ABRUPTO

28.2.06


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(28 de Fevereiro de 2006)


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Novos descobrimentos: na noite, Mimas passa em frente de Saturno. Percebe-se o frio.


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No Guardian as guerras de livros e autores à beira dos prémios.

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Bom retrato de Sócrates feito por Valupi no Aspirina B:
"Sócrates é muito irritante. Tem uma pose sempre no limite da arrogância possidónia, tendência que se tem agravado com a idade e os papéis do poder. Mas Sócrates torna-se simpático quando se irrita; o que lhe acontece com facilidade, de resto. Aí, o seu temperamento sanguíneo tem uma genuinidade que se distingue dos artificialismos da circundante pandilha. Sente-se-lhe o gosto em passar responsos paternalistas, exercício que atinge o auge quando a vítima é Marques Mendes. A sua voz também se modula de acordo com a bancada do interlocutor: o CDS é tratado com indiferença fria, o PSD com agressividade cúmplice, o PCP com petulância agastada e o Bloco com bonomia agreste.
*
O que Valupi diz de Sócrates é apenas a confirmação do que diz o nosso clássico Vieira: "Se olharmos para as coisas com simpatia, até um cisne preto nos parece branco; se olharmos, com antipatia, até uma rato branco nos parece preto."

(João Boaventura)

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EARLY MORNING BLOGS 730

Henri quatre

Henri quatre
Voulait se battre
Henri trois
Ne voulait pas
Henri deux
Se moquait d'eux
Henri un
Ne disait rien.

("Comptine" anónima)

*

Bom dia!

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27.2.06


RETRATOS DO TRABALHO NOS OLIVAIS - LISBOA, PORTUGAL



Envio-lhe uma foto do trabalho duro de dois imigrantes de leste de Sábado à tarde, dia 25 de Fevereiro de 2006, enquanto a maioria da população de Lisboa se fazia à estrada para comemorar o Entrudo ou andava em roda viva para comprar os fatos de Carnaval a preços chorudos em centros comercais. Chovia torrencialmente a rua estava deserta e esses dois homens colocavam pedra a pedra a calçada da minha rua um. Um deles não tinha mesmo impermeável e estava encharcado. Envio-lhe a foto para que seja um pequeno tributo aos imigrantes que ajudam a desenvolver o meu país com trabalho muito duro e em condições muito difíceis. O grau de desenvolvimento de um país também se vê na forma como reconhece e integra aqueles que por aqui quiseram procurar uma vida melhor.

(Renato Gonçalves)

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EARLY MORNING BLOGS 729

Coccinelle vole

Coccinelle vole
Va-t'en à l'école
Prends donc tes matines
Va à la doctrine.

("Comptine" anónima)

*

Bom dia!

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26.2.06


RETRATOS DO TRABALHO EM TIMOR-LESTE



Um grupo de alunas da Universidade Nacional de Timor-Leste depois de uma aula, falando sobre o futuro de Timor. No quadro negro pode ver-se uma frase com que eu havia intrigado os alunos, solicitando-lhes que descobrissem o que queria dizer em português. Quando descobriram, fizeram questão de a escrever naquele quadro que estava na minha sala de trabalho, gabinete frequentado pelos estudantes, onde tínhamos grandes conversas sobre as suas dificuldades, sobre as suas ansiedades, medos, esperanças, e ali ficou durante um ano. Carpe diem. Aproveitem o dia. Era assim que nos cumprimentavamos, Carpe Diem. No meio de tanta ambiguidade, de tanta dificuldade, era necessário aproveitar o dia, estudar, trabalhar, lutar, mas também criar amizades, solidariedades, fortalecer a paz. Esta farse ganhava ali mais sentido do que uma mera cópia romântica e paternalista do Clube dos Poetas Mortos.

(Ângelo Eduardo Ferreira)

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RETRATOS DO TRABALHO NO SUL DE PORTUGAL


Obras.

(António Filipe Meira)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: LIÇÃO DE POPULISMO



No dia do primeiro aniversário da vitória com maioria absoluta pelo PS (20.02.2006) assistimos nas televisões a uma exibição de populismo de cátedra pelo Eng.º José Sócrates e governantes da educação:

1) Anunciou o primeiro-ministro o alargamento das aulas de substituição ao ensino secundário (10º-12º anos) num dia em que se iniciava uma semana greve de professores às mesmas, depois de numa greve anterior (18.11.2005) a ministra da educação ter publicado um texto «coincidente» com a data no PÚBLICO e no DIÁRIO DE NOTÍCIAS ser levantada, também nesse dia «oportuno», a questão das faltas dos professores. Começa a ser uma estratégia doentia ou então são coincidências a mais. Não vejo diferenças de fundo entre isso e a intervenção do primeiro-ministro sobreposta à de um candidato na noite eleitoral das presidenciais. No último caso admito que pode ter sido acidental, mas também não se podem deixar de assinalar outras atitudes comparáveis que revelam a estratégia de afirmação de um governo do qual o Eng.º José Sócrates é o primeiro responsável. Nada de novo nesta forma de atropelar a dignidade dos outros. Em democracia os processos valem tanto quanto os resultados. Não sou sindicalizado, concordo com as aulas de substituição, dou com prazer aulas de substituição, não fiz greve e, no entanto, não compreendo certas práticas.

2) Anunciam-se avanços sem se fazer uma ponderação minimamente séria de como decorrem as aulas de substituição no básico. Isso tem uma designação: fuga em frente, um vício de longa duração nas políticas educativas. Qualquer correlação entre melhorias substantivas na qualidade do ensino e a generalidade das medidas que o governo tem implementado, em especial as aulas de substituição, só mesmo se andássemos distraídos. A não ser que se considere que o problema do ensino é essencialmente orçamental. Mas se assim for preferiria viver numa república de contabilistas-governantes. Enquanto o centro da questão, a sala de aula, se mantiver como está (e não se prevê que mude com o rumo que as políticas tomaram), o que se «reformar» terá efeitos meramente laterais ou circunstanciais. Cá estarei daqui a meia dúzia de anos, se estiver vivo, para tentar explicar porque, uma vez mais, se falhou.

