ABRUPTO

11.9.04


INTENDÊNCIA

Actualização em curso do ESTUDOS SOBRE COMUNISMO.

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POLITICAMENTE CORRECTO

O Adufe reproduzia há uns dias esta placa colocada nas muralhas da cidade castelhana de Ávila.


Toda ela é um tratado do “politicamente correcto” e uma falsidade histórica.

Não é verdade que a muralha tenha sido uma “construção colectiva”, no sentido de que o “colectivo” para que a placa aponta – muçulmanos, judeus, cristãos – nunca existiu enquanto tal. Será que a muralha não foi construída contra ninguém, mesmo que os que estão “dentro” e os que estavam “fora” tivessem mudado desde o século XI? Para que é que se fazem muralhas? Para comemorar a amizade entre os povos e religiões? Para comemorar a sociedade sem classes (os “homens livres” e os “servos” que nela trabalharam)? Esta maneira de pensar, - a mesma que levou a UNESCO a não querer publicar a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto numa sua colecção de textos universais – é pateta e perigosa.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: MAO ZEDONG E AS CRIANÇAS

"Esta cena passou-se hoje num restaurante chinês (…)

- Oh mãe, deve ser giro ir à China e ver os chineses todos com farda!

- Com farda?


- Sim com aquelas batas (- Os gestos eram explícitos e qualquer pessoa pensaria nos casacos “à Mao”.)


- Mas os chineses não usam farda, eles, vestem-se como querem e as chinesas adoram a moda ocidental.


- Mas as fardas?


- É verdade que dantes eles tinham um vestuário mais normalizado e o que se vendia nas lojas era muito igual e parecia farda, disse eu, achando que e ideia da farda e da China já estava demasiado firme para que pudesse ficar sem uma explicação.


- E quando é que isso foi e porquê?

(Não estava à espera de uma pequena incursão na história da China contemporânea. Falei brevemente de Mao e da ditadura.)

- Vou estudar isso em História?


- Não me parece, (disse e pensei como era pena nunca se abordar os temas de História Contemporânea na escola. Depois pensei também como é difícil num universo não Anglo-Saxónico abordar friamente, sem paixão nem demagogia os temas da História Contemporânea.)


- Mas eu gostava, e queria saber quem era esse Mao o quê?


- Mao Tse Tung. O que quiseres saber, perguntas-me e tanto quanto possa eu digo-te ou vemos em casa nas enciclopédias.
(E então eu falei da China feudal de Imperadores, dos ideais da luta de classes importados da Europa, das revoluções, de Mao e de uma (falsa) ideia de igualdade que perseguiam obrigando a uma uniformidade a todos os níveis…)

~
- Por isso é que tinham as fardas?


É o que dá ir almoçar aos restaurantes chineses!
"


(J.)

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AR PURO


Levitan

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EARLY MORNING BLOGS 308

DEL PASADO EFÍMERO


Este hombre del casino provinciano
que vio a Carancha recibir un día,
tiene mustia la tez, el pelo cano,
ojos velados por melancolía;
bajo el bigote gris, labios de hastío,
y una triste expresión, que no es tristeza,
sino algo más y menos: el vacío
del mundo en la oquedad de su cabeza.

Aún luce de corinto terciopelo
chaqueta y pantalón abotinado,
y un cordobés color de caramelo,
pulido y torneado.
Tres veces heredó; tres ha perdido
al monte su caudal; dos ha enviudado.

Sólo se anima ante el azar prohibido,
sobre el verde tapete reclinado,
o al evocar la tarde de un torero,
la suerte de un tahúr, o si alguien cuenta
la hazaña de un gallardo bandolero,
o la proeza de un matón, sangrienta.

Bosteza de política banales
dicterios al gobierno reaccionario,
y augura que vendrán los liberales,
cual torna la cigüeña al campanario.

Un poco labrador, del cielo aguarda
y al cielo teme; alguna vez suspira,
pensando en su olivar, y al cielo mira
con ojo inquieto, si la lluvia tarda.

Lo demás, taciturno, hipocondriaco,
prisionero en la Arcadia del presente,
le aburre; sólo el humo del tabaco
simula algunas sombras en su frente.

Este hombre no es de ayer ni es de mañana,
sino de nunca; de la cepa hispana
no es el fruto maduro ni podrido,
es una fruta vana
de aquella España que pasó y no ha sido,
esa que hoy tiene la cabeza cana.


(Antonio Machado)

*

Bom dia!

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10.9.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: ESPERANÇA



que alguns bocados do Sol se aproveitem.

