its rejoicing leaves Lovingly patting each other With sweet aeolian whispers. And well they might: For the roots had grown so wide and deep That the soil of the hill could not withhold Aught of its virtue, enriched by rain, And warmed by the sun; But yielded it all to the thrifty roots, Through which it was drawn and whirled to the trunk, And thence to the branches, and into the leaves, Wherefrom the breeze took life and sang. Now I, an under-tenant of the earth, can see That the branches of a tree Spread no wider than its roots. And how shall the soul of a man Be larger than the life he has lived? Dow Kritt Samuel is forever talking of his elm -- But I did not need to die to learn about roots: I, who dug all the ditches about Spoon River. Look at my elm! Sprung from as good a seed as his, Sown at the same time, It is dying at the top: Not from lack of life, nor fungus, Nor destroying insect, as the sexton thinks. Look, Samuel, where the roots have struck rock, And can no further spread. And all the while the top of the tree Is tiring itself out, and dying, Trying to grow. (Edgar Lee Masters) * Bom dia! (url) OBSERVAÇÕES PÓS-PRESIDENCIAIS Não se ouviu até agora uma única palavra de crítica, reflexão, análise, seja lá o que for, por parte daqueles que patrocinaram ou deram cobertura à aventura de Mário Soares. O que todos eles estão a fazer é a bater em Alegre numa última manifestação de mau perder. O tardo-soarismo acha que não tem qualquer responsabilidade no que aconteceu, mesmo no resultado de Alegre. (url) 3.2.06
(url) RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL
Limpador de janelas. (Afonso Azevedo Neves) (url) BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES (3 de Fevereiro de 2006) ___________________________ A história das caricaturas dinamarquesas é extremamente simples e começa e acaba numa linha: é uma questão de liberdade. Ou há, ou não há. O que é novo e precupante são as toalhas de palavras e justificações que começam a ocultar o que devia ser absolutamente simples e onde qualquer palavra a mais é demais. * Novos problemas (da BBC News) : "Libraries have warned that the rise of digital publishing may make it harder or even impossible to access items in their collections in the future. Many publishers put restrictions on how digital books and journals can be used. Such digital rights management (DRM) controls may block some legitimate uses, the British Library has said. And there are fears that restricted works may not be safe for future generations if people can no longer unlock them when technology evolves. The British Library spends £2m of its £16m annual acquisitions budget on digital material, mainly reference books and journals. " (url) RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL Ao ver as fotos que tem colocado do trabalho em Portugal, lembrei-me que aqui, no Arquivo Fotográfico Municipal da Figueira da Foz, temos uma quantidade de imagens relativas ao tema muito interessantes.Junto envio uma imagem relativa às Marinhas de sal de Lavos de 1942. (Guida Cândido) (url) CRISTIAN BARBAROSIE / ANCA-MARIA TOADER POEMAS PROIBIDOS DA ROMÉNIA DOS TEMPOS DE CEAUSESCU 1 Lá fora está um gelo, A minha casa está um gelo. Abro a janela e grito: "Agradeço ao Partido amado, por me ter treinado !" (Anónimo) NOTA: Poema que circulava na altura de boca em boca. 2 Alexandru Andries - Drácula blues Na corte do voivoda há grande reunião, Estão fidalgos sentados, e alguns de pé estão, Analisam problemas, discutem o que incomoda, o que não vai bem; Em lugar de honra, sentado, está o próprio Drácula, O fidalgo Velea chama a presença e faz a contagem. Levanta-se Basil e diz: "Meu Voivoda, Estamos bem com a produção de cereais e de carne, Ultrapassámos a planificação na indústria de resíduos E fui informado que já ninguem rouba; "Na produção de paus para empalar, Meu Voivoda, somos os primeiros no mundo Até ultrapassámos os americanos, sem receio, podemos dizê-lo!" "Mas existem problemas mesmo na industria de paus!" Levanta-se e diz o fidalgo Sulea Trepe. "Já não temos madeira de plátano, a produção está parada desde óntem, E o carvalho, Dom Empalador, guardámo-lo para fidalgos, Por isso proponho que se façam os paus de madeira de ameixoeira! Haverá menos bêbados e a madeira é razoavelmente boa ..." "É uma boa proposta", diz Drácula, "Proponho que a partir de amanhã comece a produção com madeira de ameixoeira! Que tudo corra bem, o pau de empalar que fique bom Que não desprezem o projecto de design, Que o pau seja esbelto, que satisfaça o cliente Que fique a condizer com o clima e o ambiente, Que enviem elementos do quadro para especialização, A poupança de madeira que não fique esquecida, Por um projecto judicioso que eliminem qualquer sofisma Do modo a que os pau resistem até em caso de sísmo!" 