3) O governo tem-se mexido muito (reorganização da rede escolar, aulas de substituição, revisão da progressão nas carreiras, etc. – medidas que têm de ser tomadas, sem dúvida), mas foge dos problemas estruturais: indisciplina (não se vislumbra que o problema tenha sido assumido, tal como se teve de assumir o défice público, e que exista uma estratégia, boa ou má, para enfrentá-lo e, se calhar, teremos de esperar largos anos para, outra vez, se actuar tarde e mal), facilitismo das avaliações (enquanto o país insiste na incapacidade de discutir de modo sustentado e plural a questão dos exames nacionais no básico e no secundário porque uns quantos «especialistas» os desvalorizam, o governo reproduz medidas de promoção do facilitismo como o Despacho Normativo 50/2005), estruturas curriculares ineficazes (só não vê quem não quer).

4) Tal qual os populistas que falam «por cima» e atropelam as elites alegando que os interesses do «povo» estão em primeiro lugar, este governo insiste em falar «por cima» dos professores, encarnando a «vontade» dos alunos, dos encarregados de educação (com se não houvesse professores-progenitores-encarregados-de-educação nos mais de 100.000 profissionais) e da escola (cuidadosamente, ao menos, nessa palavra os governantes não ousam incluir os professores). Depois de marginalizados pelos discursos dos líderes sindicais, os professores de sala de aula são confrontados com uma nova versão: um governo que refinou e monopolizou o autismo estrutural do sistema. Nunca dei por um verdadeiro pluralismo na educação. Ora uns, ora outros.

5) Directa ou indirectamente, este discurso governamental ao referir apenas «os sindicatos» (e mesmo esses convinha discriminá-los) e ao omitir os professores, não estabelecendo uma distinção entre uns e outros (talvez porque, honestamente, não sinta legitimidade para tal), permite que socialmente se instale uma percepção pública que mete tudo no mesmo saco, numa área tão complexa quanto a do ensino (veja-se o artigo primário da autoria de Filomena Martins na SÁBADO de 23.02.2006, p.67). Além disso, a negação sistemática e mesmo obsessiva do papel social dos sindicatos (concorde-se ou não com eles), representados no simplismo retórico do primeiro-ministro (e de alguma imprensa) como «os maus da fita», em prol de um omni-representativo governo na área da educação, constitui uma óbvia deriva populista inimaginável num governo dito de esquerda se recuássemos um ano. A «burguesia, os ricos, os poderosos» foram finalmente descodificados: os sindicatos. Já nem sei se a esquerda que governa tem alguma coisa a ver com Marx.

6) Todavia, a sobranceria do primeiro-ministro e do governo tem muito a ver com uma oposição que, dia-a-dia, vai justificando o contrário daquilo para que existe: apesar de tudo, com esta oposição (não generalizo, mas refiro-me em concreto à área da educação), justifica-se a maioria absoluta do Eng.º Sócrates e a acção «notável» da ministra da educação.

(Gabriel Mithá Ribeiro)

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Toda a gente ligada à educação sabe que a decisão do Governo relativamente às aulas de substituição está ligada a um número que recentemente surgiu nos media: o de que a taxa de abstencionismo dos professores do ensino básico orça os 10%. Ora, sendo sobejamente evidentes os prejuízos que tal prática acarreta sobre a educação das crianças, das duas uma: ou o Governo, entidade abstracta que para o efeito teria de tomar a forma concreta de uma qualquer entidade inquisitorial e disciplinar, a puniria, ou criava mecanismos, similares aos já institucionalizados pelo costume em muitas Universidades, para que sejam os próprios pares dos abstencionistas a criarem uma moral menos transigente para com esse relaxe. Fazendo-os ocupar os tempos lectivos que os colegas abstencionistas abandonam. No fundo, trata-se de afirmar uma coisa muito simples e justíssima aos docentes: “faltem se quiserem, mas as crianças não podem ficar abandonadas e alguém tem de tomar o lugar dos faltosos”!
Evidentemente que as aulas de substituição não são a melhor solução para o abstencionismo de alguns docentes. A melhor solução seriam medidas punitivas fortemente dissuasoras de tal prática. Mas e o seu custo político? E a sua implementabilidade prática? Enquanto o relaxe for uma cultura dominante ou pelo menos tolerada, é difícil imaginar melhores soluções!
Misturar este problema com o da qualidade das salas de aulas ou com o facilitismo não ajuda nada. Cada problema de sua vez. Até por que se não começar por instaurar uma cultura de auto-exigência entre os docentes, nada se conseguirá realizar com eles.
A maioria dos portugueses apoia esta política. Por que é populista? Não, por que é cristalinamente necessária. Ou qual é a alternativa?
Pessoalmente, gostaria de acrescentar o seguinte: não pertenço ao clube do 1º Ministro nem a clube nenhum. E tanto se me dá que seja o Engº Sócrates como o Dr Marques Mendes a fazer o que é necessário na educação. Mas como nas últimas décadas ainda ningém se interessara em fazer coisa alguma nesta matéria, por mim, apoio! E comigo, segundo as sondagens, a maioria dos portugueses!

(José Luís Pinto de Sá)
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Por outro lado, quero fazer uma observação relativa ao excelente texto do seu leitor Gabriel Mithá Ribeiro, que faz referência «facilitismo das avaliações». Quero apenas acrescentar que uma das causas desse facilitismo consiste em querer-se diminuir o insucesso escolar. Mas se analisarmos o conceito subjacente de «insucesso», o que se torna óbvio é que ter sucesso é passar de ano e não, como se poderia pensar, ter-se aprendido novos factos ou desenvolvido novas competências. Considero obscena esta noção de sucesso. E se a aplicássemos a outras áreas? Vamos medir o sucesso de um político unicamente pelo número de eleições que ganha, independentemente do modo como o fez e de como exerceu o cargo para que foi eleito? Vamos medir o sucesso de um presidente de um clube de futebol unicamente pelo número de campeonatos ganhos, sem pensar em eventuais subornos e outras falcatruas? Já agora, porque não medir o sucesso de um professor pelo número de alunos que não reprova? Parece-me que faria perfeitamente sentido, pela mentalidade em vigor.

(José Carlos Santos)

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RETRATOS DO TRABALHO NA SERRRA DA ESTRELA, PORTUGAL


Pastores conduzindo um rebanho - Vila Soeiro / Guarda - região da Serra da Estrela, 2006.

(António Ruivo)

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EARLY MORNING BLOGS 728

The Limerick Packs Laughs Anatomical

The limerick packs laughs anatomical
Into space that is quite economical.
But the good ones I’ve seen
So seldom are clean
And the clean ones so seldom are comical.

