ABRUPTO

17.7.04


OS VINTE LIVROS PORTUGUESES

Aqui há uns anos respondi a um desses inquéritos sobre os livros da “vida”, neste caso portugueses. Encontrei essa resposta que reproduzo a seguir:

Os vinte livros portugueses da “vida” (até agora) são mais de vinte. Aqui segue uma lista apressada (comme il faut pour les journaux...), que pode deixar de fora algum enorme esquecimento súbito.
Primeiro, os “romances” como a “Nau Catrineta”, a que se segue o Amadis de Gaula. O terceiro é a Menina e Moça de Bernardim, a que se soma o Crisfal. Depois vem a lírica de Sá de Miranda e de Camões. Do primeiro me perseguirá sempre um verso : “que farei quando tudo arde?”. Depois os Lusíadas. Depois a "navegação" que todos nós fizemos sobre a forma de Peregrinação de Fernão Mendes Pinto e da História Trágico-Marítima. Depois os altíssimos Padre António Vieira nos Sermões e a “floresta” e o “pão” do Padre Manuel Bernardes, o mais belo português em prosa. Depois salto para o século XIX, bem para dentro da nossa fluidez moderna, longe da rocha clássica: o “Noivado do Sepulcro” de Soares de Passos que sei de cor, e já a partir para o século XX, os excessos de Eugénio de Castro e a Clepsidra de Camilo Pessanha. Inumeráveis livros de Eça, os Maias, A Cidade e as Serras, Conde de Abranhos, o Fradique, Os Contos e, com a “ramalhal figura”, As Farpas. Também Oliveira Martins. E de Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais, cujas primeiras páginas é talvez o princípio de um livro português que mais vezes li, vá-se lá saber porquê. Depois o número treze (il faut tricher...) é Pessoa, ele mesmo e Álvaro de Campos e Ricardo Reis, este último o preferido. Catorze, são as traduções para português que Paulo Quintela fez de Rilke e de Hölderlin - e que são livros seminais do português poético do século XX. Vêm a seguir três prosadores - Raul Brandão do Húmus, Ruben A. e Nuno Bragança - e um ensaista, o Eduardo Lourenço de Heterodoxia. E, por fim, de Eugénio de Andrade, Herberto Helder, Cesariny e Joaquim Manuel Magalhães, as “poesias todas”.
Se tudo o mais desaparecesse, mesmo com enormes injustiças, continuava a poder haver Portugal e a sua língua. Sem isto não havia.

Verifico agora pelo menos uma enorme injustiça e esquecimento, Cesário Verde.

*

"Como "escolher" os livros portugueses mais representativos da nossa literatura, se a própria escola ajuda tão pouco? Nasci numa casa sem livros, que os foi ganhando com as minhas escolhas, um pouco arbitrárias... Seguindo o seu exemplo, fiz uma lista dos livros ou textos que mais me marcaram. (Alguns marcaram-me pela negativa - não gostei deles - e não os incluí.) Falta conhecer muitos, bem sei. Haja tempo para mais!

A minha lista:
"Auto da Barca do Inferno" - Gil Vicente "Os Lusíadas" e "Lírica" (Círculo de Leitores) - Luís Vaz de Camões "Peregrinação" - Fernão Mendes Pinto "Sermões" (Público) - Padre António Vieira "Folhas Caídas" e "Romanceiro"- Almeida Garrett "As Pupilas do Senhor Reitor" - Júlio Dinis "Os Maias" - Eça de Queirós "O Primo Basílio" - Eça de Queirós "Só" - António Nobre "O Livro de Cesário Verde" - Cesário Verde "Mensagem" - Fernando Pessoa "O Guardador de Rebanhos" - Alberto Caeiro "Livro do Desassossego" - Bernardo Soares "Charneca em Flor" e "Livro de Mágoas" - Florbela Espanca "Poemas de Deus e do Diabo" e "Filho do Homem" - José Régio "Húmus" - Raúl Brandão "O Fogo e as Cinzas" - Manuel da Fonseca "Manhã Submersa" - Virgílio Ferreira "Livro Sexto" - Sophia de Mello Breyner Andresen "As Mãos e os Frutos" - Eugénio de Andrade "Memorial do Convento" e "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" - José Saramago


Não faltará na sua lista o Gil Vicente?..."

(ASN)

*

"Graças à escola de então, no meu caso, e ao contrário da leitora ASN, a bons professores de português, e a uma casa cheia de livros, abriu-se cedo todo um mundo para mim.
Também concordo com a leitora que se surpreende (verbo definitivamente na moda como a comunicação social nos lembrou toda a semana que passou) da ausência de Gil Vicente. No meu caso, e gostando de quase toda a sua obra nomeadamente do "Auto da Barca do Inferno" tenho preferência pelo "Auto da Alma".
Também estranhei a ausência daquele que por muitos é considerado o melhor romance de língua portuguesa do séc. XX. Do Vitorino Nemésio "Mau tempo no Canal".
(A minha lista seria diferente, mas estes dois casos são os que mais me chamaram a atenção)
"

(JPC)



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