ABRUPTO

31.7.04


BLUE MOON


(Cortesia de Astronomy Picture of the Day)

Hoje é noite de Lua Azul, de “blue moon”, duas luas cheias no mesmo mês. Desde Novembro de 2001, não havia nenhuma. Vê-la-ei a cair para dentro de quatro paredes brancas, por entre os ramos de um loureiro.

(url)


INTENDÊNCIA

ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO


em actualização.

(url)


OUVINDO “SWINGING ON A STAR”






divertindo-me, sem inocência que sobre. Não é que estes velhos tipos das canções de Hollywood sabiam todas as perguntas certas: vejam lá se a mula, o porco e o peixinho “slippery” não andam aí à volta? Perguntem ao Bing Crosby.

Would you like to swing on a star
Carry moonbeams home in a jar
And be better off than you are
Or would you rather be a mule?

A mule is an animal with long funny ears
Kicks up at anything he hears
His back is brawny but his brain is weak
He's just plain stupid with a stubborn streak
And by the way, if you hate to go to school
You may grow up to be a mule

Or would you like to swing on a star
Carry moonbeams home in a jar
And be better off than you are
Or would you rather be a pig?

A pig is an animal with dirt on his face
His shoes are a terrible disgrace
He has no manners when he eats his food
He's fat and lazy and extremely rude
But if you don't care a feather or a fig
You may grow up to be a pig

Or would you like to swing on a star
Carry moonbeams home in a jar
And be better off than you are
Or would you rather be a fish?

A fish won't do anything, but swim in a brook
He can't write his name or read a book
To fool the people is his only thought
And though he's slippery, he still gets caught
But then if that sort of life is what you wish
You may grow up to be a fish
A new kind of jumped-up slippery fish

And all the monkeys aren't in the zoo
Every day you meet quite a few
So you see it's all up to you
You can be better than you are
You could be swingin' on a star”


(Johnny Burke, Jimmy Van Heusen)

(url)


O MAR


Johann Christian Dahl

Como é que se pode olhar para o mar sem solidão? Como é que se pode olhar para o mar e ter que ver antes a multidão têxtil a cores, ver a praia, não a praia da areia mas a praia dos corpos, a balbúrdia?

(Eu sei que esta nota é reaccionária. Eu sei da história toda. Eu sei que também aqui há um bem escasso e suposto ser para todos, logo estar cheio. Eu sei que desde que a Frente Popular concedeu férias pagas, também os operários têm direito ao seu Deauville particular. Eu sei que a ecologia acabou naquele dia, eu sei que a terra é pequena e as gentes muitas. Eu sei que cada chinês tem direito inalienável ao seu automóvel e frigorífico, pese embora à camada de ozono, a abundância da abundância. Eu sei que hoje a praia é o povo voltado de costas a dourar, ou pelo menos uma parte substancial do dito. Eu sei disso tudo. Mas, Senhor, porque não nos dás mais espaço, para se poder olhar o mar como deve ser?)


*

«Mas, Senhor, porque não nos dás mais espaço, para se poder olhar o mar como deve ser?» Dá e generosamente, por esta costa fora. Onde? Em todos os recantos onde só se chegue a pé e com mais de dez minutos de caminhada."

(M.H.)

(url)


EARLY MORNING BLOGS 268

maggie and milly and molly and may


maggie and milly and molly and may
went down to the beach(to play one day)

and maggie discovered a shell that sang
so sweetly she couldn't remember her troubles,and

milly befriended a stranded star
whose rays five languid fingers were;

and molly was chased by a horrible thing
which raced sideways while blowing bubbles:and

may came home with a smooth round stone
as small as a world and as large as alone.

For whatever we lose(like a you or a me)
it's always ourselves we find in the sea


(e. e. cummings)

*

Maggie and milly and molly and may, bom dia!

(url)

30.7.04


POEIRA DE 29 DE JULHO



Hoje, há cento e trinta e dois anos, Whistler pintava um dos seus mais famosos retratos, o de Thomas Carlyle. Carlyle não queria posar mais do que uma ou duas vezes, Whistler acabou por exigir que o fizesse muitas vezes. Carlyle achava a experiência insuportável, e, todas as vezes que se movia um pouco, Whistler berrava: “Por amor de Deus, não se mexa!” Carlyle, que já estava com pouca paciência, acabou por perceber que o que mais interessava a Whistler era o seu casaco... Dizia de Whistler “que era a mais absurda criatura à face da terra”. Pode ter sido, mas que o casaco ficou bem pintado neste Arrangement in Grey and Black Number 2, ficou.

(url)

29.7.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DO OUTRO LADO DO ESPELHO

"A propósito deste nosso cada vez mais pobre país, lembrei-me de uma das cenas de Alice do Outro Lado do Espelho de Lewis Carroll; em que depois de passar para a casa do espelho, Alice descobre que quando quer ir ter com alguma coisa, tem de caminhar no sentido contrário. Hilariante situação.
Pois parece-me, que nós por cá, na terra da realidade, definimos as políticas, definimos os objectivos, escolhemos os políticos e estabelecemos as metas (agora de dois em dois anos), e caminhamos, igualmente, em sentido contrário. Com a óvia diferença de que enquanto Alice se aproxima do desejado, nós nos afastamos cada vez mais."

(Ivo Monteiro)

(url)


EARLY MORNING BLOGS 267

Hymn to the Neck


Tamed by starched collars or looped by the noose,
all hail the stem that holds up the frail cranial buttercup.
The neck throbs with dread of the guillotine's kiss, while
the silly, bracelet-craving wrists chafe in their handcuffs.
Your one and only neck, home to glottis, tonsils,
and many other highly specialized pieces of meat,
is covered with stubble. Three mornings ago, undeserving
sinner though she is, yours truly got to watch you shave
in the bath. Sap matted your chest hair. A clouded
hand mirror reflected a piece of your cheek. Vapor
rose all around like spirit-infested mist in some fabled
rainforest. The throat is the road. Speech is its pilgrim.
Something pulses visibly in your neck as the words
hand me a towel flower from your mouth.


(Amy Gerstler)

*

Bom dia!

(url)

28.7.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: FOGO PURO



Esta mancha está a atravessar o Sol por estes dias. Poucas imagens existem que retratem tanta violência, o tumulto do Inferno, do absoluto inabitável, como estas correntes de plasma, estes rios de fogo puro contorcendo-se, presos por forças ainda maiores do que as suas, presos pelas linhas invisíveis da natureza, presos pela gravidade, presos pelo campo magnético do Sol.

(Esta magnifica imagem é de um astrónomo amador Jack Newton.)

(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O EGO POLÍTICO

"De como o ego político se manifesta nas conversas faladas e escritas:

(1) Do Programa "Outras Conversas" em 25 de Julho de 2004 Entrevista ao Dr. Marques Mendes:

"As minhas ideias, as minhas convicções..."

Quais? Já agora faz-nos o favor de nos dizer quais são? Muito obrigado!

(2) Da "Única" do Expresso de 24 de Julho de 2004. Entrevista ao Dr. José Sócrates:

"Sou um animal feroz"

"Fui ao estrangeiro pela primeira vez aos 20 anos"

"A televisão mata (...) Eu estive lá ano e meio"

"Acho escandalosos os ordenados dos gestores"

"Também sou um esteta"

(3) O que está escondido:

Na mesma entrevista a Sócrates fala-se de género:

(...)"A nova família é baseada na igualdade entre géneros ."

Fala-se também de beleza:

"Receita de mulher: As feias que me perdoem mas beleza é fundamental. Sim, também sou um esteta".