(Anónimo)

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Bom dia!

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25.2.06


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(25 de Fevereiro de 2006)


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Mais um Google: o Google Page Creator. As críticas têm sido negativas, mas para um amador vale experimentar.

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O modo como a comunicação social (exemplo típico: o relato épico-lírico de um jornalista da RTP no noticiário das 20 horas de ontem) está a tratar o crime cometido no Porto contra alguém que se encontrava na maior das solidões, da perda de si, o que também significa na margem mais absoluta da exclusão, é um típico exemplo de jornalismo de causas, ou seja, de não-jornalismo. Duvido que sequer sirva qualquer causa, serve uma determinada visão política do problema e da sociedade, a do Bloco de Esquerda. Penso aliás que é absolutamente contraproducente para uma sociedade que aceite a pluralidade das escolhas de vida com naturalidade, que é o que desejamos.

O problema é que não é isso de todo o que está em causa neste caso. O que está em causa são os mecanismos da exclusão, e esses não são apenas a homossexualidade, mas também a miséria, a droga, a marginalidade, de onde vieram criminosos e a vítima. A droga , por exemplo, não tem nenhum papel? Transformar este crime num instrumento para mais uma vez fazer legislação "politicamente correcta " sobre a "homofobia", é política, não é jornalismo.

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RETRATOS DO TRABALHO NO ALENTEJO, PORTUGAL


Empilhamento da cortiça.

(João Sobral)

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RETRATOS DO NÃO-TRABALHO NA FINLÂNDIA



Descrição: Bar de uma faculdade nos arredores de Helsinki, depois das cinco da tarde.

Apesar da faculdade estar aberta os funcionários do bar já não trabalham a essas horas, o bar no entanto permanece aberto. Nestas circunstâncias o funcionamento do mesmo é muito simples e da mesma forma um excelente exemplo de como as coisas em geral funcionam na Finlândia. O bar adopta um sistema de self-service em que o consumo é cobrado na base da confiança, ou seja cada um serve-se (sejam cafés bolos ou qualquer coisa ao dispor no balcão), anota num caderno o que apanhou, e mete a moeda num porquinho de loiça. E é já aqui ao lado, na Nokialand.

(Nelio Barros)
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Este sistema de self-service baseado na confiança é muito semelhante ao caso de uma empresa, descrito no excelente livro "Freakonomics", que coloca "bagels" em vários edifícios de escritórios da mesma forma:
sirvam-se, mas deixem aqui o dinheiro correspondente, confiamos.
Claro que há roubos de bagels, mas a percentagem de roubos é pequena e dá para a empresa ter um lucro aceitável. O curioso da história é que devido aos registos pormenorizados de vários anos o autor do Freakonomics (já traduzido para português) pode contar-nos factos tão interessantes como saber em que tipos de escritórios há mais roubos, que nas vésperas de feriados propiciadores de ansiedade, como o Dia de Acção de Graças e o Natal, há mais roubos do que na véspera de feriados neutros como o Dia do Trabalhador ou o Dia da Independência.

(Leonel Morgado)

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RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL


Colocação de um equipamento de ar condicionado no topo de um hotel em Lisboa, no dia 1 de Maio de 2004 (dia do trabalhador!).

(André Felício)

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A FRAGILIDADE DOS PARTIDOS NACIONAIS



Quando analisamos a capacidade política dos partidos portugueses, no seu duplo sentido de "produção" de discursos políticos e de eficácia eleitoral, verificamos que ela se mantém a nível do poder local, e é quase inexistente na dimensão das grandes cidades e a "nível nacional". Duas observações já à cabeça: uma é que o que se diz a seguir não se aplica ao PCP, que é um partido distinto dos outros, e ao BE, em que a componente de agit.prop se sobrepõe à organização, mas apenas ao PSD e PS; a outra é que estamos a falar de partidos na oposição, em que a vertente governativa não potencia a acção partidária. Esta última objecção não é de fundo, visto que o poder derivado do acesso à governação não revela maior capacidade dos partidos a "nível nacional", mas oculta apenas as suas fragilidades. Resumindo e concluindo, o PS e o PSD só existem hoje como partidos locais, a nível nacional a sua presença é ténue e cada vez se torna mais débil.

Mesmo nas grandes cidades como Lisboa e Porto, as estruturas distritais e federais só existem como estruturas locais, agarradas às juntas de freguesia e à vereação das câmaras, irrelevantes enquanto organizações políticas para a maioria dos habitantes urbanos, que não têm com as suas autarquias qualquer relação de proximidade. Uma distrital de Lisboa do PSD ou uma federação do PS do Porto, dois exemplos de organizações que já tiveram efectivo poder, não contam hoje em quase nada para a formulação de políticas partidárias e são irrelevantes enquanto máquinas eleitorais, a não ser em sentido negativo. As organizações partidárias têm conseguido sobreviver enquanto órgãos de poder e decisão apenas ao nível da política de proximidade, perdendo cada vez maior poder quando nos afastamos desse círculo mais estreito, para dimensões em que os principais instrumentos de intermediação de influência política são os media modernos.

Uma das consequências desta situação é a crescente transformação dos partidos em máquinas do poder local e regional, com aumento da influência dos autarcas em toda a vida partidária, em detrimento da influência de outro tipo de instâncias mais perto do "nível nacional": deputados e órgãos centrais do partido que detêm cada vez menor autonomia em relação ao partido local. O conglomerado poderoso de interesses que é hoje o poder local resulta mais eficaz do que o poder de qualquer direcção nacional. Manuel Alegre, na sua campanha, quando falava do "medo", referia-se ao efeito deste poder local, dador de emprego, e estritamente controlado, sem alternativas e sem "ar", mais do que às prepotências do PS nacional contra a sua candidatura. Hoje, a política de proximidade deu uma nova dimensão a formas modernas de caciquismo e clientelismo político mais sofisticadas do que as do passado, pois há mais dinheiro, logo mais mecanismos de controlo.

Neste contexto, as direcções e lideranças nacionais de um partido de oposição são muito mais frágeis do que no passado, porque gastam uma parte importante do seu tempo a competir desigualmente com instâncias mais capazes de fidelizar o aparelho partidário e a ter que competir para o exterior num meio essencialmente mediatizado, para que não dispõem de instrumentos eficazes. Com quem conta e o que faz um líder de um partido político na oposição? Voltamos aqui aos dilemas que defrontam Marques Mendes e Ribeiro e Castro.

