ABRUPTO

23.12.11


 DEZ DESGRAÇAS (5)



Quinto: Salazar dizia que aquilo que parece é. Sócrates também, e deixou o país pintado daquilo que “parecia” e não daquilo que era. Mas o reino das aparências continua pujante. Por exemplo, os partidos políticos continuam a ser o mecanismo mais seguro de empregabilidade para jovens, adultos e seniores em Portugal. Nenhum outro funciona tão bem em termos de ausência de qualificações profissionais, oportunidades de emprego e carreira. O partido hoje no poder fez mais uma vez o mesmo que fez o que estava antes. Durante meio ano endromina, é a palavra correcta, a opinião pública com decisões de transparência, novas leis, exigência de concursos, imparcialidade politica na escolha das “competências”, e, depois desta imagem estar estabelecida, faz o mesmo que todos fizeram antes. Já passaram seis meses, o escrutínio é menor, a imagem está feita, tudo pode continuar como habitual. Nos assessores, nas escolas, nas artes e cultura, nos hospitais, nos escritórios de consultores ou de advogados, etc., etc. Quem é que disse que a tradição já não é o que era?

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DEZ DESGRAÇAS (4)


Quarto: quem tem vícios deve ser exterminado para se poder instituir o princípio de “quem não tem dinheiro não tem vícios”. Esta frase é o voo ideológico mais complexo a que chega a nossa vida pública situacionista, enquanto a oposicionista também não voa mais alto do que o “não pagamos”. Os maiores “viciosos” são, o Estado, as empresas públicas, os “socratistas”, os ricos, os políticos, os maquinistas da CP, os pilotos da TAP, os magistrados, os reformados com “reformas de luxo”, os ciganos, e os portugueses em geral. Cada grupo tem um outro grupo “vicioso” como alvo, mas os portugueses em geral acabam sempre por entrar, ou de frente ou pelas traseiras, na lista dos culpados. Uma sociedade a empobrecer soçobra habitualmente numa cultura de culpa e os culpados são sempre os outros.

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DEZ DESGRAÇAS (3)


Terceiro: a nossa visão oficial do mundo é bipolar. Separa hoje duas categorias: a daqueles que têm dinheiro para nos emprestar, e a daqueles que estão como nós e por isso “não são como nós”, por definição. Como na frase: “nós não somos a Grécia”, ou como para os espanhóis “nós não somos Portugal”, etc., etc. Isto significa que deixou de haver política externa, relações internacionais, seja lá o que for que usasse este nome. A verdade é que um país que não é soberano não tem “funções de soberania”. Podíamos encerrar as embaixadas, fechar o Ministério e acabar com as forças armadas. O ministro das Finanças agradeceria e muito. O Primeiro-ministro também.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (141):  
LOUVAMINHICE
A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Por que é que os malvados dos cínicos têm a suspeita que se fossem os alemães a ganhar a EDP toda a gente estaria agora a louvar a excelência do "produto" alemão, a exorcizar os "perigos " dos chineses, e os malefícios do controlo da nossa economia pelos comunistas e a louvar o governo por não ter escolhido apenas pelo vil metal? Por que é que os malvados dos cínicos têm a suspeita que se fossem os brasileiros a ganhar a EDP estaríamos agora a falar em parcerias estratégicas, no luso-tropicalismo, na irmandade dos que falam português, na porta aberta aos portugueses no Brasil e a dizer o mesmo que agora se diz dos chineses sobre a viragem diversificadora da Europa em crise para o resto do mundo em pujança? 

A discussão daqui a uns meses, quando se conhecer melhor o que se passou (agora conhece-se bastante mal), e se começar a perceber as consequências, inclusive no conjunto das privatizações, será muito diferente. Pode confirmar a razão da escolha do governo ou mostrar os seus riscos ou os seus erros. Mas a louvaminhice de hoje não é nem informada, nem sábia, nem prudente, é apenas e só louvaminhice.

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DEZ DESGRAÇAS (2)


Segundo: a Europa que nós conhecemos acabou. Na verdade, já acabou há algum tempo, muita gente não deu por ela, mas é só uma questão de tempo para dar. A Europa que vai suceder à que acabou é uma confederação dos aflitos liderados, a toque de caixa, pelos fortes. Os mais fortes também já não são o que eram e os aflitos não contam para nada, servem de pano de fundo aos fortes.

(Continua.)

