ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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7.2.10
(url) A QUEDA DA CASA DE SÓCRATES Este é dos raros casos em que, escrevendo este artigo à sexta-feira à tarde, não sei muito bem que situação existirá em Portugal no sábado de manhã, quando for publicado. Não por causa da encenação grosseira destes últimos dias à volta da Lei das Finanças Regionais, uma mistura de farronca e de dolo, cujo único efeito foi agravar ainda mais o espectáculo da instabilidade política face aos mercados internacionais. O Governo, que se prestou a este espectáculo, não tem qualquer espécie de noção da gravidade da situação em que colocou o país, isto na hipótese benigna. Porque, na hipótese menos benigna, sabe muito bem o que nos espera qualquer dia destes, e pretende arranjar um pretexto para se pôr a milhas, de preferência culpabilizando outros por uma "situação explosiva" que sempre negou existir e que, bem pelo contrário, ajudou e muito a agravar. Já toda a gente percebeu que Portugal é mesmo uma Grécia que acabará por ter que fazer à força, e por imposição exterior, aquilo que se recusou a fazer, mesmo apesar de ter sido de há dois anos para cá avisado dia sim, dia não, por quase todos os economistas, pelo Presidente da República e por essa senhora frágil que todos atacam e que disse sempre as coisas certas para Portugal, sem qualquer vantagem pessoal e política, pagando um preço elevado por o ter feito num país de irresponsabilidade optimista, outro nome para o desperdício, sob a égide da Casa de Sócrates. Basta ver a agenda política dos últimos dias do primeiro-ministro para perceber até que ponto é assim. Estas semanas, com a crise "grega" a crescer no horizonte, comemorou os cem dias de um Governo que foi um não-Governo. Não tinha medidas para apresentar, obra dos cem dias, a não ser que se considere as suas experiências de engenharia social "fracturante", como o casamento de pessoas do mesmo sexo, uma "obra" governamental. Almoçou num dos vários dias em que comemorou os cem dias - sempre com a complacência da comunicação social para lhe permitir prolongar a comemoração do vazio - com umas senhoras da moda, alegre e contente, no seu melhor estilo Armani-Boss e deu 200 euros a cada nova criança. Pagos daqui a 18 anos. Este tipo de "oferta", puro desperdício sem sentido social, sem qualquer efeito benéfico mensurável, é mais uma das formas perversas de alimentar a ideia de um Estado que "dá" coisas aos cidadãos, ainda por cima dinheiro. E "dá" coisas com um profundo sentido de injustiça social, porque ricos e pobres vão receber os mesmos 200 euros. Mas, quando comecei este artigo dizendo que não sabia que dia seria o de amanhã, confesso que na vaga esperança de que Portugal ainda seja um país em que se toma a sério a liberdade e a democracia, estava a pensar naquilo que o Sol revelou sobre a existência de um plano governamental para o controlo político da comunicação social. Serei certamente a última pessoa a ficar surpreendida com esse "plano" - na verdade mais uma conspiração do que um plano - porque faço parte de uma pequena minoria daqueles que achavam e acham que existe em Portugal um risco real de "asfixia democrática", com origem na Casa de Sócrates. Muitos o negaram, alguns com dolo, porque sabiam bem de mais o que se estava a passar e lhes interessava negá-lo; outros com ingenuidade, porque lhes parecia excessivo acusar o primeiro-ministro de mais do que mau jeito e inabilidade ou apenas grosseria no tratamento com a comunicação social. Outros ainda achavam que se tratava apenas de acusações inerentes ao jogo político e, como todos "fazem o mesmo", não valia a pena qualquer preocupação especial. Mas à luz do que todos os dias se vem a saber e daquilo que, com grande cópia de pormenores, faz parte dos documentos judiciais que o Sol começou a publicar, como é possível negar a evidência de que há mesmo uma "asfixia democrática" (seja qual for a imprecisão do termo e o seu mau uso)? Só negando a factualidade de tudo o que já se sabe sobre a "operação TVI" e as suas adjacências é que é possível negar que José Sócrates mais o seu grupo no PS (e intencionalmente não digo o PS, porque a Casa