A mediatização da política valorizou desmedidamente o papel individual da liderança, em detrimento de órgãos colectivos. O líder é suposto "passar" bem na televisão e espera-se tudo dessa prova. É, desde logo, uma grande responsabilidade que recai sobre uma pessoa, alimentada pela espectacularidade e pelo populismo tendencial da sociedade mediática. Hoje isto considera-se quase como uma evidência, mas reportando-nos a líderes como Sá Carneiro, Freitas do Amaral, Álvaro Cunhal e Ramalho Eanes, que conduziram grande parte da sua acção política em períodos menos dominados pela televisão, percebe-se que há toda uma série de elementos de liderança que pouco têm que ver com "passar a imagem". A ascensão de Santana Lopes representa o movimento a contrário, mais conforme com os tempos de dominação mediática. A sua queda não contraria a tese geral.

Acresce que os órgãos próprios do topo dos partidos - comissão política, secretariado - foram normalmente eleitos em função da correlação das forças partidárias, como emanação do aparelho "de baixo", a que se junta um pequeno grupo de próximos do líder, que lhe são pessoalmente leais, mas que não chegam a fornecer consistência aos órgãos de direcção. Estes são cada vez mais federações de grupos e menos uma equipa coesa. Para além disso, são cada menos úteis como órgãos de aconselhamento, visto que as fugas sistemáticas de informação os torna inadequados a decisões importantes. A tendência é para as lideranças dirigirem o partido na base da conjugação entre um grupo de pessoas leais, um grupo dentro de um grupo, e outro tipo de órgãos informais destinados a dar o suplemento de "prestígio" e capacidade a órgãos formais que não os têm. Daí a proliferação de task forces, interiores, com um poder que não é escrutinado pelos órgãos partidários, e de "órgãos de prestígio" que não têm um efectivo poder na condução da política partidária. São tudo soluções de recurso e não resolvem o problema de fundo: dar aos órgãos formais a capacidade política e o prestígio público que eles não têm e fazê-los funcionar com discrição e reserva nas decisões delicadas e com influência enquanto "vozes públicas".

Vamos admitir que um líder deseje efectivamente unir o prestígio e a influência pública de uma direcção partidária com a sua legitimação formal, e vamos admitir que consegue fazer a verdadeira revolução que é inverter o tipo de escolhas aparelhísticas que são dominantes nos partidos. Encontrará então outro tipo de obstáculos: a completa falta de competitividade que têm as carreiras políticas, em todos os planos, a começar no simbólico, com carreiras profissionais, e a resistência mais que justificada a fazer política em democracia nos dias de hoje. Não é fácil convencer alguém que pela sua qualificação profissional é um alto quadro num banco a ser porta-voz da política financeira de um partido de oposição. A administração do banco, mesmo que ele dela faça parte, lhe dirá que é inconveniente. Não é fácil convencer um grande advogado a ser porta-voz em questões de justiça ou a dirigir um grupo de estudo sobre corrupção, sem que os seus colegas lhe lembrem que isso prejudica o escritório. Por aí adiante. A omnipresença do Estado, o seu carácter ainda muito clientelar, a fragilidade da sociedade civil em oferecer espaços alternativos, a má fama da vida política e a degradação das condições do seu exercício aparecem como um contínuo em relação à má qualidade dos partidos. Pode-se sempre argumentar que é possível começar de novo, formar gente nova e sem vícios, mas não é uma solução exequível a curto prazo e oferece as mesmas dificuldades.

Estas dificuldades são reais e só podem ser superadas através de uma requalificação da política, que passa não só por profundas mudanças nos partidos políticos, como também na forma de a fazer. São precisos novos instrumentos e novas formas que permitam esta qualificação das direcções "de cima", que só podem ser levadas adiante e ganhar credibilidade quando se defronta a dupla resistência da mediocridade e dos interesses instalados, coisas que os partidos deixaram crescer até um nível crítico. Sem isso, nem por baixo, nem por cima, os partidos conseguirão manter a influência cívica na sociedade.

(No Público de 24/2/2006)

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RETRATOS DO TRABALHO EM ARROIOLOS, PORTUGAL


Bordando tapetes.

(João Antunes)

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EARLY MORNING BLOGS 727

As A Beauty I’m Not A Great Star

As a beauty I’m not a great star,
There are others more handsome by far,
But my face, I don’t mind it,
Because I’m behind it,
’Tis the folks in the front that I jar.

(Anónimo)

*

Bom dia!

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24.2.06


RETRATOS DO TRABALHO NO SUL DE PORTUGAL


Demolição.

(António Filipe Meira)

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COISAS DA SÁBADO: ÂNGELO DE SOUSA

Ângelo de Sousa

A abertura de uma grande exposição de esculturas de Ângelo de Sousa no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian merece toda a atenção porque Ângelo é um artista difícil de arrumar. Alguns dos seus quadros têm um forte poder decorativo e há mesmo uma pequena peça de escultura em metal que faz parte dos objectos que a Loja de Serralves comercializa. Por outro lado, muitos dos seus desenhos e esculturas e alguns dos seus quadros fazem parte daquelas peças de arte contemporânea que só existem em museus e ninguém quer ter em casa. São rabiscos, são coisas feias, não valem nada. Qual “arte pobre”, qual minimalismo qual nada? “Eu também sou capaz de fazer aquilo”, diz o bruto que há em nós. Não pode não.

Nesta exposição percebe-se o que está por detrás de quase tudo que é “produto” nesta oficina: um trabalho de atenção às formas, minimal-repetitivo, risco a risco, folha a folha, traço a traço, cor a cor, lata a lata, plástico a plástico, néon a néon, para perceber o que está, o que há. A obra de Ângelo é uma daquelas que melhor corresponde à procura ideal da forma, uma ilustração da frase de Da Vinci da pintura como “coisa mental”. Quantas formas há? Pergunta cada escultura. Só a minha? Um milhão? Quantos materiais me fazem? Só este latão, este aço, este plástico, este vidro? Um milhão de materiais, um milhão de formas? São infinitas? Não sei. Ângelo enche o mundo de formas, como aliás muita da arte contemporânea, mas não procura a Forma, procura o Mundo. Ele sabe que não chega lá, mas esforça-se.

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RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL


Calceteiro nos passeios do Porto.

