ABRUPTO

2.1.05


FAMÍLIA

Isto de famílias antigas é, de um modo geral, complicado. É verdade que o tempo depois se encarrega de simplificar. No caso dos Pachecos, e do seu ramo os Pachecos do Porto, os Pacheco Pereira, o grande simplificador foram trinta anos de usura, hipotecas, desvarios múltiplos, grandeur sem cash, só terras e quintas e foros e laudémios, parentela diversa, heranças complexas, zangas épicas, e uma singular incapacidade dos Pachecos, pelo menos aqueles cuja memória ainda vivia nos que conheci (incluindo os que conheci) para qualquer coisa que fosse negócio ou sequer ganhar dinheiro. Vagabundos pelo mundo todo, boémios, pintores, bibliófilos, freiras, há de tudo, personagens de um mundo que, entre as últimas décadas do século XIX e os primeiros cinquenta anos do século XX, mudou demais e eles, dobrados ao peso de oitocentos anos de memórias reais e fictícias, mudavam cada vez menos. Dava um romance, cheio de figuras únicas.

Uma delas presidiu e preside à “sala de visitas” familiar, Duarte Pacheco Pereira, ao lado de um outro Pacheco bispo “in partibus infidelium”. Nunca me passou pela cabeça que o valoroso “Aquiles lusitano” fosse uma pessoa frequentável, até que, há dias, me chegou um Na Crista da Onda escrito pela Ana Maria Magalhães e pela Isabel Alçada, com ilustrações de Pedro Cabral Gonçalves e Clara Vilar, sobre o dito. Pude então ver o façanhudo, que eu conhecia vestido de ferro e com a grande espada, a ler em pequeno… a ler. E depois, num acto politicamente incorrectíssimo, a bater num mouro, já couraçado para a "guerra de civilizações". Por fim, a escrever o Esmeraldo de Situ Orbis, um bocado gaguejante para meu gosto. Está pois, o mistério do “Esmeraldo” resolvido.

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© José Pacheco Pereira
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