3 Alexandru Andries - Mercearia blues Abriu a mercearia ao lado da minha casa ... As prateleiras estão todas vazias, A loja está cheia de gente ! Passada meia hora chega a carrinha, Não sabemos o que trouxe, pois entretanto faltou a luz. Ficamos todos na bicha duas horas e meia, Nós temos BIs, eles pedem passaportes ! NOTA - Nos anos 80, a capital Bucareste era melhor abastecida do que o resto do país. Como consequência, muitas pessoas se deslocavam frequentemente para a capital, com o único objectivo de comprar comida. Para contrariar este fenómeno, as autoridades introduziram a medida de em Bucareste apenas venderem alimentos a pessoas com residência na capital, pelo que era exigida a apresentação do BI. Quanto a passaportes, ninguém tinha, claro. (Traduções originais) (url) RETRATOS DO TRABALHO EM BUDAPESTE, HUNGRIA
A caminho do trabalho, Budapeste, 2002 (Paulo Azevedo) (url) EARLY MORNING BLOGS 713 La passe Deux mondes s’abouchent ici. Pour ici monter, quels obstacles ! quelle refoulée des caravanes ! quels gains répétés ! quels espoirs ! M'y voilà, dis-tu ? Souffle. Regarde : à travers l'arche de la Longue-Muraille, toute la Mongolie-aux-herbes déploie son van au bord de l'horizon. C'est toutes les promesses : la randonnée, la course en plaine, l'ambleur à l'étape infinie, et l'évasement sans bornes, et l'envolée, la dispersion. * Tout cela ? Oui. Mais regarde une fois en arrière : l'âpre montée, le rocailleux désir, l'effort allègre et allégeant. Tu ne le sentiras plus, la Passe franchie. Ceci est vrai. (Victor Segalen) * Bom dia! (url) BIBLIOFILIA: CAPAS DE POLICIAIS
(url) 2.2.06
A LENTA DISSOLUÇÃO DOS PARTIDOS - FICÇÕES DE BAIXO Era uma vez um partido político no Reino do Volfrâmio. Era e não era. Era porque era, mas também não era. Confuso, não é? Era um híbrido, meio partido político, meio outra entidade nova que se estava a formar, mutante. Um monstro pois, mas um monstro que não era único. Todos os partidos políticos do chamado Arco Constitucional do Reino eram idênticos, mais coisa, menos coisa. Comecemos por analisar o que acontece "em baixo", no rank and file partidário, para depois irmos "para cima". Imaginem um dirigente de segunda linha desse partido, o chefe da organização num distrito, numa "província", numa região. À sua frente tinha uma débil máquina eleitoral, e uma corporação, agrupando os responsáveis políticos cujas carreiras eram reguladas pelas regras internas do partido, quase todas não escritas, e que se relacionavam num sindicato de interesses, esse sim poderoso. A parte da máquina eleitoral era cada vez menos importante e a organização era mais eficaz para outros fins e objectivos do que para obter votos numa eleição. Funcionava para garantir a prova de vida do partido, como factor de identidade para meia dúzia de velhos militantes que tinham "amor à camisola" e já estavam por tudo. Os "idealistas", os que estavam "passados", os que era preciso "renovar" como diziam os "jovens", que tinham normalmente como programa garantir a "renovação geracional", ou seja, retirar aos mais velhos todos os cargos que eles ainda podiam manter, ou todos os obstáculos que colocassem a serem eles sozinhos a mandar. O que era fundamental numa eleição eram as campanhas eleitorais, para que, gastando-se dinheiro, se alimentasse parte da corporação, que obtinha assim, em períodos de campanhas eleitorais, lucros excepcionais. Obtinha-os do lado dos financiamentos, quase todos feitos por debaixo da mesa e fora do controlo das leis, e que permitiam que alguma coisa ficasse pelo caminho. Mas igualmente importantes eram as oportunidades de despesas eleitorais, sempre exigidas como necessárias, mesmo quando era evidente que não havia qualquer correlação entre o dinheiro que se gastava e os resultados eleitorais. As despesas alimentavam muitos burocratas da corporação, que eram intermediários para compras de bens e serviços, "brindes", marketing, publicidade, tipografias, cartazes, fotografias, salas, cantores, grupos rock, carros e camionetas. Antigos funcionários do partido tinham saído dessa condição para criarem "empresas amigas" que obtinham essas contratações em períodos eleitorais e não só, e que forneciam, a preços acima do mercado e com qualidade inferior, os mesmos serviços que antigamente