(Eduardo Moura)

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(24 de Fevereiro de 2006)


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A ler Formas de Censura em Portugal no Pós-25 de Abril no irreal TV.

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Faz 40 anos que ouvimos esta frase sincopada "1,2,3,4,5 Minutos de Jazz", uma das melhores frases de abertura e título de um programa de rádio em Portugal. Os "cinco minutos" de jazz começavam logo no primeiro segundo em que José Duarte dizia "um". 40 anos é obra num país pouco persistente, em que tudo se gasta num instante, e nos media não dura um pico-instante.

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RETRATOS DO TRABALHO EM PORTO SEGURO, BRASIL


Vendedor ambulante em Arraial d’Ajuda (Porto Seguro) – Brasil, em Fevereiro deste ano.

(Rui Negrões)

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RETRATOS DO TRABALHO NO ALENTEJO, PORTUGAL


Tiragem de Cortiça.

(João Sobral)

(...) essa fotografia é uma imagem da minha infância passada num monte da serra algarvia e ainda agora parece que estou a ouvir a minha avó comentar com alegria, o descortiçamento dos sobreiros da nossa "fazenda". Dizia ela que eram as nossas ovelhas...

(Mário Estevam)

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EARLY MORNING BLOGS 726

THE SECOND COMING


Turning and turning in the widening gyre
The falcon cannot hear the falconer;
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all convictions, while the worst
Are full of passionate intensity.

(...)

( William Butler Yeats)

*

Bom dia!

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RETRATOS DO TRABALHO DOMÉSTICO


Lavar a louça.

(F.)

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23.2.06


(Escrito em trânsito, depois será integrado no texto final)
DÉCIMA LEI DO ABRUPTO SOBRE OS DEBATES NA BLOGOSFERA


A blogosfera não se consegue ver ao espelho.

OUTRA FORMULAÇÃO: A blogosfera tem em comum com os vampiros não se conseguir ver ao espelho.

NOTA 1: Os blogues que representam a Excepção a esta regra seguem Alice e entram pelo espelho dentro. Esses blogues jogam xadrez com a atmosfera. Nem sempre ganham.


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22.2.06


RETRATOS DO TRABALHO EM CINFÃES, PORTUGAL


Lavrando a terra com uma junta de bois.

(José Rui Fernandes)

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21.2.06


RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL


Trabalhadores numa estação de caminho-de-ferro na linha Porto-Lisboa.

(Eduardo Moura)

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: POEIRA DAS ESTRELAS

2-micrometer comet particle

Partícula dum cometa trazida pela Stardust para a Terra.

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DEZ LEIS DO ABRUPTO SOBRE OS DEBATES NA BLOGOSFERA
(Versão 1.1)

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NOTA INICIAL: As Leis aqui transcritas não são nem Mandamentos, nem Regras, nem Instruções Morais, nem Ordens de Serviço, são Constatações, descrevem o modo como os debates na blogosfera se desenrolam. São genéricas e universais. Como todas as Leis dão origem a Excepções, que são elas próprias outras Leis que regulam as Excepções. Todas as Leis da blogosfera, dada a natureza do meio, só podem ser formuladas de forma irónica, ou seja, absolutamente verdadeira.

PRIMEIRA LEI DO ABRUPTO : Evitar discutir a Posição, procurar atacar a Contradição.

NOTA 1 : Ao se passar da Posição à Contradição o debate ganha uma dimensão ad hominem. A maioria dos debates na blogosfera são ad hominem, na tradição da polémica à portuguesa.

NOTA 2: A Contradição é sempre apresentada como uma fraqueza moral.

NOTA3: Se houvesse só Posições na blogosfera esta tinha um tamanho diminuto. A exposição das Contradições é o grosso da actividade da blogosfera. Os Insultos são outra parte importante.

NOTA 4: O número de comentários num blogue têm relação directa com a natureza da nota se esta for sobre uma Contradição (ad hominem) e inversa se for uma Posição. Num mesmo blogue, as notas que não atacam ninguém não tem comentários e as que atacam alguém estão cheias.


SEGUNDA LEI DO ABRUPTO : A blogosfera é um lugar de fronteira, onde impera a "lei da selva" e o darwinismo social, logo a intensidade da zanga e da irritação na blogosfera é muito superior à da atmosfera.

NOTA 1: A blogosfera não é um local aprazível para os espíritos amáveis.

NOTA 2: A ferocidade dos comentários está em relação directa com o seu anonimato mais o número de comentários produzidos por metro quadrado de ecrã / dia.

NOTA 3: Os comentadores anónimos na blogosfera são na sua maioria Trolls, na sua minoria Curiosos-sérios. A maioria dentro da maioria são Trolls com nick name, profissionais das caixas de comentários.

NOTA 4: O genuíno comentador anónimo da blogosfera desejaria não ser anónimo, mas muito conhecido. No entanto, tem medo de pôr o nome e, se o assinasse com ele, não teria coragem de escrever o que habitualmente escreve. O nick name é a solução para ter nome não o tendo. O comentador com nick name, deseja ao mesmo tempo ser anónimo e ter uma identidade como comentador, reconhecida inter-pares nas caixas de comentários.

NOTA 5: O comentador anónimo com nick name escreve compulsivamente em todas as caixas de comentários abertas que encontra, escolhendo de preferência as dos blogues com mais leitores.

NOTA 6: Os comentadores anónimos seguem em absoluto a PRIMEIRA LEI DO ABRUPTO.

NOTA 7: Os Trolls nas suas várias incarnações são o proletariado da blogosfera e os principais garantes da QUINTA LEI DO ABRUPTO.

NOTA 7: Os comentadores Curiosos-sérios têm uma vida curtíssima na blogosfera. São os "inocentes-utéis". Se continuarem inocentes acabam por fugir a sete pés. Os que não fogem perdem a inocência e ou abrem blogues ou tornam-se Trolls por impregnação do meio .



TERCEIRA LEI DO ABRUPTO : A esmagadora maioria dos temas, comentários, reacções, alinhamentos, posições é absolutamente previsível.


NOTA 1: Na blogosfera não há surpresas.

NOTA 2: A falta de previsibilidade é punida na blogosfera como Contradição (ver PRIMEIRA LEI DO ABRUPTO), ou como "deslealdade orgânica".


QUARTA LEI DO ABRUPTO : A blogosfera tem horror ao vazio.


NOTA 1: Na blogosfera está sempre a maior parte de cada um, o seu ego, que costuma ocupar um grande espaço. Ainda cabe o Super Ego e o Id. Logo, não há espaço para mais nada.

