ABRUPTO

27.6.09

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COISAS DA SÁBADO:
OS DEFEITOS DAS JOTAS EMIGRARAM PARA OS BLOGUES




Não sei se isto se pode dizer como se dizia do “socialismo real”: o “real” é muito mau, mas o socialismo é bom. Ou seja, os blogues são uma boa coisa, a blogosfera (política) está muito má. Má, intriguista, mesquinha, superficial, amiguista e revanchista, muito longe do país, que desconhece, muito longe da vida, que não vive, dominada por preocupações de carreira e sucesso, cheia dos vícios que tinha e tem o jornalismo, mais os das jotas. As excepções confirmam a regra, as vozes sensatas e limpas, sejam lá de que posição forem, de direita ou de esquerda, socialistas ou social-democratas, comunistas ou bloquistas, são cada vez menos, num ambiente dominado pela intriga e pela intriga intra-partidária. Hoje fazem-se blogues destinados a “colocar” pessoas sob a atenção dos partidos, e para “gerir carreiras” em base tribal, uma especialidade das jotas que antes era feita de forma mais rudimentar. Numa frase: os vícios das redacções e das jotas partidárias emigraram para os blogues políticos com imenso furor...

... e com grande complementaridade. Que aliás já há muito tinham, num contínuo entre políticos “a fazerem-se” no tradeoff mediático e jornalistas no jogo da promoção de grupos de amigos dentro e fora das redacções. A isso há que somar o crescente papel que agências de comunicação e de marketing têm na blogosfera e nas suas duas ramificações mais na moda, o Twitter e o Facebook, fazendo “propaganda viral”, fazendo circular boatos e “interpretações”, sugerindo escritas e incentivando amizades e ódios. Nada disto é novo, existia em qualquer café de província, incluindo em Lisboa. A diferença é que muita gente é iludida pela novidade tecnológica do meio e esquece-se de que, na Rede, se se mete lixo, sai lixo.

Ah! e convém não esquecer o trabalho dedicado e profissional de assessores governamentais que criam falsos blogues para disseminarem “análises”, boatos, informações escolhidas a dedo, dotados de arquivos e meios a que nenhum particular tem rápido acesso, como nenhum particular tem tempo para esse trabalho, 24 horas sem parar. E espero, espero mesmo, que não haja gente dos serviços de informação também nos combates blogosféricos, nas caixas de comentários, em blogues, usando todos os recursos e potencialidades da desinformação.

Isto pode parecer conspirativo, mas não é. Há muitos idiotas úteis nos blogues mas alguma gente sabe que é assim e que o segredo é a alma do negócio, porque, em muitos casos, é negócio mesmo. Mas o Muito Mentiroso, o primeiro blogue que fazia parte de uma operação de desinformação a pretexto do caso Casa Pia, deixou escola. E quem denuncia este “estado” da blogosfera política com clareza, ou seja, faz o exercício crítico que a blogosfera prometia nos seus inícios, é atacado por todos os lados. Se houvesse uma campainha como a que matava o Mandarim na longínqua China, haveria listas de espera para tilintar a sineta invisível. É sempre assim quando, mais do que uma selva de opiniões abertas, começa a existir uma selva de interesses disfarçados.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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COISAS DA SÁBADO: O QUE É QUE VERDADEIRAMENTE FAZEM AS AGÊNCIAS DE COMUNICAÇÃO?

Esta é uma reprodução de um vídeo da agência LPM (podia ser de outra, mas esta é apesar de tudo mais “transparente”). Eu realmente gostava de saber que papel tem a agência nestas setinhas para cima (e noutros artigos de jornais que aparecem no vídeo). Eu sei a resposta politicamente correcta: a agência tratou tão bem da “imagem” destes cavalheiros, que eles foram premiados por jornalistas independentes com a setinha para cima, única e exclusivamente pelo seu mérito. Mas, deve ser por eu pensar que o Diabo está sempre nos detalhes, que gostaria de saber como é que se chega aqui. Ou, dito de outra maneira, fazendo a pergunta doutro modo: qual o grau de consciência que o jornalista que deu as setinhas tinha de que a “imagem” que premeia foi manipulada profissionalmente e pode não corresponder a uma avaliação puramente jornalística dos seus méritos? E a pergunta como se vê, ainda é muito inocente, há versões mais hard. Mas que gostava muito de ser esclarecido, lá isso gostava. Esclarecido e não “imageticamente” esclarecido.

