ABRUPTO

2.10.04


SCRITTI VENETI 8



Não é todos os dias. Ter nas minhas mãos, tocar ao de leve, a Hypnerotomachia Poliphili.

*

Cortesia da Isabel Goulão fico a saber que o livro também existe na Biblioteca Nacional. A ficha completa é esta:

COLUMNA, Franciscus, O.P. 1433-1527,
Hypnerotomachia Poliphili / [adc. Leonardus Crassus, Johannes Baptista Scytha e Andreas Maro] . - Venezia : Aldo Manuzio, Dezembro 1499. - [234] f. : il. ; 2º . - HC 5501, GW 7223, Pell 3867, Polain 1126, IGI 3062, Goff C-767, BMC V 561 (IB 24500). - Assin.: 2//4 a-y//8 z//10 A-E//8 F//4. - Grav. ilustrando o texto sobre desenhos de autor desconhecido; cap. grav. - Variante na f. [5], l.5: O E final da palavra SANEQVE raspado e substítuido por AM (cfr. GW)
BN F. 4710 Microfilme

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TELEVISÕES

Em Itália há um caso actual muito parecido com o do crime de Figueira, em que também se procura um corpo de uma criança, sendo os familiares suspeitos. As televisões italianas são o que são, mas nem imaginam a diferença do tratamento e a respiração dos noticiários, apesar de tudo centrados no que conta: política, nacional e internacional, economia, eventos. Mesmo em Itália, insisto.

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INTENDÊNCIA

Corrigido os SCRITTI VENETI 3 e acrescentadas umas fotos de telefone, de má qualidade.

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SCRITTI VENETI 7

Acabou finalmente a rodagem do filme sobre o libertino. Desmontou-se a forca, que estava fora do seu sítio histórico, mais à frente do que devia. O local certo era entre as colunas de S. Marcos e S. Teodoro, o lugar mais aziago da cidade. Há um dito veneziano do género: “ainda te ponho a ver as horas”, porque o condenado a última coisa que via era o grande relógio em frente. Via o seu último minuto.

(foto de telefone)

(Note-se, de passagem, que Casanova nunca correu tal risco. A sua prisão tornada célebre pela fuga do inexpugnável cárcere de Piombi, mesmo atrás do Palácio, nos telhados da ala renascentista, foi por blasfémia e suspeitas de alquimia, crimes que na época já só levavam à prisão quando o comportamento era demasiado escandaloso ou quando serviam de pretexto para suspeitas políticas.)

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SCRITTI VENETI 6

Tarde na noite, por volta das quatro, cinco da manhã, os jornais encontram-se com os penúltimos boémios. O barco dos jornais, um dos que dizem “trasporto cose”, vai, de cais em cais, com a sua equipe de dois homens deixar os jornais do dia. Um atira os maços do barco, outro recebe-os e coloca-os numa arca de metal com cadeado. Depois, partem rápido para o cais seguinte. Mais tarde, o povo das tabacarias desce da cidade até junto à água a buscar as novidades. Nos cais, pequenos grupos, semi-adormecidos, encostam-se aos vidros à espera do vaporetto, o 1 ou o 42, para a grande volta circular.

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OS ACENTOS COMO FORMA DE CHUVA

Hoje, finalmente, choveu nas minhas palavras. Mesmo longe, consegui ter acentos. Ja já é já.

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1.10.04


SCRITTI VENETI 5

Continua o filme sobre o Casanova entre o Palacio dos Doges e as colunas de S. Marcos e S. Teodoro. Ao meu lado passa um cardeal conversando com uma camponesa, um peralvilho pega numa garrafa de agua e poe uma mochila as costas. Um coche dourado repete vezes sem conta a mesma cena de trazer alguem para junto do cadafalso. Umas vezes tapam os cavalos pretos com uma colcha, outra variam a companhia do cocheiro e o cocheiro, outras colocam um criado qualquer dependurado na porta. O mesmo coche faz por cinco, sempre igual, sempre diferente. As pombas entram no cenario `as centenas, os segurancas dizem aos turistas: "No flash". Se fosse a Guerra das Estrelas ficava a ver, assim fujo para a Riva dei Schiavoni. Aproxima-se o por do Sol sobre as ilhas, e sempre posso falar com o Leao e o Crocodilo.

