ABRUPTO

7.3.09

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro.




Cordão dos professores. (RM)



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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (62): O IMPÉRIO DA IRRELEVÂNCIA


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Não sei se é por ciclos, se agora é mesmo assim e estamos condenados a este Inferno do Nada, ou se é a mistura da nossa habitual mediocridade entre a incompetência e subserviência, ou uma doença qualquer que se apanha no ar. Eu, de vez em quando, ainda me surpreendo com a enorme capacidade para gerar este império crescente de irrelevância que nos assalta no debate público, nos órgãos de comunicação social. É um efeito da bloguização, sobre a qual já escrevi, mas vai mais longe do que isso.

Que a coisa tem a ver com o situacionismo tem, mas está para além dele, ou melhor, faz parte dele mas comunga num "espírito do tempo" mais geral. Quanto ao situacionismo puro, basta comparar nos últimos dias as aberturas de noticiários da RTP com a SIC e a TVI, e os longos períodos de longos minutos das notícias incidentais com que a RTP se entretém até aparecer alguma coisa a sério. O famoso jornalismo do serviço público, não aguenta hoje qualquer medida de comparação com a SIC e a TVI. Estas estão a falar dos problemas do país e está a RTP no acidente do dia, no futebol do dia, na trica dos árbitros do dia.

Parece haver uma quebra de equilíbrio, uma perda de noção, um relativismo absoluto do espectáculo quando uma troca de insultos no parlamento merece metade de uma capa do Público, uma espécie de quinze minutos de fama, e um editorial do Diário de Notícias. Tanto mais absurdo, quanto a sugestão de "interesses", parece sempre menos relevante do que a troca de palavras. O incidente é mais importante do que a substância. Está tudo trocado não está? Ou a sugestão de Candal é verdadeira e nesse caso investiga-se, ou é falsa e é mais grave do que o "vai para o c..." (sigo a imprensa) do, nesse caso, ofendido. O mesmo para a história de quem paga os aviões de Manuel Pinho, quando muito uma história do empurra burocrático entre serviços do Estado. Se Manuel Pinho usou indevidamente o avião, então é essa a notícia, e não o empurrar do pagamento, uma completa irrelevância que abriu noticiários na SICN. Isto são apenas dois exemplos, numa altura em que muito do noticiário político é pouco mais do que virtual, feito de intrigas em que políticos e jornalistas participam num contínuo, já tão afastado da realidade que nem ao longe esta se consegue ver com um telescópio.

Se a maioria dos portugueses soubesse efectivamente como são feitas as "notícias", não comprava um jornal, não via um noticiário, a não ser como entretenimento, ou como obra de ficção. Não é difícil fazer aqui uma longa lista da mistura de falsidades, irrelevâncias, virtualidades artificialmente preparadas, omissio veri, sugestio falsi, má fé, pequenas vinganças, puras burrices, que pululam hoje entre os blogues e os jornais. Pergunto-me muitas vezes se vale a pena o trabalho de as desmontar, e ainda vou respondendo que sim. Mas este permanente convívio com a má fé, a incompetência e muitas vezes a pura mesquinhez faz mal à saúde. Mas seja para "dar testemunho" como dizem os cristãos. Imaginem onde se chega...

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EARLY MORNING BLOGS

1502 - L'étranger

Qui aimes-tu le mieux, homme énigmatique, dis ? Ton père, ta mère, ta soeur ou ton frère ?
- Je n'ai ni père, ni mère, ni soeur, ni frère.
- Tes amis ?
- Vous vous servez là d'une parole dont le sens m'est restée jusqu'à ce jour inconnu.
- Ta patrie ?
- J'ignore sous quelle latitude elle est située.
- La beauté ?
- Je l'aimerais volontiers, déesse et immortelle.
- L'or ?
- Je le hais comme vous haïssez Dieu.
- Eh ! qu'aimes-tu donc, extraordinaire étranger ?
- J'aime les nuages. Les nuages qui passent... là-bas...là-bas les merveilleux nuages !

(Charles Baudelaire)

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6.3.09


COISAS DA SÁBADO: FORMAS DE INVOLUIR DARWINIANAS


Na Assembleia da República, a percepção vulgar é que é obrigação dos deputados estarem todo o dia presentes no hemiciclo, a fazerem de conta que estão muito interessados num qualquer debate. De vez em quando há um clamor populista sobre a sala vazia e os deputados que não trabalham. Embora seja verdade que muitos deputados não trabalham mesmo, o que é responsabilidade dos partidos que os escolhem mal, não é por não estarem o dia todo na sala das sessões. É que se estiverem aí dependurados, então é que não trabalham mesmo.