Será que a igualdade entre géneros é compatível com a idolatria da beleza e o medo do fogão?

Então quem faz a comida lá em casa? A criada? Vem de fora? Ou lá em casa não se come?
(...)"

(H. Preto)



(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SUDÂO

"(...) estranho o seu silêncio sobre a situação no Sudão e estranho mais ainda porque me recordo das suas palavras críticas sobre a inércia da comunidade internacional, nomeadamente da ONU, aquando do genocídio no Ruanda.

No seguimento do recorrente conflito no Iraque e, utilizando as suas palavras, "numa altura em que nada acontece de relevante", seria bom que "as televisões, o mais poderoso meio de comunicação social" dispensassem alguns segundos para o seguinte:

O Congresso americano aprovou por unanimidade uma resolução considerando a crise do Darfur um genocídio e pediu a intervenção urgente dos Estados Unidos. Foi entregue um projecto americano no Conselho de Segurança da ONU a prever sanções contra Cartum caso o Governo não desarme as milícias árabes.
O Congresso pediu também à Administração do Presidente George W. Bush que assuma a palavra genocídio e que lidere uma acção internacional para lhe pôr cobro, eventualmente uma intervenção unilateral para impedir o genocídio caso as Nações Unidas não intervenham. A juntar a isto o Exército britânico está preparado para enviar 5000 soldados para o Darfur.

As associações a outras intervenções militares e o mediatismo de palavras como petróleo, interesses económicos e neo-imperialismo ficam para um próximo comentário."

(Luís Faria)

(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O "DIRECTOR DE ESCOLA"...

"Pensar é cada vez mais raro…talvez venha a ser mesmo rotulado, num futuro próximo, de acto pouco recomendável. Já quase ninguém usa um discurso próprio. Ouve-se, até ao fio, réplicas e colagens das já banalidades, alheias, na comunicação social e no meiozinho de cada um de nós. Pensar está mesmo fora de moda. Fala bem, você, na nossa menoridade cívica, no caso, barrigadas de futebol versus ausência de debate do programa do governo. Mas que programa? Há dias, quando o programa foi conhecido, procurei avidamente as páginas das intenções e das medidas na Educação… lá só encontrei, além de umas banalidades, umas deseducações como a figura de Director de Escola que já não existe…e de resto…ausência."

(Conceição Lopes)

(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: FOGO


Foto do fogo de Mafra de ontem, enviada por António Rodrigues 2.º Comandante QH Bombeiros Voluntários da Pontinha.

(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: “A different kind of life? I didn’t know life came in kinds.”

"Quando Coetzee ganhou o Nobel e vi as notícias desencadeadas pela atribuição do prémio, mais do que o que li escrito sobre ele e por ele, gostei do que as suas fotografias me revelavam. Uma cara de traços equilibrados e finos, um ar elegante, quase seco e ascético. Fiquei com vontade de conhecer a sua obra e por diversas vezes os seus livros me saltaram para a mão, mas acabei sempre por sacudi-los por tanto me incomodar a capa de “Disgrace” com aquele cão faminto e sarnento no meio de “nada”, ou melhor de lixo parco, metálico, seco e desolado.

(…)Aderi de imediato à escrita de frases curtas e depuradas de Coetzee que, apesar da elegância e subtileza, não deixa de ser acutilante e por vezes quase cirúrgica tom que lhe é dado pela sensação de distância, alguma ironia e por vezes algum humor quase negro: frisando a ambivalência da palavra “negro” no contexto deste romance. Os diálogos são espelho desta linguagem e transmitem de forma clara, na minha opinião, mais do que a “condição humana” em abstracto a condição do “ser homem”, “ser divorciado”, “ter sido marido”, “ser sul-africano”, “ser “branco-sul-africano”, “ser pai”, “ser filha”, “ser branca no meio de negros”, e todos os outros “ser isto ou aquilo”. As personagens através do diálogo (“Disgrace” é um romance pouco descritivo) mostram sem contemplações ou convenientes compromissos a essência deles mesmos e das suas opções, algumas delas ditadas por um “fado” ao qual não escapam e que é indissociável do “ser…”.

Retomaria o adjectivo metálico ao qual juntaria o estéril para qualificar muito mais no livro: as relações entre as personagens, o tipo de interacções sexuais no romance mesmo quando aparentemente existe desejo ele aparece sempre com não correspondido; uma pequena excepção: a recordação sensual dos primeiros tempos com Rosalind. Também a paisagem rural tem esse cunho estéril do metal, tal como a presença constante como pano de fundo dos cães. A marca do “estéril” está presente até na criatividade fecunda (a “ópera”, por exemplo, que nunca evolui) e tem apenas uma excepção marcada pela violência do destino.

A desolação da desagradável capa do cão é um bom indício do que espera o leitor ao abrir o romance; mas a beleza da linguagem, a riqueza das personagens e o absurdo dos seus dilemas, dificilmente se adivinharia."

(JPC)


(url)


O INCÊNDIO DE BOTICAS

é como se fosse na minha terra, aos pés de minha casa. Também eu tive “casa” em Boticas e quando lá cheguei tinha havido um grande incêndio, a sul do que ocorreu agora, na mata que ia de Boticas para a Praia de Vidago. No Inverno, as luzes do carro eram “engolidas” pelo negro que cobria tudo à volta. Não sabia que este fenómeno existia: por mais brilhantes que fossem os faróis, máximos ligados, e a subida da encosta para Pinho era feita quase às escuras. A mesma escuridão caminha agora na direcção do Larouco, monte de nome mais antigo que a colonização romana, e as faces dos que combatem o incêndio são de meus amigos e conhecidos. Corrijo: em Boticas, os conhecidos são amigos. Espero que tudo acabe em bem, ou em menos mal.


(url)


SABEDORIA POPULAR

Para os que, distraídos, a esquecem : “o peixe apodrece pela cabeça”.


(url)


POEIRA DE 28 DE JULHO

Hoje, há sessenta e dois anos, uma jovem judia holandesa, Etty Hillesum, dirigiu-se para a sua caixa do correio. Lá estava um envelope com um formulário para preencher como “judia”. Eram sete e meia da manhã. Etty sabia o que estava a começar dentro daquele envelope e suspeitava como ia acabar. Entregou-se primeiro a Deus, depois a Rilke e a Jung, por esta ordem. Pensou: “vou deixar que a cadeia deste dia se desenrole elo a elo, não vou interferir, apenas ter fé.” Depois: “trarei Jung e Rilke comigo, aconteça o que acontecer”. Olhou para a sua casa: aconteça o que acontecer “estes dois últimos anos brilharão sempre no limite da minha memória como uma paisagem gloriosa”. Forçou interiormente a memória: “quando tiver que me ir embora, levarei tudo comigo.

IR EMBORA. Etty decidiu voluntariamente ir para Westerbork, o campo de trânsito. Próxima paragem: Auschwitz. Lá morreu, com vinte e nove anos, pouco mais de um ano depois deste dia, abandonada por Deus e com o seu Jung e o seu Rilke.

(url)



Fede Galizia

(url)


EARLY MORNING BLOGS 266

Home

I didn't know I was grateful
for such late-autumn
bent-up cornfields

yellow in the after-harvest
sun before the
cold plow turns it all over

into never.
I didn't know
I would enter this music

that translates the world
back into dirt fields
that have always called to me

as if I were a thing
come from the dirt,
like a tuber,

or like a needful boy. End
Lonely days, I believe. End the exiled
and unraveling strangeness.


(Bruce Weigl)

*

Bom dia!