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BIBLIOFILIA: A NAU DE PORTUGAL

Filipe Vieira de Castro, A Nau de Portugal. Os Navios da Conquista do Império do Oriente 1498-1650, Lisboa, Prefácio, 2003

Aqui está um livro muito interessante e que ensina ao curioso que, como eu, (tendo aprendido a “gesta dos descobrimentos” na escola salazarista), fiquei ignorante de quase tudo sobre o que foram esses anos de exploração, conquista e negócio. Neste pequeno livro fica-se a saber que se sabe muito pouco sobre os barcos que faziam a carreira da Índia, e como o desastre do saque moderno dos mares pelos caçadores de tesouros, está a dar cabo do pouco que sobrou. Há uma lista de exemplos portugueses, por toda a rota para Índia e nas nossas costas, saqueados sem qualquer critério que não seja vender o que se retira do fundo do mar.


Depois há muitas outras surpresas como esta:

Por vezes não se consegue ler estas listas de provimentos sem sentir crescer água na boca. As provisões da viagem do capitäo-mor António de Saldanha em 1631 dão uma boa ideia da abundância, qualidade e sofisticação da cozinha portuguesa setecentista. Além de pão, biscoito, farinha, cuscus e bolos de várias naturezas, António de Saldanha levava uma quantidade apreciável de carne: presuntos conservados em azeite dentro de barris, chouriços, mãos de porco e línguas de vaca, também guardados em barris entre camadas de sal, lombos de vaca, pernas sem osso e veados que eram colocados em barris com vinagre, sal, mostarda e orégãos; perdizes e coelhos, assados no forno e passadas depois por azeite a ferver e conservados no azeite, com vinagre e especiarias. A estas carnes juntava-se ainda a carne viva: galinhas (António de Saldanha levou 600 galinhas para bordo), perus, carneiros e vitelas. Esta dieta era completada por peixe: pescada, arenque e salmão, a primeira salgada e os segundos fumados ou salgados; litões (cações) secos ao sol e chocos, linguados, lampreias, mexilhões e ostras conservados em escabeche. Embora difíceis de conservar, os legumes também faziam parte da dispensa: couves e nabos conservados ou em sal ou de escabeche e temperados com cardamomo, pimenta e mostarda, alfaces e outra hortaliça em vinagre. A lista dos legumes era completada com as imprescindíveis cebolas e alhos. Seguiam-se as frutas: uvas, ameixas e figos secos, amêndoas e laranjas, limões, peros e melancias frescos; e uma quantidade apreciável de doces: ginjas, açúcar rosado, ameixas, marmelada, pêssegos e peras cobertos de açúcar, pêssegos, melões e ameixas em açúcar ordinário, rosado e mascavado, confeitos e mel, além de varias panelas de ovos-moles, num total de 600 arráteis (275,4 kg!). Agua, vinho, azeite e vinagre, mais várias dúzias de ovos dentro de frascos com sal ou com azeite, azeitonas, conservas de vinagre (alcaparras), queijos e manteiga de vaca completavam a lista.


*

"Sobre este tema e dado o seu manifesto interesse, sugiro: Jean Merrien, A Vida Quotidiana Dos Marinheiros No Tempo Do Rei Sol, Lisboa, Livros Do Brasil. Aí aprendi, entre outras coisas o significado de "pacotilha".

Como rodapé, posso dizer que, na década de 90, como Oficial a bordo de um navio "da pesca do bacalhau", a dieta era muito mais monótona.
"

(João Silva)

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INTENDÊNCIA

Publicados no VERITAS FILIA TEMPORIS :

A LAGARTIXA E O JACARÉ 2 (Setembro 2004)

A LAGARTIXA E O JACARÉ 3 (Setembro 2004)

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O “REIZINHO” DO PRIMEIRO DE JANEIRO



A minha referência ao “Reizinho” trouxe uma série de memórias nostálgicas nos nortenhos (e nos sulistas que pediam aos pais o “Janeiro” por causa do “Reizinho”…). Aqui fica um refrigério para essas nostalgias.

*

"Escreveu, a propósito d'O Primeiro de Janeiro, que cresceu com o «Reizinho» na última página. Espero que A Dona Gira, A Cara Metade e o Príncipe Valente não lhe tenham desaparecido da memória, bem como os contos de Natal da Walt Disney que eram publicados todos os anos na quadra adequada."