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EARLY MORNING BLOGS

1587 - Will Consider Situation

There here are words of radical advice for a young man looking for a job;
Young man, be a snob.
Yes, if you are in search of arguments against starting at the bottom,
Why I've gottem.
Let the personnel managers differ;
It,s obvious that you will get on faster at the top than at the bottom because
there are more people at the bottom than at the top so naturally the competition
at the bottom is stiffer.
If you need any further proof that my theory works
Well, nobody can deny that presidents get paid more than vice-presidents and
vice-presidents get paid more than clerks.
Stop looking at me quizzically;
I want to add that you will never achieve fortune in a job that makes you
uncomfortable physically.
When anybody tells you that hard jobs are better for you than soft jobs be sure
to repeat this text to them,
Postmen tramp around all day through rain and snow just to deliver other
people's in cozy air-conditioned offices checks to them.
You don't need to interpret tea leaves stuck in a cup
To understand that people who work sitting down get paid more than people who
work standing up.
Another thing about having a comfortable job is you not only accommodate more
treasure;
You get more leisure.
So that when you find you have worked so comfortably that your waistline is a
menace,
You correct it with golf or tennis.
Whereas is in an uncomfortable job like piano-moving or stevedoring you
indulge,
You have no time to exercise, you just continue to bulge.
To sum it up, young man, there is every reason to refuse a job that will make
heavy demands on you corporally or manually,
And the only intelligent way to start your career is to accept a sitting
position paying at least twenty-five thousand dollars annually.

(Ogden Nash)

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26.6.09

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COISAS DA SÁBADO: O SENHOR VALDEMAR E O GOVERNO MORIBUNDO

O estado do governo faz-me lembrar uma história sinistra de Edgar Allan Poe, o estranho “caso do senhor Valdemar”, o homem hipnotizado quando morria e que ficou assim uns tempos - morto, mas “mesmerizado”. É como está o nosso governo do engenheiro José Sócrates.

Já escrevi várias vezes que, de há algum tempo para cá, não havia verdadeiro governo em Portugal. As pessoas podiam não o perceber, mas os ministros tinham emigrado para a Terra de Oz onde se dedicavam à propaganda, uma forma moderna de magia. A crise de fora acelerou esta fuga dos gabinetes para as sessões de inaugurações (poucas, muito poucas), de realizações das empresas (algumas) e para as de promessas (muitas). Mas hoje trata-se de ir mais longe e verificar que já não é o estado de ausência que impera no governo, é a morte acelerada dos seus ministros.

O ministro Mário Lino, honra lhe seja feita, mostrou pela primeira vez que está farto que lhe digam para “andar com as coisas” e depois para “parar com as coisas”. Numa entrevista disse que já estava “velho demais” para estar no governo, um desabafo fácil de traduzir em mais vernáculo por um “estou farto de ser usado”, “estou farto de ser enganado”. Pois, deve estar.
Nas escolas também está tudo bloqueado. Prosseguem as burocracias da avaliação, mas não prossegue a avaliação, Nem podia ser de outro modo. Depois de o Primeiro-ministro admitir que um dos seus raríssimos erros foi na avaliação dos professores, já não há autoridade para fazer coisa nenhuma. Está tudo à espera que Godot não apareça.

A bizarra afirmação sobre a falta de apoio à cultura, também mostra que o Ministério e o ministro estão mortos, o que já não é de agora, só que o Primeiro-ministro veio explicar a causa da morte. Não importa que não seja assim, mas o diagnóstico não deixa margem para dúvidas. Outro que jaz morto.

E por aí diante, o governo parece-se cada vez mais com o senhor Valdemar da história de Edgar Allan Poe. Acabou o efeito do hipnotismo, avança a cadaverina e a putrescina, coisas pouco amáveis. Como diz o tenebroso autor: “upon the bed, before the whole company, there lay a nearly liquid mass of loathsome—of detestable putrescence.”

*

Se não me engano, assistimos ontem, ao vivo e a cores, à quebra do transe hipnótico e a subsequente decomposição acelerada do Ministro da Agricultura que desmentia calmamente a versão do Primeiro Ministro (muito provavelmente por estar fora do circuito há muito tempo) acerca do senhor que foi constituído arguido no caso Freeport. Seria de esperar que, pelo menos, combinassem primeiro as histórias. Só é pena que, num país onde a comunicação social foi obliterada pela morte do Michael Jackson, este episódio grotesco já esteja esquecido.