(url)

27.7.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: GIGANTOMAKHIA






Mimas, o gigante, filho da castração de Urano, lá está, parecido com a “Estrela da Morte” da Guerra das Estrelas, brilhando no escuro. Quando Herschel o descobriu era apenas um ponto de pouca luz. Agora mostra-se à Cassini, quase partido pelo impacto que lhe moldou a cratera, mas sem se ver o corpo destruído pelo ferro em brasa, com que Hércules o matou, nem os cabelos negros que Hesíodo ( ou Apolodoro, ou Pausanias, não me recordo) dizia que ele tinha.


(url)


TEORIA POLÍTICA DO SABONETE: “SABONETIZÁVEL” / “NÃO-SABONETIZÁVEL”

Agora passa a haver uma nova categoria política, desenvolvendo uma velha afirmação de Rangel sobre a capacidade da televisão para vender presidentes como sabonetes. Essa categoria, formulada por um par de opostos, é “sabonetizável” / “não-sabonetizável”. Proponho um novo barómetro medindo a qualidade virtual de “sabonetizável”, a confrontar depois com as audiências do “sabonete”.


(url)


LEITURA OBRIGATÓRIA

Nota de Gabriel Silva "CORTES? AQUI NÃO, OBRIGADA!" no Blasfémias.

Nota de "Neptuno" "UM DIA SEM DEMAGOGIA" no Mar Salgado .

(url)


EARLY MORNING BLOGS 265

A Cada Qual


A cada qual, como a 'statura, é dada
A justiça: uns faz altos
O fado, outros felizes.
Nada é prémio: sucede o que acontece.
Nada, Lídia, devemos
Ao fado, senão tê-lo.

(Ricardo Reis)

*

Bom dia!

(url)


UM MILHÃO DE "PAGEVIEWS"

Já há algum tempo que o Abrupto ultrapassou um milhão de "pageviews". Já o devia ter assinalado, mas, no meio desta confusão toda, passou. Obrigado aos seus leitores.

(url)

26.7.04


A CAMINHO DO ZERO

As televisões, o mais poderoso meio de comunicação social, falam de incêndios e futebol. Os incêndios justificam-se, embora não se justifique de todo a exploração das pessoas atingidas pelo fogo, das suas emoções e do seu medo. Nestas ocasiões, a câmara e o microfone são coisas obscenas. O futebol, numa altura em que nada acontece de relevante, tornou-se um contínuo, as televisões já não sabem viver sem futebol.

Tudo o resto não existe. Alguém se deu ao trabalho, na televisão generalista e ,por maioria de razão, na pública, de fazer uma discussão séria do programa de governo, essa coisa ínfima frente ao futebol? Assim se consolida a nossa menoridade cívica.

(url)


BIBLIOFILIA



Com os livros vindos de Bruxelas, estão alguns que ainda nem sequer folheei. Para o amador de livros é como se os tivesse comprado hoje. Dois entre eles: Iaroslav Lebedynsky, Les Cosaques. Une Societé Guerrière entre Libertés et Pouvoirs. Ukraine- 1490-1790, Paris, Editions Errance, 2004 e Hans Küng, The Catholic Church, Londres Phoenix Press, 2002.
Deles darei notícia.


(url)


POEIRA DE 26 DE JULHO

Hoje , há setenta e um anos, Elizabeth Smart sentia-se preguiçosa. Os dias passavam e tinha a sensação que não fazia nada. Lia . Estava a ler o Amante de Lady Chatterley. Ao almoço comentou com as amigas que estava a ler o “livro proibido”. Uma das suas companheiras de almoço indignou-se: “I think it’s perfectly disgusting to want to read a book my country won’t allow”.

Elizabeth não sabia bem o que lhe dizer. “Será que não quer formar a sua própria opinião?” Não queria, estava bem assim.

(url)



Roy Lichtenstein, Washing Machine

(url)


UMA CASA EMPACOTADA

A “minha” casa belga chegou empacotada. Dividida em caixas de cartão: livros, computador, louça – FRÁGIL -, papéis “que estavam em cima da mesa”, material de escritório. Os móveis falam por si, não precisam de etiqueta. “Objectos”, quadros, mais livros.

A geografia transporta o tempo. Quem olhará agora da varanda sobre o jardim da Porte de Halle? A “bouquinerie marxiste-leniniste” continuará por quanto tempo? A mercearia grega, com a fila clara das garrafas de retsina, está aberta ou fechada? E L’Ecrit Vint com o seu silêncio? Como crescerá a criança que lá costumava estar? O Vasco continuará a ir aos livros na Waterstone's e a dizer "se não fosse este vício ficávamos ricos". E o meu supermercado de estimação, escondido numa garagem, com uma fila de pedintes à porta e cem línguas lá dentro? E o café do Porto? Nevará no escuro, como numa noite, de repente. «Rien ne m'est sûr que la chose incertaine».


(url)


EARLY MORNING BLOGS 264

If You Get There Before I Do

Air out the linens, unlatch the shutters on the eastern side,
and maybe find that deck of Bicycle cards
lost near the sofa. Or maybe walk around
and look out the back windows first.
I hear the view's magnificent: old silent pines
leading down to the lakeside, layer upon layer
of magnificent light. Should you be hungry,
I'm sorry but there's no Chinese takeout,
only a General Store. You passed it coming in,
but you probably didn't notice its one weary gas pump
along with all those Esso cans from decades ago.
If you're somewhat confused, think Vermont,
that state where people are folded into the mountains
like berries in batter. . . . What I'd like when I get there
is a few hundred years to sit around and concentrate
on one thing at a time. I'd start with radiators
and work my way up to Meister Eckhart,
or why do so few people turn their lives around, so many
take small steps into what they never do,
the first weeks, the first lessons,
until they choose something other,
beginning and beginning their lives,
so never knowing what it's like to risk
last minute failure. . . .I'd save blue for last. Klein blue,
or the blue of Crater Lake on an early June morning.
That would take decades. . . .Don't forget
to sway the fence gate back and forth a few times
just for its creaky sound. When you swing in the tire swing
make sure your socks are off. You've forgotten, I expect,
the feeling of feet brushing the tops of sunflowers:
In Vermont, I once met a ski bum on a summer break
who had followed the snows for seven years and planned
on at least seven more. We're here for the enjoyment of it, he said,
to salaam into joy. . . .I expect you'll find
Bibles scattered everywhere, or Talmuds, or Qur'ans,
as well as little snippets of gospel music, chants,
old Advent calendars with their paper doors still open.
You might pay them some heed. Don't be alarmed
when what's familiar starts fading, as gradually
you lose your bearings,
your body seems to turn opaque and then transparent,
until finally it's invisible--what old age rehearses us for
and vacations in the limbo of the Middle West.
Take it easy, take it slow. When you think I'm on my way,
the long middle passage done,
fill the pantry with cereal, curry, and blue and white boxes of macaroni, place
the
checkerboard set, or chess if you insist,
out on the flat-topped stump beneath the porch's shadow,
pour some lemonade into the tallest glass you can find in the cupboard,
then drum your fingers, practice lifting your eyebrows,
until you tell them all--the skeptics, the bigots, blind neighbors,
those damn-with-faint-praise critics on their hobbyhorses--
that I'm allowed,
and if there's a place for me that love has kept protected,
I'll be coming, I'll be coming too.

(Dick Allen)

*

Bom dia!

(url)

25.7.04


APRENDAM A CONGA, QUE VAI SER ÚTIL,

Ouvindo Doris Day a cantar "(I Ain't Hep To That Step, But I'll) Dig It”, a canção que Fred Astaire usa para “levar” Paulette Godard em Second Chorus. Parece que a Godard nunca tinha dançado verdadeiramente e por isso não teve outro remédio senão aprender a conga, a mazurka, a polka e o charleston (como pot-pourri, não está mal).

