ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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4.3.09
ÍNDICE DO SITUACIONISMO (61): É ASSIM QUE SE FAZEM AS COISAS A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração. E, nalguns casos, de respiração assistida. Para se perceber como se fazem "notícias" em Portugal e como algum jornalismo participa activamente na intriga partidária interna ao PSD, o caso do "abaixo-assinado" a favor da candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa aparecido na Internet é um bom exemplo. Quando me perguntaram, há um dia atrás, que significado tinha o "abaixo-assinado", não tive dúvidas em responder que o seu objectivo era dar origem e oportunidade para haver mais uma notícia de intriga interna no Diário de Notícias. Vinha de lá, ia para lá. Não foi preciso esperar dois dias para que este "facto" inteiramente artificial e produzido como se fosse numa fábrica de salsichas, originasse essa "notícia". A mesma "notícia" foi passada a outros jornais (ou nem sequer era preciso, dada a bloguização da imprensa), mas, em nenhum caso, a fabricação manipulativa foi mais longe do que no Diário de Notícias. Sabendo tudo e participando no modo como a coisa foi feita, o autor da notícia, Francisco Almeida Leite, um especialista na intriga interna do PSD, sabia perfeitamente o que acontecera mas escondeu-o dos seus leitores para dar dimensão e justificação aos termos da "notícia". A "notícia" omite completamente o que se passou (no Público aparecem dados sobre a identificação política da iniciativa, no Diário de Notícias são escondidos com todo o cuidado atrás de uma "vaga" tão artificial como o plástico). A "notícia" é esta: Marcelo Rebelo de Sousa não está disponível para ser o cabeça de lista do PSD nas eleições europeias de 7 de Junho. Ao DN, o antigo presidente social-democrata antecipa-se a um eventual convite e é taxativo na recusa em liderar as listas do seu partido para o Parlamento Europeu: "Não estou para aí virado, sempre fui muito mais uma pessoa de tarefas executivas".Vamos começar pelo que a "notícia" omite e é do perfeito conhecimento do seu autor e de toda a gente que segue os blogues: a iniciativa do "abaixo-assinado" foi de Vasco Campilho, um dos mais activos apoiantes de Passos Coelho, e foi realizada com o apoio técnico de Tiago Azevedo Fernandes, após consulta a Pedro Passos Coelho, conforme confessa um seu autor. A "vaga a favor de Marcelo estendeu-se a um site, "Marcelo 2009", como refere a "notícia" desonestamente. Não se "estendeu" porque não é mais do que a abertura quase simultânea pelo mesmo Tiago Azevedo Fernandes, de um site na rede. Um homem, uma "vaga". Após colocação da petição em linha, os primeiros blogues a apoiá-la foram os blogues que tradicionalmente atacam Manuela Ferreira Leite e apoiam Passos Coelho, um dos quais faz parte Francisco Almeida Leite e um grupo de jornalistas do Diário de Notícias. As mesmas pessoas mandam umas mensagens umas às outras no Twitter e tal aparece como sendo outra "vaga". É assim que se fazem as coisas para produzir uma realidade artificial na Internet, bastam meia dúzia de amigos, para a seguir "produzir" uma "notícia". Mas há mais. A "notícia" está cheio de sugestio falsi. Por exemplo: "ontem, o documento já tinha centenas de assinaturas na Internet". Não é verdade, não tinha atingido as duzentas, sendo que muitas se percebe serem do género do "Jacinto Leite Capelo Rego" , e quase todas oriundas dos próprios autores dos blogues que apoiaram a iniciativa. Outra sugestio falsi, destinada a dar uma dimensão de "vaga" à iniciativa: "segundo os peticionistas, [repare-se no esforço para desmaterializar os autores da iniciativa] na sua grande maioria ligados ao PSD, mas aos quais já se juntaram advogados, engenheiros, jornalistas ou bloggers" e já agora pessoas de sexo masculino e feminino, residentes em Lisboa e Porto, e na maioria dos casos sendo todas essas coisas ao mesmo tempo: residente em Lisboa, blogger, jornalista, etc. Tudo feito com muita má fé para nos enganar. A realidade é que a iniciativa falhou, pela simples razão que era artificial e ninguém a tomou a sério, com excepção dos seus autores. O objectivo não era evidentemente convencer Marcelo, era criar mais um "facto" hostil a Manuela Ferreira Leite, com o beneplácito de Passos Coelho, e com a activa colaboração dos seus apoiantes nos blogues e na imprensa. É uma típica fabricação, que fica na história do modo como se faz "jornalismo" nos nossos dias. Nem merece classificação, porque tratá-la de situacionismo é pouco. (url)
© José Pacheco Pereira
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