ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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6.3.09
A vitimização em Sócrates é pensada ao milímetro como táctica política. Uma pessoa decente que estivesse nas bocas do mundo e das polícias pelas razões que ele está, ficaria indignada e magoada na sua presumível inocência. Ele não. Parece ficar contente com a oportunidade de ter uma arma tão poderosa para dar pathos a uma campanha eleitoral que, sem drama, nunca gerará maiorias absolutas. Ele, que é duma geração dominada pelo espectáculo na vida pública, que gasta rios de dinheiro no espectáculo profissional que é o marketing, sabe que se não houver uma qualquer sentimentalidade em cima da mesa eleitoral, tem que se haver com a racionalidade. E a racionalidade não joga a seu favor. Provavelmente não desejaria ter o nome em cartas da polícia portuguesa e inglesa como “suspeito” (facto incontestável), mas já que o tem, há que tirar proveito disso. Já que é assim, há que transformar o seu próprio caso naquilo que o jornalismo de rebanho chama uma “arma de arremesso”. Provavelmente não desejaria ver os seus familiares a envolvê-lo em histórias de influências (outro facto incontestável), mas tem e há que tirar proveito disso. Provavelmente gostaria que um processo de decisão como o do Freeport não parecesse tão excepcional, bizarro e único (outro facto incontestável), mas já que não pode impedir as interrogações, há que tirar proveito disso. Provavelmente não gosta que a maioria dos portugueses em sondagens afirme que não acredita nele, nem nas explicações que dá para o caso Freeport, mas já que é assim há que actuar com ainda mais má fé, há que introduzir uma suspeita ainda maior em circulação, suspeita essa que tem a vantagem de poder ser aceite quer por quem nele acredita, quer por quem nele descrê: a “campanha negra”, as “forças ocultas”. Ele intuitivamente sabe, ou senão os seus consultores, profissionais nestas coisas lhe dirão, que a maioria dos portugueses já não acredita em nada de bom nos políticos e por isso podem achar que ele ficou com o dinheiro do Freeport e ao mesmo tempo achar que as negras forças da oposição, capazes igualmente de também ficarem com o dinheiro dos ingleses, fazem mesmo “campanhas negras”. É mau para os políticos, acredito em tudo, diz a vox populi. Empate. Empate na imensa indiferença pública pela honestidade e franqueza. O pudor é sempre uma boa resposta num mundo desavergonhado, mas o silêncio não é. Sócrates tem tantos “rabos de palha” que não se lhe pode permitir o espectáculo de os andar a exibir como se fossem medalhas nos campos de batalha e a gritar que os “maus querem-me bater pelas costas”. Não, os bons querem-lhe bater pela frente. Essa é que devia ser essa. (url)
© José Pacheco Pereira
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