ABRUPTO

8.1.05


AR PURO


Levitan

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GRANDES NOMES: PEDRA DO VENTO / PENEDO DA SAUDADE

"(...) lembrei-me de lhe mandar o nome por que o Penedo da Saudade, em Coimbra, foi conhecido até aos finais do século XVI: Pedra do Vento. Não é bonito? De Coimbra, onde recentemente pegou a moda de dar, às ruas da cidade, nomes de árbitos! lhe mando pois esta...pedrada!"

(Ana Pires)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TSUNAMISMO, PARTE 2

"Só agora tive oportunidade de ler os textos de diversos autores que, sobre a utilização dos termos "maremoto" e "tsunami", JPP incluiu no seu blogue do passado dia 2 do corrente.Ora, sem querer alimentar a controvérsia, acho, mesmo assim, interessante tecer alguns comentários ao texto assinado por Luís Macedo, até pela contundência com que "enfatiza" a questão.

É possível que a sua (dele) idade cronológica apenas lhe permita recuar até à longínqua era em que as escolas deixaram de ter nomes e passaram a definir-se por fórmulas matemáticas do tipo "EB 2 +3+S". No entanto, em períodos anteriores, quando os alunos, depois de saírem da escola primária, ingressavam no primeiro ano do ensino liceal, já estudavam estas questões. Imagine-se o despautério.
Aliás, nesse tempo, os alunos também sabiam que "a onda que se gera como resultado de deslocamentos do fundo oceânico em resposta a rupturas associadas a fenómenos de deslocamento das placas litosférias" já, por diversas vezes, tinha assolado a costa portuguesa e, de forma bem dramática, se recordarmos o sucedido em 1755. Como sabiam, também, que não há sismos "com epicentro no mar". É que o mar não tem sismos. Estes ocorrem sempre em terra, quer ela seja coberta de água ou de ar. Ora, se os portugueses de 1755 não precisaram de importar um estrangeirismo para baptizar o fenómeno que abalou a Europa de então, talvez fosse conveniente consultarmos, agora, um simples dicionário. Como exemplo, sugiro o "grande Dicionário da língua Portuguesa", coordenado por José Pedro Machado, no qual "maremoto" vem definido como "grande agitação do mar devido a oscilações sísmicas." (Cf. terramoto). Para que a erudição sobre a floresta não nos impeça a beleza da perspectiva da árvore."

(António Vicente)
*

"Quanto ao maremoto , lembro-me de ter aprendido a diferença (já explicada pelos seus leitores) no 7o ano. Mas gostaria de acrescentar algo. Não penso que seja uma palavra de tao fácil dicção, senão não teria ouvido dizer no outro dia em vez de maremoto, maremorto. Penso que isto deve ter acontecido devido à tamanha mortandade que provocou e também porque existe o mar morto o qual muita gente já deve ter ouvido falar. Ou talvez não. Ainda assim, o uso da palavra não tem regra nos telejornais em Espanha. Não justifica, mas amortiza. É mau(péssimo) mas é verdade."

(Filipe Figueiredo)

*

" O que diz o DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA , da Academia de Ciências de Lisboa sobre o termo
Maremoto (Do lat. mare, -is 'mar' + motus 'movimento'). Alteração violenta das águas do mar causada por oscilações sísmicas do solo submarino; tremor do mar. (..)

O que diz a WIKIPEDIA sobre o termo 'tsunami'
(...) a natural phenomenon consisting of a series of waves generated when an abrupt or pulsating vertical displacement occurs in a large body of water such as a lake, the sea or a coastal inlet. Earthquakes, landslides, volcanic eruptions, explosions, and the impact of extraterrestrial bodies such as meteorites, can generate tsunamis which can rapidly and violently inundate coastlines, causing devastating property damage, injuries, and loss of life due to injuries or drowning.

The term "tsunami" comes from the Japanese language ?? meaning harbor ("tsu") and wave ("nami"). The term was created by fishermen who returned to port to find the area surrounding the harbour devastated, although they hadn't been aware of any wave in the open water. A tsunami is not a sub-surface event in the deep ocean; it simply has much smaller amplitudes (wave heights) offshore, and very long wave lengths (sometimes over 100 kilometers long), which is why they generally pass unnoticed at sea, forming only a passing "hump" in the ocean.

Tsunamis were historically referred to as tidal waves because as they approach land they take on the characteristics of a violent onrushing tide, rather than the sort of cresting waves that are formed by wind action upon the ocean (with which people are more familiar). However, as they are not actually related to tides, the term is considered misleading, and its use is discouraged by oceanographers.

e a BRITANNICA
(...) Catastrophic ocean wave, usually caused by a submarine earthquake with a magnitude greater than 6.5 on the Richter scale.

Parece-me que podemos concluir que ambos os termos designam o mesmo fenómeno, ou não?"

(Paula B.)

*

"Contrariamente ao que escreve o leitor Luis Macedo um Maremoto não é um sismo com epicentro no mar. Segundo o dicionário da Porto Editora e passo a citar "O maremoto corresponde a uma sucessão de ondas, causada pela deslocação brusca de uma grande quantidade de água do mar, cuja origem pode estar relacionada com actividade sísmica ou vulcânica (ocorrida no mar), deslizamento de solos marinhos, movimentos e correntes oceânicas, ventos ou fortes tempestades..."