(João Soares)

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24.6.09

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: AQUELE QUE HOJE NÃO PASSARIA EM NENHUM CRITÉRIO MEDIÁTICO



















Martin Gilbert, Continue To Pester, Nag And Bite: Churchill's War Leadership, Pimlico, 2005.

(Em breve.)

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (103): OS ABCESSOS DE FIXAÇÃO


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

O actual abcesso de fixação com o PSD é a falta ou o atraso de programa eleitoral. Este abcesso de fixação é uma variante dos anteriores abcessos e é, como eles, puramente artificial (o "bloco central") ou mimético (a falta ou atraso do candidato às eleições europeias). Os trabalhadores da fixação, os que garantem vida ao abcesso, são exactamente os mesmos dos abcessos anteriores. Exactamente os mesmos. Como é um abcesso de fixação que tem a ver com tempo, que é por sua própria natureza subjectivo (ou, traduzindo este "subjectivo", depende de uma estratégia do tempo em que não há um critério objectivo para definir qual o "tempo certo"), não conhece outra validação que não seja a da pura opinião, matéria que está depois e não antes no jornalismo informativo. Na verdade, como de costume, o "problema" não é equitativamente distribuído: onde é que está o programa eleitoral do PS?

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1586 - Reflection On A Wicked World

Purity
Is obscurity.

(Ogden Nash)

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23.6.09




"O homem que mata a mosca" na Sábado em linha.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (101):
A CRITERIOSA ESCOLHA DAS PALAVRAS PARA MANIPULAR A OPINIÃO



A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Esta é comigo, mas como é exemplar de como as coisas se fazem e de como se processa a manipulação, fica aqui registada. Em nenhum sítio e em nenhuma circunstância (quer no Público, quer na Quadratura do Círculo), usei a palavra "limpeza", como se poderia implicar pela existência de aspas numa palavra que nunca disse ("limpeza"). A única coisa que eu disse foi esta, ipsis verbis,:

O que Manuela Ferreira Leite hoje precisa para competir de forma mais perfeita com o PS é restituir a honra governativa perdida do PSD, um partido que deu ao país governos como os da AD e os de Cavaco Silva, mas que para muitos portugueses tem essa reputação manchada. Para isso, precisa da maior liberdade, porque tem autoridade política que veio de fora, do voto, e precisa de a usar rapidamente nas opções mais difíceis, antes que o tempo exerça a sua usura. Precisa de escolher listas de deputados qualificadas, constituindo equipas com gente velha e nova, mas que seja reconhecida pelo país, pelos grupos profissionais, pelas elites e pelo homem comum, pelos que precisam de melhor política, como dedicados, capazes, impolutos e estando ali pelo interesse público.

O Diário de Notícias e alguns blogues dos seus jornalistas, desde que apareceu esta frase, a única que eu disse, traduziram-na por "limpeza" e nalguns casos "purga" e "purga estalinista". Podia ser "renovação", mas como é comigo é sempre "purga", podia ser apenas a admissão de algo que toda a gente anda a dizer e a pedir há muito, mas comigo é sempre "limpeza". A manipulação está aqui, as palavras são ad hominem.

E esta manipulação não é de agora, começou mal eu disse a frase. Já na entrevista a Paulo Rangel, trataram igualmente de amplificar essa interpretação, levando alguém a responder não ao que eu disse, mas ao que o jornalista disse que eu disse, outro truque manipulatório cada vez mais frequente. Rangel foi perguntado nestes termos e com insistência:

E esta vitória deve levar Manuela Ferreira Leite a preparar as próximas eleições numa perspectiva de inclusão? Já ouvimos Pacheco Pereira dizer que é altura de limpar o partido, para garantir que esta forma de fazer política é a vencedora, portanto, que há aí algum mérito também nisso. Por onde é que deve ir a direcção do PSD? (..) A limpeza que propõe Pacheco Pereira implica uma exclusão de pessoas que estão no PSD.

Será que o Diário de Notícias se importa de me citar para eu saber quando é que disse isto: ("Já ouvimos Pacheco Pereira dizer que é altura de limpar o partido, para garantir que esta forma de fazer política é a vencedora") ou falei de "limpeza"? Claro que se importa, porque nada disto existe. É assim que se fazem as coisas.