DIG IT!
(Johnny Mercer/H.Borne)

(Band members:)

Dig it! Dig it! Dig it Doris on the vocal chorus!


I never could do the conga

Could never get through the conga

But if you say do the conga

I ain't hep to that step

But I'll dig it

I never could see mazurkas

They're poison to me, mazurkas

But if it's to be mazurkas

I ain't hep to that step

But I'll dig it

When they invented the charleston

I was a total flop

But say if you want to charleston

I'll never stop

I'll dance till I drop

I never could dig the polka

The corniest jig, the polka

But if you say dig the polka

I ain't hep to that step

But I'll dig it!

I ain't hep but I'll dig it!


Ouçam a letra, e depois digam-me se não vamos todos ter que dançar isto tudo e mais alguma coisa, em particular a tarantela.



(url)


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: FONS VITAE



Não é de hoje, já tem quatro anos e foi tirada pelo satélite TRACE. O Sol abrindo-se, explodindo-se, num abraço maior do que a Terra. Neste abraço cabemos todos .

(url)


EARLY MORNING BLOGS 263

PINTA EL ENGAÑO DE LOS ALQUIMISTAS

Podrá el vidro llorar partos de Oriente?
¿Cabrá su habilidad en los crisoles?
¿Será la Tierra adúltera a los Soles,
Por concebir de un horno siempre ardiente?

¿Destilarás en baños a Occidente?
¿Podrán lo mismo humos que arreboles?
¿Abreviarán por ti los Españoles
El precioso naufragio de su gente?

Osas contrahacer su ingenio al día;
Pretendes que le parle docta llama
Los secretos de Dios a tu osadía.

Doctrina ciega y ambiciosa fama:
El oro miente en la ceniza fría,
Y cuando le promete, le derrama.

(Francisco de Quevedo)


*

Bom dia!


(url)

24.7.04


INTENDÊNCIA

- O último (para já) POBRE PAÍS de ontem actualizado.

- VERITAS FILIA TEMPORIS

- Viver na Twilight Zone (Outubro 2001)

- Feito pelo Cavaleiro Andante (Outubro 2002)


- ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO

em actualização.

Sobre Carlos Paredes / "Franco", militante comunista.


De uma nota da PIDE de 4 de Março de 1959.

(url)


BIBLIOFILIA






Escrevi na Sábado sobre a antologia de ensaios editada por David Lavery, This Thing of Ours. Investigating the Sopranos, Columbia University Press , 2002, livro sobre o qual já tinha feito uma nota no Abrupto . Para a semana coloco em linha.

(url)


EARLY MORNING BLOG 262

La Poule aux oeufs d'or

L'avarice perd tout en voulant tout gagner.
Je ne veux, pour le témoigner,
Que celui dont la Poule, à ce que dit la Fable,
Pondait tous les jours un oeuf d'or.
Il crut que dans son corps elle avait un trésor.
Il la tua, l'ouvrit, et la trouva semblable
A celles dont les oeufs ne lui rapportaient rien,
S'étant lui-même ôté le plus beau de son bien.
Belle leçon pour les gens chiches :
Pendant ces derniers temps, combien en a-t-on vus
Qui du soir au matin sont pauvres devenus
Pour vouloir trop tôt être riches ?

(La Fontaine)

*

Bom dia!


(url)


BRINCAR ÀS CASINHAS

O que é que aqueles génios das finanças e da economia, que nos andaram a dizer que este governo tinha, que nos garantiram que “nunca” permitiriam políticas despesistas e insensatas, os “avalistas” do governo para evitar “loucuras”, fizeram em Conselho de Ministros para impedir que o Primeiro-ministro ande a brincar às casinhas despachando meia dúzia de governantes menores para gabinetes fora de Lisboa, sem qualquer nexo, racionalidade ou vantagem?


(url)


LEITURA OBRIGATÓRIA

Nota de João Miranda no Blasfémias intitulada Orgasmo Múltiplo.

(url)



Juan Gris

(url)

23.7.04


POBRE PAÍS

o nosso.

No dia 26 de Junho escrevi o seguinte:

eu quero um governo que pense em Portugal em primeiro lugar, que não se importe de perder as eleições, se estiver convicto que políticas difíceis são vitalmente necessárias. Não quero uma comissão eleitoral uninominal (ou binominal) que fará tudo apenas com um fito: ganhar as próximas eleições.
Porque esse será o seu programa não escrito.

Nada do que aconteceu até hoje nega o que disse. Não há nenhuma razão económica para a baixa do IRS, a não ser os seus efeitos eleitorais. Não há nenhuma razão para esta absurda criação de embaixadas do governo em cidades do litoral (no Alentejo, o “litoral” é interior), a não ser a pouca sorte (para nós) do Ricardo Costa ter feito a pergunta que fez e ter encravado o orgulho volátil do Primeiro-Ministro em meia dúzia de promessas insensatas. Para quê: para facilitar a concessão de audiências ou a distribuição de benesses? Inútil e caro. E há mais. Pode estar a esboçar-se uma nova subsidiação ao subemprego com entradas pela porta do cavalo na função pública para absorver o desemprego. O que é que tudo isto tem em comum? Sabemos todos demasiado bem.

*

"A par dos inconvenientes que todos vemos, adivinho também algumas vantagens em ter secretarias de Estado noutras cidades do país e reuniões "saltitantes" do Conselho de Ministros.

1) Para os próprios governantes é fundamental terem a percepção permanente de que há vida fora de Lisboa. Um dos problemas recorrentes é precisamente que mesmo as pessoas com origem fora da capital se esquecem disso quando "emigram" para o Governo. Lisboa é grande, Lisboa é muito melhor do que o resto do país em inúmeros aspectos (e especialmente na vitalidade económica, digo eu que sou do Porto), Lisboa faz aparecer em quem lá está a "síndrome Vitorino" em relação ao resto do país.

2) Em paralelo com os aspectos estritamente racionais, há um efeito emocional positivo na proximidade física entre o "povo" e os governantes que depois se traduz em maior participação cívica, em maior dinamismo económico, etc., etc. (Esta afirmação carecia de alguma justificação adicional, mas agora não vai dar tempo...) Já sei também que a "deslocalização" não irá abranger todo o país, mas mais vale pouco do que nada.

3) Sempre achei que o Governo tenta fazer coisas demais. Mais vale pouco mas bem. Tenho muito receio de grandes planos, especialmente com este Primeiro-Ministro. Prefiro projectos simples (que podem no entanto ser passos intermédios de algo mais ambicioso) com resultados que possam ser avaliados rigorosamente num prazo razoavelmente curto.
Ao realizar reuniões fora de Lisboa, o Governo vai ser pressionado a apresentar resultados concretos dessas estadias. Pode ser que assim seja obrigado a adoptar uma postura realista e responsável – o português deixa-se iludir frequentemente por medidas populistas, mas não é eternamente enganado e acaba por ver a luz. ;-)"

(Tiago Azevedo Fernandes)


(url)
(url)


TRETAS

O Público escreve hoje seguinte: "O PSD exigiu a Pedro Santana Lopes que houvesse um lugar de secretário de Estado atribuído a este partido no Ministério da Defesa de Paulo Portas e foi, por isso, que à última hora a lista dos secretários de Estado foi alterada." Gostava muito de saber quem é o sujeito da frase, quem é esse "PSD" que "exige" coisas ao Primeiro-Ministro. O nosso jornalismo comprova todos os dias que há gente capaz de comer tudo o que se lhes dá.