Mas agora há uma nova moda entre os eleitos da nação, que eles deveriam com cuidado evitar porque todas as coisas em que se revelam mais no seu “ser”, para usar uma linguagem fenomenológica, são um pouco penosas para o público em geral. Servem para o jornalismo que lhes é fraterno em mundivisão e intriga, mas vistas de fora, vistas do mundo normal, são pouco mais do que ridículas. Essa moda, que passa por ser “democrática” e “interactiva”, é estarem no parlamento a “blogar”, a “twitar” e a “mensajar”entre eles e o povo electrónico, enquanto decorrem os trabalhos.

A ideia de que esses mecanismos trazem uma nova “sociabilidade”, é inteiramente contestável, a não ser que se seja estudante do sétimo ano e se descobrir ao mesmo tempo e com todo o deslumbramento o mundo aditivo dos teenagers, drogas, sexo e rock and roll, que eu espero não seja a “sociabilidade” dos deputados da nação. Mas adultos? Adultos que representam a nação, a passarem o tempo a trocar trivialidades, bocas e picardias numa linguagem apenas um degrau acima dos SMS, gutural e primitiva, em 140 caracteres e que acham que isso é “sociabilidade”?

Espero bem que não enfileirem numa forma de falar, ou pior ainda de pensar, que tem a característica de fazer crescer o primata que há em nós. Nem sequer o primata, mas o anfíbio, o peixe ancestral que abre e fecha a boca num mar profundo. É que a julgar pelas amostras que vem a público, em muitos casos por inépcia ou irresponsabilidade dos seus autores, a grosseria e o insulto proliferam e nada mais. Nada mais. E essas sim fazem-me duvidar sobre o que é que os senhores deputados estão a fazer numa sessão parlamentar, se estão sentados a escrever SMS, e a “twitar”, como agora se diz. Aí de facto, eu sinto o meu dinheiro como contribuinte a evaporar-se e fico anti-parlamentar, coisa que nunca fui.

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COISAS DA SÁBADO:
PARECER VÍTIMA PARA GANHAR OS VOTOS DOS CORAÇÕES MOLES E DAS ALMAS PERPLEXAS




A vitimização em Sócrates é pensada ao milímetro como táctica política. Uma pessoa decente que estivesse nas bocas do mundo e das polícias pelas razões que ele está, ficaria indignada e magoada na sua presumível inocência. Ele não. Parece ficar contente com a oportunidade de ter uma arma tão poderosa para dar pathos a uma campanha eleitoral que, sem drama, nunca gerará maiorias absolutas. Ele, que é duma geração dominada pelo espectáculo na vida pública, que gasta rios de dinheiro no espectáculo profissional que é o marketing, sabe que se não houver uma qualquer sentimentalidade em cima da mesa eleitoral, tem que se haver com a racionalidade. E a racionalidade não joga a seu favor.

Provavelmente não desejaria ter o nome em cartas da polícia portuguesa e inglesa como “suspeito” (facto incontestável), mas já que o tem, há que tirar proveito disso. Já que é assim, há que transformar o seu próprio caso naquilo que o jornalismo de rebanho chama uma “arma de arremesso”. Provavelmente não desejaria ver os seus familiares a envolvê-lo em histórias de influências (outro facto incontestável), mas tem e há que tirar proveito disso. Provavelmente gostaria que um processo de decisão como o do Freeport não parecesse tão excepcional, bizarro e único (outro facto incontestável), mas já que não pode impedir as interrogações, há que tirar proveito disso. Provavelmente não gosta que a maioria dos portugueses em sondagens afirme que não acredita nele, nem nas explicações que dá para o caso Freeport, mas já que é assim há que actuar com ainda mais má fé, há que introduzir uma suspeita ainda maior em circulação, suspeita essa que tem a vantagem de poder ser aceite quer por quem nele acredita, quer por quem nele descrê: a “campanha negra”, as “forças ocultas”.

Ele intuitivamente sabe, ou senão os seus consultores, profissionais nestas coisas lhe dirão, que a maioria dos portugueses já não acredita em nada de bom nos políticos e por isso podem achar que ele ficou com o dinheiro do Freeport e ao mesmo tempo achar que as negras forças da oposição, capazes igualmente de também ficarem com o dinheiro dos ingleses, fazem mesmo “campanhas negras”. É mau para os políticos, acredito em tudo, diz a vox populi. Empate. Empate na imensa indiferença pública pela honestidade e franqueza.