de Sócrates é um grupo muito especial à volta de Sócrates e do seu poderoso gabinete) organizou uma verdadeira conspiração com recursos públicos para, alterando a propriedade de órgãos de comunicação social para mãos amigas, poder assim calar os jornalistas que considerava inimigos. Tudo é grave nos documentos judiciais, grave no sentido político, visto que do ponto de vista criminal a questão parece encerrada. Mas a dimensão cívica e política extravasa a questão judicial e a conspiração que lá está retratada mostra como funciona o poder político em Portugal, usando redes de poder e influência, a partir do Governo para empresas públicas e privadas, bancos "amigos" por exemplo, para realizar operações de compra de órgãos de comunicação social considerados hostis e para limpeza de pessoas e programas incómodos em vésperas de eleições. Tudo feito às escondidas, disfarçando as operações financeiras por detrás de ecrãs destinados a distanciar as decisões do primeiro-ministro. Este, quando confrontado com as pontas do véu que já se tinham levantado, protegeu-se mentindo ao Parlamento. Mas tudo isto é atentatório da liberdade e da democracia e, num país que preze estes valores, poderia levar à queda de um Governo. Não são os canalizadores de Nixon, mas a diferença não é muita. Os meus leitores sabem que há muito tempo denuncio aquilo que sempre me pareceu um padrão de controlo obsessivo e de manipulação da opinião pública. Eu sei que tudo isto é um déjà vu, mas não me canso. Nenhum Governo foi mais longe do que o de Sócrates nesse esforço de condicionar o que pensamos, de impedir que possamos ser desviados por qualquer inconveniente jornalista demasiado curioso, ou qualquer jornal que não aceite o traço invisível dos temas proibidos, nenhum Governo foi mais longe na tarefa de nos enganar pura e simplesmente. Para o conseguir gastou-se dinheiro como nunca, agências de comunicação, encenações, marketing e, quando isto não chegava, exercício puro e duro do poder, às claras ou, pior ainda, às escondidas e no limite da legalidade, para varrer tudo o que incomodava a marcha gloriosa da Casa de Sócrates. Se estes novos dados conhecidos não tiverem consequências, é porque não prezamos a liberdade e a democracia como devíamos e merecemos os governantes que temos. Se tiverem, a Casa de Sócrates está como a Casa de Usher a cair. (Versão do Público de 6 de Fevereiro de 2010.) (url)
MITRIDATIZAÇÃO
Um país que foi sujeito a um processo de mitridatização acaba por engolir todos os venenos sem ter efeitos. É como estamos hoje: por venenoso que seja o que sabemos sobre o comportamento da Casa de Sócrates, já não reagimos como devíamos, tão contínuas foram as doses de veneno que tivemos que tomar, que achamos tudo normal. (url) There was an Old Man who said, 'How (Edward Lear) (url) 6.2.10
ÍNDICE DO SITUACIONISMO (116): TUDO COMO DANTES, QUARTEL-GENERAL EM ABRANTES A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração. E, nalguns casos, de respiração assistida. (url) (url) ÍNDICE DO SITUACIONISMO (115): QUANDO UMA FRASE PERDE METADE A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração. E, nalguns casos, de respiração assistida. Quando no oráculo do telejornal das 13 horas se cita o título da entrevista ao Expresso dada por Cavaco Silva : "Há nervosismo a mais na AR e nos edifícios limítrofes", fica apenas "há nervosismo a mais na AR" e corta-se "os edifícios limítrofes". Na RTP não se deve saber quais são. (url) (url) No caso da Câmara Corporativa, o blogue-farol anónimo do Governo para distribuir desinformação e “argumentário” pelas pequenas “câmaras corporativas”, que cada vez mais pululam na rede, vai-se mais longe e usam-se os arquivos governamentais (na melhor das hipóteses apenas esses) para escavar alguma longínqua contradição, alguma notícia que já ninguém se lembra, qualquer coisa que possa servir para atacar o insolente que duvida das qualidades do nosso Primeiro-ministro. Nenhum anónimo escriba num blogue poderia ter tanta memória colectiva, uma espécie de Google que funciona antes de haver rede (o sinal óbvio de que se consultam bases de dados em papel) , quase em tempo real. E a promiscuidade com os bas-fonds jornalísticos é também