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CREDO 4



Falsehood flies and the truth comes limping after; so that when men come to be undeceived it is too late: the jest is over and the tale has had its effect.

(Swift)

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EARLY MORNING BLOGS

1585 - Lines Indited With All The Depravity Of Poverty

One way to be very happy is to be very rich
For then you can buy orchids by the quire and bacon by the flitch.
And yet at the same time People don't mind if you only tip them a dime,
Because it's very funny
But somehow if you're rich enough you can get away with spending
water like money
While if you're not rich you can spend in one evening your salary for
the year
And everybody will just stand around and jeer.
If you are rich you don't have to think twice about buying a judge or a
horse,
Or a lower instead of an upper, or a new suit, or a divorce,
And you never have to say When,
And you can sleep every morning until nine or ten,
All of which
Explains why I should like very, very much to be very, very rich.

(Ogden Nash)

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22.6.09


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
O CONSELHO EUROPEU E AS MATÉRIAS QUE "PREOCUPAM O POVO IRLANDÊS"




O Conselho Europeu reuniu-se há alguns dias. Entre as decisões tomadas, os Chefes de Estado e de Governo reunidos no Conselho Europeu adotaram uma decisão que é suposta dar garantias sobre matérias que "preocupam o povo irlandês" e abrir caminho a um novo referendo do tratado de Lisboa. Essas matérias dizem respeito ao direito à vida, família e educação, à tributação, e à segurança e defesa. Até aqui parece-me bem, independentemente do que cada um de nós pensa do dito tratado.

Mas, nas suas conclusões, o Conselho afirmou que a dita decisão não era somente uma declaração política, mas que era "juridicamente vinculativa". E eu pergunto uma pergunta que até agora não vi, nem ouvi nenhum comentador, professor de Direito ou jornalista perguntar. Qual é a base legal dessa decisão "juridicamente vinculativa"? É que a decisão propriamente dita não o indica. De fato, tal base legal não existe. Ou seja a decisão é efetivamente juridicamente inexistente face o direito europeu em vigor, inexistente face aos direito nacionais e logo inconstitucional.

Não discuto o conteúdo da dita decisão; não é esse o ponto. Se fosse uma simples declaração política, nada eu teria a acrescentar. O problema é a afirmação que a decisão é "juridicamente vinculativa."

E o Conselho Europeu sabe bem que a sua decisão que se afirma "juridicamente vinculativa" não o é. Por isso se comprometeram (mas este compromisso é puramente político e não "juridicamente vinculativo") a que no momento da conclusão do próximo Tratado de Adesão, as disposições da dita decisão sejam incluídas num Protocolo a anexar ao Tratado da União Europeia e ao Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia. Ora, se a dita decisão é "juridicamente vinculativa" porque precisa ela de vir a ser incluída num protocolo a anexar aos tratados no futuro? Ou seja, a dita declaração não carece de nova ratificação, dizem eles; mas virá a ser ratificada disfarçadamente quando se discutir a adesão da Croácia ou da Islândia.

Mesmo a um europeísta e federalista como eu, isto cheira a esturro.

(Pedro Ferreira)

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (101): VOLTARAM OS MOMENTOS CHÁVEZ...


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.


... às televisões. Na RTP como é costume, propaganda transmitida ipsis verbis, sem qualquer mediação jornalística. Nas outras (não vi) não deve ser muito melhor, embora com menos tempo. A coisa já vem formatada para passar nos ecrãs sem mediação. O jornalismo português acha normal passar comícios e propaganda todos os dias, ao sabor da programação feita pelos assessores e pelas agências de comunicação. Está bem, é o ar do tempo.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (100): SEMPRE QUE SE GANHA PERDE-SE


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Na semana em que a suspensão das grandes obras públicas se concretizou, como fora exigido por Manuela Ferreira Leite, antes das eleições, e Paulo Rangel na noite das eleições; na semana em que um manifesto de economistas independentes, do PS e do PSD, reproduz as preocupações que, há mais de um ano, Manuela Ferreira Leite expressou sobre os investimentos megalómanos que estavam a ser prometidos com o país endividado, o Expresso entende que Manuela Ferreira Leite deve ficar em baixo por isso mesmo. Em vez de premiar ou castigar o que acontecera na semana anterior baseado nos resultados, Manuela Ferreira Leite é castigada pelo "problema" que os resultados irão trazer no futuro. É um bocado como se Manuela Ferreira Leite tivesse ganho as eleições legislativas e tivesse a sua seta para baixo pelos "problemas" que vai ter como Primeiro-ministro. Mas, é assim que se fazem as coisas...