O pudor é sempre uma boa resposta num mundo desavergonhado, mas o silêncio não é. Sócrates tem tantos “rabos de palha” que não se lhe pode permitir o espectáculo de os andar a exibir como se fossem medalhas nos campos de batalha e a gritar que os “maus querem-me bater pelas costas”. Não, os bons querem-lhe bater pela frente. Essa é que devia ser essa.

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5.3.09


EARLY MORNING BLOGS

15001 - Heartland

There's a home place under fire tonight in the Heartland
And the bankers are takin' my home and my land from me
There's a big achin' hole in my chest now where my heart was
And a hole in the sky where God used to be

There's a home place under fire tonight in the Heartland
There's a well with water so bitter nobody can drink
Ain't no way to get high and my mouth is so dry that I can't speak
Don't they know that I'm dyin', Why nobody cryin' for me?

My American dream
Fell apart at the seams.
You tell me what it means,
You tell me what it means.

My American dream
Fell apart at the seams.
You tell me what it means,
You tell me what it means.

(Bob Dylan e Willie Nelson)

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Mar da Nazaré. (António Balau)



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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4.3.09


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (61): É ASSIM QUE SE FAZEM AS COISAS


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Para se perceber como se fazem "notícias" em Portugal e como algum jornalismo participa activamente na intriga partidária interna ao PSD, o caso do "abaixo-assinado" a favor da candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa aparecido na Internet é um bom exemplo. Quando me perguntaram, há um dia atrás, que significado tinha o "abaixo-assinado", não tive dúvidas em responder que o seu objectivo era dar origem e oportunidade para haver mais uma notícia de intriga interna no Diário de Notícias. Vinha de lá, ia para lá.

Não foi preciso esperar dois dias para que este "facto" inteiramente artificial e produzido como se fosse numa fábrica de salsichas, originasse essa "notícia". A mesma "notícia" foi passada a outros jornais (ou nem sequer era preciso, dada a bloguização da imprensa), mas, em nenhum caso, a fabricação manipulativa foi mais longe do que no Diário de Notícias. Sabendo tudo e participando no modo como a coisa foi feita, o autor da notícia, Francisco Almeida Leite, um especialista na intriga interna do PSD, sabia perfeitamente o que acontecera mas escondeu-o dos seus leitores para dar dimensão e justificação aos termos da "notícia". A "notícia" omite completamente o que se passou (no Público aparecem dados sobre a identificação política da iniciativa, no Diário de Notícias são escondidos com todo o cuidado atrás de uma "vaga" tão artificial como o plástico).

A "notícia" é esta:
Marcelo Rebelo de Sousa não está disponível para ser o cabeça de lista do PSD nas eleições europeias de 7 de Junho. Ao DN, o antigo presidente social-democrata antecipa-se a um eventual convite e é taxativo na recusa em liderar as listas do seu partido para o Parlamento Europeu: "Não estou para aí virado, sempre fui muito mais uma pessoa de tarefas executivas".

A resposta de Marcelo Rebelo de Sousa surge após movimentações crescentes de militantes do PSD durante esta semana e após ter sido tornado público o nome do cabeça de lista do PS, Vital Moreira, no fim de semana passado, durante o congresso socialista, em Espinho. Vários sectores do partido dirigido por Manuela Ferreira Leite torcem pela solução Marcelo, tendo inclusivamente sido lançada esta semana uma petição online com o intuito de impulsionar uma eventual candidatura: "O PSD não pode ceder ao tacticismo interno nem a lógicas de equilíbrios e deve escolher sem hesitações o melhor candidato possível. E o melhor candidato possível, nas actuais circunstâncias, é Marcelo Rebelo de Sousa".

Na petição - disponível no endereço http/www.petitiononline.com/mrsPE/petition.html -, Marcelo é descrito como um candidato que "tem tudo o que é preciso para protagonizar um debate europeu elevado e mobilizador na sociedade portuguesa". Segundo os peticionistas, na sua grande maioria ligados ao PSD, mas aos quais já se juntaram advogados, engenheiros, jornalistas ou bloggers, Marcelo é visto como um político com "uma estatura intelectual ímpar, que alia a capacidade de tornar simples de entender assuntos complexos".

Ontem, o documento já tinha centenas de assinaturas na Internet e era apresentado como um "Apelo à candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa às Europeias 2009". Os destinatários do apelo são óbvios: Manuela Ferreira Leite, como presidente do PSD e a pessoa que, em última análise teria que fazer a escolha, e também o desejado pelos peticionistas, o actual comentador político da RTP1 e professor catedrático de Direito.