(url)


EARLY MORNING BLOGS 261


Liberté

Le vent impur des étables
Vient d'ouest, d'est, du sud, du nord.
On ne s'assied plus aux tables
Des heureux, puisqu'on est mort.

Les princesses aux beaux râbles
Offrent leurs plus doux trésors.
Mais on s'en va dans les sables
Oublié, méprisé, fort.

On peut regarder la lune
Tranquille dans le ciel noir.
Et quelle morale ?... aucune.

Je me console à vous voir,
A vous étreindre ce soir
Amie éclatante et brune.

(Charles Cros)

*

Bom dia!

(url)


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: EXACTAMENTE COMO ELES SÃO



sem qualquer pintura, sem sombra, sem maquilhagem, sem falsas cores. Se lá estivéssemos, e não a pequena máquina, é isto que veríamos. Tom sobre tom perfeito.

(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:: "We certainly do not forget you as soon as you forget us. It is, perhaps, our fate rather than our merit."

"Diálogo (…) entre Anne Elliot e Captain Harville sobre como amam os homens e as mulheres. É Jane Austen; Persuation capítulo XXIII (e penúltimo). Claro que o Captain Wentworth que deixa cair a pena enquanto finge escrever, é o objecto do amor e devoção de Anne e as emoções não se ficam com o fim deste diálogo. São páginas finais de grande beleza e emoção de uma das mais lindas histórias de amor que a Literatura nos oferece e que “salvam” este romance “menor” de Jane Austen."

(Enviado por JPC)

"Poor Fanny! she would not have forgotten him so soon!"

"No," replied Anne, in a low, feeling voice. "That I can easily believe."

"It was not in her nature. She doted on him."

"It would not be the nature of any woman who truly loved."

Captain Harville smiled, as much as to say, "Do you claim that for your sex?" and she answered the question, smiling also, "Yes. We certainly do not forget you as soon as you forget us. It is, perhaps, our fate rather than our merit. We cannot help ourselves. We live at home, quiet, confined, and our feelings prey upon us. You are forced on exertion. You have always a profession, pursuits, business of some sort or other, to take you back into the world immediately, and continual occupation and change soon weaken impressions."

"Granting your assertion that the world does all this so soon for men (which, however, I do not think I shall grant), it does not apply to Benwick. He has not been forced upon any exertion. The peace turned him on shore at the very moment, and he has been living with us, in our little family circle, ever since."

"True," said Anne, "very true; I did not recollect; but what shall we say now, Captain Harville? If the change be not from outward circumstances, it must be from within; it must be nature, man's nature, which has done the business for Captain Benwick."

"No, no, it is not man's nature. I will not allow it to be more man's nature than woman's to be inconstant and forget those they do love, or have loved.

I believe the reverse. I believe in a true analogy between our bodily frames and our mental; and that as our bodies are the strongest, so are our feelings; capable of bearing most rough usage, and riding out the heaviest weather."

"Your feelings may be the strongest," replied Anne, "but the same spirit of analogy will authorise me to assert that ours are the most tender. Man is more robust than woman, but he is not longer lived; which exactly explains my view of the nature of their attachments. Nay, it would be too hard upon you, if it were otherwise. You have difficulties, and privations, and dangers enough to struggle with. You are always labouring and toiling, exposed to every risk and hardship. Your home, country, friends, all quitted. Neither time, nor health, nor life, to be called your own. It would be hard, indeed" (with a faltering voice), "if woman's feelings were to be added to all this."

"We shall never agree upon this question," Captain Harville was beginning to say, when a slight noise called their attention to Captain Wentworth's hitherto perfectly quiet division of the room. It was nothing more than that his pen had fallen down; but Anne was startled at finding him nearer than she had supposed, and half inclined to suspect that the pen had only fallen because he had been occupied by them, striving to catch sounds, which yet she did not think he could have caught.

"Have you finished your letter?" said Captain Harville.

"Not quite, a few lines more. I shall have done in five minutes."

"There is no hurry on my side. I am only ready whenever you are. I am in very good anchorage here," (smiling at Anne,) "well supplied, and want for nothing. No hurry for a signal at all. Well, Miss Elliot," (lowering his voice,) "as I was saying we shall never agree, I suppose, upon this point.

No man and woman, would, probably. But let me observe that all histories are against you--all stories, prose and verse. If I had such a memory as Benwick, I could bring you fifty quotations in a moment on my side the argument, and I do not think I ever opened a book in my life which had not something to say upon woman's inconstancy. Songs and proverbs, all talk of woman's fickleness. But perhaps you will say, these were all written by men."

"Perhaps I shall. Yes, yes, if you please, no reference to examples in books. Men have had every advantage of us in telling their own story.

Education has been theirs in so much higher a degree; the pen has been in their hands. I will not allow books to prove anything."

"But how shall we prove anything?"

"We never shall. We never can expect to prove any thing upon such a point.

It is a difference of opinion which does not admit of proof. We each begin, probably, with a little bias towards our own sex; and upon that bias build every circumstance in favour of it which has occurred within our own circle; many of which circumstances (perhaps those very cases which strike us the most) may be precisely such as cannot be brought forward without betraying a confidence, or in some respect saying what should not be said."

"Ah!" cried Captain Harville, in a tone of strong feeling, "if I could but make you comprehend what a man suffers when he takes a last look at his wife and children, and watches the boat that he has sent them off in, as long as it is in sight, and then turns away and says, `God knows whether we ever meet again!' And then, if I could convey to you the glow of his soul when he does see them again; when, coming back after a twelvemonth's absence, perhaps, and obliged to put into another port, he calculates how soon it be possible to get them there, pretending to deceive himself, and saying, `They cannot be here till such a day,' but all the while hoping for them twelve hours sooner, and seeing them arrive at last, as if Heaven had given them wings, by many hours sooner still! If I could explain to you all this, and all that a man can bear and do, and glories to do, for the sake of these treasures of his existence! I speak, you know, only of such men as have hearts!" pressing his own with emotion.

"Oh!" cried Anne eagerly, "I hope I do justice to all that is felt by you, and by those who resemble you. God forbid that I should undervalue the warm and faithful feelings of any of my fellow-creatures! I should deserve utter contempt if I dared to suppose that true attachment and constancy were known only by woman. No, I believe you capable of everything great and good in your married lives. I believe you equal to every important exertion, and to every domestic forbearance, so long as--if I may be allowed the expression--so long as you have an object. I mean while the woman you love lives, and lives for you. All the privilege I claim for my own sex (it is not a very enviable one; you need not covet it), is that of loving longest, when existence or when hope is gone."

She could not immediately have uttered another sentence; her heart was too full, her breath too much oppressed.

"You are a good soul," cried Captain Harville, putting his hand on her arm, quite affectionately. "There is no quarrelling with you. And when I think of Benwick, my tongue is tied."


(url)

22.7.04



Leger

(url)


EARLY MORNING BLOGS 260


En la televisión


Televisión. De pronto campo

Confuso de gentes, un día

Cualquiera.

Si es guerra, no hay crimen.

Se ve a un prisionero. Camina

Con paso forzado hacia donde

Se concentra alguna milicia

Que sin más,

vivir cotidiano,

-No hay pompa-dispara, no avisa.

La figura del prisionero

Se doblega, casi caída.

Inmediatamente un anuncio

Sigue.

Mercenarias sonrisas

Invaden a través de música.

¿Y el horror, ante nuestra vista,

De la muerte?

