ABRUPTO

7.3.09


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (62): O IMPÉRIO DA IRRELEVÂNCIA


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Não sei se é por ciclos, se agora é mesmo assim e estamos condenados a este Inferno do Nada, ou se é a mistura da nossa habitual mediocridade entre a incompetência e subserviência, ou uma doença qualquer que se apanha no ar. Eu, de vez em quando, ainda me surpreendo com a enorme capacidade para gerar este império crescente de irrelevância que nos assalta no debate público, nos órgãos de comunicação social. É um efeito da bloguização, sobre a qual já escrevi, mas vai mais longe do que isso.

Que a coisa tem a ver com o situacionismo tem, mas está para além dele, ou melhor, faz parte dele mas comunga num "espírito do tempo" mais geral. Quanto ao situacionismo puro, basta comparar nos últimos dias as aberturas de noticiários da RTP com a SIC e a TVI, e os longos períodos de longos minutos das notícias incidentais com que a RTP se entretém até aparecer alguma coisa a sério. O famoso jornalismo do serviço público, não aguenta hoje qualquer medida de comparação com a SIC e a TVI. Estas estão a falar dos problemas do país e está a RTP no acidente do dia, no futebol do dia, na trica dos árbitros do dia.

Parece haver uma quebra de equilíbrio, uma perda de noção, um relativismo absoluto do espectáculo quando uma troca de insultos no parlamento merece metade de uma capa do Público, uma espécie de quinze minutos de fama, e um editorial do Diário de Notícias. Tanto mais absurdo, quanto a sugestão de "interesses", parece sempre menos relevante do que a troca de palavras. O incidente é mais importante do que a substância. Está tudo trocado não está? Ou a sugestão de Candal é verdadeira e nesse caso investiga-se, ou é falsa e é mais grave do que o "vai para o c..." (sigo a imprensa) do, nesse caso, ofendido. O mesmo para a história de quem paga os aviões de Manuel Pinho, quando muito uma história do empurra burocrático entre serviços do Estado. Se Manuel Pinho usou indevidamente o avião, então é essa a notícia, e não o empurrar do pagamento, uma completa irrelevância que abriu noticiários na SICN. Isto são apenas dois exemplos, numa altura em que muito do noticiário político é pouco mais do que virtual, feito de intrigas em que políticos e jornalistas participam num contínuo, já tão afastado da realidade que nem ao longe esta se consegue ver com um telescópio.

Se a maioria dos portugueses soubesse efectivamente como são feitas as "notícias", não comprava um jornal, não via um noticiário, a não ser como entretenimento, ou como obra de ficção. Não é difícil fazer aqui uma longa lista da mistura de falsidades, irrelevâncias, virtualidades artificialmente preparadas, omissio veri, sugestio falsi, má fé, pequenas vinganças, puras burrices, que pululam hoje entre os blogues e os jornais. Pergunto-me muitas vezes se vale a pena o trabalho de as desmontar, e ainda vou respondendo que sim. Mas este permanente convívio com a má fé, a incompetência e muitas vezes a pura mesquinhez faz mal à saúde. Mas seja para "dar testemunho" como dizem os cristãos. Imaginem onde se chega...

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© José Pacheco Pereira
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