(Sem acentos)

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CLUBE DOS JORNALISTAS

Presumo que uma entrevista que dei ao Clube dos Jornalistas da 2 terá passado ontem na televisão. Nela cometo um erro que queria corrigir: embora tenha havido ocasiões em que a SIC Noticias ultrapassou a 2 em audiências, isso não é a regra mas a excepção.

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SCRITTI VENETI 3



De manha cedo. Na ilha dos mortos. Campa de Brodsky, abandonada, num canto de cemitério evangélico. No meio da campa, um pinheiro manso tenta crescer. Um ramo de flores ressequidas. Em cima da lápide, um monte de pedrinhas e conchas segura um pequeno colar barato de fantasia. Um rebuçado dourado. No chão, de um lado, uma garrafa pequena de lemoncello, um seixo. Do outro lado, uma pasta de plástico com papéis, suja da chuva e um vaso com canetas e lápis. Cheio. Deixei mais uma. Coisas.


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SCRITTI VENETI 4




Um velho encosta o corpo nos Tetrarcas. Não sei se nos de Ocidente, ou nos de Oriente.

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30.9.04


SCRITTI VENETI 2

Em frente ao Palacio dos Doges roda-se um filme sobre Casanova. Um pouco a frente de onde ela costumava estar, - entre as colunas de S. Marcos e S. Teodoro -, ergueu-se uma forca de brincar. Uma centena de figurantes vestidos a epoca acenam. Uma carruagem dourada esta parada em frente a um palanque com dignatarios - talvez do Conselho dos Dez. Aparato de gruas e microfones e maquinas de filmar. Os turistas a volta, as centenas. Acho que nem que o filme fosse genial o ia conseguir ver, depois de o ter visto assim.

(Sem acentos)

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SCRITTI VENETI 1

Na noite, tarde, debaixo de uma Lua total, coberta apenas por um véu ligeiro de humidade, com tudo silencioso, num pequeno barco. O canal desdobra-se num cenário quase impossivel de beleza morta, palazzo atras de palazzo. Esta terra verdadeiramente não existe. Não pode existir.

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29.9.04


SCRITTI VENETI

a seguir, escritos da Terra do Leão.

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COISAS SIMPLES


Helmut Westhoff

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EARLY MORNING BLOGS 324

Aubade
(Philip Larkin)

Labuto ao dia e à noite me embebedo.
Acordo às quatro e fito o mudo vão.
Clareia a fímbria das cortinas cedo.
Sempre ali está, vejo por ora, e à mão,
a morte inquieta, um dia já mais perto,
a impedir de pensar salvo por certo
em como, e quando e onde hei-de morrer.
Bem árida a questão: pavor absorto
de morrer e 'star morto,
lampeja ainda e prende a estarrecer.

A mente esvai-se a olhar. Não em remorso
(bem por fazer, amor por dar, mal gasto
o tempo) ou em perfídia, porque o esforço
de uma só vida é longo a largar lastro
dos erros do começo, e talvez falhe;
mas no vácuo total que sempre calhe
à segura extinção indo em jornada
e para todo o sempre. Não 'star cá,
não ser algures e já;
nada é mais certo e mais terrível nada.

É um modo de ter medo que não passa
com truques. Bem tentou a religião,
vasto brocado musical com traça,
para nunca haver morte uma ficção,
e o sofisma que diz, Não pode um ente
que é racional temer o que não sente,
sem ver que é isso o que tememos - sem
ver, provar, ouvir, tactear, cheirar,
nada a pensar, a amar, ligar,
o amorfo do qual não ninguém.

E assim fica no fio da visão
um leve desfocar, o que arrefece
mais cada impulso até à indecisão.
Muita coisa não chega: esta acontece
e quando vem, é só medo em tamanha
furna, quando sem gente nos apanha,
e sem beber. Coragem não vale nada:
só não assusta os outros. Pôr-se à prova
não nos livra da cova.
A morte é igual, gemida ou enfrentada.