(José Carlos Santos)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: JANE AUSTEN

"Tinha encomendado o livro (sugestão do Economist cuja crítica li) e fui ontem buscá-lo. (…) É feito para fanáticos de Jane Austen, nos quais eu me incluo, e chama-se The Jane Austen Book Club. Tem, na capa, um cesto de morangos inclinado com alguns morangos espalhados, e no topo uma frase de algum crítico que diz ”If I could eat this novel, I would”. (…)

Sobre Jane Austen fica uma nota talvez mais junguiana que freudiana, que percebi após ter lido estes dois excertos do livro que a seguir reproduzo, (uma citação e um pedaço de texto). (A vantagem das mulheres, algumas pelo menos, é que reparam e falam sobre estas “coisas” e dizem o que não se deveria dizer e confessam o inconfessável, e claro, divertem-se com tudo isto!)

“Jane Austen is weirdly capable of keeping everybody busy. The moralists, the Eros-and-Agape people, the Marxists, the Freudians, the Jungians, the semioticians, the deconstructors - all find adventure playground in six samey novels about middle-class provincials. And for every generation of critics, and readers, her fiction effortlessly renews itself.” (Martin Amis, “ Jane’s World”, The New Yorker)

“Wasn’t it Kippling who said, ‘Nothing like Jane Austen when you’re in a tight spot ?’ Or something like that?


(JCD)

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AR PURO


Leopold Birstinger

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A LER

o DETECTOR DE SPIN do Bloguitica. Com gosto me desobriga de manter as notas que tinham o título COMO IDENTIFICAR A MÃO DA CENTRAL DE INFORMAÇÕES NAS NOTÍCIAS.

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EARLY MORNING BLOGS 307

PARÁBOLAS VII

Dice la razón: Busquemos
la verdad.
Y el corazón: Vanidad.
La verdad ya la tenemos.
La razón: ¡Ay, quién alcanza
la verdad!
El corazón: Vanidad.
La verdad es la esperanza.
Dice la razón: Tú mientes.
Y contesta el corazón:
Quien miente eres tú, razón.
que dices lo que no sientes.
La razón: Jamás podremos
entendernos, corazón.
El corazón: Lo veremos.


(Antonio Machado)

*

Bom dia!

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9.9.04


INTENDÊNCIA

Actualizados:

OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: O SOL FALHOU

O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VARIAÇÕES SOBRE A LAGARTIXA E O JACARÉ

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AR PURO


Peter Graham

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EARLY MORNING BLOGS 306

EL SONETO DE RIGOR


"Las rosas están insoportables en el florero" (Jaime Sabines)

Tal vez haya un rigor para encontrarte
el corazón de rosa rigurosa
ya que hablando en rigor no es poca cosa
que tu rigor de rosa no te harte.

Rosa que estás aquí o en cualquier parte
con tu rigor de pétalos, qué sosa
es tu fórmula intacta, tan hermosa
que ya es de rigor desprestigiarte.

Así que abandonándote en tus ramos
o dejándote al borde del camino
aplicarte el rigor es lo mejor.

Y el rigor no permite que te hagamos
liras ni odas cual floreros, sino
apenas el soneto de rigor.


(Mario Benedetti)

*

Bom dia!

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8.9.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: O SOL FALHOU



por causa de um miserável paraquedas. Tudo que é complexo resultou, um simples paraquedas explosivo estragou a cápsula. Vamos ver se alguma coisa se aproveita.

*

"o Sol é demasiado pesado para um pára-quedas

o mais simples parece que é o mais complicado nestas questões do espaço e não só

o Space Shuttle explodiu por causa de umas míseras borrachas
e houve um foguetão europeu que teve o mesmo caminho por causa de umas quantas linhas de código informático que não foram adaptadas ao novo engenho
"

(José Fialho)

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BIBLIOFILIA: UMA GAVETA



Entre as coisas que continuo a encontrar, numa gaveta perdida duma casa familiar, em que quase de certeza ninguém mexe desde, mais ou menos, 1950, está este prospecto de um Ford para a “cidade” e para o “campo”, como se pode ver pela idílica fotografia junta. Como um carro era então muito caro, o folheto descreve em pormenor a mecânica do carro, os materiais, tudo.



Há também uma série de recortes com surpresas. Uma série sobre o teatro na Palestina, em Telavive, publicada no Primeiro de Janeiro em 1947, e o romance Tempestade de Ferreira de Castro em folhetim no mesmo jornal. Os recortes tem as indicações de onde foram tirados, mas mesmo que tal não acontecesse, o azul, amarelo e vermelho identificaria sem dúvida o Suplemento Cultural do “Janeiro”, de excepcional qualidade e colaboração. Os dois recortes apontam socialmente o anónimo recortador, porque o Primeiro de Janeiro era o jornal de referência da burguesia nortenha, do Porto em particular. Foi, durante muitos anos, o jornal que se comprava na minha família e eu cresci com o "Reizinho" na última página e depois, na perversa adolescência, com o Suplemento Cultural…O Jornal de Notícias tinha má fama, dizia-se que se se espremesse, saia sangue.