É curioso ainda que na entrada Maremoto aparece tambem Tsunami o que leva a pensar que a palavra já está "incorporada"...

maremoto
substantivo masculino
GEOGRAFIA
1 - grande agitação das águas marítimas por vibrações sísmicas, erupções vulcânicas submarinas ou fenómenos de abatimento do fundo, que originam ondas solitárias;

2 - invasão da costa e do litoral pela onda solitária devastadora;

(Do lat. mare-, «mar» +motu-, «movimento»)

tsunami
substantivo masculino
GEOGRAFIA
vaga oceânica provocada por um tremor de terra submarino, por uma erupção vulcânica ou por um tufão;
maremoto;
(Do jap. tsunami, «id.»)

De atentar no seguinte texto associado sobre o terramoto de 1755 em que as palavras terramoto e maremoto são usadas com significado diferente...

Na manhã de 1 de Novembro, dia de Todos os Santos, um violento terramoto fez-se sentir em Lisboa, Setúbal e no Algarve. Na capital, local onde atingiu maior intensidade, foi acompanhado por um maremoto que varreu o Terreiro do Paço e por um gigantesco incêndio que, durante 6 dias, completou o cenário de destruição de toda a Baixa de Lisboa.
Este trágico acontecimento foi tema de uma vasta literatura, que se desenvolveu um pouco por toda a Europa e de que é exemplo o poema de Voltaire Le Désastre de Lisbonne (1756)...

Como referenciar este artigo: Terramoto de 1755 e Reconstrução Pombalina. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2005. [Consult. 2005-01-03].

(Fernando Manuel Soares Frazão)


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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:JOSÉ MÁRIO BRANCO AUTOR DE CAMÕES

"Ainda a propósito da utilização da língua portuguesa nas televisões, terá reparado (...) na forma como um jornalista da televisão pública encerrou um programa cujo nome nem me recordo, mas que era uma espécie de revista do ano 2004? (Descobri agora que o programa se chamou: 2004: O ANO EM REVISTA Os acontecimentos mais mediáticos do ano 2004 - Apresentação de Pedro Oliveira. Sínteses e textos de Márcia Rodrigues.)

Pois o prezado cavalheiro (...) conclui com uma frase mais ou menos assim:

"- Como dizia o poema de José Mário Branco:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Muda-se o ser, muda-se a confiança
Todo o mundo é composto de mudança
Tomando sempre novas qualidades"

(perdoem-me alguma inexactidão, pois estou a refazer a quadra de cor)

Ora quantas voltas não terão dado os ossos do velho Luis Vaz, estejam eles onde estiverem? Como é possível que o monstro da RTP alimente esta ignorância e (...) nos presenteia com esta alarvidade de nescitude e desrespeito? (...)"

(Carlos Robalo)

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VIVA A GLOBALIZAÇÃO!

Uma semana depois de instalar o software da Geoloc que identifica em tempo real a origem dos leitores do Abrupto, para quase 60.000 visitas (um dia em baixo), já se podem tirar conclusões. (Deixo de parte os “hits” que me parecem ocasionais.) O Abrupto é lido em 63 países, da Nova Zelândia ao Canadá, do Mali ao Uruguai, da Rússia à Costa Rica. O grosso dos leitores é de Portugal, mas há muitos leitores nos EUA, em França, no Brasil, no Reino Unido e Espanha, por esta ordem. Todos os países europeus e americanos (Sul e Norte) têm leitores. Surpresas: um núcleo de leitores no Irão, que todos os dias voltam ao Abrupto, o pequeno número de leitores em Angola e Moçambique em comparação com os de Macau, Cabo Verde, Finlândia e Japão.

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GRANDES NOMES: TARANTELLA



A dança da aranha. Ouvir uma “pizzica tarantata indiavolata” faz bem à saúde. Só o nome não podia ser mais enfático, três fúrias em sequência regular, particularmente potenciadas se for em circunstâncias "indiavolatas".

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BOAS COISAS NO JORNALISMO PORTUGUÊS EM 2004, VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR (Versão 2.0)

O Público (declaração de interesse: onde escrevo) e a opinião com coluna vertebral. Por muito que custe a outros, se quer opinião na imprensa escrita, tem que ir ao Público.

O Provedor do Público revelou-se exigente e crítico dos “seus”, revelando independência face aos próximos e atenção aos interesses dos leitores e à qualidade do jornalismo a que eles têm direito.

A Sábado (declaração de interesse: onde escrevo) é uma boa revista, infelizmente ignorada por uma política de “sinergias” que leva a promoções e silêncios selectivos do que lá se publica e é de interesse geral. Por exemplo: uma entrevista reveladora de Paulo Portas, cheia de “cachas” que ficaram ignoradas.

A Capital continua a ser um jornal muito desequilibrado, em parte por radicalismo, em parte por evidente falta de meios. Mas nele encontram-se informações que não se encontram em mais lado nenhum.