preocupante. O paradigma destas campanhas de calúnia pessoal é muito estandartizado. Quando se trata de pessoas que não podem ser acusadas de corrupção ou fraude fiscal, os píncaros de qualquer campanha ad hominem, continua mesmo assim possível, quase obrigatório, falar de dinheiro. Para esta gente, que sabe da lama, há três coisas que movem um ser humano: sexo, dinheiro e “protagonismo”. A primeira ainda não está nos hábitos nacionais, tem o risco de fazer ricochete e por isso usa-se pouco. Com o tempo usar-se-á mais. As outras são by the book. O dinheiro então dá sempre certo, seja porque toda a gente tem que ganhar a vida e ter dinheiro no bolso, seja porque o dinheiro no bolso de outrem suscita a inveja socializada que impregna as sociedades pobres como a nossa. Veja-se como Crespo premeditou este sarilho para vender o seu livro e ganhar uns dinheiritos. “Depois de João Miguel Tavares ter confessado que José Sócrates elevou consideravelmente o seu padrão de vida (...) chegou agora a oportunidade de Mário Crespo - alguém sabe de quantos milhares de exemplares vai ser a primeira edição do seu livro?” (Câmara Corporativa)Usa-se sempre a pura insídia: “Crespo tem um passado que fala por si. Crespo tem, na realidade, vários passados que falam por si.” Usa-se a sugestão de inside information: “A Direcção de Informação da SIC apressou-se a repudiar todas as formas de "pressão e condicionamento". Tremam, pois, jornalistas da SIC - voltem a criticar os vossos queridos directores em conversas lá no bar da SIC e ainda acabam denunciados no site do PSD...” Usam-se velhos boatos e histórias que lá vão desaguar nos escribas de serviço com fonte em muitas “fontes” que usam o blogue anónimo para atacar os seus adversários e que sabem que é para ali que devem telefonar. Sim, porque os “Abrantes” e “Magalhães”, podem não ter cara, mas tem gabinete e telefone. Desses meios saem também centenas de comentários igualmente anónimos na mesma linha de descrédito pessoal, insulto e calúnia que começam a chover nos blogues criando uma coisa que é muito fácil de fazer na Internet, uma falsa “vaga de fundo”. Não é preciso mais do que duas ou três pessoas para fazer isto tudo. Basta estarem de serviço vinte e quatro horas diante de um computador, e dispor de informação, receber informação e fazer desinformação. Tudo demasiado profissional e pago com os nossos impostos. (url) (url) 5.2.10
O que se está a passar com Mário Crespo não é para mim qualquer surpresa. O que a Casa de Sócrates produz é-me familiar há muito, até como alvo privilegiado do mesmo tipo de ataques. O mesmo se poderá dizer de outros (Helena Matos, José Manuel Fernandes, Manuela Moura Guedes, Pedro Lomba, Paulo Tunhas, Vasco Graça Moura, Eduardo Cintra Torres e mais alguns, só para falar dos que tem acesso à comunicação social) que fazem parte do rol dos alvos do pequeno grupo de gente amoral e disposta a tudo, entre os aprendizes de feiticeiros profissionais de agência, passando pela variante actual do sectarismo “intelectual” tribal, aos admiradores dos “canalizadores” do Watergate, que se movem nas “informações”. Gente obcecada pelo poder e perigosa, mas que, estando as coisas como estão, irá fazer carreira na profissão. A rotina é facilmente identificável, até porque já se tornou rotina. Desde o primeiro momento em que alguém se pronuncia de forma clara sobre José Sócrates e sobre o seu governo, sem tibiezas e falando sem medo das suas fragilidades, para usar um eufemismo, fica marcado. Os de falas mornas, esses até fazem jeito para dar a entender que se é tolerante com a oposição. Mas os que tocam nos pontos que mais doem, o carácter e idoneidade do Primeiro-ministro, a sua relação com a verdade, os múltiplos sarilhos em que o seu nome aparece quase automaticamente, a competência governamental, as suas intromissões na comunicação social, etc., etc. são imediatamente alvo de uma campanha pessoal de descrédito que atinge a sua honorabilidade, o seu carácter, a sua competência, chegando por fim à sua sanidade mental. Esta da sanidade mental, o “argumento” de Brejnev para “internar” os dissidentes, é por si só um retrato do carácter anti-democrático destas operações que visam simbólicamente eliminar os adversários acusando-os de senilidade (Cavaco está “cheché” já o vi escrito) e Crespo devia “ir para o manicómio”. A Internet é hoje o mecanismo privilegiado dessa campanha porque permite que ela seja feita de forma anónima, sem a responsabilidade de uma face, e multiplicando vagas de textos e comentários em blogues. Alguns “intelectuais orgânicos” ligados ao círculo de Sócrates e do seu gabinete, dão algumas caras na Internet e nos jornais a esta campanha, mas com o mesmo estilo de insulto e calúnia e numa perfeita continuidade de forma e substância. Mas é no anonimato e na escuridão que prospera este musgo. (url) 4.2.10