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: A CHEGADA DO SOL

Faltam duas horas e seis minutos. Pode ser acompanhada a chegada aqui.

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AR PURO


Alexei Savrasov

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EARLY MORNING BLOGS 305

To Autumn


Season of mists and mellow fruitfulness,
Close bosom-friend of the maturing sun;
Conspiring with him how to load and bless
With fruit the vines that round the thatch-eves run;
To bend with apples the moss'd cottage-trees,
And fill all fruit with ripeness to the core;
To swell the gourd, and plump the hazel shells
With a sweet kernel; to set budding more,
And still more, later flowers for the bees,
Until they think warm days will never cease,
For summer has o'er-brimm'd their clammy cells.

Who hath not seen thee oft amid thy store?
Sometimes whoever seeks abroad may find
Thee sitting careless on a granary floor,
Thy hair soft-lifted by the winnowing wind;
Or on a half-reap'd furrow sound asleep,
Drowsed with the fume of poppies, while thy hook
Spares the next swath and all its twined flowers:
And sometimes like a gleaner thou dost keep
Steady thy laden head across a brook;
Or by a cider-press, with patient look,
Thou watchest the last oozings, hours by hours.

Where are the songs of Spring? Ay, where are they?
Think not of them, thou hast thy music too,--
While barred clouds bloom the soft-dying day,
And touch the stubble-plains with rosy hue;
Then in a wailful choir the small gnats mourn
Among the river sallows, borne aloft
Or sinking as the light wind lives or dies;
And full-grown lambs loud bleat from hilly bourn;
Hedge-crickets sing; and now with treble soft
The redbreast whistles from a garden-croft,
And gathering swallows twitter in the skies.


(John Keats)

*

Bom dia!

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7.9.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: VEM AÍ O SOL

Façam figas, torçam os dedos, peçam a santos e deuses especializados no espaço, Stª Bárbara por exemplo, para que corra bem, amanhã, a chegada de um bocado do Sol que nos alumia.

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SINAIS

- Fui e sou crítico de muitos aspectos do debate político-ideológico no seio do PS, particularmente quando ele se faz à volta das vacuidades abstractas que são hoje o “pensamento da esquerda”. Porém, já me interessam as questões de condução política concreta de um partido tão importante como o PS. Daí que o debate de ontem dos candidatos a secretários-gerais do PS, de que vi excertos na televisão, é positivo, porque clarifica junto de todos os portugueses diferenças de condução política que são significativas.


- O governo até hoje praticamente não governou, o que é, entre outras coisas, uma resultante da massa crítica de ministros e secretários de estado que não sabem nada das suas pastas. Porém, se se verificar que a nova Lei do Arrendamento muda – e essa mudança é a reaparição do mercado de arrendamento nas cidades, o único critério pelo qual se pode medir o alcance da lei para não ser cosmética – isso é mérito do governo que tomou uma medida necessária e corajosa. Se.

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AR PURO


Gerhard Richter

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VARIAÇÕES SOBRE A LAGARTIXA E O JACARÉ

" No que se refere ao provérbio «Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré» (com o qual eu embirro por sugerir predestinação), aproveito para fazer notar que o Rifoneiro Português, de Pedro Chaves, não lhe faz referência mas menciona diversas variantes, entre as quais:

- Quem nasceu para burro, nunca chega a cavalo.

- Quem nasceu para dez réis, não chega a vintém.

- Quem nasceu para porco, nunca chega a porqueiro.
"

(José Carlos Santos)


*

"Deveras interessante o seu comentário sobre o provérbio “Quem nasceu para lagartixa……etc”. Com o qual, a seguir, estabelece analogia com algumas variantes do Rifoneiro Português de Pedro Chaves. Em que, inevitavelmente, é associada a lagartixa ao “burro”, a “dez reis” e ao “porco”. E em que o jacaré é, também inevitavelmente, associado ao cavalo, ao vintém e ao porqueiro. Acontece que a lagartixa é muito mais inteligente, digna, simpática, benfazeja, pacífica (e, portanto, globalmente, mais civilizada) que o jacaré.