O Clube dos Jornalistas da Dois tornou-se a primeira genuína plataforma de debate (auto)crítico do jornalismo para o resto do povo (que está na Dois àquelas horas). Nem sempre vai tão longe como devia, mas às vezes vai o bastante, o que é uma ruptura no corporativismo pavloviano da classe. Também depende muito de quem o apresenta.

A informação / opinião económica na SIC Notícias é de grande qualidade. Perez Metelo na TVI é um divulgador especializado com grandes qualidades comunicativas.

A edição de livros e revistas sobre comunicação está de vento em popa. Para além da Trajectos e Media e Jornalismo, as colecções "Media e Sociedade" da Editorial Notícias e "Comunicação" da Minerva tem dado origem a trabalhos interessantes que revelam como, à distância, os estudos académicos demonstram muito daquilo que os jornalistas não querem admitir mais em cima dos acontecimentos: bias, distorções e manipulações, militância política. O papel de alguns professores, como Mário Mesquita, é fundamental nesta reflexão.

Bons blogues sobre jornalismo com destaque para Jornalismo e Comunicação e Ponto Média, que ganhou o Prémio BOB da Deutsche Welle.

As séries da HBO na Dois, em particular os Sopranos, como opção editorial do canal.

Entrevistas de Carlos Vaz Marques na TSF. (Sugestão de vários leitores.)

*

PÉSSIMAS COISAS NO JORNALISMO PORTUGUÊS EM 2004, VISTAS PELO MESMO

A decadência do Diário de Notícias que começou com a direcção Lima e se acentuou com as grandes manobras que o levaram a pedir a demissão. O Diário de Notícias foi a principal vítima da nacionalização guterrista da Lusomundo e das nomeações políticas que se lhe seguiram.. O jornal perdeu conteúdo noticioso e encheu-se de textos de opinião menoríssimos, com encomendas diversas.
"A pior coisa de um político que se quer responsável é falar de cor. Já percebi que o autor do Abrupto tem uma memória selectiva que o leva a «arrasar» o passado quando não lhe convém. Porque sou visado no seu comentário, gostava de acrescentar o seguinte: fui convidado para a Direcção do DN porque este matutino estava bloqueado, devido à opção editorial de tabloidização que o descredibilizara como jornal de referência; das actas da Alta Autoridade para a Comunicação Social constam as referências que fiz ao estado em que encontrei o DN, quando ali fui ouvido em 4 de Novembro de 2004; a colecção do DN não mente sobre o jornal que a minha Direcção herdou, nem sobre o que fez no curto espaço de tempo que lhe foi permitido permanecer. Quanto às peripécias que rodearam o meu afastamento – e o mal que também causaram ao DN - é um caso tão triste e vergonhoso que me dispenso de voltar ao assunto."

(Fernando Lima)
O problema do que escreve Delgado não está nas suas opiniões mas na má qualidade dos escritos. Proselitismo acéfalo, mau português, pouca informação, wishful thinking, ressentimento, grau zero de pensamento e ataques pessoais até dizer basta. Se não tivesse as funções de nomeação política que tem nenhum jornal sério o publicaria.

A “central de informações” tornou-se o símbolo visível da tentativa do governo Santana Lopes-Paulo Portas para interferir na comunicação social invadindo-a de notícias “positivas”. Depois, clandestinamente, viriam as “negativas” (para os adversários) porque as empresas e os jornalistas envolvidos na operação oferecem “promoções” e “despromoções”.

A saída de Marcelo da TVI foi o principal resultado, insisto resultado, da política do “contraditório” governamental.

Saída de Sena Santos da Antena 1, independentemente das razões que a motivaram. (Sugestão de Diogo Salvi com que concordo.)

Plágios dos blogues onde se tem destacado o Público. Só para falar dos que são mais visíveis, porque há muito mais – ideias, palavras, classificações, assuntos – que só os autores originais dão por ela. E os plagiadores.

O processo da pedofilia na Casa Pia é o símbolo do vale tudo na luta pelas audiências e pelas tiragens.

A masturbação da dor, mais uma vez, a propósito do massacre causado pelo maremoto asiático.

500 horas de futebol na RTP durante o Euro2004 e está dito tudo sobre o “serviço público”.

O fim dos noticiários como eu os conhecia, com notícias. Agora são espectáculos, com as notícias a correrem num roda-pé quase por desculpa. ( A excepção é o Jornal 2 da Dois.)
"Parece-me (declaração de interesse: sou coordenador e apresentador do mesmo, embora apenas semana sim, semana não, alternando com a Alberta Marques Fernandes) que o Jornal 2 não deveria ser metido no mesmo saco, nem mesmo por omissão, onde estão os telejornais dos canais generalistas. Está o Jornal 2, evidente e infelizmente, ainda longe do que eu pessoalmente entendo dever ser um serviço diário de informação no Serviço Público, o tal “noticiário” como V. e eu conhecíamos. Mas o esforço meu pessoal e da minha reduzidíssima equipa é, garanto-lhe, persistente e intenso. E asseguro-lhe que, comigo, não haverá ali acolhimento para “a telha que caíu na cabeça da D. Mariquinhas”, para usar a pertinente expressão do dr. Alberto João Jardim. "

(Vasco Trigo)
Manuela Moura Guedes faz um comício do ex-PP de Monteiro e Portas em todos os noticiários da TVI. Não é mau para nos lembrarmos de onde aquilo vem, mas apetece voltar a meter-lhe as palavras na boca.

