ABRUPTO

6.2.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: MAIS SOBRE OS PARTIDOS



A propósito da “lenta dissolução dos partidos” gostaria de deixar alguns comentários. Para que se entendam algumas das coisas que digo em seguida informo que tenho 42 anos, tinha portanto 11 anos no 25 de Abril.

Num regime democrático os partidos são inevitáveis. De facto, os partidos são a forma organizada de grupos de cidadãos, partilhando referências ideológicas comuns, intervirem na sociedade. São as “corporações da cidadania”, na medida em as restantes formas de organização colectiva têm fatalmente uma base que não é partilhável pelo universo de todos os cidadãos. Os partidos são o fórum correcto para reunir no seu seio pessoas com interesses e origem diferentes, mas com uma visão comum da sociedade e da forma de a organizar e gerir. Repare-se que os próprios movimentos de cidadania mais não são do que partidos em estado embrionário e que, para terem efectiva capacidade de intervenção na sociedade terão, mais cedo ou mais tarde, que se constituir formalmente como tal. Nesta perspectiva o problema não são os partidos. O problema em Portugal é um problema de qualidade, qualidade dos protagonistas.

A geração que actualmente lidera os partidos de poder (PS e PSD) fez-se adulta nos 10 a 15 anos subsequentes ao 25 de Abril. Os membros activos e líderes dos partidos foram formados no pós 25 de Abril no seio das juventudes partidárias, dedicando grande parte do seu tempo e empenho à actividade política em detrimento da actividade escolar e do empenhamento na obtenção de formação superior de qualidade. Estamos pois em presença de uma geração muito experiente no mundo da “política partidária”, no pior sentido da expressão, mas, de forma geral, muito mal preparada académica e profissionalmente. Se este problema é evidente nas estruturas partidárias nacionais é então gritante e perfeitamente confrangedor nas estruturas regionais.

Mas então e os outros? Os espertos e aplicados que andaram a estudar toda a vida em vez de organizarem festas na Associação de Estudantes para angariar fundos para a concelhia? Bem, esses acharam que valia mais a pena investir em carreiras profissionais sólidas e estão agora no topo do nosso tecido empresarial. E estão tranquilos. Estão tranquilos porque por um lado a democracia não tem alternativa e, por outro lado é sabido que há um preço a pagar por ela. O preço a pagar é admitir um nível razoável (entenda-se suportável economicamente) de corrupção e alguma ineficácia de funcionamento do sistema. E assim, como não há riscos óbvios e imediatos para o regime e o preço tem sido suportável, não houve até aqui razões ponderosas que levassem os melhores desta geração a intervir, tanto mais que a intervenção necessária terá que ser feita através dos partidos e implica necessariamente correr riscos e sujar as mãos. Os riscos fundamentais são os que estão associados à exposição mediática e o sujar das mãos é a necessidade de expurgar o partido em que se intervenha.

A dúvida que se coloca é saber se saberemos reconhecer os sinais de perigo para o regime, a tempo de intervir. De facto, a degradação sucessiva do desempenho dos partidos de poder, pode levar ou ao colapso económico, o que está obviamente longe de se antever de imediato, ou, muito mais grave, à criação de condições para o florescimento de tendências extremistas e populistas que, aproveitando as regras do próprio regime democrático, poderão pô-lo directamente em causa. Veja-se o que se está a passar em Itália, em que claramente a democracia, não a formal mas a substancial, está em risco.

O que há a fazer é pois aderir aos partidos, reunindo grupos de cidadãos disponíveis para, partindo das estruturas locais, promover uma melhoria global do nível médio do militante partidário. Leva tempo, é difícil, mas brevemente será inadiável ...

(Alexandre Candeias Portugal)

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