Já devagar o quarto a luz destapa.
Qual roupeiro se pode pressentir,
sempre a saber, saber que não se escapa,
e a recusá-la. Um lado terá de ir.
Eis telefones prestes nos fechados
escritórios e acorda sem cuidados
o intrincado mundo que se apraza.
Céu branco como gesso; sol, nem vê-lo.
Trabalho, há que fazê-lo.
Carteiros, quais doutores, de casa em casa.


(Tradução de Vasco Graça Moura, cortesia do próprio tradutor)

*

Bom dia!

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28.9.04


EARLY MORNING BLOGS 323

What Almost Every Woman Knows Sooner or Later


Husbands are things that wives have to get used to putting up with.
And with whom they breakfast with and sup with.
They interfere with the discipline of nurseries,
And forget anniversaries,
And when they have been particularly remiss
They think they can cure everything with a great big kiss,
And when you tell them about something awful they have done they just
look unbearably patient and smile a superior smile,
And think, Oh she'll get over it after a while.
And they always drink cocktails faster than they can assimilate them,
And if you look in their direction they act as if they were martyrs and
you were trying to sacrifice, or immolate them,
And when it's a question of walking five miles to play golf they are very
energetic but if it's doing anything useful around the house they are
very lethargic,
And then they tell you that women are unreasonable and don't know
anything about logic,
And they never want to get up or go to bed at the same time as you do,
And when you perform some simple common or garden rite like putting
cold cream on your face or applying a touch of lipstick they seem to
think that you are up to some kind of black magic like a priestess of
Voodoo.
And they are brave and calm and cool and collected about the ailments
of the person they have promised to honor and cherish,
But the minute they get a sniffle or a stomachache of their own, why
you'd think they were about to perish,
And when you are alone with them they ignore all the minor courtesies
and as for airs and graces, they uttlerly lack them,
But when there are a lot of people around they hand you so many chairs
and ashtrays and sandwiches and butter you with such bowings and
scrapings that you want to smack them.
Husbands are indeed an irritating form of life,
And yet through some quirk of Providence most of them are really very
deeply ensconced in the affection of their wife.


(Ogden Nash)

*

Bom dia!

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27.9.04



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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: OS "POPULARES" (2ª série)

"No fundo, a inteligência humanista - as belas-artes e as letras - não sofreram durante o fascismo; a inteligência humanista pôde singularizar-se, aceitar cinicamente o jogo. Onde o fascismo esteve vigilante foi nas relações entre a intellighentsia e o povo; manteve o povo no obscurantismo. O problema que se põe agora é o de sair do privilégio - servil - de que gozávamos, e não o "ir para o povo" mas "ser do povo", viver numa cultura que tenha as suas raízes no povo e não no cinismo dos libertos romanos."

(Cesare Pavese, enviado por MCP)

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EXPLIQUEM-ME

Como é que é possível haver muitas centenas de pessoas a assistir às corridas ilegais, em estradas que toda a gente sabe quais são, sem a polícia o impedir, prender os condutores, tirar-lhes a carta e os carros? Expliquem-me.

*

"Em primeiro lugar quero manifestar alguma preplexidade pelo facto de ultimamente ter publicado alguns comentários dos seus leitores manifestamente superficiais e de baixa qualidade e que, pior, não resistem a simples leitura atenta, contrariamente ao rigor que nos habituou durante tanto tempo.
(...)
Mas vamos aos factos.
Em primeiro lugar o facto não é novo. O JPP deve lembrar-se de na nossa adolescencia já haver os Cooper S, Datsun 1600 SSS, BMW e quejandos, de abas abolachadas, jantes de aluminio de 12 polegadas, "bolantinhos de pau", "baquets" de competição para conduzir no banco de trás, aillerons que não faziam nada, etc que tanto faziam as delicias dos meninos da linha, da Foz ou de Almada para competir até á Costa da Caparica. Na altura não se chamava "tunning" mas era e servia para o mesmo.
Em segundo lugar não é verdade que estes meninos andem sempre no mesmo sítio. Variam, exactamente para fintar a policia. No caso vertente o sitio é conhecido mas é uma estrada particular (o que quer que isto queira dizer) o que obviamente não serve de desculpa.
A policia não tem meios, nem materiais nem humanos, para vigiar todos este sitios ao mesmo tempo (nenhuma policia tem).
Tomemos por exemplo a ponte Vasco da Gama que é um dos lugares preferidos. Normalmente os meninos reunem-se nas imediações (lugar e hora sempre diferentes e combinados por telemovel), arranjam previamente a corrida e dirigem-se para a partida de forma ordeira. Até aí nada a dizer e muito menos a fazer. Chegados ao lugar da partida esta é dada rapidamente e os 16 quilometros da ponte são precorridos em cerca de 4 minutos (a 250 km/hora). Quando o alerta é dado já estão muito para lá de Alcochete.
Acrescente-se ainda que à minima desconfiança de uma espera, mandam um "batedor" para ver se o caminho está livre.
Quer isto dizer que só por sorte a policia os agarra em flagrante, sendo que, neste caso, a única alternativa é uma preseguição em via pública com os riscos inerentes.
(...)
Parece-me isso sim que estas situações constituem aquilo a que Martim Amis qualifica, quer termos dos factos quer em termos das palavras que usamos para os descrever, de "obscenização do quotidiano".
E a propósito que tal falarmos um pouco dos "tunnings" encapotados dos próprios constructores de automoveis, que à revelia das legislações da esmagadora maioria dos países (limites de velocidade) anunciam carros cada vez mais potentes e velozes? Aqui já não é preciso "tunning". Qualquer Mercedes, BMW, AUDI etc vem de fábrica com as caracteristicas necessárias. Legalmente."