As notícias da primeira página do Expresso, quase todas encomendas, muitas falsas, inverificadas e especulativas.

NOTA: por muito grande consumidor que seja, não posso ler/ouvir/ver tudo. Por exemplo: tenho ouvido pouca rádio, daí a fraca representação da rádio. O texto passou da versão 1.0 a 2.0 com a colaboração dos leitores do Abrupto.

*

Algumas opiniões que não posso de todo julgar por desconhecimento meu
"Se puder deitar-lhes a mão, leia os textos de Joel Costa na Antena 2. É a estação radiofónica que oiço. Outras, dificílmente consigo suportar. Até a Antena 1 transmite notícias (?) de futebol de meia em meia-hora pelo menos durante a manhã."

(João Dias Costa)

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AMNÉSIA

Tanto esquecimento no PSD! Fazem parte do património legislativo do partido, várias propostas destinadas a baixar a percentagem dos votos necessários para se poder governar em maioria absoluta. Uma delas apontava o limiar dos 38% dos votos e deu origem a uma grande discussão sobre a falta de governabilidade induzida pelo sistema eleitoral. O problema não é só do PSD, é também do PS, com muitas dificuldades para fazer coligações à esquerda pela marginalização do PCP da governação.

O PCP e o PP, que se lhes opuseram, lembram-se certamente dessas propostas. O PSD esqueceu-se. Hoje raciocina como um pequeno partido que precisa de garantias para se coligar e desistiu de chegar lá sozinho. A governabilidade interessa-lhe pouco e ficar refém do PP importa ainda menos a muitos que desejam o PSD como partido de direita.Começa a interiorizar uma pequenez que não lhe pertence.

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LENDO DENISE DUHAMEL

Em trânsito. Kinky, e The Star-Spangled Banner mais propriamente. E parando em poemas como este

Buddhist Barbie

In the 5th century B.C.
an Indian philosopher
Gautama teaches "All is emptiness"
and "There is no self."
In the 20th century A.D.
Barbie agrees, but wonders how a man
with such a belly could pose,
smiling, and without a shirt.


e Sex with a Famous Poet e Yes, que ficam para outra altura, mais / menos repousada.

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DE REGRESSO

da lava, em breve.

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7.1.05



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5.1.05


EARLY MORNING BLOGS 401

Crossroads


The second half of my life will be black
to the white rind of the old and fading moon.
The second half of my life will be water
over the cracked floor of these desert years.
I will land on my feet this time,
knowing at least two languages and who
my friends are. I will dress for the
occasion, and my hair shall be
whatever color I please.
Everyone will go on celebrating the old
birthday, counting the years as usual,
but I will count myself new from this
inception, this imprint of my own desire.

The second half of my life will be swift,
past leaning fenceposts, a gravel shoulder,
asphalt tickets, the beckon of open road.
The second half of my life will be wide-eyed,
fingers shifting through fine sands,
arms loose at my sides, wandering feet.
There will be new dreams every night,
and the drapes will never be closed.
I will toss my string of keys into a deep
well and old letters into the grate.

The second half of my life will be ice
breaking up on the river, rain
soaking the fields, a hand
held out, a fire,
and smoke going
upward, always up.


(Joyce Sutphen)

*

Bom dia! Até já.

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AR PURO


Levitan

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4.1.05


GRANDES NOMES: MARIA ROSA MÍSTICA

Nome dado à Virgem. Nas catacumbas o desenho de rosas simbolizava o Paraíso.

O Padre António Vieira escreveu vários sermões com este título sobre as virtudes do Rosário. O censor, Rafael Bluteau, escreveu sobre eles:

"não achando nele coisa alguma contra a nossa santa fé ou bons costumes, a censura que lhe dou é que todos – na minha opinião – se poderão queixar deste livro: os leitores, porque terão tanto que admirar que lhes faltará tempo para ler, e os escritores, porque terão tanto que observar que não lhes ficará lugar para escrever, (…) Desmente, pois, esta obra as obras da natureza, porque, sendo cada folha deste livro uma rosa, não há em todas estas rosas um espinho."

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CARTAZ DE CAMPANHA



Se Sá Carneiro fosse vivo, a sua fotografia saltaria dali mais rápido ainda do que a de Cavaco.Haja respeito pelos mortos, que já não estão cá para falar e se defender, mas sempre fizeram e escreveram o bastante para se perceber a abissal diferença. Abissal.

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GRANDES NOMES: "O ROUXINOL DO NILO"

Também conhecida como a “Senhora”, (Al-Sitt), a “Estrela do Oriente”, (Kwakab al-shark), e muitos outros nomes, Um Kulsum, a grande cantora egípcia.

Abdel Halim Hafez, outro grande cantor, também usou o nome de “Rouxinol”.