*

Outra do mesmo Expresso é esta apologia do novo porta-voz do PS, de que aqui coloco apenas a introdução, porque o resto do artigo é puramente apologético e bem podia ter sido feito por uma agência de imagem. Claro que o jornalista esqueceu-se daquilo que Filipe Nunes Vicente lembrou no Mar Salgado: este é o homem que entendia que escrituras públicas eram afinal privadas. É como se tudo isto fosse feito na base do conhecimento próximo e das opiniões de meia dúzia de pessoas do PS, que inclui jornalistas e ex-jornalistas, hoje assessores ligados a António Costa, sem nenhuma consulta a arquivo, sem qualquer memória seja lá do que for. Até a promoção "geracional", um mecanismo que tem escapado à análise, e que tem a ver com a competição política no interior dos partidos por carreiras e lugares, lá vem en passant. O resultado é que a personagem torna-se a "imagem" que se quer dele dar e não um agente político concreto, com actos e comportamentos já conhecidos.



*
Veja o que encontrei aqui neste blog e que o autor intitula "Pérolas da imprensa de referência" e que inclui a manipulação pelo jornal do título da entrevista de Menezes e outros exemplos, todos do mesmo dia:
Quem tem princípios passa fome...

Cinco pormenores de sábado. O jornal i entrevista Luís Filipe Menezes. Eis a capa.
Como vêem, o título é uma citação da entrevista: "Pacheco Pereira é a loira do PSD". O leitor abre o jornal e a tal citação é "ligeiramente" diferente... Ei-la. ("Pacheco Pereira é a loira do regime.")

Já o Diário de Notícias tinha como manchete um tema do caso Freeport: "Ex-presidente do ICN arguido por corrupção". E lia-se no texto (ainda na primeira página): "Ao DN, Carlos Guerra recusou a existência de qualquer tratamento especial à aprovação do outlet de Alcochete."

Fica-se com a ideia de que o DN é tão bom que traz a notícia e ainda declarações do visado. Vamos lá, então, comprar o jornal! Mas, afinal, vai-se a ler lá dentro (pág. 6) e as tais declarações de Carlos Guerra eram de... Janeiro. Têm seis meses.

Repare-se agora numa "notícia" do Expresso sobre o novo porta-voz do PS, João Tiago Silveira. Eis alguns dos termos da "noticia" escritos pelo próprio jornalista:
- "uma lufada de ar fresco"
- "tome nota deste nome, porque vai ouvir falar dele muitas vezes..."
- "brilhante aluno de Direito"
- "foi genericamente bem recebido pelas hostes socialistas"
- "Sócrates precisa de renovar, com qualidade..."

Eu não conheço pessoal ou profissionalmente João Tiago Silveira, mas, por defeito de profissão, fico sempre cá com uma pulga atrás da orelha com estas "notícias" tão simpáticas...

Ainda no Expresso, na pág. 6. Título: "É um disparate falar de AD nesta altura". Foto: Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas. Pós-título: "Líder do PSD proíbe conversas sobre coligações até às eleições. Portas também não garante estar interessado."

Vai-se a ler o texto e afinal a frase do título não é dita por Ferreira Leite ao Expresso. Afinal, Ferreira Leite "terá concordado com dirigentes do PSD para quem 'falar de AD nesta altura é um disparate'".

Chamo a atenção do "terá". É uma hipótese. Até pode ter dito, mas o jornal não diz que ela disse, até põe o verbo no condicional ("terá") e não identifica fontes para sustentar uma notícia, que, no fundo, é de pura análise política de bastidores feita pelos dois jornalistas que assinam.

Nada contra, se as fontes são boas. Não enganem é o leitor com uma frase no título que nem o jornal sabe se "terá" sido dita...

Ainda no Expresso na pág. 33. Jaime Nina, coordenador do Departamento de Doenças Infecciosas do Instituto Ricardo Jorge, fala ao jornal sobre a gripe suína: "A pandemia virá entre Outubro e Janeiro e DEVERÁ ATINGIR 10 a 25% da população.