Nivel a cero

Todo. Todo se trivializa.

Un caos, y no de natura,

Va sumergiendo nuestras vidas.

¿De qué poderío nosotros,

Inocentes, somos las víctimas?


(Jorge Guillén)


*

Bom dia!


(url)
(url)

21.7.04


UMA EUROPA À REVELIA DA DEMOCRACIA

O acordo que deu a Presidência do Parlamento Europeu aos socialistas neste primeiro mandato mostra o desprezo dos grandes grupos políticos pela democracia. Normal seria que quem ganhasse as eleições europeias ficasse a presidir ao Parlamento, e seria o PPE a ter a Presidência. Foi esse um dos argumentos principais do PPE contra as pretensões do socialista Mário Soares em 1999, e pareciam-me ter sentido. Mas agora já é tudo ao contrário - o PPE, que ganhou as eleições, só terá a Presidência na segunda parte do mandato porque isso favorece os planos eleitorais dos partidos alemães do PPE. Os eleitores votaram maioritariamente PPE, mas vão ter o PSE, porque, por razões diferentes, a ambos convém que assim seja. A vontade eleitoral expressa nas urnas interessa pouco.

(Diga-se, de passagem, que a eleição de José Barroso nada tem a ver com este acordo, cujas linhas gerais já se preparavam desde antes das eleições.)


(url)


À SOLTA

e mandando, é o caos.

(url)



Lucien Freud

(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES (Actualizado)

"Pode ser um preciosismo mas não deixa de ser interessante.
Pedro Santana Lopes afirmou, antes da constituição do Governo que a proporção de pastas ministeriais atribuídas ao CDS/PP se manteria. Ora, tal não se verificou: 3 ministros em 17 no anterior Governo representa 17,6% enquanto que 4 ministros em 19 representa 21,0% do actual Governo. Em termos relativos o CDS/PP viu aumentar em 19,3%, (21-17,6)/17,6, o número de ministérios sob a sua alçada. É um aumento significativo em termos quantitativos.!"
(MJM)

*

"Penso que quando se fazem contas com percentagens, deve-se apenas somar e subtrair. É verdade que aumentou o peso do PP, mas apenas 3,4% (21 - 17,6). Imaginemos que o Governo tinha 100 ministros: se 18 eram do PP e passam a ser 21, aumentaram 3 em 100, e não 19 em 100. Em todo o caso, era impossível manter o equilíbrio inalterado com 19 ministros, uma vez que o peso do PP diminuiría para 15,8% se mantivesse três ministros."

(Paulo Almeida)

*

"Envio-lhe um poema de Vinicius de Moraes, "Gente Humilde", a que volto agora, nestes tempos em que a gente humilde do nosso país está tão longe ... tão longe de tudo, e em que é mais urgente recordar as palavras que esbofeteiam as consciências adormecidas."

(Pedro Leite Alves)

Gente Humilde

Tem certos dias em que eu penso em minha gente
E sinto assim todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece de repente
Como um desejo de eu viver sem me notar

Igual a como quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem, vindo de trem de algum lugar
E aí me dá como uma inveja dessa gente
Que vai em frente sem nem ter com quem contar

São casas simples, com cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda flores tristes e baldias
Como a alegria que não tem onde encostar

E aí me dá uma tristeza no meu peito
Feito um despeito de eu não ter como lutar
E eu que não creio, peço a Deus por minha gente
É gente humilde, que vontade de chorar

(Vinicius de Moraes)

*

"Perante o divórcio recente de muitas personalidades do PSD, e porventura da vida politica e social portuguesa, de confrontos ou de alternativas sérias e sensatas a Santana Lopes, recordei-me do texto que envio abaixo, citado do "Il Gattopardo" de Tommasi di Lampedusa (...).
A recordação deste texto não foi sem susto -enfim, daqueles razoavelmente moderados que ocorrem quando constatamos, em alguns livros maiores, um número impressionante de analogias com a realidade - porque, por um lado ,aquele grupo de politicos que, com credibilidade e valores, como Mario Soares, Cavaco Silva, Freitas do Amaral,etc, ou mais recente, António Vitorino, Durão Barroso ou outros, me parece que se assemelham cada vez mais com o Principe de Salina; e por outro lado, dou comigo a pensar que o Principe pode ter razão: que apesar de aqui e ali, parecer vislumbrar-se alguns acenos de sobressalto da sociedade civil, no fundo, a maioria dos Portugueses se acha desde já perfeita, inclusive muitas, demasiadas, das suas ditas 'elites' e 'forças vivas' à esquerda e á direita- e que, revestindo tudo com fútebois (que aliás eu aprecio muito, dentro dos seus limites naturais) e outros fogos-fátuos, aspiram a um grande sono sem serem acordados por exigências de reforma, de mudanc,a, de rigor e de empenho. "

(Artur Frias Rebelo)

(...) Volle fare un ultimo sforzo; si alzó e l'emozione conferiva Pathos alla sua voce: "Principe, ma é proprio sul serio che lei si rifiuta di fare il possibile per alleviare, per tentare di rimediare allo stato di povertà materiale, di cieca miseria morale nelle quali giace questo che é il suo stesso popolo? Il clima si vince, il ricordo dei cattivi governi si cancella, i Siciliani vorranno migliorare; se gli uomini onesti si ritirano, la strada rimarrà libera alla gente senza scrupoli e senza prospettive, ai Sedàra; e tutto sarà di nuovo come prima, per altri secoli. Ascolti la sua coscienza, principe, e non le orgogliose verità che ha detto. Collabori."

Don Fabrizio gli sorrideva, lo prese per la mano, lo fece sedere vicino a lui sul divano: "Lei é un gentiluomo, Chevalley, e stimo una fortuna averlo conosciuto; Lei ha ragione in tutto; si é sbagliato soltanto quando ha detto: 'i Siciliani vorranno migliorare.' Le racconterò un aneddoto personale. Due o tre giorni prima che Garibaldi entrasse a Palermo mi furono presentati alcuni ufficiali di marina inglesi, in servizio su quelle navi che stavano in rada per rendersi conto degli avvenimenti. Essi avevano appreso, non so come, che io posseggo una casa alla Marina, di fronte al mare, con sul tetto una terrazza dalla quale si scorge la cerchia dei monti intorno alla città; mi chiesero di visitare la casa, di venire a guardare quel panorama nel quale si diceva che i Garibaldini si aggiravano e del quale, dalle loro navi non si erano fatti una idea chiara.

Vennero a casa, li accompagnai lassù in cima; erano dei giovanottoni ingenui malgrado i loro scopettoni rossastri. Rimasero estasiati dal panorama, della irruenza della luce; confessarono però che erano stati pietrificati osservando lo squallore, la vetustà, il sudiciume delle strade di accesso. Non spiegai loro che una cosa era derivata dall'altra, come ho tentato di fare a lei. Uno di loro, poi, mi chiese che cosa veramente venissero a fare, qui in Sicilia, quei volontari italiani.'They are coming to teach us good manners' risposi 'but won't succeed, because we are gods.' 'Vengono per insegnarci le buone creanze ma non lo potranno fare, perchè noi siamo dei.' Credo che non comprendessero, ma risero e se ne andarono.