EARLY MORNING BLOGS
1731 - Da Lâmpada Da lâmpada nocturna A chama estremece E o quarto alto ondeia. Os deuses concedem Aos seus calmos crentes Que nunca lhes trema A chama da vida Perturbando o aspecto Do que está em roda, Mas firme e esguiada Como preciosa E antiga pedra, Guarde a sua calma Beleza contínua. (Ricardo Reis) (url) 3.2.10
ÍNDICE DO SITUACIONISMO (114): O ATAQUE ÀS AGÊNCIAS DE RATING A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração. E, nalguns casos, de respiração assistida. O nosso situacionismo agora ataca as agências de rating perguntando que credibilidade têm para criticar o nosso excelso governo e o seu virtuoso défice, quando falharam as previsões pré-crise. Só que há um pequeno pormenor: as agências de rating falharam nas notas positivas mas não falharam nas negativas. (url) Como as coisas se fazem. Obama. Discurso do "estado da união". Dois dias antes, foi antecipada uma das linhas de orientação do discurso. Ia haver freeze em certas despesas. Depois veio um fragmento populista. Iria haver freeze nos salários dos lugares cimeiros dos assessores. O costume. Depois veio, um dia antes, uma justificação: o Presidente não iria centrar o discurso no seu plano de saúde. Pudera. Muito provavelmente, o plano ficou encalhado depois da derrota dos democratas em Massachusetts, que o fez perder a maioria qualificada no Senado. E há críticas generalizadas à "obsessão" com o plano de saúde, em vez de prestar atenção à economia. It"s the economy, stupid. Sombras. Sentimento geral de insatisfação com Obama, Obama comparado a Carter na indecisão. Quebra nas sondagens. Nem tudo isto aconteceu como foi pré-noticiado. O papel das antecipações e das fugas controladas para a imprensa é controlar o pré-discurso com o que se pretende. Sem muito ruído. Moldar expectativas, criar desatenções. Tudo muito professional. Obama e o seu dream team. Há o antes, o durante e o depois. O antes e o depois é dos profissionais, dos spin doctors. O meio é de Obama. A sala mais nobre do Capitólio está cheia. Senadores, congressistas, os juízes do Supremo vestidos a rigor, militares em farda de gala, o "Governo". Nas galerias, de pé, convidados, embaixadores, enchem a parte mais distante, parte da moldura. Michelle Obama e a senhora Biden nos seus papéis de "primeiras damas". Os convidados chegaram aqui após sucessivas verificações de segurança, uma, duas, três, quatro, emblemas, cartões plastificados, mais do que um, raios X, detectores de metais, cães para cheirar explosivos. Aqui é a sério. Lá em baixo, à inglesa, dois "mordomos", anunciam o Presidente à Presidente: Madame speaker the President of the USA. Mas a pompa termina aqui. Palmas de todos e gritos. Obama entra, beijando algumas congressistas, já numa confusão mais democrática, mais americana. Como num congresso partidário. As televisões não perdem um sorriso, um beijo, em esgar. A Fox tem como comentadora Sarah Palin, falando da sua cidadezinha no Alasca. Prevê-se o pior. O Twitter ferve de mensagens, monitorizado pela CNN, estado a estado. O Presidente cumprimenta a pequena multidão. Palmas. Finalmente chega ao púlpito onde estão os presidentes do Senado (o seu vice-presidente Biden) e do Congresso, Nancy Pelosi. Durante toda a sessão, Biden vai acenar com gravidade e Pelosi levantar-se entusiasmada com palmas e um sorriso de uma ponta a outra. No meio, Obama. Começa. Já se sabe que o discurso vai durar mais de uma hora. Durou 71 minutos. O primeiro state of the union foi o de Washington e durou meia dúzia de minutos. E começa o espectáculo. Obama faz aquilo que faz