Título do Expresso: "Infecção VAI ATINGIR até 25% dos portugueses"

Bom, isto são só cinco exemplos, de um dia apenas. Podia fazer um blog só com estas pérolas da imprensa de referência. E os outros é que são sensacionalistas e tablóides...
(Pedro M. Silveira)
*
Curiosa, essa sua referência à promoção “geracional”. Veio substanciar uma impressão que se me vinha ultimamente a acumular resultante de alguns factos avulsos que, se calhar, não são avulsos.

É o caso, por exemplo, da longa entrevista feita ontem pelo Público ao novo “coordenador do programa com Carnegie-Mellon”, um jovem brilhante de 36 anos, certamente cheio de entusiasmo e energia mas que, sobre o “espírito avançado” do que se faz “lá fora” em matéria de I&D afirma deslumbrado o que nós, mais velhos, já sabemos há muito e que nunca conseguimos entrosar com a nossa realidade nacional – e ele a manifestar o entusiasmo de quem nem sequer ainda se deu conta desse problema!...

É o caso semelhante, também, de outro jovem brilhante mais ou menos da mesma idade que começou a trabalhar comigo há 20 anos como bolseiro de investigação, ainda aluno de licenciatura, que foi depois comigo para a indústria nacional desenvolver uma linha de produtos pioneiros de alta tecnologia, mas que agora foi convidado para um alto cargo estatal de administração de subsídios (graças a boas ligações familiares) e que me atirou, ao ir, e com sobranceria, que “era tempo de os mais novos terem a sua oportunidade” porque “os mais velhos nunca tinham feito nada por este país”!...

E sabe que me lembra tudo isto? Deve ser por eu começar a ser um velho cheio de memórias, mas lembra-me a limpeza por Estaline de toda a velha guarda bolchevique delegada ao Congresso em que Kirov brilhara, e a sua substituição por “jovens operário e camponeses libertos de todos os vícios”…

Ou a mobilização da Guarda Vermelha por Mao para “limpar” Liu Shao Shi e os outros “degenerados revisionistas”.

Não por causa dos métodos assassinos, claro, mas pelo mesmo argumento de que os “jovens” vêem sem os vícios da velha guarda e de como essa ideia apenas esconde a busca do poder incontestado.

(José Luís Pinto de Sá)

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CREDO 3



Animula, vagula, blandula
Hospes comesque corporis!
Quae nunc abibis in loca,
Pallidula, frigida nudula
Nec ut soles dabis joca?

(Aelius Publius Hadrianus)

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CREDO 2



I will tell you what I will do and what I will not do. I will not serve that in which I no longer believe, whether it call itself my home, my fatherland, or my church: and I will try to express myself in some mode of life or art as freely as I can and as wholly as I can, using for my defence the only arms I allow myself to use — silence, exile and cunning.

( James Joyce)

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CREDO



At this point I reveal myself in my true colours, as a stick-in-the-mud. . . . I believe that order is better than chaos, creation better than destruction. I prefer gentleness to violence, forgiveness to vendetta. On the whole I think that knowledge is preferable to ignorance, and I am sure that human sympathy is more valuable than ideology. I believe that in spite of the recent triumphs of science, men haven’t changed much in the last two thousand years; and in consequence we must still try to learn from history. History is ourselves. I also hold one or two beliefs that are more difficult to put shortly. For example, I believe in courtesy, the ritual by which we avoid hurting other people’s feelings by satisfying our own egos. And I think we should remember that we are part of a great whole, which for convenience we call nature. All living things are our brothers and sisters. Above all, I believe in the God-given genius of certain individuals, and I value a society that makes their existence possible. . . .

(Kenneth Clark)

Aqui.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1584

Se às vezes traz a verdade
Algum dissabor consigo,
Aquele que das que digo
Não mostrar nunca vontade,
Tenha ao menos por prudência
Paciência.

(Paulino António Cabral, Abade de Jazente)

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21.6.09


ENTRE O "ANIMAL FEROZ" E MANSO CORDEIRO

O José Sócrates manso, humilde, penitente, da entrevista que deu à SIC, e que a jornalista permitiu com demasiada complacência, é um mau produto de marketing que não durará muito. É interessante até ver como uma série de fugas relatadas no Diário de Notícias, raras por serem da cozinha interior da política "socrática", foram imediatamente feitas para distanciar a agência de comunicação que trabalha com ele, a LPM, daquilo que foi atribuído a um trabalho amador dos seus assessores: fazer do "animal feroz" um manso cordeiro. Não sei se foi assim porque, dada a natureza profissional de todas estas fugas e contrafugas, não acredito numa só linha sobre a realidade do que relatam, embora me interesse o que pretendem sugerir. Eu sei que é sugestio falsi, mas tem interesse saber que fast food estão a pôr no meu prato mediático. Neste mundo de ficções, que é hoje a política-espectáculo, tem que se ter, como um centípede, 99 pés atrás e só um à frente, para balanço.