Mas a vaga a favor de Marcelo estendeu-se a um site, "Marcelo 2009)", similar ao que o secretário-geral do PS e actual primeiro-ministro lançou este fim de semana ("Sócrates 2009"), e também à nova moda na Internet: as redes sociais. No Twitter, o nome de Marcelo Rebelo de Sousa surge também associado a um movimento que o quer lançar como candidato nas europeias.

Acresce que Marcelo é bem visto em várias tendências internas do partido, desde os cavaquistas e barrosistas, passando por alguns apoiantes da actual direcção, até às hostes afectas a Pedro Passos Coelho, Luís Marques Mendes e até de Luís Filipe Menezes. Só que Marcelo não está disponível. Fontes próximas do antigo presidente do PSD acrescentam aos motivos para a recusa o facto de a actividade de eurodeputado estar hoje em dia "fragilizada e sem poder efectivo para fazer coisas". Mais: Marcelo, segundo as mesmas fontes próximas, não pretende afastar-se cinco anos do País - a duração do mandato de um eurodeputado.

Manuela Ferreira Leite não deve decidir qual o cabeça de lista do partido antes de Abril. Para já, os nomes de quem se fala no PSD são os de Luís Marques Mendes, que poderá, à semelhança de Marcelo mostrar-se indisponível, e de José Pedro Aguiar-Branco, deputado e um dos vice-presidentes da Comissão Política Nacional.
Vamos começar pelo que a "notícia" omite e é do perfeito conhecimento do seu autor e de toda a gente que segue os blogues: a iniciativa do "abaixo-assinado" foi de Vasco Campilho, um dos mais activos apoiantes de Passos Coelho, e foi realizada com o apoio técnico de Tiago Azevedo Fernandes, após consulta a Pedro Passos Coelho, conforme confessa um seu autor. A "vaga a favor de Marcelo estendeu-se a um site, "Marcelo 2009", como refere a "notícia" desonestamente. Não se "estendeu" porque não é mais do que a abertura quase simultânea pelo mesmo Tiago Azevedo Fernandes, de um site na rede. Um homem, uma "vaga". Após colocação da petição em linha, os primeiros blogues a apoiá-la foram os blogues que tradicionalmente atacam Manuela Ferreira Leite e apoiam Passos Coelho, um dos quais faz parte Francisco Almeida Leite e um grupo de jornalistas do Diário de Notícias. As mesmas pessoas mandam umas mensagens umas às outras no Twitter e tal aparece como sendo outra "vaga". É assim que se fazem as coisas para produzir uma realidade artificial na Internet, bastam meia dúzia de amigos, para a seguir "produzir" uma "notícia".

Mas há mais. A "notícia" está cheio de sugestio falsi. Por exemplo: "ontem, o documento já tinha centenas de assinaturas na Internet". Não é verdade, não tinha atingido as duzentas, sendo que muitas se percebe serem do género do "Jacinto Leite Capelo Rego" , e quase todas oriundas dos próprios autores dos blogues que apoiaram a iniciativa. Outra sugestio falsi, destinada a dar uma dimensão de "vaga" à iniciativa: "segundo os peticionistas, [repare-se no esforço para desmaterializar os autores da iniciativa] na sua grande maioria ligados ao PSD, mas aos quais já se juntaram advogados, engenheiros, jornalistas ou bloggers" e já agora pessoas de sexo masculino e feminino, residentes em Lisboa e Porto, e na maioria dos casos sendo todas essas coisas ao mesmo tempo: residente em Lisboa, blogger, jornalista, etc. Tudo feito com muita má fé para nos enganar.

A realidade é que a iniciativa falhou, pela simples razão que era artificial e ninguém a tomou a sério, com excepção dos seus autores. O objectivo não era evidentemente convencer Marcelo, era criar mais um "facto" hostil a Manuela Ferreira Leite, com o beneplácito de Passos Coelho, e com a activa colaboração dos seus apoiantes nos blogues e na imprensa. É uma típica fabricação, que fica na história do modo como se faz "jornalismo" nos nossos dias. Nem merece classificação, porque tratá-la de situacionismo é pouco.

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EARLY MORNING BLOGS

1500 - My Bed is a Boat

My bed is like a little boat;
Nurse helps me in when I embark;
She girds me in my sailor’s coat
And starts me in the dark.

At night I go on board and say
Good-night to all my friends on shore;
I shut my eyes and sail away
And see and hear no more.

And sometimes things to bed I take,
As prudent sailors have to do;
Perhaps a slice of wedding-cake,
Perhaps a toy or two.

