ABRUPTO

26.7.04


UMA CASA EMPACOTADA

A “minha” casa belga chegou empacotada. Dividida em caixas de cartão: livros, computador, louça – FRÁGIL -, papéis “que estavam em cima da mesa”, material de escritório. Os móveis falam por si, não precisam de etiqueta. “Objectos”, quadros, mais livros.

A geografia transporta o tempo. Quem olhará agora da varanda sobre o jardim da Porte de Halle? A “bouquinerie marxiste-leniniste” continuará por quanto tempo? A mercearia grega, com a fila clara das garrafas de retsina, está aberta ou fechada? E L’Ecrit Vint com o seu silêncio? Como crescerá a criança que lá costumava estar? O Vasco continuará a ir aos livros na Waterstone's e a dizer "se não fosse este vício ficávamos ricos". E o meu supermercado de estimação, escondido numa garagem, com uma fila de pedintes à porta e cem línguas lá dentro? E o café do Porto? Nevará no escuro, como numa noite, de repente. «Rien ne m'est sûr que la chose incertaine».


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© José Pacheco Pereira
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