(Fernando Frazão)

*

"Tirarem-lhes a carta? O autor do acidente deste fim de semana, que vitimou n pessoas, não tinha carta!!! Como se lhe pode tirar uma coisa que ele não tem?"

(Rui Aguiar)

*

"Por onde tem andado, com quem tem falado?
Porque só com ordem explicita, senão têm medo! A saber:
a) de levarem pancada;
b)encontrarem um "grande" das F.A.;
c)provocarem um acidente ou terem de agir com firmeza contra um desordeiro, e então, é o berreiro de jonalistas, defensores do D.H.,etc;
d) baterem com o carro da policia e têm de pagar o arranjo;
e) se prendem alguém têm de ir atribunal e não ganham o dia....?
f)etc,etc,...........
"

(C. Indico)

*

"Acho que a razão é a mesma de haver tanta droga a circular tão livremente nas prisões. Passou a ser considerado normal e inevitável.
Entrou na rotina: as pessoas amolecem e resignam-se em vez de resolverem o problema."


(Tiago Azevedo Fernandes)

*

"Eu explico: Nalguns casos, eles são polícias.
Noutros, também gostava de saber a razão de tamanha impunidade."


(JCB)

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AR PURO


Max Watenphul

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: BASIL BUNTING

"(...) Bunting é, a meu ver, um dos melhores poetas ingleses do séc. XX, mas também um dos mais injustamente esquecidos, talvez por ter vivido demasiado na sombra de Ezra Pound e por lhe ter sido colado, de forma acrítica, o rótulo de "epígono". O mesmo se pode dizer em relação a outros poetas esquecidos, como David Jones, Hugh MacDiarmid ou Roy Fisher. Enfim, é todo um mundo de poesia inovadora a descobrir - mas, de preferência, bem longe dos meios académicos conservadores e cinzentos!

Muito provavelmente já conhece, mas envio-lhe uns versos de um dos poemas de Bunting que mais gosto (a seguir a "Briggflatts"), "Chomei at Toyama". É uma "tradução"/adaptação comovente do célebre texto "Hôjôki" ("The Ten Foot Square Hut", na v. inglesa) do poeta japonês Kamo-no-Chomei (1154-1216):



I know myself and mankind.
. . . . . . . .
I dont want to be bothered.

(You will make me editor
of the Imperial Anthology?
I dont want to be bothered.)

You build for your wife, children,
cousins and cousins' cousins.
You want a house to entertain in.

A man like me can have neither servants nor friends
in the present state of society.
If I did not build for myself
for whom should I build?

Friends fancy a rich man's riches,
friends suck up to a man in high office.
If you keep straight you will have no friends
but catgut and blossom in season.



Basil Bunting, "Chomey at Toyama", Collected Poems (Oxford: Oxford University Press,1978) 70."