All night across the dark we steer;
But when the day returns at last,
Safe in my room beside the pier,
I find my vessel fast.

(Robert Louis Stevenson)

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3.3.09


EPHEMERA


NO EPHEMERA de hoje:

MATERIAIS DE PROPAGANDA POLÍTICA (6). PPD - PSD (5). OBJECTOS VÁRIOS

POSTAIS DE BERNARDINO MACHADO

CHAPAS DOS RÓTULOS DOS VINHOS DA QUINTA DA PACHECA (2)

MANUSCRITOS: “O ESTADO DA VIAÇÃO ORDINÁRIA NO CONTINENTE DE PORTUGAL”

CAMPANHAS ELEITORAIS NA FIGUEIRA DA FOZ


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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1499 - Mountain

Nothing's moving I don't see anybody
And I know that it's not a trick
There really is nothing moving there
And there aren't any people. It is the very utmost top
Where, as is not unusual,
There is snow, lying like the hair on a white-haired person's head
Combed sideways and backward and forward to cover as much of the top
As possible, for the snow is thinning, it's September
Although a few months from now there will be a new crop
Probably, though this no one KNOWS (so neither do we)
But every other year it has happened by November
Except for one year that's known about, nineteen twenty-three
When the top was more and more uncovered until December fifteenth
When finally it snowed and snowed
I love seeing this mountain like a mouse
Attached to the tail of another mouse, and to another and to another
In total mountain silence
There is no way to get up there, and no means to stay.
It is uninhabitable. No roads and no possibility
Of roads. You don't have a history
Do you, mountain top? This doesn't make you either a mystery
Or a dull person and you're certainly not a truck stop.
No industry can exploit you
No developer can divide you into estates or lots
No dazzling disquieting woman can tie your heart in knots.
I could never lead my life on one of those spots
You leave uncovered up there. No way to be there
But I'm moved.

(Kenneth Koch)

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2.3.09


EPHEMERA



NO EPHEMERA de hoje:

CORRESPONDÊNCIA E PAPÉIS DE EUGÉNIO DE ANDRADE

ARTISTAS DO PORTO NA DÉCADA DE SESSENTA

BIBLIOTECA : LIVROS DO SÉCULO XVI

DOCUMENTOS INTERNACIONAIS SOBRE A REPRESSÃO EM PORTUGAL (1935)

MATERIAIS DE PROPAGANDA POLÍTICA

ARQUIVO DA UNIÃO SOCIALISTA: “TÓPICOS PRINCIPAIS DO PROGRAMA POLÍTICO-NACIONAL…
entre outros.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Amarante hoje. (Helder Barros)



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)



(Sandra Bernardo)

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (60):
OS DESLUMBRAMENTOS PELA RAMA DO CONGRESSO DO PS


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Contava-se como um perfeito exemplo de "massagem do ego", uma especialidade comunista estudada num magnífico livro de Paul Hollander, o convite dos chineses ao crítico culinário de um grande jornal americano, um feroz crítico do regime chinês e um anti comunista sem mácula. O homem aceitou o convite e foi à China, onde os seus anfitriões não lhe deram sequer um segundo de propaganda para consumir. Deram-lhe de comer. Do melhor que havia em toda a China. O resultado foi que, de regresso aos EUA, o relato da viagem à China resultou numa sucessão de elogios inflamados aos banquetes, iguarias, pratos raros, que o crítico culinário jamais tinha provado. Como é que pode ser mau um país onde se come tão bem? Os chineses sabiam e sabem muito.

Veio-me esta história a propósito do Congresso do PS, sabe-se lá porquê... Também lá houve muitos banquetes de marketing e há quem se deslumbre com a rama e esqueça o conteúdo. Estão bem uns para os outros, há quem toque a música e há quem dance.

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A BLOGUIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL

Caricaturas de Grandville.


As relações entre os blogues e a comunicação social mostram aspectos novos do sistema comunicacional em geral, de que eles são uma parte sui generis. Essas relações têm vindo a evoluir de forma interessante e que convém observar. Numa primeira fase, a reacção da comunicação social face aos blogues era de hostilidade e desconfiança. Os blogues traziam novos temas que os jornais, rádios e televisões não tratavam ou ignoravam e criticavam o seu conteúdo, abrindo um debate sobre a qualidade do jornalismo português que uma mentalidade corporativa sempre impedira que se fizesse nos próprios órgãos de comunicação social. Os jornalistas, salvo honrosas excepções, abominavam um meio que consideravam "não editado", não conforme com as regras do processo jornalístico, com as boas práticas profissionais e com a deontologia. Na verdade, esta reacção de recusa continha muita hipocrisia, visto que o próprio trabalho jornalístico também era, no geral, pouco conforme com as normas profissionais e regras deontológicas, pouco ou nada "editado" e de muito má qualidade. Os blogues foram encarados desde início como se de competição se tratasse e os jornalistas tentavam manter um sistema de closed shop.