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COISAS DA SÁBADO: DEZ DESGRAÇAS (1)


Primeiro: acabou o tempo, a distância, a velocidade. 

Acabou o fim do túnel onde devia haver luz, ou seja a distância é infinita, não adianta medi-la. Como já escrevi, não é túnel, mas poço sem fundo. Acabaram os prazos de austeridade, já não foi em 2010, já não é em 2011, já não será em 2012, nem em 2013, nem em 2014 e, milagre, em 2015 diminuem os impostos. Como a diminuição dos impostos em Portugal é da ordem do sobrenatural, milagre nunca acontecido nem em Fátima, resta-nos ou ter muita fé, ou para os incréus, passar para 2016 e 2017 e ao “médio prazo” que é, como sabem os cientistas sociais, quando já estamos todos mortos. Acabou a velocidade. Não adianta pensar que o PEC1 resolvia qualquer problema, nem o PEC2, nem o PEC3. O PEC4 ficou defunto antes de existir, por isso não saímos do sítio. Pensamos que aceleramos com mais um PEC e logo os efeitos perversos do mesmo PEC na economia retiram valor ao que se poupou na austeridade. Aceleramos mas não ganhamos velocidade e não saímos do sítio. 

(Continua.)

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2126 - Now Winter Nights Enlarge

Now winter nights enlarge    
This number of their hours; 
And clouds their storms discharge    
 Upon the airy towers. 
Let now the chimneys blaze     
And cups o'erflow with wine, 
Let well-tuned words amaze     
With harmony divine.
Now yellow waxen lights     
Shall wait on honey love 
While youthful revels, masques, and courtly sights     
Sleep's leaden spells remove. 


This time doth well dispense     
With lovers' long discourse; 
Much speech hath some defense,     
Though beauty no remorse. 
All do not all things well:     
Some measures comely tread, 
Some knotted riddles tell,     
Some poems smoothly read. 
The summer hath his joys,    
 And winter his delights; 
Though love and all his pleasures are but toys     
They shorten tedious nights.
 
(Thomas Campion)

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE

Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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22.12.11


EARLY MORNING BLOGS  


2125 -  Resolution And Independence
He told me that he to this pond had come
To gather Leeches, being old and poor:
Employment hazardous and wearisome!
And he had many hardships to endure:
From Pond to Pond he roam'd, from moor to moor,
Housing, with God's good help, by choice or chance
And in this way he gain'd an honest maintenance.

The Old Man still stood talking by my side;
But now his voice to me was like a stream
Scarce heard; nor word from word could I divide;
And the whole Body of the man did seem
Like one whom I had met with in a dream;
Or like a Man from some far region sent;
To give me human strength, and strong admonishment.

My former thoughts return'd: the fear that kills;
The hope that is unwilling to be fed;
Cold, pain, and labour, and all fleshly ills;
And mighty Poets in their misery dead.
And now, not knowing what the Old Man had said,
My question eagerly did I renew,
"How is it that you live, and what is it you do?"

He with a smile did then his words repeat;
And said, that, gathering Leeches, far and wide
He travelled; stirring thus about his feet
The waters of the Ponds where they abide.
"Once I could meet with them on every side;
But they have dwindled long by slow decay;
Yet still I persevere, and find them where I may."

While he was talking thus, the lonely place,
The Old Man's shape, and speech, all troubled me:
In my mind's eye I seem'd to see him pace
About the weary moors continually,
Wandering about alone and silently.
While I these thoughts within myself pursued,
He, having made a pause, the same discourse renewed.

And soon with this he other matter blended,
Chearfully uttered, with demeanour kind,
But stately in the main, and, when he ended,
I could have laugh'd myself to scorn, to find
In that decrepit Man so firm a mind.
"God," said I, "be my help and stay secure;
I'll think of the Leech-gatherer on the lonely moor."
 
(William Wordsworth) 
 
 

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19.12.11




ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE
 

O homem das castanhas, Costa da Caparica. (Luiz Boavida)


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SARILHOS GRANDES 



Uma semana depois da Cimeira da “última oportunidade” já se percebeu que não foi a última, nem teve nada a ver com qualquer “oportunidade”, nem sequer foi Cimeira, se se entender que, numa cimeira se voa alto no poder e na qualidade de decidir. Foi mais um desastre, na linha de uma década de sucessivos desastres, em que os principais dirigentes da União Europeia se entregaram a um exercício de bater repetidamente com a cabeça na parede. Na cimeira seguinte, lá caminharão para o mesmo lugar, onde já está a marca da sua cabeça na parede, e começarão de novo a bater. O problema é que não é só a cabeça deles que bate na parede, mas a de milhões de europeus, o destino de povos e nações e , last but not the least, o destino do projecto europeu. 