(Daniela Kato)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SOBRE OS "POPULARES"

"Para o adepto das luzes, o termo e o conceito «povo» conservam sempre qualquer traço de arcaico, inspirador de apreensões, e ele sabe que basta apostrofar a multidão do «povo» para induzi-la à maldade reaccionária. Quantas coisas não aconteceram diante dos nossos olhos, em nome do povo, e que em nome de Deus, da Humanidade ou do Direito nunca se deveriam ter consumado! Mas, é um facto que, na realidade, o povo permanece sempre povo, pelo menos em determinada camada da sua índole, que é precisamente a arcaica, e que habitantes e vizinhos do Beco dos Fundidores, pessoas que no dia das eleições votavam no Partido Social-Democrático, eram ao mesmo tempo capazes de vislumbrar algo demoníaco na pobreza de uma velhinha, que não tinha recursos suficientes para pagar uma habitação acima do solo, de modo que quando ela se aproximava, pegavam nos filhos, a fim de os proteger contra o mau-olhado da bruxa. Se na actualidade se voltasse a entregar à fogueira uma mulher deste tipo, o que, com leves modificações da justificativa, hoje não é absolutamente inimaginável, eles iriam plantar-se atrás das barreiras erguidas pela municipalidade e olhariam, embasbacados, mas provavelmente não se revoltariam. Falo do povo, porém aqueles impulsos populares, de natureza arcaica, existem em todos nós, e para dizê-lo bem claramente, assim como penso, não considero a religião o meio mais adequado para reprimi-lo com segurança. Isso consegue-se, a meu ver, unicamente por meio da literatura, da ciência humanística, do ideal do homem livre e belo."

Thomas Mann, Doutor Fausto, enviado por Paulo Almeida

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EARLY MORNING BLOGS 322

Further Instructions


Come, my songs, let us express our baser passions.
Let us express our envy for the man with a steady job and no worry about the future.
You are very idle, my songs,
I fear you will come to a bad end.
You stand about the streets, You loiter at the corners and bus-stops,
You do next to nothing at all.

You do not even express our inner nobilitys,
You will come to a very bad end.

And I? I have gone half-cracked.
I have talked to you so much that I almost see you about me,
1Insolent little beasts! Shameless! Devoid of clothing!

But you, newest song of the lot,
You are not old enough to have done much mischief.
I will get you a green coat out of China
With dragons worked upon it.
I will get you the scarlet silk trousers
From the statue of the infant Christ at Santa Maria Novella;
Lest they say we are lacking in taste,
Or that there is no caste in this family.


(Ezra Pound)

*

Bom dia!

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26.9.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (6ª série)

"A propósito dos textos de José Luís Pinto de Sá, Filipe Pereira e Alvelos e Acácio Costa, gostaria de lembrar alguns aspectos técnicos que foram ignorados por estes especialistas.

1º Na realidade não existe um concurso de professores mas vários perfeitamente independentes que decorrem simultaneamente. Suponho que o número de concursos anda perto dos quarenta. Isto é, há um concurso para os educadores de infância, outro para os professores do 1º ciclo, outro para os professores de ciências do 2º ciclo, outro para profs de geografia do 3º ciclo, e por aí fora.
Estes concursos processam-se de um modo independente ainda que um candidato possa sê-lo em mais do que um destes concursos.
A complexidade em alguns destes concursos é muito baixa dado o número reduzido de candidatos e das suas preferências (nem é preciso fazer a colocação à mão, basta fazer o trabalho a olho).
Não se compreende porque é que o ministério insiste em não dividir o problema e avançar com as colocações, por exemplo, dos professores do 1º ciclo, que em nada interfere com professores de outro grau.

2º É consensual que o problema da elaboração de uma lista ordenada é, em termos computacionais, canja.
O que aconteceu no entanto, nesta 1ª fase do concurso foi um grande flop.
Ora aqui não pode haver a desculpa do P e do NP ou seja lá o que for.
Portanto, ao começar houve incompetência de quem fez e burrice e ignorância por parte de quem tinha de decidir o que fazer daí para a frente.