Seja como for, os conselheiros e a agência dir-lhe-ão em breve que a coisa não pega e é contraproducente, pelo que voltará de novo o "animal feroz" que é mais compatível com o inner self do actor que todos conhecemos como José Sócrates, actual primeiro-ministro de Portugal. Haverá retoques na forma de ferocidade do "animal", mas será por aí que a coisa vai ir, uma vez estabilizada uma estratégia de marketing, já que a anterior ruiu no dia das eleições para o Parlamento Europeu. Seja dito, de passagem, que entre os grandes perdedores dessa noite estão as agências de comunicação, aquelas que tratam os políticos como "marcas", e os políticos que assim se deixam reduzir a um produto de compra e venda.



Voltando a José Sócrates, a personagem interessa por duas razões. Uma, é que a bipolarização que existe de facto em Portugal não é entre o PS e o PSD, nem entre a esquerda e a direita, é a favor ou contra José Sócrates. A segunda razão é porque ele é, em muitos aspectos, um produto típico do tempo. Não é único - as mesmas incubadoras que o produziram, as "jotas" partidárias, agora complementadas pelas carreiras políticas de blogue, Facebook e Twitter (com uma enorme capacidade de reproduzirem na Rede os piores defeitos das políticas das "jotas"), estão a gerar outros produtos do mesmo tipo. Gente ambiciosa, muito ambiciosa, com pouca "virtude", com poucas leituras e muita televisão e computador, deslumbrada pelos gadgets, movendo-se com à-vontade entre jornalistas e empresários, sem "vida" nem biografia e pensando a política como pouco mais do que uma forma elaborada de marketing. Depois, como estamos em Portugal, o grosso do "trabalho" está na "gestão da carreira", em milhares de telefonemas, muita intriga e "imagem". Depois, há uns melhores do que outros e Sócrates, dentro da espécie, aprendeu melhor e com mais eficácia. E teve sorte, apareceu-lhe uma causa, a co-incineração, com todas as vantagens de lhe ter permitido a suprema ambição deste tipo de políticos: "ter protagonismo".

O caso da co-incineração foi fundamental na educação política do primeiro-ministro, penso até que o mais decisivo nessa educação. José Sócrates percebeu que fazer a ficção da autoridade, ser actor da autoridade, podia dividir e irritar, mas que o lado que estimava a exibição da força e da determinação era sempre muito maior do que o que o criticava pela obstinação. Trouxe essa lição para o início do seu Governo com sucesso e depois estragou tudo. Não porque não "dialogasse", mas sim porque deitou fora o menino e a água do banho, não percebeu que uma reforma precisa de aliados no interior de qualquer grupo profissional, mesmo que minoritários, e ele descambou no populismo fácil de colocar grupos profissionais uns contra os outros. Tornou-os, mesmo quando ainda não o eram, em corporações entrincheiradas e depois, quando percebeu os custos, recuou. Fez a ficção das reformas, mas não era, nem é, um verdadeiro reformista.



Medeiros Ferreira chamou-lhe "pagão" e, num certo sentido, tem razão porque estas personagens representam uma forma moderna de "paganismo". José Sócrates tem semelhanças com algumas personagens menores da antiguidade, que em certos períodos da história de Roma tiveram o seu papel: Sejano, por exemplo, ou alguns imperadores pretorianos. Se olharmos para Sejano, o meu primeiro exemplo, percebe-se melhor. O verdadeiro criador da Guarda Pretoriana como força política, o homem que governava Roma com brutalidade, enquanto Tibério se entretinha em Capri a nadar com os seus "golfinhos", acabou mal, mas mandou muito enquanto pôde. O "paganismo" era no fundo pouco mais do que crueldade, alguma capacidade de organização (uma qualidade rara em Portugal), uma falta completa de escrúpulos e um certo instinto de sobrevivência e intriga. Em Roma essa intriga permanente fazia-se com mulheres, filhos, família e veneno real, hoje faz-se com jornais, blogues e veneno virtual. Sejano também era na época uma espécie de "animal feroz", só que não havia assessores de marketing para o amansar e acabou executado mais a família às ordens de Tibério.