Fazem-no com todas as responsabilidades do mundo, e essa responsabilização terá que ser pedida sem ambiguidades. O caminho de erros sobre erros que estão a trilhar há já demasiados anos, apoiados pela intelligentsia extrema-europeísta, os interesses e a burocracia a ela associados, tem sido denunciado com muita clareza. Infelizmente este é um dos casos em que a realidade todos os dias dá aos críticos das últimas décadas do processo europeu, isolados e silenciados pela ortodoxia do “pensamento único” europeu, toda a razão.

Nem sequer me refiro aos eurocépticos mais radicais, mas a gente que é moderada, sensata, e acredita no projecto europeu, o que não acredita é nesta correria desenfreada para “resolver” problemas reais com sempre as mesmas propostas de engenharia política virtual, que, fora destes círculos, ninguém compreende, ninguém apoia, e acima de tudo ninguém deseja. Há quem deseje e bem uma política europeia concertada, assente nos interesses comuns da Europa, prudente e de “pequenos passos”, sempre em consonância com a vontade de povos e nações, mas não há ninguém, fora destes extremistas cegos, que tenha desejado uma Constituição europeia, e os sucessivos tratados posteriores, que abriram caminho à situação actual e são tão inúteis como uma chávena sem fundo. 


E para falar nna última cimeira, não há ninguém de bom senso que entenda que a melhor maneira de começar a tratar do problema das dividas soberanas e da violação dos tectos do défice, seja acrescentar aos tratados e acordos existentes, que já sancionam todas estes comportamentos, um novo tratado assente em cláusulas sancionatórias automáticas, em mudanças constitucionais problemáticas, em reforços dos poderes de Bruxelas sobre os parlamentos e os estados soberanos. Nada disto resolve coisa nenhuma, como se vê.

A Alemanha seguiu este caminho com a França, a Alemanha muito a sério, a França como buffonerie. Merkel sabe o que quer, mas isso não chega. Sarkozy anda a ver se encontra um teatro qualquer que lhe permita ganhar as eleições. Mas, nenhum deles teria podido percorrer o caminho para este desastre se todos os outros países tivessem sido aquilo que se espera de cada um na UE: países de parte inteira, com políticas externas e europeias, defendendo os seus interesses (não há nenhum mal nisso), mas que não aceitassem fazer o papel de paisagem para o tandem Merkel- Sarkozy. Num certo sentido, mais do que o tandem, foram eles que levaram a Europa a este impasse, porque estando a ser ultrapassados na praça pública pelas sucessivas cimeiras franco-alemãs não disseram “ó meus amigos, vamos lá a ter sensatez e começar a conversar entre todos um pouco mais”. E não o fizeram exactamente porque a sua relação com o processo europeu é cada vez mais frágil e porque sabem que os sucessivos actos de decisão, como o Tratado de Lisboa, foram tomados com dolo para não haver referendos, tornarando cada vez mais difícil fazerem alguma coisa pela Europa, dentro dos seus países e fora deles. Castraram-se na sua voz própria e agora cantam como tenorinos num coro dominado pela voz máscula de Merkel e pela pícara personagem de Sarkozy. Quante buffonerie! 

Há pecados mortais em política que expulsam os que os cometem do paraíso. Uma das coisas que impede hoje muitos dirigentes europeus de serem mais “europeus” em política interna foi o facto de terem aceite, salvo honrosas excepções, cobrir as manobras francesas de disfarçar a Constituição no tratado de Lisboa, e de garantir que este “passaria” sem consultas que o legitimassem num momento em que já se percebia com clareza o crescente divórcio entre a UE e as opiniões públicas dos estados europeus. No centro da actual crise não estão as dívidas soberanas, nem as violações dos limites do défice, mas sim a cobardia institucionalizada dos líderes europeus que andam há demasiado tempo a fugir de dar ao projecto europeu a legitimidade que actualmente lhes falta. Por isso, actuam todos com má-fé e permitiram ao tandem Merkel-Sarkozy de, diante dos olhos de todos, usurparem a condução colectiva da UE. 