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GRANDES NOMES: "PASMO DE TRIANA"

Juan Belmonte, toureiro, conhecido como "Pasmo de Triana".
Dele se conhece este diálogo com Ramón Valle-Inclán:

" Valle-Inclán: “Es usted divino, Juan; sólo le falta morir en la plaza”.

Belmonte contestó: -Se hará lo que se pueda, Don Ramón.
"

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GRANDES NOMES: MANI DI FATA


A revista agora é anódina e provavelmente igual a muitas outras (não sou especialista). Mas lembro-me bem da velha Mani di Fata, com os suplementos dos bordados que a minha mãe fazia, em renda branco-prata sobre azul escuro, um azul parecido com as cópias a químico. Outro mundo, o das mãos de fada.

*
(...) ao ler o “post” Mani di Fata fui repentinamente assaltado por gratas recordações de saudosos tempos de infância, e senti uma grande vontade de as exteriorizar.

Apesar de ser ligeiramente mais novo, também eu me lembro bem da revista Mani di Fata. O nome era pronunciado de tal modo, pela minha mãe e amigas, que sempre me pareceu ser constituído apenas por uma única palavra - Manidifata – assim mesmo, de uma assentada só.

Lembro-me da minha avó, da irmã dela, da prima, todas na sala de costura (sim, naquele tempo havia casas com sala de costura) sentadas entre almofadas, pedaços de pano e de linhas dispersas pelo chão. E eu, descalço, sempre temerário às agulhas, por ali andava a imaginar pequenos mundos, evitando pisar território desconhecido, tendo como música de fundo as sábias palavras das fadas do lar. E adormecia ao som das cuscuvilhices sobre a vida das vizinhas da terra da minha avó, que acho que nunca conheci, mas de cuja vida sempre estive bem informado.

E havia também a Burda. Outra revista obrigatória nestes temas. Esta trazia os moldes que pemitiam fazer os modelos tal e qual se mostrava na revista. Era só seguir a linha correspondente ao número desejado, cortar as peças de pano, coser e voilá. E quem melhor para servir de cobaia do que o filho único e protegido...

Como consequência, no tempo em que o pronto a vestir se começava a impôr e numa altura em que, na escola, um jovem púbere era avaliado/aceite pelos seus pares em função do valor e da marca da indumentária, acabei por ser o alvo escolhido para testes de resistência aos variados tecidos.
(Gilberto Vasco)


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O QUE É O PSD SEM…

O que é o PSD sem nenhum dos seus líderes anteriores a Santana Lopes? Sem Rui Machete, Marcelo, Durão Barroso, Fernando Nogueira, Cavaco Silva. O que é o PSD sem nenhum dos seus ministros das Finanças dos últimos governos até ao de Santana Lopes, que era do PP? O que é o PSD sem nenhum dos seus ministros de relevo, dos Assuntos Parlamentares, da Economia (excepção para Álvaro Barreto), etc., etc. até aos governos de Santana Lopes? O que é o PSD sem nenhum dos seus lideres parlamentares até à última legislatura (com excepção de Duarte Lima)? O que é o PSD sem as suas figuras públicas que ainda conseguem falar para a universidade, para os jovens, para os empresários, para os sectores mais dinâmicos da sociedade? O que é o PSD sem os self made man que o fizeram, em vez dos assessores, dos mil e um detentores de cargos de nomeação estatal ou autárquica, sem profissão que não seja o partido?

É o PSD que jantou em Lisboa com Santana Lopes. A reportagem da Lux é elucidativa: meia dúzia de actores, respeitáveis é certo, mas a milhas do que é o teatro de hoje, artistas de variedades, socialites, fadistas… Eu sei que muitos militantes lá estiveram com dedicação ao seu partido e a Portugal. Mas deviam olhar à volta e pensar como é que se chegou aqui, que tipo de selecção está a ser feita.

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AR PURO


Levitan

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INTENDÊNCIA

A versão 2.0 do BOAS / PÉSSIMAS COISAS NO JORNALISMO PORTUGUÊS EM 2004 terá que esperar um pouco mais, dada a abundância dos contributos recebidos e alguns pesos e medidas a ter em conta.

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GRANDES NOMES: DINAMITE CEREBRAL

Nome de um grupo anarquista dos anos vinte (?) do século XX.

GRANDES NOMES

Em breve Edelweiss, Mani di Fata, Heno de Pravia e outros.

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GRANDES NOMES: MENINA E MOÇA

"Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe. Que causa fosse então a daquela minha levada, era ainda pequena, não a soube. Agora não lhe ponho outra, senão que parece que já então havia de ser o que depois foi. Vivi ali tanto tempo quanto foi necessário para não poder viver em outra parte. Muito contente fui em aquela terra, mas, coitada de mim, que em breve espaço se mudou tudo aquilo que em longo tempo se buscou e para longo tempo se buscava. Grande desaventura foi a que me fez ser triste ou, per aventura, a que me fez ser leda. Depois que eu vi tantas cousas trocadas por outras, e o prazer feito mágoa maior, a tanta tristeza cheguei que mais me pesava do bem que tive, que do mal que tinha."