NOTA 2: A blogosfera é compulsiva. A blogosfera é obsessiva. Pode-se ficar doente de uma longa exposição à blogosfera

NOTA 3: Os blogues colectivos morrem por implosão, os individuais por cansaço.

NOTA 4: A nota anterior é enganadora. Os blogues nunca morrem, são fechados e abertos logo a seguir com outro nome. Um lugar de um blogue é sempre preenchido por outro do mesmo autor, quando é individual, ou do mesmo tipo quando é colectivo.

NOTA 5: Quando um blogue deixou de ter sucesso na opinião do seu autor, é morto por ele e aberto outro logo a seguir. O objectivo da morte anunciada é dar oportunidade ao seu autor de ler as necrologias em vida e saber a falta que faz. As necrologias em vida funcionam como massagem do ego.


QUINTA LEI DO ABRUPTO : A blogosfera é a Aldeia dentro da Aldeia Global, todos são vizinhos, todos sabem tudo de todos, todos zelam activamente para que se cumpra a regra principal da Aldeia: o igualitarismo tem que ser absoluto.


NOTA 1: Se eu faço também tu tens que fazer. Se tenho comentários também tu tens que ter. Se faço muitas ligações, também tu tens que fazer. Se eu tenho contadores também tu tens que os ter.

NOTA 2: A patrulha da igualdade é uma das actividades mais generalizadas na blogosfera.

NOTA 3: Na blogosfera há luta de classes.


SEXTA LEI DO ABRUPTO : Na blogosfera o lixo atrai o lixo.


SÉTIMA LEI DO ABRUPTO : O tribalismo é a doença infantil da blogosfera.


NOTA 1: Os blogues são grupais, precisam imenso de companhia.

NOTA 2: A blogosfera tem evoluído do amiguismo para o grupismo e deste para o tribalismo. Permanecem, no entanto, leis de desenvolvimento desigual.

NOTA 3: Os blogues atacam em grupo.

NOTA 4: As afinidades são muito frágeis na blogosfera devido ao ambiente ácido que corrói os elos normalmente muito débeis entre blogues e dentro dos blogues colectivos entre os seus autores.


OITAVA LEI DO ABRUPTO : O que vale na blogosfera tem que valer na atmosfera.


NOTA 1: Não basta ser capaz de respirar - no ciclo completo da respiração (inalação e exalação) - ácido, é preciso ser capaz de respirar ar.


NONA LEI DO ABRUPTO : O carácter lúdico dos blogues diminui à medida que a importância da blogosfera aumenta na atmosfera.


NOTA 1: O carácter lúdico dos blogues é cada vez mais afectado pela imposição de etiquetas e por uma crescente normatividade na blogosfera.

NOTA 2: Os blogues colectivos são mais propensos à normatividade do que os individuais, pela necessidade de se auto-gerirem.

NOTA 3: O carácter lúdico dos blogues diminui à medida que as agendas mediáticas se tornam dominantes. Na formulação dessas agendas há hoje um contínuo blogosfera-atmosfera.

(Continua)

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RETRATOS DO TRABALHO EM NISA, PORTUGAL


Bordadeiras.

(João Antunes)

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(21 de Fevereiro de 2006)


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Novas no caso do 24 Horas que não deve ficar esquecido ou "normalizado": um artigo de Medeiros Ferreira ("Até prova em contrário, não gostei nada da rusga num jornal. Agora, ou se sabe tudo sobre a fuga de informação em causa, e sobre a segurança das escutas telefónicas, ou ficará disto o travo forte de uma intimação intimidante."), uma nota de JPH no Glória Fácil e a notícia do pedido de nulidade da busca feito pelos advogados do jornal.

*

A injustiça genética da beleza, o proletariado da fealdade e a propensão para o crime no Washington Post.

*

No Overheard in New York:
"Its Existence Preceded Its Essence

Woman #1: So she told me, "I think Simon de Beauvoir was so brave for a man, to write like that." Can you believe it?
Woman #2: Oh my god.
Woman #1: How can she get a PhD without knowing who Simone de Beauvoir was?

--NYSC, Madison & 36th

Overheard by: J-Ho"

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RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL


Recolha do lixo no Porto.

(Eduardo Moura)

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RETRATOS DO TRABALHO EM LANZAROTE - ILHAS CANÁRIAS, ESPANHA


Biólogos portugues e espanhóis em Lanzarote, em trabalho de campo nas zonas intertidais.

(G. Carreira)

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EARLY MORNING BLOGS 725

Prince des joies défendues



Prince, ô Prince des joies défendues entendez-vous pas ce qu'on chante autour de vous ? « Les quatre coursiers trottent, les rênes flottent : quitter le mal pour le bien serait un nouveau délice ! »

Prince, ô Prince, votre perte est dénoncée. Songez à l'Empire ! Songez à vous !

o

Le Prince dit : Assez. Mauvais augures ! Je suis à l'Empire ce que le Soleil est au Ciel. Et qui donc s'en irait le dépendre ? Quand il tombera, moi aussi.

Mon trône est plus lourd que les Cinq Monts gardiens : il est couché sur les cinq plaisirs et le sixième. Viennent les hordes : on les réjouira.

L’Empire des joies défendues n'a pas de déclin.

(Victor Segalen)

*

Bom dia!

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20.2.06


RETRATOS DO TRABALHO EM ALGÉS, PORTUGAL


Amola-tesouras num sábado de manhã em Algés.

(António Maltezinho)

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RETRATOS DO TRABALHO EM SABROSA - VILA REAL, PORTUGAL


Abrindo uma vala.

(Leonel Morgado)
É mesmo um retrato do trabalho em Portugal... ninguém usa capacete, o risco de derrocada e soterramento do operário na vala está presente, a mão de obra barata exclui a necessidade de automatizar práticas de trabalho.