Haverá consequências da cimeira de há uma semana? O problema é que haverá demasiadas consequências e são todas más. A um problema sério, que é a incapacidade de defrontarem os problemas de credibilidade financeira na UE, acrescentaram uma enorme trapalhada institucional, mais um pesadelo jurídico, e o início de um processo nunca visto de empurrar um país fundamental para haver Europa, o Reino Unido, para as trevas exteriores. Pior de tudo, nada disto, que era tão evidente como haver sol na terra e chuva em Bruxelas, foi antecipado, nem sequer desejado nem no mais maquiavélico dos planos. O magistral “ruído” da realidade entrou pelas portas da cimeira e continua a troar como as mil trombetas do Apocalipse. O desastre, se não for atalhado o mais depressa possível, e não se vê como, é mesmo de bíblicas proporções, porque é o som do fim da UE. E a Europa precisava mesmo de uma UE. 

Voltemos à Cimeira. Se bem que Cameron não tivesse conduzido muito bem sua participação na cimeira, com um discurso inicial de reivindicações da City que dava a entender que se elas fossem atendidas também assinaria um Tratado que retirava poderes para o Parlamento inglês, veio mais tarde a corrigir o discurso. Porém, o que conta, mais do que o discurso, foi a atitude e essa era inevitável face a uma condução autoritária do tandem Merkel-Sarkozy de um processo que ia à revelia de um país, onde o Parlamento já executou um rei para ser respeitado, e onde a identidade nacional não se compara à Bélgica. Sarkozy fez tudo para humilhar os ingleses e os ingleses bateram-lhe com a porta. Numa deriva perigosa, temos hoje a França a sugerir às agências de notação o abaixamento do rating do Reino Unido, o que diz bem de como estão as relações entre os dois países. 

Cameron não é isento de culpas na deriva do processo europeu. Também ele se opôs a um referendo ao Tratado de Lisboa, para que igualmente havia compromissos dos conservadores. Mas o Reino Unido tem sido um precioso factor de equilíbrio, neste caso como travão, para o caminho federal e dos “Estados Unidos da Europa” que os extremistas europeístas por eles já tinham feito com Constituição, bandeira e hino incluído. Sem o Reino Unido, ou com um Reino unido hostil (Cameron já avisou que as instalações e recursos da UE não podem ser utilizados pelos signatários de uma “pacto orçamental” à margem dos tratados), a UE ficará nas mãos da Alemanha e da França, e muitos outros países que agora ficaram à deriva começaram a juntar-se ao Reino Unido. 

A Cimeira abriu por isso a porta a gigantescos sarilhos. Não se sabe como compatibilizar o “pacto”, mesmo a 26, com os tratados a 27, não se sabe como, em muitos países, vão “passar” as medidas do “pacto” que são ou inconstitucionais, ou necessitam de revisões constitucionais. A começar na Alemanha, a continuar na Irlanda onde deverá haver referendo, e a acabar em Portugal, onde Passos Coelho assumiu compromissos constitucionais sem ter autoridade para isso e sem o apoio do PS. Na Polónia, há um forte movimento de repúdio do “pacto”, e em França o líder do PS que poderá ganhar as eleições a Sarkozy já disse que o iria rever. 

Nem sequer é preciso ser muito clarividente para perceber que, cada dia que passa só trará novos problemas e dificuldades para o “pacto”, e não o caminho róseo que os dirigentes que o aceitaram na Cimeira, pensavam que iria ter, com a inconsciência que o Diabo lhes deu de presente. E o mesmo Diabo também lhes deu outra coisa, os mercados. Esses viram a cimeira com um cruel realismo, como o desastre que foi. E não é que têm razão? 

(Versão do Público de 17 de Dezembro de 2011.)

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EARLY MORNING BLOGS  


2124 -  Resolution And Independence

Himself he propp'd, his body, limbs, and face, 
Upon a long grey Staff of shaven wood: 
And, still as I drew near with gentle pace, 
Beside the little pond or moorish flood 
Motionless as a Cloud the Old Man stood; 
That heareth not the loud winds when they call; 
And moveth altogether, if it move at all.
At length, himself unsettling, he the 
Pond Stirred with his Staff, and fixedly did look 
Upon the muddy water, which he conn'd, 
As if he had been reading in a book: 
And now such freedom as I could I took;
And, drawing to his side, to him did say, 
"This morning gives us promise of a glorious day."
A gentle answer did the Old Man make, 
In courteous speech which forth he slowly drew:
And him with further words I thus bespake, 
"What kind of work is that which you pursue?
This is a lonesome place for one like you." 
He answer'd me with pleasure and surprize; 
And there was, while he spake, a fire about his eyes.
His words came feebly, from a feeble chest, 
Yet each in solemn order follow'd each, 
With something of a lofty utterance drest; 
Choice word, and measured phrase; above the reach 
Of ordinary men; a stately speech! 
Such as grave Livers do in Scotland use, 
Religious men, who give to God and Man their dues.

