ABRUPTO

3.2.06


CRISTIAN BARBAROSIE / ANCA-MARIA TOADER
POEMAS PROIBIDOS DA ROMÉNIA DOS TEMPOS DE CEAUSESCU


1

Lá fora está um gelo,
A minha casa está um gelo.
Abro a janela e grito:
"Agradeço ao Partido amado,
por me ter treinado !"

(Anónimo)

NOTA: Poema que circulava na altura de boca em boca.

2

Alexandru Andries - Drácula blues

Na corte do voivoda há grande reunião,
Estão fidalgos sentados, e alguns de pé estão, Analisam problemas, discutem o que incomoda, o que não vai bem; Em lugar de honra, sentado, está o próprio Drácula, O fidalgo Velea chama a presença e faz a contagem.

Levanta-se Basil e diz: "Meu Voivoda,
Estamos bem com a produção de cereais e de carne, Ultrapassámos a planificação na indústria de resíduos E fui informado que já ninguem rouba; "Na produção de paus para empalar, Meu Voivoda, somos os primeiros no mundo Até ultrapassámos os americanos, sem receio, podemos dizê-lo!"

"Mas existem problemas mesmo na industria de paus!"
Levanta-se e diz o fidalgo Sulea Trepe.
"Já não temos madeira de plátano, a produção está parada desde óntem, E o carvalho, Dom Empalador, guardámo-lo para fidalgos, Por isso proponho que se façam os paus de madeira de ameixoeira!
Haverá menos bêbados e a madeira é razoavelmente boa ..."

"É uma boa proposta", diz Drácula, "Proponho que a partir de amanhã comece a produção com madeira de ameixoeira!
Que tudo corra bem, o pau de empalar que fique bom Que não desprezem o projecto de design, Que o pau seja esbelto, que satisfaça o cliente Que fique a condizer com o clima e o ambiente, Que enviem elementos do quadro para especialização, A poupança de madeira que não fique esquecida, Por um projecto judicioso que eliminem qualquer sofisma Do modo a que os pau resistem até em caso de sísmo!"

3

Alexandru Andries - Mercearia blues

Abriu a mercearia ao lado da minha casa ...
As prateleiras estão todas vazias,
A loja está cheia de gente !

Passada meia hora chega a carrinha,
Não sabemos o que trouxe, pois entretanto faltou a luz.

Ficamos todos na bicha duas horas e meia, Nós temos BIs, eles pedem passaportes !


NOTA - Nos anos 80, a capital Bucareste era melhor abastecida do que o resto do país. Como consequência, muitas pessoas se deslocavam frequentemente para a capital, com o único objectivo de comprar comida. Para contrariar este fenómeno, as autoridades introduziram a medida de em Bucareste apenas venderem alimentos a pessoas com residência na capital, pelo que era exigida a apresentação do BI. Quanto a passaportes, ninguém tinha, claro.

(Traduções originais)

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© José Pacheco Pereira
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