(Carlos Pereira da Cruz)

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(20 de Fevereiro de 2006)


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Um artigo do Financial Times muito hostil aos blogues , mas que vale a pena ser lido:
"No Modern Library edition of the great polemicists of the blogosphere to yellow on the shelf; nothing but a virtual tomb for a billion posts - a choric song of the word-weary bloggers, forlorn mariners forever posting on the slumberless seas of news."
*

Admirável mundo novo. Cito do Blogouve-se estas declarações sobre a TV Mais:
"Se aparecem na televisão e são reconhecidos pelos leitores, então também nós vamos falar deles, das suas vidas", resume Carlos Maciel, considerando que estas serão, a partir de agora, duas condições essenciais para que as "estrelas" figurem nas páginas da revista. A informação televisiva propriamente dita fica relegada para segundo plano, abrindo antes as páginas aos rumores semanais sobre casamentos (des)feitos, operações de beleza, paixões e desavenças dos mais glamourosos do País e do mundo (...)»
*


Boa ideia (ou aplicação de uma ideia) do Atrium: uma semana numa imagem. E que semana!

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RETRATOS DO TRABALHO NO DOURO, PORTUGAL


Novas vindimas no Douro.

(Mário Negreiros)

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EARLY MORNING BLOGS 724

Human Abstract


Pity would be no more,
If we did not make somebody Poor;
And Mercy no more could be,
If all were as happy as we;

And mutual fear brings peace,
Till the selfish loves increase;
Then Cruelty knits a snare,
And spreads his baits with care.

He sits down with holy fears,
And waters the ground with tears;
Then Humility takes its root
Underneath his foot.

Soon spreads the dismal shade
Of Mystery over his head;
And the Caterpillar and Fly
Feed on the Mystery.

And it bears the fruit of Deceit,
Ruddy and sweet to eat;
And the Raven his nest has made
In its thickest shade.

The Gods of the earth and sea,
Sought through Nature to find this Tree,
But their search was all in vain;
There grows one in the Human Brain.


(William Blake)

*

Bom dia!

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19.2.06


RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL


Apanhando isco num sábado de manhã no Parque das Nações.

(António Maltezinho)

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DEZ LEIS DO ABRUPTO SOBRE OS DEBATES NA BLOGOSFERA

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Nova versão em breve.

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QUANDO CADA NUVEM TEM ALGUMA COISA A DIZER



O vento é forte.

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QUANDO CADA NUVEM TEM ALGUMA COISA A DIZER


Dá nisto: as laranjas caem todas das árvores. Os limões aguentam melhor. Deve ser da acidez.

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QUANDO CADA NUVEM TEM ALGUMA COISA A DIZER



Dá nisto: aguaceiros muito rápidos, violentos e curtos.

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RETRATOS DO TRABALHO NA ICONOGRAFIA SOVIÉTICA


Caixa de fósforos da URSS.

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RETRATOS DO TRABALHO EM NOVA DELI, ÍNDIA



A máquina, instalada no meu campus universitário, tem um assistente a tempo inteiro, 24 horas por dia, 365 dias por ano, faça frio gélido ou calor tórrido em Nova Deli. São dois funcionários que se revezam, sendo que à noite estendem uma pequena colcha para dormirem em frente à máquina. Há diversas razões que explicam este factor humano.

Primeiro, há repetidas e contínuas avarias, especialmente devido ao clima, forçando a utilização manual (o empregado tem a chave de acesso no bolso). Segundo, é raro alguém ter consigo troco exacto para pagar em moedas os produtos expostos (devido à inflação dos preços).
Terceiro, embora numa zona universitária, muitos dos utentes não são suficientemente literados ou simplesmente não têm paciência para seguir as instruções. Finalmente, ao receberem o dinheiro em mãos, em vez de este ser colocado na ranhura, os empregados têm uma fonte de rendimento adicional, desviando uma percentagem para um copinho de papel que se encontra escondido dentro da máquina de café branca (ao meio), sem conhecimento da empresa gerente. Utilizei esta "vending-machine" por várias dezenas de vezes ao longo dos últimos meses, mas até hoje não me foi possível uma única vez efectuar uma transacção com sucesso sem interferência do empregado, pelas razões acima expostas, ou variantes similares.

(Constantino Hermanns Xavier)

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(19 de Fevereiro de 2006)


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Não é novidade mas continua a ser bizarro que todos os canais televisivos transmitam em directo uma cerimónia religiosa, respeitável por certo, mas cuja ocupação do espaço televisivo é excessiva em relação ao seu interesse público. Interesse público que tem como notícia, mas injustificável em horas e horas de directo simultâneo.

*

Já agora duas perguntas por curiosidade, e que os leitores não terão dificuldade em responder:

- nas actuais condições atmosféricas de vento muito forte, os helicópteros estão a actuar em condições de segurança? (Admito que sim, mas gostaria de saber mais.)

- lembrando-me eu da Morgadinha dos Canaviais e dos conflitos provocados pela proibição de sepulturas nas igrejas, que legislação permite o caso da Irmã Lúcia?

*

Mais um amigo do 24 Horas - António Barreto no Público:
"O ataque ao jornal 24 Horas é um exemplo flagrante. Protegidos pela lei, pois claro, um juiz, vários procuradores, a PJ, a PSP e a GNR assaltaram a redacção do jornal, confiscaram computadores e discos informáticos e entregaram notificações a vários jornalistas entretanto acusados de crime e constituídos arguidos. Como não se trata de um jornal benquisto pelas elites, o caso passou relativamente à margem dos grandes escândalos. Mas é um caso muito sério e grave.
(...)
É confrangedor o silêncio do Presidente da República, do Parlamento e do Governo. Escudados pela "separação de poderes" e pela "independência da justiça", esses órgãos de soberania revelam um comportamento condenável: há assuntos que não dispensam opinião e a que os mais importantes dirigentes políticos não podem ficar indiferentes. Seria bom que percebessem que os direitos dos jornalistas são instrumentais, isto é, garantem os direitos dos cidadãos e a liberdade de expressão e informação. É por isso que o caso é grave."
Assino por baixo. Já estão a ficar muitos os que se preocupam com o que se está a passar com este "inquérito" da PGR.
Com o caso "24 Horas", criou-se um precedente perigosíssimo. O facto de se tratar de um tablóide - de que, de resto, não sou leitor - é irrelevante. De agora em diante, nenhum dos media poderá considerar-se a salvo de operação semelhante. Ora, o direito de informar (indissociável do direito à protecção das fontes) pertence ao coração da democracia. Subscrevo consigo, portanto, o texto de António Barreto.

(Torquato da Luz)

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RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL


Trabalhando nas obras municipais no Porto.

(Adolfo Fundo)

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EARLY MORNING BLOGS 723

THE WEATHER IN VERSE.