(William Wordsworth)

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18.12.11


PORTUGAL SEGUNDO ZENÃO DE ELEIA
É impossível atravessar o estádio; porque, antes de se atingir a meta, deve primeiro alcançar-se o ponto intermédio da distância a percorrer; antes de atingir esse ponto, deve atingir-se o ponto que está a meio caminho desse ponto; e assim ad infinitum.

Em 2010,  disseram-nos que a crise acabaria em 2011 e que este iria ser o "ano mais difícil". Em 2011, disseram-nos que a crise iria durar até 2012 e que este iria ser o "ano mais duro". Em 2011, disseram-nos que a crise acabava em finais de 2012. Em 2011, disseram-nos que a economia iria começar a recuperar em 2012. Em 2011, disseram-nos que, como sacrifício, bastava metade do subsídio do Natal. Em 2011, disseram-nos que afinal não bastava e que era preciso cortar os subsídios de férias e de Natal em 2012 e 2013. Em 2011, disseram-nos que era preciso cortar os subsídios de férias de Natal enquanto durasse a intervenção externa, que duraria só até 2013. Em 2011, disseram-nos que a intervenção externa iria durar pelo menos até 2014. Em 2010 e 2011, disseram-nos que não eram precisos mais impostos. Em 2011, disseram-nos que os impostos em 2011 seriam extraordinários e limitados a esse ano. Em 2011, disseram-nos que afinal os impostos só deverão baixar em 2015. Já vamos em 2015. Estamos no fim de 2011. Medidas de austeridade foram tomadas desde 2008, repetidas em 2009, mas nesse ano, como era de eleições, andou-se para trás e para a frente. Novas medidas de austeridade foram de novo repetidas em 2010, e sofreram um aumento exponencial em 2011. Já lá vão o PEC1, o PEC2, o PEC3, e o extinto PEC4. 

O "ano mais duro" é por regra o próximo, a salvação vem no ano seguinte ao "mais duro". Tenho a certeza absoluta que em 2012 nos vão dizer que o pior ano vai ser o de 2013, e que a salvação só no ano de 2014 ou 2015, ou 2016. Talvez fosse bom começar a pensar em 2020.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE
 
 
Ria de Aveiro, hoje, antes do nascer do Sol. (José Carlos Santos)

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EARLY MORNING BLOGS  


2123 -  Resolution And Independence
             I thought of Chatterton, the marvellous Boy,
The sleepless Soul that perish'd in its pride;
Of Him who walk'd in glory and in joy
Behind his plough, upon the mountain-side:
By our own spirits are we deified;
We Poets in our youth begin in gladness;
But thereof comes in the end despondency and madness.

Now, whether it were by peculiar grace,
A leading from above, a something given,
Yet it befel, that, in this lonely place,
When up and down my fancy thus was driven,
And I with these untoward thoughts had striven,
I saw a Man before me unawares:
The oldest Man he seem'd that ever wore grey hairs.

My course I stopped as soon as I espied
The Old Man in that naked wilderness:
Close by a Pond, upon the further side,
He stood alone: a minute's space I guess
I watch'd him, he continuing motionless:
To the Pool's further margin then I drew;
EIe being all the while before me full in view.

As a huge Stone is sometimes seen to lie
Couch'd on the bald top of an eminence;
Wonder to all who do the same espy
By what means it could thither come, and whence;
So that it seems a thing endued with sense:
Like a Sea-beast crawl'd forth, which on a shelf
Of rock or sand reposeth, there to sun itself.

Such seem'd this Man, not all alive nor dead,
Nor all asleep; in his extreme old age:
His body was bent double, feet and head
Coming together in their pilgrimage;
As if some dire constraint of pain, or rage
Of sickness felt by him in times long past,
A more than human weight upon his frame had cast.
(continua.)


(William Wordsworth)

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© José Pacheco Pereira
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