Mas, pelos vistos, o Sr. Dr. J.P.P. parece preferir, dadas as suas analogias, o jacaré. Pronto. Está no seu direito. Ainda bem que avisa.
"

(Nuno Calvet)

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EARLY MORNING BLOGS 304

Canto XLV


With usura hath no man a house of good stone
each block cut smooth and well fitting
that design might cover their face,

with usura

hath no man a painted paradise on his church wall
harpes et luthes
or where virgin receiveth message
and halo projects from incision,

with usura

seeth no man Gonzaga his heirs and his concubines
no picture is made to endure nor to live with
but it is made to sell and sell quickly

with usura, sin against nature,
is thy bread ever more of stale rags
is thy bread dry as paper,
with no mountain wheat, no strong flour

with usura the line grows thick

with usura is no clear demarcation
and no man can find site for his dwelling
Stone cutter is kept from his stone
weaver is kept from his loom

WITH USURA

wool comes not to market
sheep bringeth no grain with usura
Usura is a murrain, usura
blunteth the needle in the the maid's hand
and stoppeth the spinner's cunning. Pietro Lombardo
came not by usura
Duccio came not by usura
nor Pier della Francesca; Zuan Bellin' not by usura
nor was "La Callunia" painted.
Came not by usura Angelico; came not Ambrogio Praedis,
Came no church of cut stone signed: Adamo me fecit.

Not by usura St. Trophime

Not by usura St. Hilaire,

Usura rusteth the chisel
It rusteth the craft and the craftsman
It gnaweth the thread in the loom
None learneth to weave gold in her pattern;
Azure hath a canker by usura; cramoisi is unbroidered
Emerald findeth no Memling

Usura slayeth the child in the womb
It stayeth the young man's courting
It hath brought palsey to bed, lyeth
between the young bride and her bridegroom

CONTRA NATURAM

They have brought whores for Eleusis
Corpses are set to banquet

at behest of usura.


(Ezra Pound)

*

Bom dia!

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6.9.04


APRENDENDO COM D. FREI BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES: "EU VIGIO O GADO, ELE ME VIGIA A MIM: MAIS VALE SOFRER A CHUVA..."

"Era fim de Janeiro, tempo ventoso e frigidíssimo. Deixou o abrigo e chaminés dos seus paços, foi-se experimentar os maus caminhos e piores gasalhados das aldeias... Mas queixavam-se os seus que não podiam aturar a continuação do trabalho, dos caminhos, das invernadas; ele só, com trabalhar mais que todos; sofria desassombradamente todas as incomodidades; e nos caminhos, por fragosos e ásperos que fossem, era o primeiro que os acometia, pondo-se na dianteira.

Passavam um dia de um lugar para outro. Salteou-os uma chuva fria e importuna, que os não largou na maior parte da jornada; e corria um vento agudo e desabrigado, que os congelava. Tinha-se adiantado o Arcebispo, segundo seu costume, que era caminhar quase sempre só pera se ocupar com mais liberdade em suas contemplações; e ia fazendo matéria de tudo quanto via no campo e na serra, para louvar a Deus.

Ofereceu-se-lhe à vista, não longe do caminho, posto sobre um penedo alto e descoberto ao vento e à chuva, um menino pobre e bem mal reparado de roupa, que vigiava umas ovelhinhas que ao longe andavam pastando. Notou o Arcebispo a estância, o tempo, a idade, o vestido, a paciência do pobrezinho: e viu juntamente que ao pé do penedo se abria uma lapa, que podia ser bastante abrigo para o tempo. Movido de piedade, parou, chamou-o, e disse-lhe que se descesse abaixo pera a lapa e fugisse da chuva, pois não tinha roupa bastante pera a esperar.

– Isso não! – respondeu o pastorinho, – que, em deixando de estar alerta e com o olho aberto, vem logo o lobo e leva-me a ovelha, ou vem a raposa e mama-me o cordeiro!

– E que vai nisso? – disse o Arcebispo.

– A mi me vai muito – tornou ele, – que tenho pai em casa, que pelejará comigo, e tão bom dia se não forem mais que brados. Eu vigio o gado, ele me vigia a mim: mais vale sofrer a chuva...

Não quis o Arcebispo dar mais passo. Esperou que chegassem os da sua companhia, contou-lhes o que se passara com o menino e acrecentou:

– Este esfarrapadinho inocente ensina a Frei Bartolomeu a ser Arcebispo! Este me avisa que não deixe de acudir e visitar minhas ovelhas, por mais tempestades que fulmine o céu; que, se este, com tão pouco remédio pera as passar, todavia não foge delas, respeitando o mandado do pai mais que o descanso, que razão poderei eu dar, se, por medo de adoecer ou padecer um pouco de frio, desemparar as ovelhas cujo cuidado e vigia Cristo fiou de mim, quando me fez pastor delas?"