Bernardim (outro grande nome) Ribeiro

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GRANDES NOMES: O HORTO DO ESPOSO


Códice alcobacense de autoria anónima, de finais do século XIV, ou dos primeiros anos do século XV. Nele se escreve: «Uaydade de uaydades, e todallas cousas som uaydades».

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GRANDES NOMES: MENINO JESUS DA CARTOLINHA


Um resto de antigas guerras em Miranda do Douro.


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EARLY MORNING BLOGS 400

New Eyes Each Year


New eyes each year
Find old books here,
And new books,too,
Old eyes renew;
So youth and age
Like ink and page
In this house join,
Minting new coin.


(Philip Larkin)

*

Bom dia!

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3.1.05


COISAS SIMPLES


James Craig Annan

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O RELAXAR DOS TIGRES

"Diz ele (quatro anos e meio): Mãe, os tigres sobem para as árvores?

Eu, insegura dos comportamentos dos tigres, mas segura de que não queria nem uma longa conversa, nem defraudar expectativas, digo: Sobem, pois.

Diz ele: É para dormir não é?

Eu (sem olhar nem dar importância): Claro que é!

Diz ele: E para relaxar…

(escusado será dizer que toda uma nova perspectiva sobre o comportamento dos animais selvagens se abriu para mim com a introdução do “relaxamento” no seu reino)."

(J.)

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GRANDES NOMES: JAMAIS DE LA VIE

O nome do perfume de Justine no Quarteto de Alexandria.
(Não há nenhum perfume com este nome… só um baton da Lancôme.)

GRANDES NOMES: PRÍNCIPE NEGRO

Príncipe Eduardo de Inglaterra , conhecido como o “Príncipe Negro”(1330-1376), talvez pela cor da armadura.

GRANDES NOMES: O ANACORETA DO AR

Nome que o Padre António Vieira dá a Simeão Estilita, "a quem com razão podemos chamar Anacoreta do Ar, e não da terra. Vivia sobre uma coluna de trinta e cinco côvados de alto, onde perseverou oitenta anos ao sol, ao frio, à neve, aos ventos, comendo uma só vez na semana, e orando de dia e de noite, quase sem dormir."

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INTENDÊNCIA

Coloquei no VERITAS FILIA TEMPORIS os dois artigos que publiquei em Março de 2002 sobre a campanha eleitoral do Porto ocorrida nessa altura. À luz das escolhas que estão a ser feitas na lista do PSD no Porto, e das atitudes recentes de Pinto da Costa, penso que é mais que útil lembrar o que aconteceu nessa já completamente esquecida campanha de há quase três anos.

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À ESPERA


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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O "TSUNAMISMO"

"Tenho escrito para não sei quantos órgãos de comunicação social a recordar que não há motivo nenhum para abandonar a expressão Portuguesa “Maremoto” em favor da Japonesa “Tsunami”. Maremoto é aliás uma excelente palavra de fácil dicção e cujo sentido é fácil de apreender dada a proximidade a “terramoto”.

No noticiário de 1 de Janeiro da Rádio Renascença chegou-se ao cúmulo de noticiar o desastre ocorrido no Índico usando indistintamente “Tsunami” e “Maremoto“, como se a língua Portuguesa fosse, para a comunicação social nacional, de uso voluntário. A seguir passou a gravação do Papa a dar a mensagem de ano novo em língua Portuguesa: para este Polaco é importante falar Português quando se dirige aos lusófonos.

O “Tsunamismo” é mais irritante no serviço público. Para a RTP é absolutamente indiferente usar uma expressão ou outra."

(Manuel Pinheiro)

*

"(...) maremoto e tsunami são de facto termos distintos e cuja distinção, hoje mais do que nunca atendendo ao frenesim circense mediático a que se assiste, importa enfatizar. A palavra maremoto, desde que se ensinam ciências naturais no 7º ano de escolaridade, concretamente a área de conhecimento da geologia, é o termo utilizado para designar um sismo com epicentro no mar. Já a palavra tsunami, sem que se faça uso da analogia japonesa sobejamente conhecida pelos dias que correm e que, por economia de tempo e palavras, não vale agora a pena recordar, é o termo utilizado para designar a onda que se gera como resultado de deslocamentos do fundo oceânico em resposta a rupturas associadas a fenómenos de deslocamento das placas litosférias, rupturas essas frequentes quando num contexto geotectónico de bordo de placas como aquele que se verifica na zona do epicentro desse sismo. Assim, dependendo da energia libertada pelo sismo e o consequente deslocamento e ou ruptura associada, um maremoto pode ou não provocar um tsunami. Eu deixaria antes a minha crítica à comunicação social pela forma distinta, umas vezes, e indistinta, outras vezes, como utilizou este termo, convidando engenheiros de estruturas em lugar de geólogos a explicar um fenómeno eminentemente geológico e explorando a catástrofe em lugar de explorar a necessidade de medidas preventivas no nosso país contra fenómenos parecidos, como de resto tem vindo a ser seu apanágio nos últimos anos… Mas tudo vai bem, temos já o Sporting-Benfica no próximo sábado pelo que dessa forma, ainda que de forma lamentável, deverá abrandar o chorrilho de lugares comuns e erros científicos que qualquer puto do 7º ano será capaz de apontar aos senhores da comunicação social, que falam de futebol e ciência como se fossem licenciados em ambas as áreas… É verdade, nós no nosso país, como na Inglaterra e outros países de vanguarda, tanto quanto me é dado a perceber pelos programas do ensino público, também ensinamos o que são tsunamis e sismos, e que até são sentidos ás dezenas todos os dias, vá-se lá saber…"