Cosi rispondo anche a Lei; caro Chevalley: i Siciliani non vorranno mai migliorare per la semplice ragione che credono di essere perfetti: la loro vanità é più forte della loro miseria; ogni intromissione di estranei sia per origine sia anche, se si tratti di Siciliani, per indipendenza di spirito, sconvolge il loro vaneggiare di raggiunta compiutezza, rischia di turbare la loro compiaciuta attesa del nulla; calpestati da una diecina di popoli differenti essi credono di avere un passato imperiale che da loro diritto a funerali sontuosi. Crede davvero Lei, Chevalley, di essere il primo a sperare di incanalare la Sicilia nel flusso della storia universale? Chissà quanti imani mussulmani, quanti cavalieri di re Ruggero, quanti scribi degli Svevi, quanti baroni angioini, quanti legisti del Cattolico hanno concepito la stessa bella follia; e quanti viceré spagnoli, quanti funzionali riformatori di Carlo III; e chi sa più chi siano stati? La Sicilia ha voluto dormire, a dispetto delle loro invocazioni; perchè avrebbe dovuto ascoltarli se é ricca, se é saggia, se é onesta, se é da tutti ammirata e invidiata, se é perfetta, in una parola?'

(Il Gattopardo, Giuseppe Tommasi di Lampedusa)



(url)


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS VISTOS PELOS LEITORES DO ABRUPTO


"Uma leitura diagonal da transcrição completa das comunicações entre Houston e o Mar da Tranquilidade, onde o módulo lunar aterrou, também é útil para constatar o notável grau de concentração com que Neil Armstrong e Aldrin executaram todas as tarefas necessárias à alunagem, à saída do módulo e ao estudo da superfície. Com efeito, tirando os momentos protocolares - a frase de Armstrong, a chamada do Presidente dos EUA e a leitura da placa comemorativa deixada na Lua - nenhum dos homens deixou transparecer, durante as duas horas e meia em que se aventuraram na superfície lunar (duas horas em que o planeta inteiro por cima das suas cabeças acompanhou atentamente cada um dos seus passos), nenhuma emoção com a paisagem diante si. Mais do que nas suas tarefas, eles estavam plenamente conscientes do privilégio e da gigantesca responsabilidade neles depositada. De toda a troca de comunicações, alguns raros momentos deixam a descoberto, no entanto, a ânsia dos dois astronautas, algo perfeitamente visível quando, logo após aterrarem, pedem autorização a Houston para saltarem o período de sono inicialmente previsto e começarem imediatamente a preparação para caminharem na Lua. Com uma paisagem daquelas pela janela, é impossível censurá-los.

Foi hoje, há trinta e cinco anos."

(Pedro)

(url)


EARLY MORNING BLOGS 259

We Wear the Mask


WE wear the mask that grins and lies,
It hides our cheeks and shades our eyes,—
This debt we pay to human guile;
With torn and bleeding hearts we smile,
And mouth with myriad subtleties.

Why should the world be over-wise,
In counting all our tears and sighs?
Nay, let them only see us, while
We wear the mask.

We smile, but, O great Christ, our cries
To thee from tortured souls arise.
We sing, but oh the clay is vile
Beneath our feet, and long the mile;
But let the world dream otherwise,
We wear the mask!


(Paul Laurence Dunbar)

*

Bom dia!

(url)

20.7.04


OREMOS

Começou a normalidade anormal. Adaptemo-nos. Revoltemo-nos. Oremos. O que soa melhor ainda é o oremos, mas só com o batalhão dos Santos todos. E mais a Santíssima Trindade. E mais o Olimpo. E mais...

(url)



Juan Genoves

(url)


EARLY MORNING BLOGS 258
                                                             
The world is too much with us; late and soon,    
Getting and spending, we lay waste our powers:    
Little we see in nature that is ours;    
We have given our hearts away, a sordid boon!  
  
 This Sea that bares her bosom to the moon;    
The Winds that will be howling at all hours    
And are up-gathered now like sleeping flowers;    
For this, for every thing, we are out of tune;   
 
It moves us not—Great God! I'd rather be    
A Pagan suckled in a creed outworn;    
So might I, standing on this pleasant lea,  
  
Have glimpses that would make me less forlorn    
Have sight of Proteus coming from the sea,    
Or hear old Triton blow his wreathed horn.
 
 (William Wordsworth) 
 
*
 
Bom dia!

(url)

19.7.04

(url)



Juan Gris

(url)


EARLY MORNING BLOGS 257
 
In the Long Run

IN the long run fame finds the deserving man.
The lucky wight may prosper for a day,
But in good time true merit leads the van,
And vain pretense, unnoticed, goes its way.
There is no Chance, no Destiny, no Fate,
But Fortune smiles on those who work and wait,
            In the long run.

In the long run all goodly sorrow pays,
There is no better thing than righteous pain,
The sleepless nights, the awful thorn-crowned days,
Bring sure reward to tortured soul and brain.
Unmeaning joys enervate in the end,
But sorrow yields a glorious dividend
            In the long run.

In the long run all hidden things are known,
The eye of truth will penetrate the night,
And good or ill, thy secret shall be known,
However well 't is guarded from the light.
All the unspoken motives of the breast
Are fathomed by the years and stand confest
            In the long run.

In the long run all love is paid by love,
Though undervalued by the hosts of earth;
The great eternal Governemnt above
Keeps strict account and will redeem its worth.
Give thy love freely; do not count the cost;
So beautiful a thing was never lost
            In the long run.

(Ella Wheeler Wilcox)
 
*
 
Bom dia! In the long run ...

(url)

18.7.04


POEIRA DE 18 DE JULHO
 
Hoje, há cento e setenta e três anos, Mary Shelley ouviu Paganini a tocar. Ficou histérica, escreveu “he had the effect of giving me hysterics”. Assim mesmo. Acrescentou: “poderia passar a minha vida a ouvi-lo, porque nada foi mais sublime”. Outros tempos.

(url)


CATÁLOGO DE ATITUDES
 
Nenhuma dúvida, dúvidas, benefício da dúvida, complacência, fila de cumprimentos, palmas, muitas palmas, e “agora é que vai ser”.

(url)


INTENDÊNCIA
 
OS VINTE LIVROS PORTUGUESES – actualizado  

 VERITAS FILIA TEMPORIS

Carta a um Amigo da UDP sobre a mudança (Outubro 1994)
 
Memórias da "Leitura" (Dezembro 1994)


 
  
  
  
  
  
 


Traidora Tradução - A Grande Perturbação: A Luxúria (Julho 2004)” , a crítica a Simon Blackburn, Lust, Oxford University Press, 2004 , publicada na Sábado da semana passada. 
 

(url)


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: RENTE AO CHÃO


 
correu por aqui um qualquer, rápido, fluído. No chão de Marte.

(url)


EARLY MORNING BLOGS 256

A Considerable Speck
(Microscopic)

A speck that would have been beneath my sight
On any but a paper sheet so white
Set off across what I had written there.
And I had idly poised my pen in air
To stop it with a period of ink
When something strange about it made me think,
This was no dust speck by my breathing blown,
But unmistakably a living mite
With inclinations it could call its own.
It paused as with suspicion of my pen,
And then came racing wildly on again
To where my manuscript was not yet dry;
Then paused again and either drank or smelt--
With loathing, for again it turned to fly.
Plainly with an intelligence I dealt.
It seemed too tiny to have room for feet,
Yet must have had a set of them complete
To express how much it didn't want to die.
It ran with terror and with cunning crept.
It faltered: I could see it hesitate;
Then in the middle of the open sheet
Cower down in desperation to accept
Whatever I accorded it of fate.
I have none of the tenderer-than-thou
Collectivistic regimenting love
With which the modern world is being swept.
But this poor microscopic item now!
Since it was nothing I knew evil of
I let it lie there till I hope it slept.

I have a mind myself and recognize
Mind when I meet with it in any guise
No one can know how glad I am to find
On any sheet the least display of mind.