(Frei Luis de Sousa)

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POEIRA DE 6 DE SETEMBRO

Hoje, há sessenta e cinco anos, a guerra começava para Virginia Woolf, a primeira vez que ouvia as sirenes a anunciar um ataque aéreo. Virginia estava em baixo: não lhe apetecia ler nem escrever, e os jornais “não valia a pena lê-los porque a BBC dava as notícias com um dia de antecedência”. Tinha que ir a Londres a 7 e estava com medo. “I a coward? Physically I expect I am.

Shall I walk? Yes. It's the gnats and flies that settle on non-combat. This war has begun in cold blood. One merely feels that the killing machine has to be set in action.

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A LER

a Desesperada Esperança na sua nova casa.com.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SUN CITY

"Quando vi Sun City senti emoção, afinal gostava mais daquilo do que pensava. É como Joanesburgo, um lugar que muita gente considera horrível mas de que eu gosto. Lugares de dinheiro, competitivos, acelerados, energéticos, sem tempo ou consideração para com o próximo... a lei da selva. É bom quando se aprende a viver com a lei da selva, é o maior desafio."

(MCP)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: OUTONO

"A mais suave, pacata e mole das estações, o Outono, suplanta a anterior e instala-se com sobressaltos medrosos, temporais enormes, manhãs escuras, turbilhões e massacres de folhas que fazem compreender quanta violência custa a maturidade."

Cesare Pavese, in O Ofício de Viver (cortesia de RM)


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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VENDER FUTEBOL

"Hoje, ao revisitar a velha amiga Mafalda, encontrei esta vinheta que liguei directamente às suas palavras [na Sabado].



Não é só a televisão a vender futebol como se fossem essas as grandes questões do mundo. Se bem me recordo, os grandes diários de referência, Público e DN, por alturas do Euro-2004 dedicavam a capa e a primeira dezena de páginas aos jogos e à espuma envolvente a eles.

Os Ingleses e Irlandeses são grandes apreciadores de futebol, como é sabido, mas não têm jornais desportivos. Falando sobre essa questão com um Irlandês, ele olhou-me com espanto e perguntou: "jornais só de desporto? E há pessoas que compram jornais assim?" Respondi afirmativamente, mas preferi omitir que são precisamente esses os jornais que mais se vendem por cá.

Será só responsabilidade dos meios de comunicação ou nós temos que assumir a nossa quota de responsabilidade? Não seremos, enfim, um pouco como o pai da Mafalda? Será que não procuramos na televisão, mesmo nos programas de informação, uma evasão aos problemas reais do mundo? É muito mais fácil comovermo-nos com tragédias de estrada ou de pobreza do que tentar compreender os verdadeiros contornos do perigo do terrorismo, por exemplo. E é muito mais fácil discutir futebol (um assunto universal e que todos julgam perceber) do que economia, política ou direito.

E, da mesma forma, é mais fácil para os jornalistas o tratamento de temas emocionais. Os temas reais, como a política, as finanças, a defesa nacional e a segurança mundial (tal como a cultura, quase sempre ausente dos espaços informativos), exigem uma longa e árdua preparação, muitas vezes uma especialização, que a maioria dos jornalistas não quer ou não tem condições para adquirir. E estes temas não são realidades a preto e branco. Os temas emocionais são sempre vistos assim: há vítimas e culpados; há bons e maus; há ricos e pobres (no futebol os bons e os maus são definidos pelo espectador, consoante a cor do seu clube). Ou seja, são fáceis de tratar e transmitir pois não têm a complexidade e as tonalidades de cinza da vida real."

(Paulo Agostinho)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O "VASTAMA"

"John Kerry: ontem estava ele na televisão quando apareceu o meu filho que disse “quem é mãe? Parece um vastama (é assim que ele diz fantasma, e como adoro quando ele, e a irmã também era assim, diz destas asneiras eu não corrijo contrariando a sabedoria dos especialistas; penso sempre que têm toda a vida para dizer fantasma e “vastama” durará muito pouco!). Mas ele tem razão: sempre achei que havia qualquer coisa de errado com Kerry e já não era só alguns disparates que disse e diz, é mesmo algo de errado com ele enquanto pessoa e acho que ele tem mesmo algo de fantasmagórico."

(J.)

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AR PURO


Alfons Walde

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EARLY MORNING BLOGS 303

Canción del pirata

Con diez cañones por banda,
viento en popa, a toda vela,
no corta el mar, sino vuela
un velero bergantín.
Bajel pirata que llaman,
por su bravura, el Temido,
en todo mar conocido
del uno al otro confín.