(Luís Macedo)

*

"A expressão portuguesa "Maremoto" é, de facto, fácil de apreender e ilustra o ocorrido na perfeição (embora, pessoalmente, prefira a expressão "Tsunami"). O problema é que, a maioria dos jornalistas portugueses com cargos de responsabilidade, são da minha geração. A mesma geração que aprendeu nos livros da escola secundária, que um maremoto era um terramoto numa zona banhada por um oceano... E nunca se fez o devido paralelo com a expressão "Tsunami". Daí que, para muito boa gente, um maremoto é um terramoto em superficie oceânica, e um Tsunami é uma consequência desse maremoto. E não há quem clarifique de uma vez por todas, esta questão nas redações da imprensa portuguesa."

(Daniel Rodrigues)

*

"Não colocando o mesmo empenho na defesa da língua que o manifestado pelo leitor Manuel Pinheiro (a mim não me repugna que o Japão contribua para o enriquecimento do português com a palavra tsunami), acrescento outra expressão sinónima para designar o fenómeno em causa: raz de maré."

(António Cardoso da Conceição)

*

"Não sendo eu um linguista (estou mesmo muito longe) permita-me, ainda assim, a seguinte opinião quanto à utilização, considerada desnecessária por parte do Sr. Manuel Pinheiro, da palavra tsunami. Da minha formação científica aquilo que retive é que maremoto significa sismo sob o oceano, enquanto tsunami é a onda consequente. Daqui se retira a utilidade para a nossa língua de dois termos distintos."

(Pedro Barros)

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UMA CONVERSA OUVIDA: ARQUEOLOGIA

Ela disse: “este livro custou-me quinhentos paus, para aí

Ele disse: “daqui a uns anos vão ter que fazer uma nota de rodapé se continuas a falar assim…

“Porquê?”

“Porque isso dos “paus” vai desaparecer. Não estás a ver os euros ficarem assim…plebeus.”

“Estás-me a chamar nomes?”

“Estou, mas a culpa é dos euros.”


*

"Pouco depois da entrada em circulação (física) do Euro o meu filho tentou cravar-me "vinte europaus". A coisa teve piada mas nem a expressão pegou nem ele levou o dinheiro. Uma possível explicação para a dupla negativa reside no casamento gritantemente contranatura entre o nosso calão e a higienizada linguagem de Bruxelas, ou como se tivesse sido criada uma aberração linguística."

(af)

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INTENDÊNCIA

No Portal do Astrónomo escrevi sobre Um Mar Diferente.

A versão 2.0 de BOAS / PÉSSIMAS COISAS NO JORNALISMO PORTUGUÊS EM 2004, com as sugestões recebidas dos leitores será colocada em linha no final do dia.

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COISAS SIMPLES


Boucher

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EARLY MORNING BLOGS 399

Welcome


if you believe nothing is always what's left
after a while, as I did,
If you believe you have this collection
of ungiven gifts, as I do (right here
behind the silence and the averted eyes)
If you believe an afternoon can collapse
into strange privacies-
how in your backyard, for example,
the shyness of flowers can be suddenly
overwhelming, and in the distance
the clear goddamn of thunder
personal, like a voice,
If you believe there's no correct response
to death, as I do; that even in grief
(where I've sat making plans)
there are small corners of joy
If your body sometimes is a light switch
in a house of insomniacs
If you can feel yourself straining
to be yourself every waking minute
If, as I am, you are almost smiling . . .


(Stephen Dunn)

*

Bom dia!

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STIFF / NÃO STIFF

Faz sempre bem ver uma grande e pomposa orquestra como a de Viena, oriunda de uma das terras mais sofisticadas da Europa, a fazer a rábula de cantar os “lá-lá” da Polka dos Camponeses de Strauss como uma banda de aldeia que perdeu o controle com a força da música… Mas é. Mesmo ensaiada, é a força da música, a única maneira de gerar alegria do nada.A única tecnologia não química da alegria.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A BUSCA DE SANTIDADE

"Se os textos de Padre António Vieira sobre “docilidade”, “desejar ser”, e o de hoje “Miguel e Lúcifer” são tocantes porque encerram em si muito do que (para mim) é a mais profunda e simples sabedoria do catolicismo - que levado às últimas consequências se encontra em casos como a Madre Teresa de Calcutá, que não dá lugar a grande indiferença da nossa parte, (já o “anacoreta do ar” é delírio puro, ou alegoria com muita forma e pouca essência).