melhor. Ninguém diria que há teleponto. Este eterno jovem negro, quase branco sem parecer mulato, transpirando força e determinação, movendo-se como um actor profissional para a esquerda e a direita, fazendo as pausas certas, como um actor daqueles filmes patrióticos que os americanos fazem melhor do que ninguém. Como Henry Fonda. Também, como de costume, o discurso é excelente, populista, intimista, "de proximidade". Não há um único tema que não levante (o que não quer dizer que não haja assuntos que não omita, como Guantánamo). Mas a estrutura do discurso é confusa e o excesso de "eus" prejudica o tom presidencial. Pouco importa: é boa televisão. Começa por elogiar o povo americano e a sua great decency. Nenhum europeu nomearia esta virtude. Logo a seguir, fala pela primeira vez em esperança. À cabeça, um dos seus slogans. E vai para a economia, enunciando o inimigo que vai estar por detrás de todo o discurso: a banca. Começa pela justificação dos apoios à banca. Everybody hate the bank bailout, mas foi preciso para salvar a economia. O secretário do Tesouro, que foi "grelhado" no mesmo dia no Congresso por democratas e republicanos, sorri com o apoio presidencial. Mas logo a seguir vem o pagamento: fee on the biggest banks. Impostos para a banca. Palmas. Depois, vem o incontrolável desemprego. Obama elogia os seus planos, os cortes de impostos, e manda uma "boca" aos republicanos. "Sabia que isto vocês iam gostar." Palmas democratas. Pelosi salta do lugar a bater palmas. Defesa do Recovery Act, conhecido como "Stimulus Bill", o grande plano de investimentos para gerar emprego que gastou milhões e dá escassos resultados. A comunicação social passou a semana a mostrar os absurdos financiamentos (três empregos a estudar as hormonas no namoro...) e a falência do "estímulo". Gelados os republicanos. E há mais do mesmo: new job bill. Empréstimos para pequenas empresas. Auto-estradas. Energias limpas. Cortes de impostos para empresas que empreguem americanos. Ajuda às exportações. Educação. E... o plano para a saúde. "Se alguém souber melhor, diga-me." E depois: se isto não funciona como devia, a culpa não é minha. A culpa é de "Washington", ou seja, dos presentes naquela casa, congressistas e senadores. Populismo quanto baste, irónico, agressivo, duro, ameaçando com o veto, exigindo ter as leis "em cima da mesa amanhã". Um comentador perguntava depois: "Ele falou sete vezes em "Washington" como fonte do mal, mas ele não é "Washington", com as suas maiorias no Senado e no Congresso?" É, mas faz de conta que não é. Na verdade, alguns democratas começam a sugerir mudanças na Constituição para reforçar os poderes presidenciais face ao Congresso e ao Senado. Caminho perigoso. No défice, volta ao BOB, blame on Bush. "Quando eu entrei por aquela porta, já se devia triliões, e eu acrescentei um, para salvar a economia de uma depressão." "Mas agora vou congelar os gastos do Governo nos próximos três anos, menos na saúde e na segurança." Mas só começa para o ano. Risos dos republicanos. Obama desdenha-os. E mais impostos para os ricos. E volta ao populismo, sempre metido no meio dos temas como uma espécie de lubrificante, para levantar as almas dos americanos. Os culpados, os de "Washington", batem palmas masoquistas. Sim, diz Obama, há uma crise de confiança nos políticos, nos partidos. Mas ele está lá, acima dessas politiquices. "Eles" estão permanentemente em campanha eleitoral. Ele não. Contra os lóbis, cujos representantes diz recusar nomear para lugares na administração. A Fox, logo a seguir ao discurso, divulga uma lista de lobistas nomeados por Obama. Critica o obstrucionismo dos republicanos: "só sabem dizer que não". Critica o cinismo da imprensa, dos comentadores. E, numa iniciativa inédita, critica o Supremo Tribunal, porque este considerou inconstitucional haver limites aos apoios de empresas aos candidatos. Espanto dos juízes, um deles diz que não com a cabeça. Um Presidente a atacar o judiciary branch num discurso do "estado da união" nunca tinha acontecido. Populismo oblige. Por fim, entra o resto do mundo no discurso, mas muito de passagem. Iraque, Afeganistão, Irão, Coreia, Haiti, nada de novo. O Presidente quer boas relações com os