La luna en el mar rïela,
en la lona gime el viento,
y alza en blando movimiento
olas de plata y azul;
y ve el capitán pirata,
cantando alegre en la popa,
Asia a un lado, al otro Europa,
y allá a su frente Stambul:

«Navega, velero mío,
sin temor,
que ni enemigo navío
ni tormenta, ni bonanza
tu rumbo a torcer alcanza,
ni a sujetar tu valor.

Veinte presas
hemos hecho
a despecho
del inglés,
y han rendido
sus pendones
cien naciones
a mis pies.

Que es mi barco mi tesoro,
que es mi dios la libertad,
mi ley, la fuerza y el viento,
mi única patria, la mar.

Allá muevan feroz guerra
ciegos reyes
por un palmo más de tierra;
que yo aquí tengo por mío
cuanto abarca el mar bravío,
a quien nadie impuso leyes.

Y no hay playa,
sea cualquiera,
ni bandera
de esplendor,
que no sienta
mi derecho
y dé pecho
a mi valor.

Que es mi barco mi tesoro,
que es mi dios la libertad,
mi ley, la fuerza y el viento,
mi única patria, la mar.

A la voz de «¡barco viene!»
es de ver
cómo vira y se previene
a todo trapo a escapar;
que yo soy el rey del mar,
y mi furia es de temer.

En las presas
yo divido
lo cogido
por igual;
sólo quiero
por riqueza
la belleza
sin rival.

Que es mi barco mi tesoro,
que es mi dios la libertad,
mi ley, la fuerza y el viento,
mi única patria, la mar.

¡Sentenciado estoy a muerte!
Yo me río;
no me abandone la suerte,
y al mismo que me condena,
colgaré de alguna entena,
quizá en su propio navío.

Y si caigo,
¿qué es la vida?
Por perdida
ya la di,
cuando el yugo
del esclavo,
como un bravo,
sacudí.

Que es mi barco mi tesoro,
que es mi dios la libertad,
mi ley, la fuerza y el viento,
mi única patria, la mar.

Son mi música mejor
aquilones,
el estrépito y temblor
de los cables sacudidos,
del negro mar los bramidos
y el rugir de mis cañones.

Y del trueno
al son violento,
y del viento
al rebramar,
yo me duermo
sosegado,
arrullado
por el mar.

Que es mi barco mi tesoro,
que es mi dios la libertad,
mi ley, la fuerza y el viento,
mi única patria, la mar.»


(José de Espronceda)

*

Bom dia!

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5.9.04


JOGANDO HOJE XADREZ

Alguém se lembrou do "Ajedrez"

En su grave rincón, los jugadores
Rigen las lentas piezas. El tablero
Los demora hasta el alba en su severo
Ambito en que se odiam dos colores

Adentro irradiam mágicos rigores
Las formas: torre homérica, ligeiro
Caballo, armada reina, rey postrero,
Oblicuo alfil y peones agressores.

Cuando los jugadores se hayan ido,
Cuando el tiempo los haya consumido,
Certamente no habrá cessado el rito.

En el Oriente se encendio esta guerra
Cuyo anfiteatro es hoy toda la tierra.
Como el outro, este juego es infinito.


(Jorge Luis Borges)

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POEIRA DE 5 DE SETEMBRO / BIBLIOFILIA

Hoje, há quarenta e sete anos, era publicado On the Road de Jack Kerouac, que se chamava aliás Jean-Louis Lebris de Kerouac e crescera a falar um dialecto do francês canadiano, o joual. O livro fora escrito de um modo muito especial: um longo rolo de folhas de papel coladas umas às outras – como as folhas de um blogue que estivesse exposto num ecrã gigantesco e no qual nunca houvesse esquecimento. Estava mal escrito do ponto de vista dos escritores perfeccionistas, por corrigir, por rever, embora Kerouac estivesse a trabalhar no texto desde 1950.

Olhando para cima, Kerouac escreveu: "My witness is the empty sky." Olhando para o lado: “Houses are full of things that gather dust."

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A LER

A nota IMPROVISAÇÃO ORGANIZADA no Portugal dos Pequeninos.

O António Reis , sobre o cineasta, um exemplo de blogue que acrescenta.

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PRIMEIRO NOS SELOS, DEPOIS NUM PAÍS DE FILME DE AVENTURAS

O Bophuthatswana era o bantustão dos casinos, onde os sul africanos brancos podiam ir pagar o imposto do pecado. Ia-se de carro, passando-se pelas terras da platina, parando-se nas lojas sempre abertas e sempre de portugueses, entrando e saindo ficcionalmente da República da África do Sul, porque o “independente” Bophuthatswana era uma manta de retalhos geográfica das más terras da região. Tinha golpes de estado e um ditador local Mangope, cuja fotografia estava dependurada nas entradas dos hotéis de Sun City. Foi o bantustão que mais resistiu ao fim da sua nominal independência. Os crocodilos dos selos não entravam nas salas de jogo, pelo menos na sua encarnação de réptil decente.