Depois, as coisas foram mudando e iniciou-se um período ambíguo, em que os jornalistas iam buscar notícias e sugestões de notícias aos blogues, sem citar a sua fonte, deixando passar uns dias para pegar num assunto, para não haver uma correlação directa entre uma nota de blogue e uma notícia num jornal. De seguida, pouco a pouco, os jornais começaram a citar os blogues e a permitir que informações que aí se encontravam acabassem por ser notícias nos jornais, citando a sua origem e desenvolvendo o seu conteúdo. Foi o caso das contradições do currículo e do curso de José Sócrates, que de há muito tempo gerava controvérsia nos blogues, com informação e documentação sólida, e que só bastante mais tarde chegou aos jornais, ou melhor, ao Público.

Entrou-se depois numa nova fase em que a agenda dos blogues se tornou cada vez mais dependente da comunicação social e vice-versa, com a conjugação de várias mudanças na blogosfera portuguesa, que têm a ver com um crescente movimento de pessoas entre a comunicação social tradicional e os blogues, num duplo sentido, e com uma maior politização grupal da blogosfera. Este processo é de facto interligado, com o crescente recrutamento de autores de blogues para o comentário em jornais, rádios e televisões, a entrada em massa de jornalistas para os blogues e a criação de blogues de jornalistas e a transformação da blogosfera numa continuidade da acção política que lhe era exterior, embora com características diferentes do mainstream político. Os blogues eram regra geral mais radicais, à esquerda e à direita, mais próximos dos sectores ideológicos mais agressivos do PP (ligados a Paulo Portas) e ao Bloco de Esquerda. Em termos de linguagem, temas, escrita, os blogues tornavam-se muito confrontacionais, usando uma linguagem violenta, apoiando causas nas margens do sistema partidário, mas de um modo geral dentro dele.



A migração de jornalistas para os blogues acabou por ser mais importante do que a migração dos blogues para a comunicação social "exterior". Muito poucas vozes no comentário se afirmaram vindas de dentro para fora, enquanto muitos jornalistas, em particular aqueles que fazem uma espécie de jornalismo "interpretativo", que pouco mais é do que política com outro nome, encontraram nos blogues a possibilidade de terem plataformas próprias competindo no terreno politizado da blogosfera. O resultado foi um empobrecimento e uma perda de autonomia temática da blogosfera, dominada pela grupusculização e pelos grupos de amigos que se fazem e desfazem, quase sempre mais unidos pelos seus inimigos do que por concordâncias comuns. Ponderadas as diferenças de tempo e de modo, a blogosfera tornou-se muito semelhante ao ambiente grupuscular da política da extrema-esquerda dos anos setenta.

Para a comunicação social também houve um empobrecimento, na medida em que a sua agenda se tornou cada vez mais dependente dos blogues, que alimentam e reforçam a tendência para um pack journalism, para um "jornalismo de rebanho" que favorece consensos e situacionismos. Lendo os blogues, pode-se hoje antecipar como os jornais vão tratar este ou aquele tema, porque se tornou evidente a dependência da "notícia" da opinião dos jornalistas. Envolvido nas guerras de blogues, em que o narcisismo impera num meio muito claustrofóbico, moldado cada vez mais por um radicalismo posicional e grupal, o jornalismo ganha os vícios dos blogues.



O resultado está à vista na bloguização da comunicação social, perdoe-se o neologismo. Temas marginais e das franjas, "fracturantes" no seu pleno sentido, são centrais nos blogues e passaram daí para fora. O casamento dos homossexuais, uma causa minoritária em todos os sentidos, a começar pelo da sua relevância social, passou para tema corrente, quando na realidade não o é para quase ninguém fora dos blogues e da extrema-esquerda. Não é sequer possível compará-lo com a questão do aborto, que parece antecedê-lo, essa sim, com significado social. O mesmo se pode passar com a eutanásia, sem minimizar os enormes dilemas éticos que comporta, mas igualmente marginal.