Há também algo de artificial no Sócrates "animal feroz", algo de construído pelo próprio, depois ampliado pela máquina de propaganda gigantesca que ninguém antes dele tinha criado à volta de um primeiro-ministro. A verdade é que este "animal feroz" mostrou-se muitas vezes bem menos "feroz" do que se pensa. Sempre que via os votos a voarem pela janela e a perspectiva de sarilhos a sério, a ferocidade diminuía exponencialmente. Foi o caso da defenestração do ministro da Saúde e da actuação do Governo face aos pescadores bloqueando as lotas e os camionistas bloqueando o país. Na verdade, mesmo o argumento de que Sócrates sempre apoiou a ministra da Educação, contra a luta dos professores, que assumiu uma dimensão de guerra total e que certamente lhe acabou por retirar muitos votos, não colhe. Sócrates convenceu-se, e bem, de que, enquanto contra o ministro da Saúde estava o "povo" e não os médicos, contra a ministra da Educação estavam os professores mas não o "povo". Por isso, afastou o primeiro e deu cobertura política à segunda. Só que não percebeu que no contexto de um crescendo de conflitualidade, que ia muito para além dos professores, a irritação acabou por funcionar num sistema de vasos comunicantes e, no voto, o "povo" acabou por aceitar que professores na rua era bom porque era "contra Sócrates". E contra Sócrates, valia tudo.

O que aconteceu, e torna qualquer governo de José Sócrates a mais instável das soluções políticas, é que foi à sua volta, ou da sua persona, ou da sua máscara, ou da sua personagem, que o país se polarizou. Mais de metade do país é contra Sócrates e uma parte mais pequena é a favor, mas ambas estão muito radicalizadas. Na verdade, a que é contra Sócrates está ainda mais radicalizada, porque na outra há uma confluência poderosa de fãs absolutos do primeiro-ministro, com a habitual conjugação de interesses à volta do poder, e beneficiam de uma maior homogeneidade do que os do lado do contra.

Ora é por ser exactamente assim que há "ingovernabilidade", não porque possam não existir condições institucionais para sustentar um governo. Elas são uma vantagem potencial para a governabilidade, mas estão longe de ser suficientes, em particular se uma parte importante dos portugueses votar pelo protesto (contra Sócrates) no Bloco ou no PCP ou no voto branco, ou se abstiver como atitude de negação. É por isso que poucas soluções governativas seriam mais instáveis e conflituosas que um novo governo PS com ou sem maioria absoluta. E é também por isso que, se não existirem condições de alternância governativa, a instabilidade gerada por um governo PS pode levar a um ciclo de sucessivas eleições legislativas, ao modo italiano.

Enquanto for Sócrates a dominar a cena, a vida política portuguesa permanecerá muito conflitual e instável, não serão possíveis reformas, nem as políticas consistentes e difíceis que a crise exige. E não há mansidão programada que resulte para amainar uma opinião pública que, pura e simplesmente, não só não acredita na personagem, como a sua mera presença a irrita e muito mais a irritará se lhe puserem à frente um híbrido de "manso-feroz".
Por isso, Sócrates está condenado à ferocidade, que representará sempre melhor porque é-lhe mais fácil puxar pelo ego nesse cenário do que numa humildade em que ele é um erro de casting. Só que o "animal feroz" parte cada vez mais o país em dois e é gerador de instabilidade por si só.

Vamos conhecer tempos interessantes, como na maldição chinesa.

(Versão do Público de 20 de Junho de 2009.)

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1583 - Tom Beatty

I was a lawyer like Harmon Whitney
Or Kinsey Keene or Garrison Standard,
For I tried the rights of property,
Although by lamp-light, for thirty years,
In that poker room in the opera house.
And I say to you that Life's a gambler
Head and shoulders above us all.
No mayor alive can close the house.
And if you lose, you can squeal as you will;
You'll not get back your money.
He makes the percentage hard to conquer;
He stacks the cards to catch your weakness
And not to meet your strength.
And he gives you seventy years to play:
For if you cannot win in seventy
You cannot win at all.
So, if you lose, get out of the room--
Get out of the room when your time is up.
It's mean to sit and fumble the cards
And curse your losses, leaden-eyed,
Whining to try and try.

(Edgar Lee Masters)

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