ABRUPTO

24.2.06


COISAS DA SÁBADO: ÂNGELO DE SOUSA

Ângelo de Sousa

A abertura de uma grande exposição de esculturas de Ângelo de Sousa no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian merece toda a atenção porque Ângelo é um artista difícil de arrumar. Alguns dos seus quadros têm um forte poder decorativo e há mesmo uma pequena peça de escultura em metal que faz parte dos objectos que a Loja de Serralves comercializa. Por outro lado, muitos dos seus desenhos e esculturas e alguns dos seus quadros fazem parte daquelas peças de arte contemporânea que só existem em museus e ninguém quer ter em casa. São rabiscos, são coisas feias, não valem nada. Qual “arte pobre”, qual minimalismo qual nada? “Eu também sou capaz de fazer aquilo”, diz o bruto que há em nós. Não pode não.

Nesta exposição percebe-se o que está por detrás de quase tudo que é “produto” nesta oficina: um trabalho de atenção às formas, minimal-repetitivo, risco a risco, folha a folha, traço a traço, cor a cor, lata a lata, plástico a plástico, néon a néon, para perceber o que está, o que há. A obra de Ângelo é uma daquelas que melhor corresponde à procura ideal da forma, uma ilustração da frase de Da Vinci da pintura como “coisa mental”. Quantas formas há? Pergunta cada escultura. Só a minha? Um milhão? Quantos materiais me fazem? Só este latão, este aço, este plástico, este vidro? Um milhão de materiais, um milhão de formas? São infinitas? Não sei. Ângelo enche o mundo de formas, como aliás muita da arte contemporânea, mas não procura a Forma, procura o Mundo. Ele sabe que não chega lá, mas esforça-se.

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© José Pacheco Pereira
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