Blogues e comunicação social dão relevância muito semelhante a temas deste tipo, em detrimento de questões sociais muito mais sérias e que quase não existem nos blogues, como seja os despedimentos, as condições laborais, a condição operária, o mundo rural, etc. Por razões que têm a ver com a origem social dos seus autores, mas também da mecânica comunicacional e política do meio, há temas típicos dos blogues, e cada vez menos diferenças entre esses temas e os da comunicação social em geral. O resultado é que a perda de proporções, de relevância, de valor social, típica dos discursos radicais e politizados, impregna a comunicação social quase sem se dar por isso.

Vários exemplos mostram como a perda de proporção e relevância, típica da agenda dos blogues (em si nada de mal) se transferiu para a comunicação social (em si mau, porque os critérios de fora não podem ser só os de dentro da blogosfera). O modo como assumiu relevância a proibição de umas imagens num computador Magalhães num Carnaval, ou o confisco de uns livros com a "origem do mundo" de Courbet na capa, a que jornais dedicaram páginas inteiras, Público incluído, mostram esse efeito de bloguização. Na verdade, ambas as atitudes eram condenáveis e mereciam notícia, mas é completamente desproporcionada a relevância que lhes foi dada. Mais: é falso que tivessem o significado social que se lhes atribui, de mostrar um ambiente censório na sociedade portuguesa. Há de facto um ambiente censório, mas não é aqui, não é nos actos isolados dum magistrado e duns polícias, que revelaram não ser a norma. Em ambos os casos, o escândalo motivou um imediato recuo e nenhuma força social e política se colocou do lado da censura. São epifenómenos minoritários, não revelam qualquer doença social, porque de um modo geral toda a gente os condenou. Naturalmente, sem dúvidas, sem hesitações.

O que ambos os episódios revelaram de mais interessante esteve a montante e a jusante e é do domínio do debate público e não na notícia picante. Foi, por exemplo, ver como durante dias Courbet era designado por locutores e comentadores na rádio e televisão por Cubete, Curbete, Cuber, Curber, ou como o tema era comentado por gente escandalizada com a "censura" mas que se percebia à distância que não fazia a mínima ideia de quem era o autor do quadro. By the way, convém também não esquecer que a obra era mesmo na sua origem pornográfica, encomendada para fazer parte de um "gabinete erótico", e que não é líquido que o seu estatuto de obra de arte não impeça a sua exposição com reserva. Mesmo os jornais que mais espaço dedicaram ao acto "estúpido" e "ignorante" da polícia, não ousaram colocá-la na capa, como certamente não o fariam com uma fotografia de Mapplethorpe, e isso não era censura nenhuma. Passar por estas coisas com todo o simplismo de as ver apenas como uma luta entre a liberdade sem limites e a censura estúpida, é típico dos blogues, mas não devia ser típico dos jornais. Estes são editados, não são?

Disse atrás que as censuras mais preocupantes não são estas, são outras, mais invisíveis e mais perigosas porque consentidas. Não as vemos porque se escondem atrás da irrelevância espectacular, das distracções, uma especialidade dos blogues. É também por isso que a bloguização da comunicação social é má para o debate público.

(Versão do Público de 28 de Fevereiro de 2009.)

*
Assinalo-lho mais uma variação do nome de Courbet: apareceu como «Courbert» no Público.

(José Carlos Santos)

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EARLY MORNING BLOGS

1498 - On Seeing Larry Rivers' Washington Crossing The Delaware At The Museum Of Modern Art



Now that our hero has come back to us
in his white pants and we know his nose
trembling like a flag under fire,
we see the calm cold river is supporting
our forces, the beautiful history.

To be more revolutionary than a nun
is our desire, to be secular and intimate
as, when sighting a redcoat, you smile
and pull the trigger. Anxieties
and animosities, flaming and feeding

on theoretical considerations and
the jealous spiritualities of the abstract
the robot? they're smoke, billows above
the physical event. They have burned up.
See how free we are! as a nation of persons.

Dear father of our country, so alive
you must have lied incessantly to be
immediate, here are your bones crossed
on my breast like a rusty flintlock,
a pirate's flag, bravely specific

and ever so light in the misty glare
of a crossing by water in winter to a shore
other than that the bridge reaches for.
Don't shoot until, the white of freedom glinting
on your gun barrel, you see the general fear.

