ABRUPTO

28.7.04


POEIRA DE 28 DE JULHO

Hoje, há sessenta e dois anos, uma jovem judia holandesa, Etty Hillesum, dirigiu-se para a sua caixa do correio. Lá estava um envelope com um formulário para preencher como “judia”. Eram sete e meia da manhã. Etty sabia o que estava a começar dentro daquele envelope e suspeitava como ia acabar. Entregou-se primeiro a Deus, depois a Rilke e a Jung, por esta ordem. Pensou: “vou deixar que a cadeia deste dia se desenrole elo a elo, não vou interferir, apenas ter fé.” Depois: “trarei Jung e Rilke comigo, aconteça o que acontecer”. Olhou para a sua casa: aconteça o que acontecer “estes dois últimos anos brilharão sempre no limite da minha memória como uma paisagem gloriosa”. Forçou interiormente a memória: “quando tiver que me ir embora, levarei tudo comigo.

IR EMBORA. Etty decidiu voluntariamente ir para Westerbork, o campo de trânsito. Próxima paragem: Auschwitz. Lá morreu, com vinte e nove anos, pouco mais de um ano depois deste dia, abandonada por Deus e com o seu Jung e o seu Rilke.

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]