(Robert Frost)
 
*
 
Bom dia!

(url)

17.7.04


BIBLIOFILIA: UMA MÁQUINA DO TEMPO 
  
Na mesma feira comprei este Anuário de 1944, uma verdadeira máquina do tempo. Raro, mesmo raro, é encontrar livros destes. Primeiro porque é um livro consumível, de usar (logo deteriorar) e deitar fora, depois porque é enorme, quase duas mil e quinhentas páginas, pesadíssimo, com capa dura, difícil de manusear.
 
Agora que é um fabuloso retrato desse ano de viragem, 1944, é. Lá estão as fotografias de Carmona e Salazar, como nas publicações soviéticas, e todo um mundo de pequenos artigos, fotografias, e endereços, rua a rua, por profissões e ramos de negócio, um retrato de um mundo desaparecido, de empresas hoje inexistentes, de um Portugal tão diferente. Valeu os euros que custou, porque é raro ver este tipo de livros no mercado alfarrabista. 

(url)


BIBLIOFILIA

 

 
Descoberta, numa feira de livros ao ar livre, esta raridade de Mário Saa, um dos poucos textos anti-semitas publicados em Portugal no século XX. Lá se lê isto: 

e isto:
 


(url)


OS VINTE LIVROS PORTUGUESES

Aqui há uns anos respondi a um desses inquéritos sobre os livros da “vida”, neste caso portugueses. Encontrei essa resposta que reproduzo a seguir:

Os vinte livros portugueses da “vida” (até agora) são mais de vinte. Aqui segue uma lista apressada (comme il faut pour les journaux...), que pode deixar de fora algum enorme esquecimento súbito.
Primeiro, os “romances” como a “Nau Catrineta”, a que se segue o Amadis de Gaula. O terceiro é a Menina e Moça de Bernardim, a que se soma o Crisfal. Depois vem a lírica de Sá de Miranda e de Camões. Do primeiro me perseguirá sempre um verso : “que farei quando tudo arde?”. Depois os Lusíadas. Depois a "navegação" que todos nós fizemos sobre a forma de Peregrinação de Fernão Mendes Pinto e da História Trágico-Marítima. Depois os altíssimos Padre António Vieira nos Sermões e a “floresta” e o “pão” do Padre Manuel Bernardes, o mais belo português em prosa. Depois salto para o século XIX, bem para dentro da nossa fluidez moderna, longe da rocha clássica: o “Noivado do Sepulcro” de Soares de Passos que sei de cor, e já a partir para o século XX, os excessos de Eugénio de Castro e a Clepsidra de Camilo Pessanha. Inumeráveis livros de Eça, os Maias, A Cidade e as Serras, Conde de Abranhos, o Fradique, Os Contos e, com a “ramalhal figura”, As Farpas. Também Oliveira Martins. E de Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais, cujas primeiras páginas é talvez o princípio de um livro português que mais vezes li, vá-se lá saber porquê. Depois o número treze (il faut tricher...) é Pessoa, ele mesmo e Álvaro de Campos e Ricardo Reis, este último o preferido. Catorze, são as traduções para português que Paulo Quintela fez de Rilke e de Hölderlin - e que são livros seminais do português poético do século XX. Vêm a seguir três prosadores - Raul Brandão do Húmus, Ruben A. e Nuno Bragança - e um ensaista, o Eduardo Lourenço de Heterodoxia. E, por fim, de Eugénio de Andrade, Herberto Helder, Cesariny e Joaquim Manuel Magalhães, as “poesias todas”.
Se tudo o mais desaparecesse, mesmo com enormes injustiças, continuava a poder haver Portugal e a sua língua. Sem isto não havia.

Verifico agora pelo menos uma enorme injustiça e esquecimento, Cesário Verde.

*

"Como "escolher" os livros portugueses mais representativos da nossa literatura, se a própria escola ajuda tão pouco? Nasci numa casa sem livros, que os foi ganhando com as minhas escolhas, um pouco arbitrárias... Seguindo o seu exemplo, fiz uma lista dos livros ou textos que mais me marcaram. (Alguns marcaram-me pela negativa - não gostei deles - e não os incluí.) Falta conhecer muitos, bem sei. Haja tempo para mais!

A minha lista:
"Auto da Barca do Inferno" - Gil Vicente "Os Lusíadas" e "Lírica" (Círculo de Leitores) - Luís Vaz de Camões "Peregrinação" - Fernão Mendes Pinto "Sermões" (Público) - Padre António Vieira "Folhas Caídas" e "Romanceiro"- Almeida Garrett "As Pupilas do Senhor Reitor" - Júlio Dinis "Os Maias" - Eça de Queirós "O Primo Basílio" - Eça de Queirós "Só" - António Nobre "O Livro de Cesário Verde" - Cesário Verde "Mensagem" - Fernando Pessoa "O Guardador de Rebanhos" - Alberto Caeiro "Livro do Desassossego" - Bernardo Soares "Charneca em Flor" e "Livro de Mágoas" - Florbela Espanca "Poemas de Deus e do Diabo" e "Filho do Homem" - José Régio "Húmus" - Raúl Brandão "O Fogo e as Cinzas" - Manuel da Fonseca "Manhã Submersa" - Virgílio Ferreira "Livro Sexto" - Sophia de Mello Breyner Andresen "As Mãos e os Frutos" - Eugénio de Andrade "Memorial do Convento" e "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" - José Saramago


Não faltará na sua lista o Gil Vicente?..."

(ASN)

*

"Graças à escola de então, no meu caso, e ao contrário da leitora ASN, a bons professores de português, e a uma casa cheia de livros, abriu-se cedo todo um mundo para mim.
Também concordo com a leitora que se surpreende (verbo definitivamente na moda como a comunicação social nos lembrou toda a semana que passou) da ausência de Gil Vicente. No meu caso, e gostando de quase toda a sua obra nomeadamente do "Auto da Barca do Inferno" tenho preferência pelo "Auto da Alma".
Também estranhei a ausência daquele que por muitos é considerado o melhor romance de língua portuguesa do séc. XX. Do Vitorino Nemésio "Mau tempo no Canal".
(A minha lista seria diferente, mas estes dois casos são os que mais me chamaram a atenção)
"

(JPC)



(url)


DESPESISMO

Há duas formas de despesismo: uma, é gastar mais dinheiro; outra, é gastar mal o dinheiro. Normalmente andam a par.

(url)


EARLY MORNING BLOGS 255

La Grenouille qui veut se faire aussi grosse que le Boeuf


Une Grenouille vit un Boeuf
Qui lui sembla de belle taille.
Elle, qui n'était pas grosse en tout comme un oeuf,
Envieuse, s'étend, et s'enfle, et se travaille,
Pour égaler l'animal en grosseur,
Disant : "Regardez bien, ma soeur ;
Est-ce assez ? dites-moi ; n'y suis-je point encore ?
- Nenni. - M'y voici donc ? - Point du tout. - M'y voilà ?
- Vous n'en approchez point. "La chétive pécore
S'enfla si bien qu'elle creva.
Le monde est plein de gens qui ne sont pas plus sages :
Tout bourgeois veut bâtir comme les grands seigneurs,
Tout petit prince a des ambassadeurs,
Tout marquis veut avoir des pages.

(La Fontaine)

*

Bom dia!

(url)

16.7.04


BIBLIOFILIA











José Ribeiro Ferreira, Amor e Morte na Cultura Clássica, Coimbra, Ariadne Editora, 2004

Vale mesmo a pena. Afinal está aqui quase tudo. Quase.

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]