3º Parece-me que o problema só entra na categoria da grande complexidade quando o número e qualidade das vagas não pode estar rigorosamente definido antes do processo de colocações propriamente dito começar. Isto só acontece quando se está a colocar candidatos que, se forem colocados numa das preferências indicadas abrem uma vaga na escola onde estavam e no caso de não terem lugar em nenhuma das preferências indicadas mantêm-se no lugar anteriormente ocupado.
Estando estes candidatos todos colocados pode-se passar a usar o tristemente célebre “algoritmo da ministra”: “Pega-se no primeiro da lista coloca-se no horário pretendido, risca-se essa vaga e passa-se ao 2º. Em termos computacionais isto entra no domínio da “canja” uma vez que é um processo completamente linear.
Assim o número de candidatos e vagas que entram no processo na fase complexa não gera uma situação significativamente diferente daquela que aconteceu nos anos anteriores e por isso não implica uma solução computacional mais complexa do que aquela que foi usada com resultados positivos anteriormente."


(Cândido Pereira, Professor de Ciências)

*

"O grande número de atestados médicos apresentados pelos professores nos novos concursos deste ano indicia ilegalidades e adultera a lista de graduação profissional, pois todos os docentes que os apresentaram têm prioridade sobre os outros na colocação, bem como prejudica aqueles que de direito reúnem as condições para tal. O número de pedidos de destacamentos por condições específicas (doença incapacitante) apresentados fala por si: em Vila Real, Chaves e Portalegre cerca de 80% dos candidatos, em Bragança mais de 50%, em todo o país 8985 docentes (Público 14 de Setembro), quase um quinto de total de 50 000 que concorrem nos quadros de zona pedagógica estão incapacitados. Está posta em causa a justiça na colocação dos docentes, há indícios fortes de fraude e poder-se-á concluir que deixou de ser necessário o mérito, pois bastará este expediente manhoso.

A eventual utilização fraudulenta da figura do destacamento deveu-se a diversos factores que contribuíram para a trapalhada geral que presidiu à implementação do novo articulado legal de colocação de professores.

1. Os processos foram apresentados nos agrupamentos que aceitaram todas as situações, mesmo aquelas que a legislação não contempla. Se tivesse havido aqui uma primeira triagem, muitos casos seriam imediatamente indeferidos.

2. O destacamento para obter condições específicas contempla os docentes que sejam portadores de doença incapacitante nos termos do Despacho Conjunto n.º A-179/89-XI, de 12 de Setembro, publicado no Diário da República, II série, n.º 219, de 22 de Setembro de 1989. A nova legislação abriu o leque de critérios para pedir o destacamento por condições específicas, o Decreto-Lei 35/2003 (que legisla sobre os concursos) permite, nomeadamente, pedir o destacamento também no sentido do apoio a ascendentes, enquanto anteriormente estava limitado aos descendentes.

3. O conjunto de doenças invalidantes é ele propício a duplos sentidos, a saber:

- Sarcoidose;

- Doença de Hansen;

- Tumores malignos;

- Hemopatias graves;

- Doenças graves e invalidantes do sistema nervoso central e periférico e dos órgãos dos sentidos;

- Cardiopatias reumatismais crónicas graves;

- Hipertensão arterial maligna;

- Cardiopatias isquémicas graves;

- Coração pulmonar crónico;

- Cardiomiopatias graves;

- Acidentes vasculares cebrais com acentuadas limitações;

- Vasculopatias periféricas graves;

- Doença pulmonar crónica obstrutiva grave;

- Hepatopatias graves;

- Nefropatias crónicas graves

- Doenças difusas do tecido conectivo;

- Espondilite anquilosante;

- Artroses graves invalidantes.

Muitas das enfermidades referenciadas, como ouvimos noticiado, reportam a doenças de coluna, hipertensão, otites, asma, distúrbios do sistema nervoso e outros tais que contabilizados e aberto o leque a familiares perspectivariam ser incluídos a quase totalidade da população docente portuguesa."


(...)

(José Alegre Mesquita)


*

"Não me parece que se possa formar alguma opinião sobre o valor do contrato do Ministério da Educação com a Compta sem conhecer mais dados. O "output" esperado (ou melhor, desesperado...) é conhecido, mas qual foi o "input"? Que tipo de validação era suposto existir (ou
não) antes da entrega dos dados à Compta? E que dados ao certo foram esses? Como é que foram passadas à Compta as regras para colocação de professores? Deram-lhe apenas a legislação ou já um algoritmo? Que prazo lhes foi imposto?
Vale a pena esperar um pouco por explicações oficiais para opinar melhor."