The undersigned desires, in a modest sort of way,
To make the observation, which properly he may,
To wit: That writing verses on the several solar seasons
Is most uncertain business, and for these conclusive reasons :

In the middle of the Autumn the subscriber did compose
A sonnet on November, showing how the spirit grows
Unhappy and despondent at the season of the year
When the skies are dull and leaden, and the days are chill and drear.

Perhaps you may recall to mind that, when November came,
No leaden skies nor chilly days accompanied the same ;
But the weather was as balmy as in Florida you'd find,
And that sonnet on November was respectfully declined !

With laudable ambition to prepare a worthy rhyme,
The writer wrote a Christmas song three weeks ahead of time ;
And there was frequent reference to the shap and piercing air,
And likewise to the cold white snow that covered earth so fair.

I scarcely need remind you that the Christmas did not bring
The piercing air and cold white snow of which I chose to sing :
'T was all ethereal mildness while for icicles I yearned,
And of course my frigid verses were with cordial warmth returned.

This very Spring I set to work — 't was on an April day,
And warm as June — I set to work and wrote an ode on May ;
The inspiration may have come in part from what I owed,
But while I sang of gentle Spring I swear it up and snowed !

And once, when dew inspired me a pastoral to spin,
It happened, when the poem was done, a dreadful drought set in ;
There was no moisture in the earth, which dry and dryer grew,
And the piece on dew came back to me with six cents postage due !

And for these conclusive reasons it is obviously plain
That verses on the weather are precarious and vain ;
And the undersigned would only add, so far as he can see,
The trouble's not the metre, but the meteorology !


(Marc Cook)

*

Bom dia!

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18.2.06


RETRATOS DO TRABALHO NA ERICEIRA, PORTUGAL


Trabalhos nas arribas da Ericeira.

(Helena Monteiro)

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SOBRE OS RETRATOS DO TRABALHO

A série de fotografias sobre o trabalho que aqui se tem publicado, contraria a muito pequena representação que tem o trabalho nos blogues. O mundo do trabalho, a não ser em determinadas funções profissionais do jornalismo ou da academia, ou nalguns blogues de mulheres, com o trabalho feminino doméstico, praticamente não aparece na blogosfera. Isso tem a ver muito com a composição social da blogosfera, traduzida também no mundo simbólico dos autores de blogues. É como no cinema, parece que ninguém trabalha.

Essas fotografias (quase todas dos leitores do Abrupto) valem pela representação do trabalho, na sua normalidade e na sua trivialidade, no quotidiano da esmagadora maioria das pessoas. Elas revelam também o olhar dos seus autores, muito nítido nalgumas fotografias turísticas, que mostram o Outro trabalho do resto do Outro mundo, como sendo uma curiosidade exótica. É também uma maneira de ver. Muitas, porém (como a dos jardineiros de Odivelas) revelam esse ritmo quotidiano quase invisível de milhões de pessoas. Aqui faz-se por ver.

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(18 de Fevereiro de 2006)


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Novos descobrimentos: mais Marte.



*

O fim do Moby Dick esteve para ser diferente e a baleia para ser morta. Como é que seria o nosso mundo se o capitão Ahab sobrevivesse?

*

Assouline na La République des Livres transcreve uma entrevista de Ballard em que este fala das previsões falhadas da ficção científica. Não concordo com este julgamento de Ballard sobre Orwell (porque o 1984 é tanto sobre o estalinismo como sobre os media, e aqui Orwell percebeu muita coisa antes de tempo sobre a nossa "sociedade mediática"), mas vale a pena fazer este balanço:
"J'ai été influencé par Wells,Huxley et Orwell.Les prédictions faites par Huxley dans "Le Meilleur des mondes" et "Les portes de la perception" se sont révélées beaucoup plus justes que celles d'Orwell, dont "1984" brossait avant tout un tableau du stalinisme. En bon socialiste, il craignait que ce dévoiement du socialisme ne contamine l'Europe occidentale. Mais Huxley a su prédire des sociétés fondées sur l'uniformisation, l'évasion dans la drogue, le clonage, ainsi que l'idée d'exploiter le potentiel cérébral par l'usage d'hallucinogènes -une intuition prophétique. Pourquoi la Grande-Bretagne a-t-elle produit ces trois auteurs ? Sans doute parce qu'elle résiste au changement, et que ces écrivains se sont révoltés contre tant d'immobilisme".
*

Entre as ofertas à "fábrica" dos últimos tempos, destaco uma colecção magnífica de caixas de fósforos soviéticas, um excelente exemplo da iconografia comunista. O seu desenho é muito parecido com o dos selos da mesma época. Aqui vai um exemplo de uma série sobre monumentos, estátuas, o célebre tanque, as "casas da cultura" e os hotéis da Inturist:



*

É impossível deixar de pensar que há um elemento retaliatório na busca no 24 de Horas (será que dizer isto é crime?). Se é um crime o que o jornal fez, não foi um crime enviar as informações indevidas para o processo? Se é um crime o que o jornal fez, não têm os jornais e as televisões cometido o mesmo crime dezenas e dezenas de vezes, pelo menos desde que começou o processo Casa Pia? Pode-se sempre dizer que alguma vez a "justiça" deveria "funcionar", só que é um pouco estranho que só o faça contra um jornal que denunciou o que, para não sugerir outra coisa, foi uma negligência grave do Ministério Público. Por isso diz bem Eduardo Pitta no Da Literatura:
"Hoje levantei-me cedo. Fui ler os jornais e os blogues do costume. É distracção minha, ou não estão convocadas manifestações de solidariedade em frente ao 24 Horas? No momento em que, pela primeira vez em trinta anos de democracia, um jornal português é alvo de rusga policial, onde páram os estrénuos defensores da liberdade de expressão? Acaso supõem que ela é indissociável de uma imprensa livre? Que é feito dos blogues de causas? E da indignação bem-pensante? Eu percebo. O 24 Horas não é dos «nossos». Nós somos todos muito finos para nos preocuparmos com jornalismo marron. Mas e o senhor Presidente da República? Desta vez não considera que estejam em causa direitos fundamentais?"

*

Novos tempos (do New York Times):
"For the first time, a major publisher is offering a book online at no cost to readers, supported by advertising. HarperCollins is selling the book, "Go It Alone! The Secret to Building a Successful Business on Your Own" by Bruce Judson, through Mr. Judson's site, brucejudson.com. "

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COISAS SIMPLES


André Kertész, Nature morte II

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© José Pacheco Pereira
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