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APRENDENDO COM O PADRE MANUEL BERNARDES: TRÊS PÁTRIAS

"Qualquer homem tem três pátrias: uma da origem, outra da natureza e outra do direito. A pátria da origem é aquela em que os nossos maiores foram e viveram; a da natureza é a terra ou lugar onde cada um nasce; a do direito é onde cada um é naturalizado pelas leis ou príncipes, e onde serve, e merece, e costuma habitar: neste sentido disse Túlio de Catão que tivera a Túsculo por pátria da natureza, mas a Roma por pátria do direito.

Quanto à pátria da origem, todos os homens somos do Céu, porque ali está, vive e reina o nosso pai celestial, que vai criando as almas e unindo-as a nossos corpos.

Quanto à segunda pátria, falando geralmente, todos homens somos da Terra; por isso dela falamos tão frequentemente. Neste sentido todos os filhos de Adão somos compatriotas, sem diferença do rei ao rústico. Neste sentido, também, os que desejavam negar as imperfeições do amor a tal ou a tal terra em particular, ou por arrogância e fasto filosófico ou por mortificação religiosa e santa, disseram que todo o mundo era pátria sua. Do primeiro temos exemplo em Sócrates, que, perguntado donde era, respondeu:

– Do mundo: porque de todo o mundo sou cidadão e habitador.

E em Séneca, que disse:

– Não encerramos a grandeza do ânimo nos muros de uma cidade, antes o deixamos livre para o comércio de todo o mundo, porque esta é a pátria que professamos, para darmos campo mais largo à virtude.

Do segundo temos exemplo em S. Basílio, que, ameaçado com desterro pelo prefeito do imperador Valente, respondeu que não conhecia desterro quem não estava adicto a certos lugares.

Semelhante resposta foi a do v. p. frei António das Chagas, que, avisado por certa pessoa não falasse tão acremente nos sermões da morte, porque se arriscava a ser desterrado, disse mui seguramente:

– Desterrar-me? Para onde? Quem não tem aqui pátria não pode ter daqui desterro.

Mas, além desta pátria do lugar comum, há outra do particular, que é a terra onde cada um nasceu. Quanto esta é mais pequena, tanto une mais os seus filhos, de sorte que parece o mesmo ser compatriotas que parentes, especialmente quando se acham fora dela. E parece-se este amor com a virtude da erva tápsia, da qual escreve Teofrasto que, metida na panela com a carne a cozer, de tal modo conglutina os pedaços dela que, para os tirar, é necessário quebrá-la. Quanto, porém, a pátria é terra mais populosa, rica e ilustre, tanto costuma ser matéria de vaidade aos que põem a sua glória fora de si. Assim se esvaneciam os Arianos da sua Constantinopla, lançando em rosto a S. Gregório Nazianzeno a sua terrinha, que nem muros a cingiam. Porém o santo doutor lhes respondeu que, se isso era culpa nele, também o seria no golfinho não haver nascido na terra, e no boi não haver nascido mo mar. E, pelo contrário, se neles era glória, também o seria para os jumentos da cidade assoberbarem os do campo.

Quanto à terceira pátria, é esta o lugar onde estamos naturalizados, por mercê da república, ou rescrito dos príncipes, ou habitação continua, de modo que Sto. António se chama de Pádua, não sendo senão de Lisboa, e S. Nicolau de Tolentino, sendo de Saint-Angel. Tomando, porém, isto espiritualmente, onde cada um habita com o espírito e desejo, daí é natural. Por isso, Cristo disse a seus adversários que eles eram cá de baixo: Vos deorsum estis... vos de mundo hoc estis. E, pelo contrário, a seus discípulos, que eles não eram deste mundo: De mundo non estis.
"

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AR PURO


Apolinariy Vasnetsov

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EARLY MORNING BLOGS 302

Landscape With The Fall Of Icarus

According to Brueghel
when Icarus fell
it was spring

a farmer was ploughing
his field
the whole pageantry

of the year was
awake tingling
near

the edge of the sea
concerned
with itself

sweating in the sun
that melted
the wings' wax

unsignificantly
off the coast
there was

a splash quite unnoticed
this was
Icarus drowning


(William Carlos Williams)

*

Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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