(Tiago Azevedo Fernandes)

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DEONTOLOGIA

Na RTP, a propósito do crime algarvio, entrevista-se uma criança de oito ou nove anos sobre o que ela acha que aconteceu. Nem vale a pena dizer que não há manual de deontologia que explicitamente não condene esta prática em termos taxativos. Não vale mesmo a pena, porque a selvajaria do nosso atraso cultural une num mesmo laço os “populares” que vão em excursão, os jornalistas que os atiçam com os directos televisivos, e a miséria de tudo aquilo que aconteceu.

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JORNALISMO DE RECADOS

Esta “notícia” do Público (Justino Incomoda PSD, mas Pode Beneficiar Governo) é um perfeito exemplo de como não se deve fazer jornalismo, e também um perfeito exemplo de como ele se faz. Tudo está condensado no título e no primeiro parágrafo:
As entrevistas do ex-ministro da Educação, David Justino, não caíram bem no PSD, mas dentro do Governo há quem pense que podem beneficiar a actual equipa da Educação, já que, pelo menos nos próximos dias, as atenções estarão centradas na "guerra" entre Justino e o seu ex-secretário de Estado, Abílio Morgado.

Comecemos pelo “PSD”, mais um caso de utilização abusiva de uma entidade colectiva, habitual em outros títulos em que a “GNR”, “os magistrados”, os “funcionários do SEF” aparecem como sujeito de acções ou opiniões, a maioria das vezes atribuíveis a um ou outro “magistrado”, ou às estruturas sindicais, ou apenas à fonte que falou com o jornalista. O que se contém nesta notícia é apenas uma opinião política dada anonimamente , transformada em fonte contra todas as regras – porque razão uma opinião política pura tem que ser protegida pelo anonimato das fontes? – e que depois é transfigurada como sendo a “opinião” de uma instituição. Se tomarmos à letra o que lá se diz, três pessoas poderiam, no limite, envolver o PSD: o Presidente do partido, o secretário-geral, ou um porta-voz autorizado por um dos dois, e, nestes casos, a autoria da opinião deveria ser pública. Tudo o resto é treta e cumplicidade entre o jornalista e a fonte para passar um “recado” O título dá ao “recado” a chancela do jornalista e do jornal, ou seja um grau de veracidade mistificadora que esconde o “recado”, ou seja, engana os leitores.

Depois há a opinião em si mesma, que vale pelo que representa de degradação da política. Vale por ser típica do grau zero da politiquice, mesquinha, mostrando um desprezo total pelos portugueses. Se há “no Governo” quem pense que tudo isto pode “beneficiar” a governação de Portugal, ou seja que este grau zero de politiquice, próprio de uma escola de intriga e habilidades, infelizmente muito comum nos partidos e nos jornais, revela mais que cabeças mal formadas e sem carácter, estamos muito mal.

Como de costume o único verdadeiro interesse informativo desta “notícia” era saber quem “acha” isto no Governo, para se pedirem responsabilidades e saída pela porta baixíssima.

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INTENDÊNCIA

Actualizadas as notas

O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (5ª série)

e OS "POPULARES"

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AR PURO


J. C. Dahl

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EARLY MORNING BLOGS 321

What the Chairman Told Tom


Poetry? It's a hobby.
I run model trains.
Mr. Shaw there breeds pigeons.

It's not work. You dont sweat.
Nobody pays for it.
You could advertise soap.

Art, that's opera; or repertory--
The Desert Song.
Nancy was in the chorus.

But to ask for twelve pounds a week--
married, aren't you?--
you've got a nerve.

How could I look a bus conductor
in the face
if I paid you twelve pounds?

Who says it's poetry, anyhow?
My ten year old
can do it and rhyme.

I get three thousand and expenses,
a car, vouchers,
but I'm an accountant.

They do what I tell them,
my company.
What do you do?


Nasty little words, nasty long words,
it's unhealthy.
I want to wash when I meet a poet.

They're Reds, addicts,
all delinquents.
What you write is rot.

Mr. Hines says so, and he's a schoolteacher,
he ought to know.
Go and find work.


(Basil Bunting)

*

Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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