ABRUPTO

6.3.09


COISAS DA SÁBADO: FORMAS DE INVOLUIR DARWINIANAS


Na Assembleia da República, a percepção vulgar é que é obrigação dos deputados estarem todo o dia presentes no hemiciclo, a fazerem de conta que estão muito interessados num qualquer debate. De vez em quando há um clamor populista sobre a sala vazia e os deputados que não trabalham. Embora seja verdade que muitos deputados não trabalham mesmo, o que é responsabilidade dos partidos que os escolhem mal, não é por não estarem o dia todo na sala das sessões. É que se estiverem aí dependurados, então é que não trabalham mesmo.

Mas agora há uma nova moda entre os eleitos da nação, que eles deveriam com cuidado evitar porque todas as coisas em que se revelam mais no seu “ser”, para usar uma linguagem fenomenológica, são um pouco penosas para o público em geral. Servem para o jornalismo que lhes é fraterno em mundivisão e intriga, mas vistas de fora, vistas do mundo normal, são pouco mais do que ridículas. Essa moda, que passa por ser “democrática” e “interactiva”, é estarem no parlamento a “blogar”, a “twitar” e a “mensajar”entre eles e o povo electrónico, enquanto decorrem os trabalhos.

A ideia de que esses mecanismos trazem uma nova “sociabilidade”, é inteiramente contestável, a não ser que se seja estudante do sétimo ano e se descobrir ao mesmo tempo e com todo o deslumbramento o mundo aditivo dos teenagers, drogas, sexo e rock and roll, que eu espero não seja a “sociabilidade” dos deputados da nação. Mas adultos? Adultos que representam a nação, a passarem o tempo a trocar trivialidades, bocas e picardias numa linguagem apenas um degrau acima dos SMS, gutural e primitiva, em 140 caracteres e que acham que isso é “sociabilidade”?

Espero bem que não enfileirem numa forma de falar, ou pior ainda de pensar, que tem a característica de fazer crescer o primata que há em nós. Nem sequer o primata, mas o anfíbio, o peixe ancestral que abre e fecha a boca num mar profundo. É que a julgar pelas amostras que vem a público, em muitos casos por inépcia ou irresponsabilidade dos seus autores, a grosseria e o insulto proliferam e nada mais. Nada mais. E essas sim fazem-me duvidar sobre o que é que os senhores deputados estão a fazer numa sessão parlamentar, se estão sentados a escrever SMS, e a “twitar”, como agora se diz. Aí de facto, eu sinto o meu dinheiro como contribuinte a evaporar-se e fico anti-parlamentar, coisa que nunca fui.

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© José Pacheco Pereira
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