O que me faz confusão é a leitura política subjacente aos textos, dadas as características do Blogue, do seu autor e da situação política peculiar em que nos encontramos, que motivam a escolha destes textos. São textos que encerram uma sabedoria demasiado preciosa para se agarrarem tanto ao momento, a este tempo e a este espaço. Eles querem liberdade e não peias ou lanternas que apontem direcções. No Abrupto dificilmente os conseguimos ler como deveriam ser lidos…

Ou será que estou completamente enganada e é uma genuína vontade de busca de santidade que move o autor do Abrupto?"

(J.)

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2.1.05


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: A DIFERENÇA ENTRE MIGUEL E LUCIFER

"De sorte que a principal diferença que então houve e hoje há entre Miguel e Lúcifer, é que Miguel chama-se S. Miguel, e Lúcifer não se chama santo. Direis que também foi privado Lúcifer da glória e da vista de Deus. Não foi, porque essa ainda a não tinha, que se já tivera visto a Deus não o pudera ofender nem perder a graça e santidade. Mas, assim como Deus o privou da graça e da santidade, por que o não privou também de tudo o mais? Quando um vassalo se rebela contra seu rei, confiscam-lhe todos seus bens. Pois, se Lúcifer se rebelou contra Deus, por que lhe confiscam só a graça e a santidade, e lhe deixam tudo o mais? Porque só a graça e a santidade são bens: tudo o mais que têm os anjos maus, uma vez que não têm santidade, antes são males que bens. A ciência, sem santidade, é ignorância; a formosura, sem santidade, é fealdade; o poder, sem santidade, é fraqueza; a grandeza, sem santidade, é miséria; e por isso são os anjos maus os mais miseráveis de todas as criaturas, assim como os anjos bons os mais felizes e bem-aventurados de todas: estes porque são santos, aqueles porque não são santos."

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: UMA PEDRA DE SOMBRA



A lua de Saturno Iapetus entra pela esquerda baixa, o lugar da surpresa no teatro. Vem devagar e em silêncio. Traz augúrios.

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FAMÍLIA

Isto de famílias antigas é, de um modo geral, complicado. É verdade que o tempo depois se encarrega de simplificar. No caso dos Pachecos, e do seu ramo os Pachecos do Porto, os Pacheco Pereira, o grande simplificador foram trinta anos de usura, hipotecas, desvarios múltiplos, grandeur sem cash, só terras e quintas e foros e laudémios, parentela diversa, heranças complexas, zangas épicas, e uma singular incapacidade dos Pachecos, pelo menos aqueles cuja memória ainda vivia nos que conheci (incluindo os que conheci) para qualquer coisa que fosse negócio ou sequer ganhar dinheiro. Vagabundos pelo mundo todo, boémios, pintores, bibliófilos, freiras, há de tudo, personagens de um mundo que, entre as últimas décadas do século XIX e os primeiros cinquenta anos do século XX, mudou demais e eles, dobrados ao peso de oitocentos anos de memórias reais e fictícias, mudavam cada vez menos. Dava um romance, cheio de figuras únicas.

Uma delas presidiu e preside à “sala de visitas” familiar, Duarte Pacheco Pereira, ao lado de um outro Pacheco bispo “in partibus infidelium”. Nunca me passou pela cabeça que o valoroso “Aquiles lusitano” fosse uma pessoa frequentável, até que, há dias, me chegou um Na Crista da Onda escrito pela Ana Maria Magalhães e pela Isabel Alçada, com ilustrações de Pedro Cabral Gonçalves e Clara Vilar, sobre o dito. Pude então ver o façanhudo, que eu conhecia vestido de ferro e com a grande espada, a ler em pequeno… a ler. E depois, num acto politicamente incorrectíssimo, a bater num mouro, já couraçado para a "guerra de civilizações". Por fim, a escrever o Esmeraldo de Situ Orbis, um bocado gaguejante para meu gosto. Está pois, o mistério do “Esmeraldo” resolvido.

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COISAS SIMPLES: FLORA


Jean-Antoine Watteau

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EARLY MORNING BLOGS 398

Wallace Stevens On His Way To Work


He would leave early and walk slowly
As if balancing books
On the way to school, already expecting
To be tardy once again and heavy
With numbers, the unfashionably rounded
Toes of his shoes invisible beyond
The slope of his corporation. He would pause
At his favorite fundamentally sound
Park bench, which had been the birthplace
Of paeans and ruminations on other mornings,
And would turn his back to it, having gauged the distance
Between his knees and the edge of the hardwood
Almost invariably unoccupied
At this enlightened hour by the bums of nighttime
(For whom the owlish eye of the moon
Had been closed by daylight), and would give himself wholly over
Backwards and trustingly downwards
And be well seated there. He would remove
From his sinister jacket pocket a postcard
And touch it and retouch it with the point
Of the fountain he produced at his fingertips
And fill it with his never-before-uttered
Runes and obbligatos and pellucidly cryptic
Duets from private pageants, from broken ends
Of fandangos with the amoeba chaos chaos
Couchant and rampant. Then he would rise
With an effort as heartfelt as a decision
To get out of bed on Sunday and carefully
Relocate his center of gravity
Above and beyond an imaginary axis
Between his feet and carry the good news
Along the path and the sidewalk, well on his way
To readjusting the business of the earth.


(David Wagoner)

*

Bom ano! Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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