ABRUPTO

3.1.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O "TSUNAMISMO"

"Tenho escrito para não sei quantos órgãos de comunicação social a recordar que não há motivo nenhum para abandonar a expressão Portuguesa “Maremoto” em favor da Japonesa “Tsunami”. Maremoto é aliás uma excelente palavra de fácil dicção e cujo sentido é fácil de apreender dada a proximidade a “terramoto”.

No noticiário de 1 de Janeiro da Rádio Renascença chegou-se ao cúmulo de noticiar o desastre ocorrido no Índico usando indistintamente “Tsunami” e “Maremoto“, como se a língua Portuguesa fosse, para a comunicação social nacional, de uso voluntário. A seguir passou a gravação do Papa a dar a mensagem de ano novo em língua Portuguesa: para este Polaco é importante falar Português quando se dirige aos lusófonos.

O “Tsunamismo” é mais irritante no serviço público. Para a RTP é absolutamente indiferente usar uma expressão ou outra."

(Manuel Pinheiro)

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"(...) maremoto e tsunami são de facto termos distintos e cuja distinção, hoje mais do que nunca atendendo ao frenesim circense mediático a que se assiste, importa enfatizar. A palavra maremoto, desde que se ensinam ciências naturais no 7º ano de escolaridade, concretamente a área de conhecimento da geologia, é o termo utilizado para designar um sismo com epicentro no mar. Já a palavra tsunami, sem que se faça uso da analogia japonesa sobejamente conhecida pelos dias que correm e que, por economia de tempo e palavras, não vale agora a pena recordar, é o termo utilizado para designar a onda que se gera como resultado de deslocamentos do fundo oceânico em resposta a rupturas associadas a fenómenos de deslocamento das placas litosférias, rupturas essas frequentes quando num contexto geotectónico de bordo de placas como aquele que se verifica na zona do epicentro desse sismo. Assim, dependendo da energia libertada pelo sismo e o consequente deslocamento e ou ruptura associada, um maremoto pode ou não provocar um tsunami. Eu deixaria antes a minha crítica à comunicação social pela forma distinta, umas vezes, e indistinta, outras vezes, como utilizou este termo, convidando engenheiros de estruturas em lugar de geólogos a explicar um fenómeno eminentemente geológico e explorando a catástrofe em lugar de explorar a necessidade de medidas preventivas no nosso país contra fenómenos parecidos, como de resto tem vindo a ser seu apanágio nos últimos anos… Mas tudo vai bem, temos já o Sporting-Benfica no próximo sábado pelo que dessa forma, ainda que de forma lamentável, deverá abrandar o chorrilho de lugares comuns e erros científicos que qualquer puto do 7º ano será capaz de apontar aos senhores da comunicação social, que falam de futebol e ciência como se fossem licenciados em ambas as áreas… É verdade, nós no nosso país, como na Inglaterra e outros países de vanguarda, tanto quanto me é dado a perceber pelos programas do ensino público, também ensinamos o que são tsunamis e sismos, e que até são sentidos ás dezenas todos os dias, vá-se lá saber…"

(Luís Macedo)

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"A expressão portuguesa "Maremoto" é, de facto, fácil de apreender e ilustra o ocorrido na perfeição (embora, pessoalmente, prefira a expressão "Tsunami"). O problema é que, a maioria dos jornalistas portugueses com cargos de responsabilidade, são da minha geração. A mesma geração que aprendeu nos livros da escola secundária, que um maremoto era um terramoto numa zona banhada por um oceano... E nunca se fez o devido paralelo com a expressão "Tsunami". Daí que, para muito boa gente, um maremoto é um terramoto em superficie oceânica, e um Tsunami é uma consequência desse maremoto. E não há quem clarifique de uma vez por todas, esta questão nas redações da imprensa portuguesa."

(Daniel Rodrigues)

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"Não colocando o mesmo empenho na defesa da língua que o manifestado pelo leitor Manuel Pinheiro (a mim não me repugna que o Japão contribua para o enriquecimento do português com a palavra tsunami), acrescento outra expressão sinónima para designar o fenómeno em causa: raz de maré."

(António Cardoso da Conceição)

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"Não sendo eu um linguista (estou mesmo muito longe) permita-me, ainda assim, a seguinte opinião quanto à utilização, considerada desnecessária por parte do Sr. Manuel Pinheiro, da palavra tsunami. Da minha formação científica aquilo que retive é que maremoto significa sismo sob o oceano, enquanto tsunami é a onda consequente. Daqui se retira a utilidade para a nossa língua de dois termos distintos."

(Pedro Barros)

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