russos. Dizem os cínicos que ele precisa de algum resultado na política externa e os russos podem dar-lho. E política externa é militares, forças armadas. Apoios aos veteranos, elogios à mulher pelo apoio às famílias dos militares. Palmas. Michelle Obama manda sentar, parar as palmas. Obama diz "ela fica embaraçada". Mais palmas. Depois, de repente, os gays nas forças armadas vão deixar de ser perguntados e discriminados pelas suas preferências sexuais: don"t ask, don"t tell. Final emotivo, evangélico, intimista. A carta daquela criança que "me" pergunta pelo emprego dos pais. Aquele rapaz que "me" mandou a mesada para ajudar o Haiti. Também eu errei, erramos, não fizemos tudo bem. Mas eu não desisto, eu sou determinado, eu tenho os valores do povo americano, outra vez a "decência". God bless the United States. Após dezenas de interrupções por palmas, a retirada em glória. Beijos, autógrafos. E depois a penosa saída dos convidados do edifício engarrafado. Nas televisões, os republicanos encenam um novo tipo de resposta: o governador do estado de Virgínia faz um contra-discurso na sala de sessões do seu "Capitólio", em Richmond, por onde vagueia a alma de Jefferson. Também ele trouxe assistência, a família, uma irmã que "serviu" nas forças armadas, generais, povo. Outro jovem enérgico, ascendente na selva republicana, bom falador, branco, nascido na Alemanha numa base militar, jogador de futebol americano, advogado. Mas não chega aos pés de Obama. Muito ideológico, muito clean para ser tão eficazmente populista, demasiado consensual. God bless the United States. Bem precisam, e nós também precisamos. (Versão do Público de 30 de Janeiro de 2009.) (url) (url) I've tried the new moon tilted in the air Above a hazy tree-and-farmhouse cluster As you might try a jewel in your hair. I've tried it fine with little breadth of luster, Alone, or in one ornament combining With one first-water start almost shining. I put it shining anywhere I please. By walking slowly on some evening later, I've pulled it from a crate of crooked trees, And brought it over glossy water, greater, And dropped it in, and seen the image wallow, The color run, all sorts of wonder follow. (Robert Frost) (url) 2.2.10
O PS passou a campanha eleitoral nos sítios onde estavam previstas as autoestradas, que esta semana o Ministro das Obras Públicas adiou para as calendas gregas, a atacar o PSD “porque queria acabar com elas”. Em muitos locais (Santarém por exemplo) foi um motivo central da campanha, que Jorge Lacão enunciava sempre que falava, com imensa indignação, a pretexto dos prejuízos imensos que a sua suspensão iria causar às populações. Ora, das duas uma, ou o PS já sabia que os custos dessas autoestradas eram incomportáveis (como o PSD dizia) e estava a mentir ao eleitorado; ou o PS escondia o descalabro das contas públicas e estava a mentir sobre o estado das finanças. Eu disse das duas uma, mas é só uma: uma política de pura mentira, todos os dias, sem descanso e que só sobrevive porque existe uma espécie de anestesia colectiva para o que contribui a escassez de memória colectiva, mesmo a curto prazo (foi há quatro meses só). (url) (url) "Those who profess to favor freedom and yet depreciate agitation, are people who want crops without ploughing the ground; they want rain without thunder and lightning; they want the ocean without the roar of its many waters. The struggle may be a moral one, or it may be a physical one, or it may be both. But it must be a struggle. Power concedes nothing without a demand; it never has and it never will." (Frederick Douglass) (url) "Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”)." (Mário Crespo) "Hoje, existe uma frente da calúnia vinda dos amigos de Sócrates na comunicação social e nos blogues. Alguém duvida do Nosso Sol da Terra e dos seus feitos económicos, sociais e culturais? Leva logo com uma chuva de insultos destinada a colocá-lo na ordem. No meio desses insultos, um tema tem vindo a ganhar proeminência: aqueles que atacam Sócrates têm que estar loucos, têm que ir ao médico, ao psiquiatra, estão senis, coloquem-lhes uma camisa de varas já. (...) De facto, como é que não se pode deixar de reverenciar, admirar, louvar, esse Primeiro-ministro genial, o melhor desde o 25 de Abril, que nos leva no caminho do progresso e do radiante porvir? Só por doença mental." (url) 1.2.10