(Frank O'Hara)

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1.3.09


EPHEMERA



Abri agora um novo blogue intitulado EPHEMERA - Biblioteca e arquivo de José Pacheco Pereira. Os objectos são aqui definidos:
EPHEMERA tem como objectivo divulgar materiais da biblioteca e arquivo pessoais de José Pacheco Pereira, em particular dos diferentes espólios, doações, ofertas e aquisições que deles fazem parte. Na medida do possível, do tempo e das circunstâncias, todos estes materiais estão acessíveis aos investigadores que deles necessitem para o seu estudo e trabalho, nos condicionalismos normais de uma biblioteca e arquivos privados. Dada a dimensão e qualidade de alguns dos materiais, em particular as espécies únicas e as colecções especializadas inexistentes em bibliotecas e arquivos públicos, o meu objectivo, a prazo, é tornar disponível a todos este acervo.
Com muitas das recentes ofertas e aquisições e vários materiais de colecção que tenho vindo a reunir, nem o Abrupto, nem os Estudos sobre o Comunismo são ideais para a sua divulgação. No Abrupto continuarão a ser publicados os materiais de interesse mais geral e nos Estudos sobre o Comunismo, tudo o que diga respeito à história comunista e da oposição, mas será no EPHEMERA que outros materiais serão divulgados.

EPHEMERA está ainda numa fase experimental.


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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (59):
SÓCRATES "RETIDO" NO CONGRESSO DO PS


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

"O primeiro-ministro português, José Sócrates, retido no Congresso do Partido Socialista em Espinho, será substituído na reunião de líderes da UE pelo ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos.

A ausência de Sócrates foi considerada "inaceitável e escandalosa" pela presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, visto a reunião ter sido "convocada para discutir a crise económica em que Portugal também está envolvido".

"Retido"...? palavras para quê...

(Alberto Fernandes)

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (58):
PROMESSAS "CUMPRIDAS" E "ADIADAS" (SÓCRATES), PROMESSAS "CUMPRIDAS", "NA DÚVIDA" E "POR CUMPRIR" (OBAMA)


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

"Situacionista" a análise do DN das promessas de Sócrates para 4 anos vs a análise das promessas de Obama num mês.

Socrátes em 4 anos tem promessas cumpridas e outras adiadas.
Obama em 1 mês tem promessas cumpridas, na dúvida e por cumprir.

DN 20 FEV 2008 Edição papel-pag 4
"Quatro anos de governo Sócrates"
"Promessas cumpridas, outras adiadas"

(Para o DN e só para o Sócrates o oposto de cumprido é adiado, em lugar de não cumprido)

DN 20 FEV 2008 (ou seja umas páginas á frente)
sessão internacional Obama
caixa:
"Promessas em análise. Num mês, Obama cumpriu algumas coisa. Muitas ainda esperam resolução"
DN indica 4 promessas e classifica-as entre:
Cumprido, na dúvida, por cumprir

(Afinal no DN até sabem que, existe cumprido e por cumprir mesmo no espaço de um mês.)

Sim claro a grande maioria das promessas de Sócrates estão cumpridas para o DN
Dúvidas no seu cumprimento não existem. Apenas algumas promessas foram adiadas (presumo que para serem cumpridas nos meses que faltam até ao fim da legislatura).

(Daniel Martins)

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COISAS SIMPLES



(Peder Krøyer)

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EARLY MORNING BLOGS

1497 - A Supermarket in California

What thoughts I have of you tonight, Walt Whitman, for
I walked down the sidestreets under the trees with a headache
self-conscious looking at the full moon.
In my hungry fatigue, and shopping for images, I went
into the neon fruit supermarket, dreaming of your enumerations!
What peaches and what penumbras! Whole families
shopping at night! Aisles full of husbands! Wives in the
avocados, babies in the tomatoes!--and you, Garcia Lorca, what
were you doing down by the watermelons?

I saw you, Walt Whitman, childless, lonely old grubber,
poking among the meats in the refrigerator and eyeing the grocery
boys.
I heard you asking questions of each: Who killed the
pork chops? What price bananas? Are you my Angel?
I wandered in and out of the brilliant stacks of cans
following you, and followed in my imagination by the store
detective.
We strode down the open corridors together in our
solitary fancy tasting artichokes, possessing every frozen
delicacy, and never passing the cashier.

Where are we going, Walt Whitman? The doors close in
an hour. Which way does your beard point tonight?
(I touch your book and dream of our odyssey in the
supermarket and feel absurd.)
Will we walk all night through solitary streets? The
trees add shade to shade, lights out in the houses, we'll both be
lonely.

Will we stroll dreaming of the lost America of love
past blue automobiles in driveways, home to our silent cottage?
Ah, dear father, graybeard, lonely old courage-teacher,
what America did you have when Charon quit poling his ferry and
you got out on a smoking bank and stood watching the boat
disappear on the black waters of Lethe?

(Allen Ginsberg)

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© José Pacheco Pereira
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