eram oferecidos ou pela militância gratuita ou pela actividade profissional. Pelo caminho ficava muita coisa: "jovens" que recebiam uma "gratificação" pela militância, paga por outros "jovens" que nunca tinham tido na mão tanto dinheiro para pagar a "equipas" cuja existência e actividades não eram controladas por ninguém. "Pais" que apareciam à porta das sedes para receber o "trabalho" dos filhos que tinham "andado na campanha com o compromisso de serem pagos", e entretanto desaparecera o dinheiro. Numa campanha distrital em que se gastou uma grande fortuna, no fim nem um prego sobrou. Por singular coincidência, todos os bens comprados eram perecíveis, ou desapareceram por milagre no dia seguinte: computadores, impressoras, telemóveis, etc., etc. O que é que se esperava desse dirigente de segunda linha? Que ganhasse eleições? Longe disso, ganhar eleições era um resultado superveniente, que muitas vezes trazia complicações reforçando a independência do dirigente em causa, fazendo-o escapar ao controlo da burocracia corporativa. Esperava-se que actuasse da melhor maneira para gerir as carreiras políticas que dele dependiam, que alargasse o campo da empregabilidade para cada um e a sua família, fizesse um upgrade dos empregos e, em tempos infaustos, que não os perdesse. Esperava-se que fosse o chefe do sindicato de dentro, não o intérprete das esperanças de fora. Havia nos livros do partido uns milhares de militantes, mas efectivamente estes não existiam como tal. Em cada secção do partido existiam cem, duzentos, mil inscritos, de que nem dez por cento frequentavam as sedes e as reuniões, e metade destes eram membros da nomenclatura partidária. A esmagadora maioria dos membros que apareciam como pagando cota efectivamente não as pagavam, mas sim o presidente da secção ou o presidente dos "jovens" que os tinham como massa de manobra eleitoral. O pagamento colectivo de cotas era uma maneira de manter o controlo político de secções, federações e distritais, ou de inflacionar o número de militantes para garantir mais poder de negociação e mais delegados em congresso. Numa secção, o número dos militantes habitual eram oitenta, mas na véspera de cada acto eleitoral duplicava pela mão do presidente, que depois os fazia desaparecer até à próxima vez. Assim poupava nas cotas e garantia a reeleição, ao mesmo tempo que atrasava as filiações novas, que metia numa gaveta. Havia casos em que os militantes nem sequer existiam, eram "fantasmas". Moravam todos numa única casa, para terem uma concentração numa secção quando era útil em termos de sindicato de voto "ganhar" aí as eleições. Falava-se de um talho, ou de um número numa rua que era um tapume, e onde "moravam" dezenas de militantes. O controlo dos cadernos eleitorais e dos registos de filiação, das listas de mailing e outras, eram essenciais para manipular eleições. Havia métodos sofisticados e primitivos. Uma vez um responsável dos "jovens" foi descoberto a assinar delegações de voto em série, cometendo o pequeno erro de o fazer em relação a um militante que entretanto tinha ido para a Austrália e deixado de dar notícias. Foi apanhado na falsificação, mas essa pequena circunstância não lhe impediu continuar uma carreira dentro do partido sem qualquer sobressalto. Aliás, nenhuma destas malfeitorias, conhecidas de todos e comentadas ao sabor das amizades e inimizades, tinha qualquer papel nas carreiras militantes. Embora o partido fosse único, havia uma feroz competição entre três grupos organizados, que se aliavam, se separavam, se fundiam e distinguiam conforme as circunstâncias: os "jovens", os "trabalhadores" e os adultos. Através de mecanismos de inerências de voto, era possível potenciar a representação. Os adultos eram na sua maioria os que estavam lá como se aquela fosse a sua família, eram os do "amor à camisola", ou outros nunca lá iam a não ser quando se lhes pedia para ir votar no amigo, no familiar, no colega. Alguns eram antigos "jovens" e mantinham mecanismos a que chamavam de "solidariedade geracional", ou seja, organizavam-se entre si para manter uma transumância do poder à medida que iam dos "jovens" para adultos. (Continua) * Sem partidos políticos, sem representação das "partes" políticas e ideológicas, não há democracia representativa, a única que conheço que existe como democracia. Mas destas máquinas de interesses e carreiras não precisamos. O autor é ingénuo e pensa que há partidos fora deste estado dos partidos no Reino do Volfrâmio? Pensa, o que pode ser a maior das ingenuidades. (No Público) * |