ÍNDICE DO SITUACIONISMO (113): QUANDO CONVÉM HÁ GOVERNO, QUANDO NÃO CONVÉM HÁ SÓ "POLÍTICOS" A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração. E, nalguns casos, de respiração assistida. Será que ninguém repara que no espantoso debate do Prós e Contras falta essa pequenina coisa que é o Governo? Acaso não somos governados pelo mesmo Primeiro-ministro de há cinco anos para cá? Acaso não há Governo a que se possam pedir responsabilidades próprias, certamente diferentes das que se pedem aos "políticos" em geral? Pelos vistos, quando não convém, o Governo dissolve-se por detrás de uma categoria vaga e genérica, onde todos levam pancada seja qual for o seu grau de responsabilidades. Cómodo, não é? Quando alguma coisa corre bem, o sujeito-Governo aparece em glória; quando corre mal, o objecto-Governo desaparece para trás de um biombo. Sabem-na toda, sabem, sabem. (url) Eu fiz campanha, como se sabe, e várias vezes afirmei publicamente no seu decorrer que não tinha muitas dúvidas que o PS estava a gastar muito mais do que o que tinha anunciado. A riqueza socialista era patente por todo o lado e, quer nas legislativas, quer nas autárquicas, percebia-se que os recursos não faltavam. Agora que se conhecem os números, mesmo admitindo que eles possam ser apenas indicativos, dado que as campanhas são sempre mais caras do que os valores que os partidos apresentam, sabe-se que o PS gastou 5.467.000 euros face aos 2.945.000 euros do PSD. Haverá sempre quem diga que o PS fez bem porque isso contribuiu para a vitória socialista e que o PSD, que gastou menos do que previa, fez mal, porque isso favoreceu um mau resultado. É o argumento da eficácia, mas na verdade, ainda me lembro de quem rasgava as vestes queixando-se das elevadíssimas despesas das campanhas em período de crise económica e dificuldades para os portugueses. O facto é que, na verdade, pode-se gastar muito dinheiro, acima do anunciado, sem sanção. Basta ganhar e basta ser o PS. Mas há um aspecto interessante nos gastos do PS: é que a parte da campanha em que houve mais descontrolo dos custos, três vezes mais, foi a que envolveu as agências de comunicação e o marketing. Aqui está uma das chaves da actuação socialista, típica do “socratismo” e que provavelmente, para quem tem uma concepção utilitária da política e para quem vale tudo desde que haja resultados, mereceu cada euro gasto. De facto, que preço não valeu a “operação Diário de Notícias”, a publicação do e-mail do Público, comprometedor do Presidente, naquele dia e daquela forma, a uma semana de eleições? (url) (url) (NOT SO) EARLY MORNING BLOGS
1728 - Cadmus and Harmonia Far, far from here, The Adriatic breaks in a warm bay Among the green Illyrian hills; and there The sunshine in the happy glens is fair, And by the sea, and in the brakes. The grass is cool, the sea-side air Buoyant and fresh, the mountain flowers More virginal and sweet than ours. And there, they say, two bright and aged snakes, Who once were Cadmus and Harmonia, Bask in the glens or on the warm sea-shore, In breathless quiet, after all their ills; Nor do they see their country, nor the place Where the Sphinx lived among the frowning hills, Nor the unhappy palace of their race, Nor Thebes, nor the Ismenus, any more. There those two live, far in the Illyrian brakes! They had stay'd long enough to see, In Thebes, the billow of calamity Over their own dear children roll'd, Curse upon curse, pang upon pang, For years, they sitting helpless in their home, A grey old man and woman; yet of old The Gods had to their marriage come, And at the banquet all the Muses sang. Therefore they did not end their days In sight of blood, but were rapt, far away, To where the west-wind plays, And murmurs of the Adriatic come To those untrodden mountain-lawns; and there Placed safely in changed forms, the pair Wholly forgot their first sad life, and home, And all that Theban woe, and stray For ever through the glens, placid and dumb. (Matthew Arnold ) (url)
© José Pacheco Pereira
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