ABRUPTO

8.1.05


BOAS COISAS NO JORNALISMO PORTUGUÊS EM 2004, VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR (Versão 2.0)

O Público (declaração de interesse: onde escrevo) e a opinião com coluna vertebral. Por muito que custe a outros, se quer opinião na imprensa escrita, tem que ir ao Público.

O Provedor do Público revelou-se exigente e crítico dos “seus”, revelando independência face aos próximos e atenção aos interesses dos leitores e à qualidade do jornalismo a que eles têm direito.

A Sábado (declaração de interesse: onde escrevo) é uma boa revista, infelizmente ignorada por uma política de “sinergias” que leva a promoções e silêncios selectivos do que lá se publica e é de interesse geral. Por exemplo: uma entrevista reveladora de Paulo Portas, cheia de “cachas” que ficaram ignoradas.

A Capital continua a ser um jornal muito desequilibrado, em parte por radicalismo, em parte por evidente falta de meios. Mas nele encontram-se informações que não se encontram em mais lado nenhum.

O Clube dos Jornalistas da Dois tornou-se a primeira genuína plataforma de debate (auto)crítico do jornalismo para o resto do povo (que está na Dois àquelas horas). Nem sempre vai tão longe como devia, mas às vezes vai o bastante, o que é uma ruptura no corporativismo pavloviano da classe. Também depende muito de quem o apresenta.

A informação / opinião económica na SIC Notícias é de grande qualidade. Perez Metelo na TVI é um divulgador especializado com grandes qualidades comunicativas.

A edição de livros e revistas sobre comunicação está de vento em popa. Para além da Trajectos e Media e Jornalismo, as colecções "Media e Sociedade" da Editorial Notícias e "Comunicação" da Minerva tem dado origem a trabalhos interessantes que revelam como, à distância, os estudos académicos demonstram muito daquilo que os jornalistas não querem admitir mais em cima dos acontecimentos: bias, distorções e manipulações, militância política. O papel de alguns professores, como Mário Mesquita, é fundamental nesta reflexão.

Bons blogues sobre jornalismo com destaque para Jornalismo e Comunicação e Ponto Média, que ganhou o Prémio BOB da Deutsche Welle.

As séries da HBO na Dois, em particular os Sopranos, como opção editorial do canal.

Entrevistas de Carlos Vaz Marques na TSF. (Sugestão de vários leitores.)

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PÉSSIMAS COISAS NO JORNALISMO PORTUGUÊS EM 2004, VISTAS PELO MESMO

A decadência do Diário de Notícias que começou com a direcção Lima e se acentuou com as grandes manobras que o levaram a pedir a demissão. O Diário de Notícias foi a principal vítima da nacionalização guterrista da Lusomundo e das nomeações políticas que se lhe seguiram.. O jornal perdeu conteúdo noticioso e encheu-se de textos de opinião menoríssimos, com encomendas diversas.
"A pior coisa de um político que se quer responsável é falar de cor. Já percebi que o autor do Abrupto tem uma memória selectiva que o leva a «arrasar» o passado quando não lhe convém. Porque sou visado no seu comentário, gostava de acrescentar o seguinte: fui convidado para a Direcção do DN porque este matutino estava bloqueado, devido à opção editorial de tabloidização que o descredibilizara como jornal de referência; das actas da Alta Autoridade para a Comunicação Social constam as referências que fiz ao estado em que encontrei o DN, quando ali fui ouvido em 4 de Novembro de 2004; a colecção do DN não mente sobre o jornal que a minha Direcção herdou, nem sobre o que fez no curto espaço de tempo que lhe foi permitido permanecer. Quanto às peripécias que rodearam o meu afastamento – e o mal que também causaram ao DN - é um caso tão triste e vergonhoso que me dispenso de voltar ao assunto."

(Fernando Lima)
O problema do que escreve Delgado não está nas suas opiniões mas na má qualidade dos escritos. Proselitismo acéfalo, mau português, pouca informação, wishful thinking, ressentimento, grau zero de pensamento e ataques pessoais até dizer basta. Se não tivesse as funções de nomeação política que tem nenhum jornal sério o publicaria.

A “central de informações” tornou-se o símbolo visível da tentativa do governo Santana Lopes-Paulo Portas para interferir na comunicação social invadindo-a de notícias “positivas”. Depois, clandestinamente, viriam as “negativas” (para os adversários) porque as empresas e os jornalistas envolvidos na operação oferecem “promoções” e “despromoções”.

A saída de Marcelo da TVI foi o principal resultado, insisto resultado, da política do “contraditório” governamental.

Saída de Sena Santos da Antena 1, independentemente das razões que a motivaram. (Sugestão de Diogo Salvi com que concordo.)

Plágios dos blogues onde se tem destacado o Público. Só para falar dos que são mais visíveis, porque há muito mais – ideias, palavras, classificações, assuntos – que só os autores originais dão por ela. E os plagiadores.

O processo da pedofilia na Casa Pia é o símbolo do vale tudo na luta pelas audiências e pelas tiragens.

A masturbação da dor, mais uma vez, a propósito do massacre causado pelo maremoto asiático.

500 horas de futebol na RTP durante o Euro2004 e está dito tudo sobre o “serviço público”.

O fim dos noticiários como eu os conhecia, com notícias. Agora são espectáculos, com as notícias a correrem num roda-pé quase por desculpa. ( A excepção é o Jornal 2 da Dois.)
"Parece-me (declaração de interesse: sou coordenador e apresentador do mesmo, embora apenas semana sim, semana não, alternando com a Alberta Marques Fernandes) que o Jornal 2 não deveria ser metido no mesmo saco, nem mesmo por omissão, onde estão os telejornais dos canais generalistas. Está o Jornal 2, evidente e infelizmente, ainda longe do que eu pessoalmente entendo dever ser um serviço diário de informação no Serviço Público, o tal “noticiário” como V. e eu conhecíamos. Mas o esforço meu pessoal e da minha reduzidíssima equipa é, garanto-lhe, persistente e intenso. E asseguro-lhe que, comigo, não haverá ali acolhimento para “a telha que caíu na cabeça da D. Mariquinhas”, para usar a pertinente expressão do dr. Alberto João Jardim. "

(Vasco Trigo)
Manuela Moura Guedes faz um comício do ex-PP de Monteiro e Portas em todos os noticiários da TVI. Não é mau para nos lembrarmos de onde aquilo vem, mas apetece voltar a meter-lhe as palavras na boca.

As notícias da primeira página do Expresso, quase todas encomendas, muitas falsas, inverificadas e especulativas.

NOTA: por muito grande consumidor que seja, não posso ler/ouvir/ver tudo. Por exemplo: tenho ouvido pouca rádio, daí a fraca representação da rádio. O texto passou da versão 1.0 a 2.0 com a colaboração dos leitores do Abrupto.

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Algumas opiniões que não posso de todo julgar por desconhecimento meu
"Se puder deitar-lhes a mão, leia os textos de Joel Costa na Antena 2. É a estação radiofónica que oiço. Outras, dificílmente consigo suportar. Até a Antena 1 transmite notícias (?) de futebol de meia em meia-hora pelo menos durante a manhã."

(João Dias Costa)

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